domingo, setembro 18, 2005

Hidrogénio «made in» Portugal

O nome pode enganar, mas trata-se de um produto inteiramente português. Pilhas de combustível a hidrogénio H Way de 150 w - que utilizam uma tecnologia revolucionária desenvolvida e produzida pela empresa Soluções Racionais de Energia (SRE) - vão ser colocadas no mercado no final deste mês.

No imediato, estas pilhas a hidrogénio têm como grande potencial servirem de «back up» para outras fontes de energia como a fotovoltaica ou a eólica. É o que vai acontecer no sistema de vigilância das Auto-estradas do Atlântico situado no Alto de Montachique, uma zona isolada onde fazer chegar a rede eléctrica teria um custo demasiado elevado. Unidades de protecção civil, bombeiros, forças de segurança poderão igualmente utilizá-las para situações de falta de fornecimento da EDP. A náutica de recreio é o outro «público-alvo» deste produto, indica o engenheiro Campos Rodrigues, um dos sócios fundadores da SRE, sediada em Torres Vedras.

Uma das grandes vantagens do hidrogénio é a elevada facilidade de armazenamento, que lhe confere alguma portabilidade. Um quilo de hidrogénio - quantidade que se consegue produzir por electrólice a partir de 10 litros de água - contém o equivalente de energia existente em 40 baterias de automóvel, esclarece Campos Rodrigues. As pilhas funcionam com «garrafas» de hidrogénio acopladas que podem ser substituídas sempre que necessário, o que lhes permite funcionar em continuo.

A nível internacional, com o cenário da escassez dos combustíveis fósseis e do seu pesado impacte ambiental, o hidrogénio apresenta-se como uma das alternativas energéticas a curto/médio prazo. Os Estados Unidos, assim como diversos outros países, têm estado a investir fortemente na investigação nesta área. O sector automóvel será um dos seus óbvios utilizadores e os fabricantes estão a desenvolver os seus protótipos, mas ainda falta ultrapassar algumas limitações técnicas (em especial, quanto ao aumento da capacidade de armazenamento de hidrogénio) e não é expectável que os veículos a hidrogénio comecem a surgir no mercado antes de 2010.

Futuramente o hidrogénio poderá também vir a ser utilizado como complemento de outras fontes de energia renováveis em locais como habitações e condomínios.

Campos Rodrigues defende que esta deveria ser uma área prioritária para Portugal apostar, nomeadamente, criando programas de apoio à investigação, uma vez que o hidrogénio poderá contribuir para nos libertar da nossa dependência energética. «Há cerca de um mês, o nosso primeiro-ministro afirmou: 'Vamos construir o cluster do eólico'. Isso fazia sentido ter sido dito há vinte anos quando o custo de oportunidade ainda era relativamente barato. Hoje, aquilo que a indústria portuguesa consegue meter num gerador eólico é a torre onde o gerador é colocado», afirma o engenheiro da SRE. «Tenho muito medo de daqui a 20 anos ouvir o nosso primeiro-ministro dizer o mesmo em relação ao hidrogénio», acrescenta.

Quanto às pilhas a hidrogénio H-Way 150 w, serão lançadas durante o seminário da Associação Portuguesa de Empresas de Tecnologias, a 29 de Setembro no INETI, e no início de Outubro a SRE apresenta-as no 9º Simpósio de de Células de Combustível de Grove, em Londres. A meta, explica Campos Rodrigues, é implementar o produto em dois ou três países europeus(onde esta tecnologia ainda se encontra mais atrasada) nos próximos anos e, de seguida, chegar aos Estados Unidos. Só assim a SRE se tornará um «player» na indústria do hidrogénio, de outro modo não conseguirá, sequer, sobreviver.