Começar o ano traz invariavelmente a necessidade de comprimir imagens que pretendemos arquivar no ficheiro dedicado ao ano anterior, para dar lugar ao processamento daquelas que se avizinham. Contudo, enquanto por cá andarmos, existirá sempre o gerúndio, algo que impede qualquer noção nihilista no modo pessoal de considerar esta e outras, ou quaisquer, datas socialmente ultra-valorizadas.
Assim, sem licença para eliminar da memória metade do curso que devo terminar em Junho, período este fugaz enquanto comparado com outros passeios que pretendo conformem a vida, outros aspectos da mesma resultam de tal forma estructurantes que me dou conta terem passado a ser estructurais, ou seja, identitários do indivíduo e inalienáveis se pretendo continuar vivo pelo menos até ao colapso do organismo, mas, mais importante, além desse momento.
O Mário terminou em Junho passado a Licenciatura em Ciências Biológicas, encontrando-se hoje na zénite do Mestrado em Biotecnologia:
A Inês, por seu lado, acaba de tocar a sua primeira composição de Beethoven, "Fur Elise":
Como conclusão para este ano, mesmo que rodeado de semelhantes, para lá da génese, decidida e tristemente, modifiquei sim a consideração pelo seguinte Haiku a 31 de Dezembro 2021:
Aqui permaneço, no atravessar de uma pandemia sobre a qual muito se falou, muitos se aproveitaram, mas, mais importante, durante a qual tantos nos foram e vão deixando. Contudo, o consolo de saber que quem amo permanece e cresce, atenua o angústia que a vida numa realidade severamente condicionada provoca.
Assim, sendo que o atrás descrito constitui apenas um dos aspectos mais relevantes destes últimos 12 meses, um elemento ao qual não estava habituado a prestar demasiada atenção, a saúde do vizinho, diferente acicate me leva escrever estas linhas, aquele exercício anual de gravar em memória pública as impressões e resultados, do trajecto de dito período:
Continuo a tentar estudar. Não obstante, torna-se cada vez mais distante o culminar da carreira de Antropologia. Este ano, por primeira vez, notei certa merma na vontade de me construir e, não será ao amparo daqueles por quem justifico a vida que a reforçarei. Desde o âmbito profissional ao político, e mesmo no pessoal, entendo que procurar razões que me permitam acreditar não encontra compensação, sobretudo pela dimensão cada vez maior da tarefa.
Ainda assim, quase como o ar que respiro, está por outra parte o compromisso, que foi comigo e com a vida, numa primeira fase, mas que, hoje, se traduz essencialmente naquele com as vidas que nesta bola coloquei.
Há 16 anos, havia contruido o que a luta de quem não sabia impossivel e tentava, conseguiu. Agora sei, pelo menos, que não há humano naturalmente capaz de respirar submergido.
Em conclusão (espero que apenas por agora), a felicidade, que considerei estimulada por amar o próximo, tentado quem sabe por uma certamente inconscientemente ansiada reciprocidade, deixa apressuradamente de ser convicção, resta ainda como dúvida motivada, uma pergunta da qual, temeroso pela resposta, encontro prematuro deixar de fazer.
Não quería deixar passar Janeiro sem por aquí fazer prova de vida, afinal já passaram 15 anos.
Sem saber que virá depois, continúo a trabalhar, tentando cuidar dos meus com aquelas que considero melhores soluções.
Estudar, aprender, sempre. Não sei quando deixarei de estudar formalmente, suponho que sempre dependerá das circunstâncias. Celebro também, este ano, quarenta (40) anos de trabalho, ainda faltam dezasseis (16) para olhar para o espelho demoradamente.
Aos 17, ao largo da Guiné-Bissau, imenso atlântico, escutava reiteradamente o albúm em baixo:
O azimute que observo inerente à historia, não apenas da sociedade em geral, mas, pessoal, também ou possivelmente porque parte do todo.
Voltar a utilizar este espaço como registo de conclusões preliminares sobre matérias de estudo não deixou nunca de ser opção. Porém, se algo não se previa tangível era a possibilidade de voltar a iniciar um curso superior ou tornar a apostar numa área formativa distinta àquela à qual dediquei a prática totalidade da última década.
Não obstante, considerando a manifesta apetência pela Antropologia, curso frequentado no passado sem consecução, bem como as actuais circunstâncias, necessidades e possibilidades, começo agora uma nova etapa, impondo-me a assunção do desafio que constitui dedicar quatro (4) anos, dos cada vez menos restantes, à aquisição de conhecimento, neste caso o mais multidisciplinar até hoje.
Assim, seguramente voltarei a depositar aqui dúvidas, conclusões equivocadas ou "verdes" e, claro, conhecimento, que é do que se trata essencialmente, mas não só.
Concluindo, a humildade que nos toca à porta quando iniciamos qualquer experiencia sem conhecimento prévio não deixa de ser acicate, estímulo, da coragem que extrapolamos ao quotidiano, ainda que por "inércia", e que, subjaz naturalmente à decisão. Dito aporte motivacional, se consciente (não afirmo que de outra forma não aconteça), contribui para o equilíbrio homeostático e até para o reforço das defesas do organismo, mas, fundamentalmente, reduz a permeabilidade.
Sem forma de sequer imaginar prosseguir e culminar a investigação sobre a matéria que dá título a este inusitado texto, apenas como hipótese, essa sim passível de constituir génese para uma tese que reconheceria como corajosa devido ao potencial para suscitar a crítica generalizada e para que conste quanto antes no acervo da elucubração que aquí, de forma mais ou menos acertada, se reserva lugar. Não pretendendo, por outra parte, tomar sentido na poética resposta de Juvenal: "Mens sana in corpore sano" ainda que provavelmente, e uma vez mais, sustentado também no legado de Darwin, considero:
A capacidade cognitiva parece resultar directamente proporcional à resistência do sistema imunitário.
Um ano passado numa frequência inaudita para os sentidos, chegamos ao 13º aniversário deste bloco de notas que, pela proliferação de diferentes plataformas sociais e afazeres que poderiam levar um adulto a rever-se numa criança (que não concretamente os próprios filos), tem vindo a perder parte da sua preponderância enquanto suporte terapéutico, para este que aquí escreve, mas, seguramente para uma massiva percentagem de utilizadores deste meio. Por tal, assumo a obrigação de, depois deste tempo, reclamar o lugar específico e necessário que o Blog conserva na chamada caixa de ferramentas da homeostase.