quinta-feira, setembro 30, 2010

1400 km. Em 14 horas, sem me mexer...

Foi a greve, a greve em Espanha permitiu-me participar no desfile até à assembleia da república que tomou para seu início a rotunda do marquês do pombal.

Ainda a caminho do vitória, fui saudando e cumprimentando camaradas que de antemão confiava encontrar completando o impressionante quadro que de pé também quis pintar. A muitos efusivamente e a outros com um “embalo” que não compreendia contemplar certos formalismos que o meu eu, mínimo, despreza, minuto a minuto, cheguei tarde. No centro de trabalho poucos eram aqueles que permaneciam, mesmo assim, tomando o caminho de engrossar as fileiras do combate às injustiças.

De cabeça jovem(inter), o corpo daquela massa de trabalhadores que conquistava a cada passo as avenidas, o silencio, a luz de um radiante e caro sol que pela frente nos estendia um tapete que cada um pintava de sombra, era a liberdade contoneando-se como tensando e relaxando os músculos, que firmes, como milhares de vontades unidas, erguidas, mais adiante reclamariam justiça.
É certo que, para a generalidade dos Homens, tudo o que não entre nos 1400cm cúbicos do seu mundo se considera zona hostíl. Pois bem, ontem reforcei a certeza que os tais 1400cm são só parte do organismo que é a espécie, essa sim, enorme continente de felicidade. E afinal, que mais queremos? Esta é uma questão complexa.

Assim, na estrada de volta a Madrid, fazendo-me acompanhar de uma cadeia de rádio que penetra quase 300 km. Em território magnético Espanhol, fui ouvindo o sabujo que nos rouba e um dos seus acólitos, que o imitava nessa forma de, algo como regurjalar, discursar que nos agonia. Vinham dizer à população que manifestações como as de hoje eram meras excentricidades, folclore; que agora é que seriamos maiores que Espanha, começando com um IVA 6% mais alto; um corte de 5% em salários que não lembram nem ao, deles, menino jesus, e que, somos o suficientemente valentes e solidários para fiscalmente contribuir com mais uma parte dos nossos salários para o governo (que não estado), sem necessidade de progredir na carreira; que não necessitamos de ajudas de ninguém, nem de luxos, e que por tal se congelam todos os investimentos públicos; que a educação ou a saúde podem muito bem sofrer uns cortezitos devido à já de si esbanjadora garantia que auferimos nesses âmbitos, mas, curiosamente, sem ter escutado qualquer menção à esperada política de reposição dessas mesmas garantias. (Para quê?) Não obstante, fiquei ainda mais preocupado com a velada solução para cumprir as previsões do défice para 2010, tomando conhecimento que, o encaixe 2.400 milhões do fundo de pensões da PT não é mais que outra forma de hipotecar o nosso futuro e o daqueles que virão.

Continuando, depois de duas ou três voltas ao dial, aceitei que era essa, sem conteúdo, a música que devia ouvir até chegar a casa; era a música Espanhola que se impunha em todas as estações, essas que silenciavam a greve que segundo o governo foi apenas secundada por 7% dos trabalhadores. Pensando já em castelhano, vieram-me à memória algumas perguntas que me fazia, como parte que sou do organismo, quando era ainda um jovem, como esses que encabeçavam e acompanhavam a manifestação de Lisboa, como pode a sociedade levar um indivíduo a hipotecar o futuro dos seus filhos (também o seu e o dos seus iguais, mas fundamentalmente, dos seus filhos); como pode alguém ficar em casa numa greve, numa manifestação; como pode alguém tapar os olhos e aceitar, como um borrego, que os sabujos que ocupam o poder os utilizem, oprimam, roubem, gozem, ceifem os direitos e determinem, a anos de distancia, a vida que trazemos ao mundo?

Será tão dificil assumir que os nossos filhos, amanhã, quando adultos, vão sofrer mais cortes sobre os cortes que os muitos papás amedrontados aceitaram por uma moeda que recolheram do chão dos “senhores” que a atiraram?

Sem a luta de todos, também desses que pensam que outros de tal penumbra os livrarão; com a política educativa que se implementou e permitimos, sem exigencia académica; com o demonstrado desprezo pela vida que se traduz no paradigma sanitário que sofremos; sem emprego, não estaremos a contribuir para que os nossos descendentes se tornem dóceis “faxineiros” com 12º ano, num país-praia destes estados unidos da europa, que, como a califórnia, só existirá porque (àparte da irrelevante participação política) será uma forma de que a banca e outros estados, tenham uma colónia onde despejar um ano de frustrações.

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"Num jornal de 30/09

"A receita por quarto disponível para o conjunto dos hotéis da cidade de Lisboa subiu 24,4% em agosto face a igual mês de 2009, para os €53,3. Uma evolução positiva que se ficou a dever, segundo Vítor Costa, diretor-geral do Turismo de Lisboa, a um incremento do turismo de lazer. "As taxas de ocupação subiram, tal como os preços".

Por classes, o crescimento mais significativo ocorreu nos hotéis de cinco estrelas, onde este indicador trepou 53,4%, para €67,8. "Ainda se verificou uma pequena descida dos preços neste segmento, cerca de 2%, mas a ocupação subiu 56%, o que explica esta evolução", afirma Vítor Costa. Um sinal positivo, já que é a taxa de ocupação que explica a diferença entre este indicador e os preços praticados pelos hotéis.

A receita por quarto disponível é uma das principais medidas para avaliar o desempenho das empresas no sector do turismo, traduzindo as receitas por unidade de capacidade disponível, neste caso, por quarto disponível (seja ou não ocupado). Este rácio depende, assim, de duas variáveis: o nível de ocupação dos hotéis e os preços praticados."

sexta-feira, setembro 24, 2010

Como se diferencia o proletário do escravo?

O escravo está vendido de uma vez para sempre; o proletário tem de se vender a si próprio diariamente e hora a hora. O indivíduo escravo, propriedade de um senhor, tem uma existência assegurada, por muito miserável que seja, em virtude do interesse do senhor; o indivíduo proletário – propriedade, por assim dizer, de toda a classe burguesa -, a quem o trabalho só é comprado quando alguém dele precisa, não tem a existência assegurada. Esta existência está apenas assegurada a toda a classe dos proletários. O escravo está fora da concorrência, o proletário está dentro dela e sente todas as suas flutuações. O escravo vale como uma coisa, não como um membro da sociedade civil; o proletário é reconhecido como pessoa, como membro da sociedade civil. O escravo pode, portanto, levar uma existência melhor do que a do proletário, mas o proletário pertence a uma etapa superior do desenvolvimento da sociedade e está ele próprio numa etapa superior à do escravo. O escravo liberta-se ao abolir, de entre todas as relações de propriedade privada, apenas a relação de escravatura e ao tornar-se, assim, ele próprio proletário; o proletário só pode libertar-se ao abolir a propriedade privada em geral.

Engels - 1847

quinta-feira, setembro 23, 2010

terça-feira, setembro 21, 2010

"essa navegação, deve ser retomada!"



Identidade

Trocámos o nosso,
outros futuros;
a alegria de quem será,
que não somos.
Alcunhámos de vida o lamento,
sobrevivendo
nas migalhas dos pães, inteiros
que fomos

Arrotam os porcos
lá fora
rebolando no seu próprio excremento,
sustento
da muralha que nos obriga
o horizonte sonhar. Fétida
Nauseabunda,
Cercada pelo mar

Mário Pinto

segunda-feira, setembro 20, 2010

Coerência de um Partido

Depois de ouvir esta intervenção, grande, brilhante, daquele que considero, agora mais (se cabe), a única opção que como povo temos de melhorar as nossas condições de vida, "veio-me" à lembrança um momento que passou à 26 anos, na Costa da Caparica. Depois de um comicio, numa colectividade que frequentava, onde me abastecia em terra para depois ir para o mar, tendo na altura a responsabilidade sobre a informação e propaganda (penso que era isto...) da JCP para essa freguesia, virei-me para o Camarada Álvaro Cunhal e disse-lhe: -Camarada, a juventude está presente! A reacção desse camarada foi, para meu espanto, olhar para mim, aproximar-se e, dar-me um abraço. Depois desse episódio, durante todo o tempo que passou (que não foi nenhum), fui tentando perceber a motivação dessa atitude, e consegui. Hoje, começam a equilibrar-se as novidades com as memórias, algo que podia, só, ser decadente. Porém, sem que a minha concepção da existência reserve espaço para esse tipo de fenómeno, estas oportunidades são assim mesmo revitalizantes, ou até, capazes de criar a necessidade de exercer um esforço suplementário controlar o corpo.
O Francisco Lopes, nesta ocasião, no meu caso concreto, veio reforçar a certeza do quão correctas foram as conclusões às quais cheguei há alguns anos e, por conseguinte, "Francisco, avança, com toda a confiança!"

Terremoto político na Suécia após entrada de extrema-direita no Parlamento

ESTOCOLMO — As eleições legislativas de domingo na Suécia provocaram incerteza política no país, com uma coalizão de centro-direita minoritária que se vê obrigada a negociar com a esquerda para evitar uma aliança com a extrema-direita, que conseguiu entrar no Parlamento.

Após o anúncio do resultado, o primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt, cuja coalizão perdeu a maioria absoluta por três cadeiras, repetiu que não negociará uma aliança com os Democratas da Suécia (SD), o partido com uma plataforma anti-imigração que entrou no Parlamento.

"Fui claro. Não vamos cooperar ou ser dependentes dos Democratas da Suécia", afirmou aos seguidores o político de 45 anos.

"Vou procurar os Verdes (membros da coalizão de esquerda) para obter um apoio mais amplo", completou.

Diante da primeira reeleição da direita à frente do país, da queda histórica da social-democracia e sobretudo do choque causado pelo aumento da votação da extrema-direita, a imprensa sueca destaca o "fim de uma época".

Com seu pior resultado desde 1914, os social-democratas, que passaram boa parte do tempo no poder desde 1932, perderam o encanto sobre os eleitores.

A líder social-democrata Mona Sahlin, de 53 anos, desejava ser a primeira mulher a assumir o posto de chefe de Governo da Suécia, mas obteve apenas 30,9% dos votos.

"A época em que um partido estava aferrado ao poder e podia decidir tudo, felizmente acabou", afirma um editorial do jornal Dagens Nyheter.

"Perdemos. Não fomos capazes de recuperar a confiança", declarou Sahlin no domingos aos simpatizantes.

Mas o terremoto político no país, lembram os analistas, foi completado com a entrada no Parlamento dos Democratas da Suécia, liderados por Jimmie Aakesson, de 31 anos.

Com 5,7% dos votos, o partido conseguiu 20 cadeiras das 349 do Parlamento sueco e está em uma situação ideal para oferecer a maioria absoluta à coalizão, apesar de Reinfeldt ter descartado a hipótese.

"Não criaremos problemas. Assumiremos nossas responsabilidades. Prometo ao povo sueco", afirmou Aakesson no domingo à noite.

Toda a imprensa sueca lamenta nesta segunda-feira o avanço da ultradireita, que deseja acabar com a forte imigração (mais de 100.000 pessoas ao ano) no país, uma das poucas nações europeias flexíveis no tema.

"Caiu o estandarte da "tolerância" e as forças obscuras acabaram mantendo também como refém a democracia sueca", lamenta um editorial do jornal Expressen, que pede Fredrik Reinfeldt uma aliança com os Verdes.

"Se o preço a pagar é um posto de ministro do Meio Ambiente e impostos sobre a gasolina, não se deve hesitar por um segundo", completa.

Mas conseguir o apoio dos 25 deputados Verdes parece complicado, já que os ecologistas fizeram campanha com os social-democratas e contra o governo Reinfeldt.

Na noite de domingo, uma das principais figuras dos Verdes, Maria Wetterstrand, deixou claro que os planos do premier serão difíceis de ser concretizados.

"Vai ser muito difícil para nós, depois desta campanha, olhar para nossos eleitores nos olhos e dizer que vamos cooperar com este governo", disse.

A coalizão de quatro partidos de Reinfeldt recebeu 49,3% dos votos, o que representa 172 cadeiras, três menos que a maioria absoluta de 175. A coalizão de três partidos de esquerda conseguiu 157 deputados.

Copyright © 2010 AFP. Todos os direitos reservados.

(Onde se lê "coalizão", leia-se: Coligação)

sábado, setembro 18, 2010

Identidade

Trocámos o nosso,
outros futuros;
a alegria de quem será,
que não somos.
Alcunhámos de vida o lamento,
sobrevivendo
nas migalhas dos pães, inteiros
que fomos

Arrotam os porcos
lá fora
rebolando no seu próprio excremento,
sustento
da muralha que nos obriga
o horizonte sonhar. Fétida
Nauseabunda,
Cercada pelo mar

Nós por cá vamos bem..

4.530.000 - Esta era a dimensão da diáspora portuguesa em meados de 2009. Por quê?

Se nos encontrassemos na década de 60, quando chegaram a “saltar” 120.000 portugueses por ano; submetidos ao mais feroz fascismo que o nosso país pôde experimentar... Mas a realidade é esta, mais de 4,5 milhões de portugueses continuam cá fora.

Observando as preocupações dos governos portugueses que, desde Novembro de 1975, foram tentando fechar as portas que em Abril do ano anterior se haviam aberto, poderiamos dar-nos conta dos motivos. Pensar que estes eram só a preservação do controlo obscurantista sobre a população, demagógico desta feita, com o intúito de entregar aos substitutos, e a alguns anteriores, exploradores, um país e um povo que lhes permitissem alimentar os cães com bife do lombo. Mas isso é acreditar em conspirações.

Assim, já em 1978, três anos depois, se tinham definido políticas que contemplavam muitos daqueles que eventualmente poderiam querer passar férias lá fora com as riquezas que se adivinhavam.

Em 1990, depois de um período de consolidação, começamos a perceber quão bem se vivia na diáspora deste novo paradigma.
As noticias eram várias, começando pelos novos destinos, como o Reino-Unido, onde se assistia a casos de tuberculose que, sem dúvida, se arrastavam ainda do tempo do fascismo, na França, onde hoje o governo já adopta tintes neo-nazis, ou, sem parar, na Suiça, onde iam trabalhar para a banca.

Porém, a situação não se revelava apenas por motivos como aqueles que numa primeira impressão podemos imaginar. O contacto com outro tipo de dimensões denota outras, e claramente indicadoras da condição dos portugueses, importantes variáveis. A emigração de periferia. Neste contexto, como membros de pleno direito da UE, como os ciganos romenos, também nós assumíamos (e hoje também) a consideração de iguais.

Finalizando esta parte, depois de uns poucos anos de direita em portugal, já os novos emigrantes tinham ampla consideração: valha este exemplo.

Dessa forma, também os mais temerosos aceitavam um novo estereótipo, basta perceber este titulo, a opinião de um blog qualquer e dos seus mais de 70 comentários: subtilmente amistosos. Esta consideração, como era de esperar, veio gerar ainda mais noticias, como esta.

Tudo isto, como referido no início do texto, para conseguirmos alcançar o 1º lugar em igualdade, algo que Sócrates quase conseguiu, colocando-nos em lugar, mesmo que, o PSD, coo protagonista desta farsa, prometa.


Entretanto, cá fora, vamos assistindo a isto, isto, isto, isto. Nós, e aqueles que no segundo bloco desta página escrevem o que já na alegoria fica explicito.
Por outra parte e, curiosamente, não por assumirmos uma emigração itinerante, mas, preocupados com a imigração que suportamos dos países mais pobres, somos também capazes de investir para melhorar as condições de vida desse colectivo.

Assim, não deixa de resultar lógico que os portugueses, cada dia mais, optem pela diáspora para viverem, considerando as facilidades que cá fora encontram para quem vem de um país com umas condições tão favoráveis; com tais liberdades e garantias. Como tal, metade da população e mais de metade dos potenciais eleitores, enquanto aceitamos a média de idades daqueles que por cá andam, desmentem assim aqueles que explicam a emigração apenas como uma espécie de ânsia de fuga, ou não?


Abril

Brinca a manhã feliz e descuidada,
como só a manhã pode brincar,
nas curvas longas desta estrada
onde os ciganos passam a cantar.

Abril anda à solta nos pinhais
coroado de rosas e de cio,
e num salto brusco, sem deixar sinais,
rasga o céu azul num assobio.

Surge uma criança de olhos vegetais,
carregados de espanto e de alegria,
e atira pedras às curvas mais distantes
- onde a voz dos ciganos se perdia.

Eugénio de Andrade

quinta-feira, setembro 16, 2010

Reflorir, sempre

Não é já de Natal esta poesia.
E, se a teus pés deponho algo que encerra
e não algo que cria,
é porque em ti confio: como a terra,
por sobre ti os anos passarão,
a mesma serás sempre, e o coração,
como esse interior da terra nunca visto,
a primavera eterna de que existo,
o reflorir de sempre, o dia a dia,
o novo tempo e os outros que hão-de vir.

Jorge de Sena

quarta-feira, setembro 15, 2010

Sobre o lado esquerdo

De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.

No segundo caso, o homem que não dorme pensa: "o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade mais gasta do meu corpo, esmagar o coração."

de Sobre o Lado Esquerdo
Carlos de Oliveira

A ilha de cordas

domingo, setembro 12, 2010

O perigo


Prematuro mas catártico, o motivo que justifica este texto.

Emigrante, trabalhador e militante de um partido político, que podia ser qualquer se fosse outro o autor e/ou as suas razões, mas, uma vida, outra, única, e tantas. Decidi debruçar-me sobre os efeitos que a emigração pode ter no indivíduo e seu entorno, tratando a questão desde a infância e as suas diferentes situações, à despersonalização mais profunda e à destruição do Homem que se empenha em, por vezes aproveitar, mas, sempre, sofrer o capitalismo.

O léxico, que empregarei, será aquele que considere oportuno e que, também, dentro do escasso conhecimento linguístico que se poderá constatar, proporcione da forma mais abrangente uma leitura fluida. É importante antecipar que o tema obriga a utilização de determinada terminologia de síntese que, nalgum caso, por não se tratar de apresentar sinónimos, estenderia à extenuação deste que escreve e daquele a quem possa interessar a sua explicação.

Finalmente, e para entrarmos em matéria, não está demais informar que não conservo apetência nem aptidões para o ballet.

As crianças, em idade pré e escolar:

São por demais conhecidas as contrariedades que experimenta um indivíduo quando certas peculiaridades o colocam fora do endogrupo, tornando-se estas mais acentuadas quando este as encontra numa etapa de formação da sua estrutura cognitiva, neuroanatómica e/ou neurofisiologica, impactando na sua personalidade adulta a necessidade alostática de debelar repetidamente fronteiras de cariz estereotípico. Por outra parte, ainda assumindo que termine finalmente por se integrar socialmente, no que ao âmbito familiar concerne pode também constituir uma fonte de cisão com a cultura parental, enquanto o pai, adulto, experimentará outras complicações que mais à frente se tratarão mas que raramente passam pela plena integração, o filho, chega por vezes a revelar-se como articulação entre duas culturas, fundamentalmente quando sobrevaloriza a receptora menosprezando a de proveniência. Nesta situação, os roles familiares chegam frequentemente ao limite de se inverterem entre pai e filho, gerando assim situações de insucesso escolar, toxicodependência, condicionamento social, violência ou mesmo uma capacidade imunológica diminuída.

No relativo às situações negativas geradas, também no caso antagónico, no qual se verifica um apego exacerbado à cultura de proveniência em detrimento da adoptiva, estas se podem desencadear. Sem procurar sistematizar critérios de avaliação nem tão pouco teorias herméticas, estas constatações tomam base em diversos estudos realizados entre 1979 e 1990, os quais apontam, como habitual, que a situação socioeconómica é uma constante proeminente no sustento destas adversidades.

Assim mesmo, referindo-nos agora a factores atenuantes ou promotores das diferentes situações acima descritas, devemos observar certas distinções entre: descendentes de emigrantes em que ambos progenitores compartem naturalidade, idioma, grau de aculturação, situação laboral ou até formação, todos estes aspectos nos mais diversos níveis e que actuam de forma exponencial; onde um dos elementos do casal é oriundo da região; o factor de multiculturalidade dentro do qual amadurece a criança ou até, as suas afiliações comuns, ou não, à generalidade.
O bilinguismo intrafamiliar pode, porém, resultar favorável, mas, da mesma forma que se cria um sistema no qual os símbolos se podem intercambiar, estimulando a organização do pensamento, este poder-se-á desequilibrar quando a família não mantém um reparto na utilização do idioma similar ao do entorno infantil.
Terminado este apartado, apenas mencionar alguns dados quantitativos, tomando como referencia a população emigrante portuguesa, e do magrebe, em França. Sabemos hoje que, em 1985, a metade dos expedientes de tutela temporária e 20% das solicitações de custódia foram relativas a este colectivo. Por tal, tranformado, neste caso, num problema psicológico mais que linguístico, o fenómeno migratório guarda também uma relação directamente proporcional com duas etapas infantis: A patologia carencial, tanto somática como psicológica, que apresenta maior incidência na idade pré-escolar, maximizando-se mais tarde, no período de latência, os problemas escolares. Já na adolescência, momento de consolidação, verificam-se conflitos de identidade podendo estes ser potenciados pelo biculturalismo, razão maior na explicação dos transtornos apontados.
Entre 1980 e 2010, depois da integração na U.E., os emigrantes Portugueses diminuíram o seu fracasso escolar, com rácios similares aos espanhóis, distinguindo-se notavelmente dos estudantes de países africanos. Também assim, a inserção laboral familiar ou a consideração social sobre a nacionalidade, sofreram certa melhoria (aqui também se pode encontrar certa influencia da revolução de Abril), não havendo podido contudo eliminar quadros semelhantes aos relatados.


O Emigrante adulto:

Referindo o continuo entre os dados anteriormente utilizados e os indicadores actuais, constata-se que subsistem enormes dificuldades na afirmação de igualdade entre as populações de estudo e os cidadãos nacionais, persistindo a clivagem social, reforçada pela indefensão aprendida resultante da percepção da realidade do país de origem e pelos discursos e medidas que adoptam os governos dos países receptores, submetidos a ditames de carácter imperialista que legislam como subversiva a defesa de culturas que, ainda diferentes, são indubitavelmente importantes para a estrutura interna do trabalhador, facto que por si só destitui em certa medida de vontade própria e identificação aqueles que encontram como solução aceitar os desígnios de empregadores nacionais, com similar, ou até menor formação (não só académica ou profissional) e, vínculos contratuais onde a precariedade prima pela constância. Concluímos neste caso que, apesar do passar do tempo, da assunção da diferença pelos migrantes, na Europa – para não divagarmos sobre a problemática da população negra norte americana depois de mais de duzentos anos de lutas -, actualmente, também a condição de nacionalizado determina maior exposição a distúrbios psicológicos.

Por outro lado, tratando-se de trabalhadores que recentemente se tornaram emigrantes, observam-se assim mesmo experiências paralelas, mas, neste caso concreto, não carece de necessidade a contemplação do incremento nos direitos, liberdades e garantias que desfrutavam na sua terra (voltando aqui, apesar do fascismo demagógico actual, a mencionar o 25 de Abril como enorme conquista civilizacional), revelando-se a situação prévia à equiparação, muitas vezes exo-distinção positiva, com o colectivo analisado no início do texto.

Interpretando esta amálgama de contrariedades desde a neurociencia, não reduzindo os seus efeitos ao já conhecido sindroma de ulisses, que passa por ser uma tentativa de impedir o profundizar da introspecção na procura dos motivos reais que precedem este fenómeno, delimitando por consequência a sua dimensão, mais, por tomar como base de estudo populações oriundas de regiões geográfica e culturalmente radicalmente diferentes das receptoras, servindo-nos para o explicar a sua suficiente definição wikipédica (em Espanhol, por não existir em Portugal um cuidado sobre esta matéria):
“El Síndrome de Ulises, también conocido como síndrome del emigrante con estrés crónico y múltiple, es un síndrome de naturaleza psicológica que se caracteriza por un estrés crónico que viene asociado a la problemática de los emigrantes al afincarse en una nueva residencia. El nombre viene variado del héroe mítico Ulises el cual, perdido durante muchísimos años (diez según Homero) en su camino de vuelta a Ítaca, añoraba su tierra de origen pero se veía imposibilitado de volver a ella.
Según su descubridor, el doctor Joseba Achótegui, psiquiatra del SAPPIR y profesor titular de la Universidad de Barcelona, es una situación de estrés límite, con cuatro factores vinculantes: soledad, al no poder traer a su familia; sentimiento interno de fracaso, al no tener posibilidad de acceder al mercado laboral; sentimiento de miedo, por estar muchas veces vinculados a mafias; y sentimiento de lucha por sobrevivir. Se calcula que en España puede haber unas 800.000 personas afectadas por esta enfermedad.
El síndrome de Ulises no sólo actúa por sí mismo sino que, como toda situación de estrés, contribuye a acelerar o desarrollar ciertas patologías que podían hallarse latentes en aquellos que los sufren. Por ejemplo, pacientes con predisposición a desarrollar brotes psicóticos pueden ver acelerada o aumentada su aparición a causa del estrés, de ahí que la tasa de estas patologías sean mayores en el colectivo de inmigrantes que en la población general.”


Utilizaremos, deste, como reforço da linha de pensamento aqui apresentada, a constatação de patologias como a esquizofrenia, à qual somaremos a percentagem de emigrantes no número de pacientes que atenderam a consultas de saúde mental no serviço de saúde Galego, 12.5%, um resultado extraordinariamente elevado sabendo que não houve qualquer retorno massivo daqueles que emigraram.

Assim, a causa mais provável deste tipo de psicopatologias parece residir na perda do contacto com diversas características que, em conjunto com a herança genética, constituem o indivíduo: paisagem, idioma, esquemas de movimento, clima, palatabilidade, arquitectura, vestuário, leis, entorno social, etc, e, assumindo outras, para as quais não existem heurísticos; resgatando a óptica evolucionista, poderíamos afirmar que se torna vital para o indivíduo entrar numa situação depressiva, momento no qual o organismo prioriza o pensamento e a análise sobre novos problemas que devem ser resolvidos em ordem a permitir a adaptação ambiental. Nesta situação, o suicídio é uma opção muito tangível em fases mais agudas e, não esquecendo que não existe inserção no meio e que por tal as possibilidades de uma pseudo-terapia de grupo são escassas, aparece no recurso ao especialista uma forma de solucionar, quase sempre quimicamente, ou atenuar, as consequencias do paciente se ostracizar. Os dados, porém, indicam que só uma ínfima percentagem dos afectados recorre a soluções médicas (por questões que vão desde o condicionamento social à nacionalidade do terapeuta), potenciando, com o decorrer do tempo, o agravamento da situação. Consequentemente, a perda de volume de áreas e sistemas fulcrais do cérebro - o hipotálamo por exemplo -, deprimindo também a capacidade cognitiva, intelectual ou de memória, desvincula-o da realidade e promove, assim, uma possível psicose, derivando habitualmente na sua vertente esquizofrénica, problema com o qual voltam ao seu país ou perecem na aventura.

Estagnação ou evolução:

Como é fácil perceber, suprimindo a sua vontade, grande número de emigrantes atravessa esta fase sem sequer se aperceber, algo que guarda relação com outras capacidades do Homem. Os mecanismos mais usuais para preservar o equilíbrio homeostático, muitas das ocasiões com êxito, passam por aderir ou formar associações que pugnem pelos interesses comuns daqueles que compartem rasgos culturais e, dependendo da adquisição de consciência sobre os motivos pelos quais se encontra atravessando determinadas dificuldades, a militância política.

Conclusão:

Exceptuando a militância política activa, as medidas de evitação ou escape, como as descritas, ou até a construção de uma casa na terra, as estâncias periódicas no seu país, etc., não se podem entender além da morte prematura da vontade.
Enquanto emigramos procurando a “sopa feita”, noutros casos só o pão, sensibilizados por uma melhor compensação pela produção de mais-valia, raramente questionamos o modelo que cada dia mais acicata as desigualdades. Esta Europa a duas velocidades, o concentracionismo (que subsidia o arroz por hectare em lugar do quilo de arroz semeado), a conveniente destruição do tecido produtivo nacional, a aposta pelos baixos salários (algo que defenderia em outro paradigma), são estratégias defendidas com vista a fomentar a necessidade de emigrar dos Portugueses e proporcionando assim aos países ricos uma força de trabalho dúctil, subserviente, igual àquela que permanece no seu país mas com uma retribuição menos má. Outra importante vertente a defender é fuga de potencial intelectual, técnico e artístico e cultural.


Países como Portugal, sem o esclarecimento e a participação do povo, afrontam a ameaça de se assemelharem a um aviário de mão-de-obra barata e descartável, onde, neste caso, se podem apreciar um dos mais elevados índices de psicopatologias do mundo e, no qual cerca de metade da população experimentou já, no passado recente, transtornos psicológicos (considerando apenas casos censados).

Breve quanto possível, tratando de obviar elementos que, embora importantes, pouco ou nada compatíveis seriam com o tratado, espero haver contribuído para alertar quem ainda o não está para as consequências que da fuga de nós próprios, na procura da felicidade, podem advir.

Mário Pinto

sexta-feira, setembro 10, 2010

Ler para pensar o mundo - Graça Mexia

Cerca de dez livros foram apresentados na Atalaia, de diversos géneros e abordando temas diferentes. Obras para pensar ou repensar o nosso mundo.

O ambiente era propício à leitura: milhares de volumes estavam espalhados pelas mesas da Festa do Livro, convidando quem entrava a folheá-los e a deixar-se seduzir. Onze dessas obras foram apresentadas naquele espaço, em sessões acompanhadas por leitores e futuros leitores.

Na noite de sexta-feira, Fernanda Mateus, membro da Comissão Política do PCP, apresentou a obra de Graça Mexia 45 Anos e 38 Mil Grávidas Depois, que aborda o método psicoprofilático do parto, que a autora prepara desde 1962. A dirigente comunista recordou como descobriu a existência de um treino que permite às mulheres terem os seus filhos sem dor e encararem a maternidade «como um acto responsável e feliz, não como um fardo». Os relatos cruéis de gerações de partos com dor alimentavam uma visão obscurantista do acto de dar à luz, situação ultrapassada pelo método psicoprofilático, garantiu.

«Politicamente, este livro traz-nos momentos negros da História portuguesa. A sexualidade das mulheres era reprimida e o fascismo não aceitava o trabalho de Graça Mexia», afirmou Fernanda Mateus, lembrando que muitas militantes comunistas que foram mães na clandestinidade conseguiram utilizar este método.

«Hoje, assistimos ao encerramento de maternidades e centros de saúde e o método psicoprofilático tornou-se uma miragem», denunciou a dirigente, sublinhando que a precariedade dos contratos e os horários de trabalho alargados fazem com que a maternidade seja considerada um peso e constituem barreiras a este método.

Graça Mexia confirmou as palavras de Fernanda Mateus: «Nas décadas de 1980 e 1990, acompanhava 75 mulheres por dia, porque a lei permitia que saíssem do trabalho para prepararem o parto. Agora já não. Há um decréscimo brutal de mulheres que o podem fazer, tal como o número de crianças a nascer em Portugal. Isto relaciona-se também com o desemprego, o atendimento nos centros de saúde, a falta de médicos e enfermeiros... Até para a recuperação do parto é difícil ter tempo.»

In, "Avante!"

quinta-feira, setembro 09, 2010

segunda-feira, setembro 06, 2010

A Festa que foi, e já é!

Começou a Festa, mas..

Para lá chegarmos lutámos pelos direitos na Emigração

Trabalharam na construção da Festa

e, depois de reforçar o corpo

e a mente,


estou convencido de não haver feito suficiente.







Obrigado, Camaradas!