Por decisão própria, há dois anos, prescindi priorizar o
sustento económico que me tinha até então proporcionado certa comodidade.
Então, por base dessa aventura tomei o desafio de encontrar uma forma de me
relacionar com a sociedade que usasse como ferramentas outros aspectos da
relação humana que não apenas o económico.
Provocado o colapso de toda uma estrutura construída com
assento no trabalho, na reflexão, na ponderação, mas que, se caracterizava por
atribuir ao “super-eu” freudiano o papel de juiz da minha forma de existir,
deparei com inusitadas realidades que, agora em condições de o afirmar, não
apenas usufruem do condicionamento social próprio do actual modo de interação
humana senão que, ajudam a forjar nas brasas essencialmente do maniqueísmo o
gradeamento que efectivamente nos limita o caminhar.
Nesse sentido, utilizando subterfúgios mais ou menos
ardilosos e outras vezes nem isso, nem sequer o silêncio, enquanto atitude, se
pode considerar alheio à evolução do pensamento ou à manutenção desta fogueira
de aparentes vontades, defendidas sempre pelos seus preconizadores.
Chegado aqui, devo negar-me fora da sociedade. Porém, depois
de atravessar momentos que nunca tinha tido a oportunidade de entender, ainda
que já conhecidos com base na partilha de episódios e/ou vidas de diferentes
pessoas e na literatura que procurei e me chegou, devo aceitar que não existe
ou existiu feito que mereça ou tenha merecido a vida de ninguém. Esta afirmação
não se legitima internamente por assunção de qualquer incapacidade, mas, trata
de evitar que a permeabilidade da mente justifique uma atribuição causal
exógena como a predisposição do indivíduo para competir.
Longo, ainda que relativamente nem por isso, o caminhar da
espécie tem sido protagonizado por massas condicionadas que, sem capacidade
para decidir sobre os frutos da síntese do seu acervo de experiências,
conclusões e melhores practicas, se permite assumir usurpada pelo poder
cristalizado através de modelos que, qual auto-flagelados, obrigam ao
hermetismo, ou, de outra maneira, à variação contida, à diversidade capada,
enfim, à sociedade amedrontada, insegura, pueril, manipulável.
Vou então continuar, espero não ter que aguardar tanto tempo
pela necessidade de escrever, ainda assim, depois de mais de nove anos,
continua sendo este o espaço onde vejo a forma das minhas dúvidas.