terça-feira, maio 27, 2014

Apontamento


Por decisão própria, há dois anos, prescindi priorizar o sustento económico que me tinha até então proporcionado certa comodidade. Então, por base dessa aventura tomei o desafio de encontrar uma forma de me relacionar com a sociedade que usasse como ferramentas outros aspectos da relação humana que não apenas o económico.

Provocado o colapso de toda uma estrutura construída com assento no trabalho, na reflexão, na ponderação, mas que, se caracterizava por atribuir ao “super-eu” freudiano o papel de juiz da minha forma de existir, deparei com inusitadas realidades que, agora em condições de o afirmar, não apenas usufruem do condicionamento social próprio do actual modo de interação humana senão que, ajudam a forjar nas brasas essencialmente do maniqueísmo o gradeamento que efectivamente nos limita o caminhar.

Nesse sentido, utilizando subterfúgios mais ou menos ardilosos e outras vezes nem isso, nem sequer o silêncio, enquanto atitude, se pode considerar alheio à evolução do pensamento ou à manutenção desta fogueira de aparentes vontades, defendidas sempre pelos seus preconizadores.

Chegado aqui, devo negar-me fora da sociedade. Porém, depois de atravessar momentos que nunca tinha tido a oportunidade de entender, ainda que já conhecidos com base na partilha de episódios e/ou vidas de diferentes pessoas e na literatura que procurei e me chegou, devo aceitar que não existe ou existiu feito que mereça ou tenha merecido a vida de ninguém. Esta afirmação não se legitima internamente por assunção de qualquer incapacidade, mas, trata de evitar que a permeabilidade da mente justifique uma atribuição causal exógena como a predisposição do indivíduo para competir.

Longo, ainda que relativamente nem por isso, o caminhar da espécie tem sido protagonizado por massas condicionadas que, sem capacidade para decidir sobre os frutos da síntese do seu acervo de experiências, conclusões e melhores practicas, se permite assumir usurpada pelo poder cristalizado através de modelos que, qual auto-flagelados, obrigam ao hermetismo, ou, de outra maneira, à variação contida, à diversidade capada, enfim, à sociedade amedrontada, insegura, pueril, manipulável.

Vou então continuar, espero não ter que aguardar tanto tempo pela necessidade de escrever, ainda assim, depois de mais de nove anos, continua sendo este o espaço onde vejo a forma das minhas dúvidas.