sexta-feira, outubro 13, 2017

Confabular

 Sobre a realidade em que pensam viver os portugueses, ou sobre aquela que, através dos mais diferentes meios de manipulação procura o interesse económico acreditem protagonizar, escrevo a modo de terapia este texto.
 Sem escusar lembrar ser português, resido porém, desde há muito (mesmo muito), na diáspora, circunstancia que pode resultar interessante para quem desconhece dita condição ou para outros aos quais a motivação residiu e se mantem, essencialmente no factor material. Aspectos positivos poder-se-iam efectivamente destacar, da mesma forma que tantos negativos mas habitualmente reservados há esfera pessoal do indivíduo emigrante.
 Não obstante, é sobre a perspectiva pessoal que pretendo desenvolver a opinião, sem poder, mesmo atendendo ao escrito acima, afirmar se é ou não positivo opinar sobre um paradigma que, somado à impossibilidade de o experimentar, gera ou provoca emoções ambivalentes.
 Em Portugal, depois de aproximadamente cinquenta (50) anos de ditadura e justamente no seu terminus nasci - em 1970 -, cresci numa sociedade vítima durante mais de duas (2) gerações de um imposto e criminoso obscurantismo, esclavagismo; entre sobreviventes da clivagem económica ou do escamote cultural sofridos e infligidos pelos próprios vizinhos, todos amedrontados. Meio século de mordaça, demasiado tempo sem discutir, demasiado tempo sem dúvidas, e, demasiadas certezas hoje, de quem afirma impossível sequer uma subtil modificação do ADN, do ARN se quiserem, provocada pela repressão nacional salazarista.

 Porém, este meu quadro, é isso mesmo, o meu quadro. Assim, tenho observado como Portugal se publicita diariamente nos meios de comunicação internacionais, que toda ou quase toda dita propaganda, além do procurado impacto global, repercute na mente dos residentes portugueses em Portugal de forma aparentemente bastante positiva, sem deixar de mencionar os, tão inusitados quanto repetidos, êxitos nos mais diversos âmbitos, que desde o desporto à ciência, passando pelo turismo, pelo património, pela política ou, evitando estender-me, pela economia ou o emprego, resultam tão estimulantes quanto um recapturador de serotonina (tão sorridentes em suma quanto despreocupados), quem sabe pela inconsciente procura de identificação, característica própria desta condição de "exilado", encontro inúmeros elementos comuns entre qualquer campanha de marketing empresarial e a forma adoptada para, ao parecer, vender um país como "colónia" balnear low-cost.
 Senão vejamos:

 Excelentes praias, muito sol, circuito mundial de surf, bom vinho e melhor comida.

 Fado, Cante e outros patrimónios como a Xávega.

 Campeões de diferentes modalidades, em confronto directo com as primeiras potencias mundiais.

 Resultados económicos exemplares.

 Grande parte do território queimado.

 Ordenados vergonhosos.

 Custo de vida reduzido, atendendo apenas aos vizinhos europeus.

 Baixo grau de formação.

 Garantias sociais praticamente inexistentes.

 Conjuntamente com estes atractivos factos, mais parece agora que, resgatada qual Ferreira Leite da inacção da 3ª idade, temos como agente comercial uma consagrada artista como a Madonna, quem mexe desde a ministra às redes sociais para conseguir a sua residencia no nosso país (mesmo que uma alegre casinha), mostrando ao mundo o quão convencida está dos beneficios de viver em Portugal. Ainda assim, não quero deixar de considerar o tipo de público que esta senhora granjeou durante a sua carreira e o impacto cultural que pode trazer a sua eleição.
 Mais ao pormenor, vejo também como depois de um histórico de prevaricadores à frente de diferentes governos portugueses, uma esquerda trotskista "social democrata" que pretende substituir-se à natureza permitindo a mudança de sexo aos dezasseis (16) anos quando a essa idade não existe ainda qualquer decisão consciente tomada por Humano algum, que pretende que um paciente terminal e invariavelmente deprimido decida sobre a sua morte; com um partido comunista que obriga os trabalhadores dos museus a trabalhar ao domingo e simultaneamente impede a ampliação do horario ao sábado de uma das maiores fábricas no nosso tecido industrial; a perpétua  defesa do corrupto partido social demócrata, seguramente atendendo à composição de alguns telhados, torna-se quase impossivel olhar para o Portugal futuro sem que nesse quadro apareçam mulheres e homens formados, dobrados, calados, a sorrir, famélicos, todos sãos e impedidos de procriar por ser quase impossível pagar o aluguer de uma habitação com um (1) quarto ou alimentar adequadamente uma terceira boca.
 
 Será apenas a saudade que me leva a esta confabulação ou é esta fábula, transvestida de híper realidade, que me traz este azedume?

P.S. - Penso que aquí começou: http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2014-11-27-Cavaco-Silva-desafia-arabes-a-visitarem-Portugal

                   

domingo, outubro 08, 2017

Era necessário.


Inusitada vontade, esta, a de escrever, de novo, utilizando um meio aparentemente tão impessoal, mas, claro, essa consideração dependerá sempre de cada um de nós, por isso aparente.

 Inesperada a vontade, contudo, sinal claro da pouca atenção aos alarmes que o inconsciente sempre nos envia, quem sabe devido à necessidade de priorizar a tomada de decisões estimulada pelo incontornável pragmatismo a que os dias me obrigam. Porém, é também parte da (ainda) bagagem outra das razões pelas quais surgiu esta necessidade, o carácter que, em permanente transformação, mais que impedir uma análise ajustada da realidade procura, atento aos perigos que ainda sem experimentar determinam os meus heurísticos como evitáveis, adaptar o casco a este imenso e convulso rio ao qual a sociedade chama vida, respeitando o azimute que ratifico a cada ano que passa.

Assim, acredito ser necessário deixar claro neste ponto que, concretamente devido à minha personalidade e à forma e grau em que a trabalhei para minimamente permanecer homeostáticamente estável, não se deve ao abandono de um determinado partido (que não princípios sociopolíticos) ou à mudança para uma nova área de interesse académico que deixei seguramente pelo caminho o membro “Mensa”, aquele que priorizava de forma tão pueril o enriquecimento intelectual.

Em 2013, interdito hoje de me arrepender, tomei em Madrid a estrada que estriba na Praia em que cresci, procurando com a assunção desse desafio desenvolver-me num âmbito em que pudesse recuperar o sorriso que tinha desaparecido como característica daquele que queria conservar. Curiosamente, deparei-me, na sua grande maioria, com homens e mulheres em fraldas, defensores do medo que evita riscos como consequência de qualquer tomada de posição, como toda a tentativa de ser. Ora a conclusão foi fácil e rápida, ou insistia e, mais que ajustar o casco, me deixava levar nessa corrente que a todos parecia resultar cómoda ou, pelo contrario, lutava contra essa percepção da realidade procurando provar as ferramentas que havia utilizado durante a vida e a sua utilidade real à época. Certo foi que, como a qualquer de nós acontece, descartei muito poucas das soluções que trazia experimentadas, adoptei algumas outras (muito poucas) que se exigiam formuladas pelas circunstâncias, mas, em realidade, reneguei ainda mais os factores premiados pela sociedade e que até então conhecia sem preocupação de os exaltar na conduta.

Em conclusão, depois de nestes cinco (5) anos caminhar trilhos jamais imaginados mas quase sempre identificados antes de os encetar, descartadas que estão as drogas prescritas pelos especialistas da mente, a preocupação que manejo agora é o arraigo, elemento que se tornou fundamental para voltar a partir, já não fisicamente; geograficamente, senão em busca do Mário capaz de criar nos seus filhos a memoria que considero lhe interesse quando já não estiver. Assumindo-me bastante menos intransigente (constatação que constitui só por si uma alegría) e menos jovem, sei que difícilmente obrigarei os meus filhos a lutar contra muitos dos meus fantasmas, hoje mantive a primeira conversa sobre a realidade com a minha filha.