sábado, outubro 29, 2005

Eles não sabem que o sonho..

São Paulo, Brasil, 28 Out (Lusa) - O escritor português José Saramago a presentou quinta-feira em São Paulo, em estreia mundial, o seu novo livro, "As I ntermitências da Morte", que narra os conflitos provocados pela decisão da Morte de abandonar a sua actividade.

Os actores Dan Stulbach e Leona Cavalli fizeram uma leitura dramática d e um trecho do novo romance e o violoncelista Johannes Gramsch apresentou composições de Johann Sebastian Bach.

A obra do compositor alemão (1685-1750), nomeadamente a "Suite Número 6 ", é citada no novo romance de José Saramago.

"Todos os meus livros partem de uma situação improvável ou impossível, sem excepções. Descobri isso há bem pouco tempo, há uns dois anos", afirmou o escritor.

"Se algum talento tenho, é transformar o improvável e o impossível em algo provável e possível. Quero que gostem desse livro por duas razões: porque el e merece e porque eu mereço", disse Saramago.

O romance mostra como a agitação e alegria provocadas num país imaginário pela reforma da Morte se convertem logo a seguir num motivo de preocupação, p elo impacto político, económico, social e até religioso da nova situação.

O escritor português avançou que seu novo romance é "extremamente divertido" e que fala sobre a morte "e, portanto, um livro sobre a vida".

"No dia seguinte ninguém morreu", assim começa a nova obra do Nobel português da Literatura.

O acontecimento, a ausência de mortes de um dia para o outro, sonho milenar da Humanidade, como explicou José Saramago, converte-se repentinamente numa dor de cabeça para governantes e cidadãos.

"Como o tempo não pararia, as pessoas envelheceriam e ficariam numa situação de velhice eterna", afirmou o escritor no lançamento da sua obra.

Com uma população envelhecida, o governo desse país imaginário não sabe como resolver o problema da Segurança Social, as pessoas deixam de saber o que fazer com uma existência imortal e até a fé cristã fica em xeque, pois sem morte não há ressurreição nem vida eterna, comentou José Saramago.

O escritor revelou que teve a ideia de escrever esta obra ao ler um livro que relatava a morte de um pessoa e começou a pensar no que aconteceria se os homens não morressem.

"O ser humano alimentou sempre a esperança de conseguir a imortalidade, mas sem a Morte a Vida seria um caos", comentou.

Com quase 83 anos, José Saramago disse que ele próprio se sente um pouco na eternidade, mas "felizmente em boas condições".

"Quando nasci, a esperança de vida na minha aldeia era de 35 anos e dentro de três semanas faço 83 anos, por isso já me sinto um bocado a entrar na eternidade", gracejou.

"As intermitências da Morte" estão a partir de hoje nas livrarias brasileiras mas só na próxima semana chegam a Portugal, Espanha e América Latina.

O novo romance segue-se ao "Ensaio sobre a Lucidez", lançado em 2004, e que causou amplo debate por defender o voto em branco como forma de criticar os governos.

José Saramago já publicou neste ano "Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido", peça de teatro que inspirou o libreto de uma ópera do compositor italiano Azio Corghi.

A edição brasileira de "As Intermitências da Morte" foi o primeiro livro lançado no Brasil que obedece às normas de preservação ambiental, divulgou o grupo Greenpeace.

"Apesar do grande estímulo cultural que nos presta, a indústria editorial consome avidamente papel cuja produção estimula a destruição das florestas ", disse Rebeca Lerer, porta-voz do Greenpeace no Brasil.

"Iniciativas como a de José Saramago são provas de respeito, não apenas ao meio ambiente, como a todos nós", disse a porta-voz, num comunicado distribuído à imprensa.

O livro tem o reconhecimento das autoridades ambientais brasileiras de que foi feito a partir de madeira legalizada, o que não gera a destruição de florestas primárias como a Amazónia.

2 comentários:

farfalho, o maltês disse...

caparica,
Podemo dizer que a net é um meio de comunicação protector do ambiente.

E se Saramago começasse publicar os seus livros neste espaço?

Mário Pinto disse...

Sería um privilégio!
O Saramago ou muitos outros.