sexta-feira, abril 30, 2010

As Três Fontes e as Três partes Constitutivas do Marxismo

A doutrina de Marx suscita em todo o mundo civilizado a maior hostilidade e o maior ódio de toda a ciência burguesa (tanto a oficial como a liberal), que vê no marxismo um a espécie de "seita perniciosa". E não se pode esperar outra actitude, pois, numa sociedade baseada na luta de classes não pode haver ciência social "imparcial". De uma forma ou de outra, toda a ciência oficial e liberal defende a escravidão assalariada, enquanto o marxismo declarou uma guerra implacável a essa escravidão. Esperar que a ciência fosse imparcial numa sociedade de escravidão assalariada seria uma ingenuidade tão pueril como esperar que os fabricantes sejam imparciais quanto à questão da conveniência de aumentar os salários dos operários diminuindo os lucros do capital.

Mas não é tudo. A história da filosofia e a história da ciência social ensinam com toda a clareza que no marxismo não há nada que se assemelhe ao "sectarismo", no sentida de uma doutrina fechada em si mesma, petrificada, surgida à margem da estrada real do desenvolvimento da civilização mundial. Pelo contrário, o gênio de Marx reside precisamente em ter dado respostas às questões que o pensamento avançado da humanidade tinha já colocado. A sua doutrina surgiu como a continuação directa e imediata das doutrinas dos representantes mais eminentes da filosofia, da economia política e do socialismo.

A doutrina de Marx é omnipotente porque é exacta. É completa e harmoniosa, dando aos homens uma concepção, integral do mundo, inconciliável com toda a superstição, com toda a reacção, com toda a defesa da opressão burguesa. O marxismo é o sucessor legítimo do que de melhor criou a humanidade no século XIX: a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês.

Vamos deter-nos brevemente nestas três fontes do marxismo, que são, ao mesmo tempo, as suas três partes constitutivas.


I

A filosofia do marxismo é o materialismo. Ao longo de toda a história moderna da Europa, e especialmente em fins do século XVIII, em França, onde se travou a batalha decisiva contra todas as velharias medievais, contra o feudalismo nas instituições e nas idéias, o materialismo mostrou ser a única filosofia consequente, fiel a todos os ensinamentos das ciências naturais, hostil à superstição, à beatice, etc. Por isso, os inimigos da democracia tentavam com todas as suas forças "refutar", desacreditar e caluniar o materialismo e defendiam as diversas formas do idealismo filosófico, que se reduz sempre, de um modo ou de outro, à defesa ou ao apoio da religião.

Marx e Engels defenderam resolutamente o materialismo filosófico, e explicaram, repetidas vezes, quão profundamente errado era tudo quanto fosse desviar-se dele. Onde as suas opiniões aparecem expostas com maior clareza e pormenor é nas obras de Engels Ludwig Feuerbach e Anti-Duhring, as quais - da mesma forma que o Manifesto Comunista - são os livros de cabeceira de todo o operário consciente.

Marx não se limitou, porém, ao materialismo do século XVIII; pelo contrário, levou mais longe a filosofia. Enriqueceu-a com as aquisições da filosofia clássica alemã, sobretudo do sistema de Hegel, o qual conduzira por sua vez ao materialismo de Feuerbach. A principal dessas aquisições foi a dialética, isto é, a doutrina do desenvolvimento na sua forma mais completa, mais profunda e mais isenta de unilateralidade, a doutrina da relatividade do conhecimento humano, que nos dá um reflexo da matéria em constante desenvolvimento. As descobertas mais recentes das ciências naturais - a rádio, os eletrões, a transformação dos elementos - confirmaram de maneira admirável o materialismo dialético de Marx, a despeito das doutrinas dos filósofos burgueses, com os seus "novos" regressos ao velho e podre idealismo.

Aprofundando e desenvolvendo o materialismo filosófico, Marx levou-o até ao fim e estendeu-o do conhecimento da natureza até o conhecimento da sociedade humana. O materialismo histórico de Marx é uma conquista formidável do pensamento científico. Ao caos e à arbitrariedade que até então imperavam nas concepções da história e da política, sucedeu uma teoria científica notavelmente integral e harmoniosa, que mostra como, em consequência do crescimento das forças produtivas, desenvolve-se de uma forma de vida social uma outra mais elevada, como, por exemplo, o capitalismo nasce do feudalismo.

Assim, como o conhecimento do homem reflete a natureza que existe independentemente dele, isto é, a matéria em desenvolvimento, também o conhecimento social do homem (ou seja: as diversas opiniões e doutrinas filosóficas, religiosas, políticas, etc.) refletem o regime económico da sociedade. As instituições políticas são a superestrutura que se ergue sobre a base económica. Assim, vemos, por exemplo, como as diversas formas políticas dos Estados europeus modernos servem para reforçar a dominação da burguesia sobre o proletariado.

A filosofia de Marx é o materialismo filosófico acabado, que deu à humanidade, à classe operária sobretudo, poderosos instrumentos de conhecimento.


II

Depois de ter verificado que o regime económico constitui a base sobre a qual se ergue a superestrutura política, Marx dedicou-se principalmente ao estudo deste regime económico. A obra principal de Marx, O Capital, é dedicada ao estudo do regime económico da sociedade moderna, isto é, da sociedade capitalista.

A economia política clássica anterior a Marx tinha-se formado na Inglaterra, o país capitalista mais desenvolvido. Adam Smith e David Ricardo lançaram nas suas investigações do regime económico os fundamentos da teoria do valor-trabalho. Marx continuou sua obra. Fundamentou com toda precisão e desenvolveu de forma consequente aquela teoria. Mostrou que o valor de qualquer mercadoria é determinado pela quantidade de tempo de trabalho socialmente necessário investido na sua produção.

Onde os economistas burgueses viam relações entre objetos (troca de umas mercadorias por outras), Marx descobriu relações entre pessoas. A troca de mercadorias exprime a ligação que se estabelece, por meio do mercado, entre os diferentes produtores. O dinheiro indica que esta ligação se torna cada vez mais estreita, unindo indissoluvelmente num todo a vida económica dos diferentes produtores. O capital significa um maior desenvolvimento desta ligação: a força de trabalho do homem torna-se uma mercadoria. O operário assalariado vende a sua força de trabalho ao proprietário de terra, das fábricas, dos instrumentos de trabalho. O operário emprega uma parte do dia de trabalho para cobrir o custo do seu sustento e de sua família (salário); durante a outra parte do dia, trabalha gratuitamente, criando para o capitalista a mais-valia, fonte dos lucros, fonte da riqueza da classe capitalista.

A teoria da mais-valia constitui a pedra angular da teoria económica de Marx.

O capital, criado pelo trabalho do operário, oprime o operário, arruína o pequeno patrão e cria um exército de desempregados. Na indústria, é imediatamente visível o triunfo da grande produção; mas também na agricultura deparamos com o mesmo fenómeno: aumenta a superioridade da grande exploração agrícola capitalista, cresce o emprego de maquinaria, a propriedade camponesa cai nas garras do capital financeiro, declina e arruína-se sob o peso da técnica atrasada. Na agricultura, o declínio da pequena produção reveste-se de outras formas, mais esse declínio é um facto indiscutível.

Esmagando a pequena produção, o capital faz aumentar a produtividade do trabalho e cria uma situação de monopólio para os consórcios dos grandes capitalistas. A própria produção vai adquirindo cada vez mais um caráter social - centenas de milhares e milhões de operários são reunidos num organismo económico coordenado - enquanto um punhado de capitalistas se apropria do produto do trabalho comum. Crescem a anarquia da produção, as crises, a corrida louca aos mercados, a escassez de meios de subsistência para as massas da população.

Ao fazer aumentar a dependência dos operários relativamente ao capital, o regime capitalista cria a grande força do trabalho unido.

Marx traçou o desenvolvimento do capitalismo desde os primeiros germes da economia mercantil, desde a troca simples, até às suas formas superiores, até à grande produção.

E, de ano para ano, a experiência de todos os países capitalistas, tanto os velhos como os novos, faz ver claramente a um número cada vez maior de operários a justeza desta doutrina de Marx.

O capitalismo venceu no mundo inteiro, mas, esta vitória não é mais do que o prelúdio do triunfo do trabalho sobre o capital.


III

Quando o regime feudal foi derrubado e a "livre" sociedade capitalista viu a luz do dia, tornou-se imediatamente claro que essa liberdade representava um novo sistema de opressão e exploração dos trabalhadores. Como reflexo dessa opressão e como protesto contra ela, começaram imediatamente a surgir diversas doutrinas socialistas, mas, o socialismo primitivo era um socialismo utópico. Criticava a sociedade capitalista, condenava-a, amaldiçoava-a, sonhava com a sua destruição, fantasiava sobre um regime melhor, queria convencer os ricos da imoralidade da exploração.

Porém, o socialismo utópico não podia indicar uma saída real. Não sabia explicar a natureza da escravidão assalariada no capitalismo, nem descobrir as leis do seu desenvolvimento ou encontrar a força social capaz de se tornar a criadora da nova sociedade.

Entretanto, as tempestuosas revoluções que aconteciam por toda a Europa, e especialmente em França, a queda do feudalismo, da servidão, mostravam cada vez com maior clareza que a luta de classes era a base e a força motriz de todo o desenvolvimento.

Nenhuma vitória da liberdade política sobre a classe feudal foi alcançada sem uma resistência desesperada. Nenhum país capitalista se formou sobre uma base mais ou menos livre, mais ou menos democrática, sem uma luta de morte entre as diversas classes da sociedade capitalista.

O génio de Marx está em ter sido o primeiro a ter sabido deduzir daí a conclusão implícita na história universal e em tê-la aplicado consequentemente. Tal conclusão é a doutrina da luta de classes.

Os homens sempre foram, em política, vítimas ingénuas do engano dos outros e do próprio e, continuarão a sê-lo enquanto não aprendem a descobrir por trás de todas as frases, declarações e promessas morais, religiosas, políticas e sociais, os interesses de uma ou de outra classe. Os partidários de reformas e melhoramentos ver-se-ão sempre enganados pelos defensores do velho, enquanto não compreenderem que toda a instituição velha, por mais bárbara e apodrecida que pareça, se mantém pela força de umas ou de outras classes dominantes. Para vencer a resistência dessas classes só há um meio: encontrar na própria sociedade que nos rodeia, educar e organizar para a luta, os elementos que possam -e, pela sua situação social, devam- formar a força capaz de varrer o velho e criar o novo.

Só o materialismo filosófico de Marx indicou ao proletariado a saída da escravidão espiritual em que vegetaram até hoje todas as classes oprimidas. Só a teoria económica de Marx explicou a situação real do proletariado no conjunto do regime capitalista.

No mundo inteiro, da América ao Japão e da Suécia à África do Sul, multiplicam-se as organizações independentes do proletariado. Este se educa e instrui-se, travando a sua luta de classe liberta-se dos preconceitos da sociedade burguesa, adquire uma coesão cada vez maior, aprende a medir o alcance dos seus êxitos, tempera as suas forças e cresce irremediavelmente.


V. I. Lénine
Março de 1913

quinta-feira, abril 29, 2010

quarta-feira, abril 28, 2010

As Seis Características Fundamentais de um Partido Comunista

3ª - Ser um partido com uma vida democrática interna e uma única direcção central.

A democracia interna é particularmente rica em virtualidades nomeadamente: trabalho colectivo, direcção colectiva, congressos, assembleias, debates em todo o partido de questões fundamentais da orientação e acção política, descentralização de responsabilidades e eleição dos órgãos de direcção central e de todas as organizações.

A aplicação destes princípios tem de corresponder à situação política e histórica em que o partido actua.

Nas condições de ilegalidade e repressão, a democracia é limitada por imperativo de defesa. Numa democracia burguesa, as apontadas virtualidades podem conhecer, e é desejável que conheçam, uma muito vasta e profunda aplicação.

4ª - Ser um partido simultaneamente internacionalista e defensor dos interesses do país respectivo.

Ao contrário do que em certa época foi defendido no movimento comunista, não existe contradição entre estes dois elementos da orientação e acção dos partidos comunistas.

Cada partido é solidário com os partidos, os trabalhadores e os povos de outros países. Mas é um defensor convicto dos interesses e direitos do seu próprio povo e país. A expressão “partido patriótico e internacionalista” tem plena actualidade neste findar do século XX. Pode, na atitude internacionalista, incluir-se, como valor, a luta no próprio país e, como valor para a luta no próprio país, a relação de solidariedade para com os trabalhadores e os povos de outros países.

5ª - Ser um partido que define, como seu objectivo, a construção de uma sociedade sem explorados nem exploradores, uma sociedade socialista.

Este objectivo tem também plena actualidade. Mas as experiências positivas e negativas da construção do socialismo numa série de países e as profundas mudanças na situação mundial, obrigam a uma análise crítica do passado e a uma redefinição da sociedade socialista como objectivo dos partidos comunistas.

6ª - Ser um partido portador de uma teoria revolucionária, o marxismo-leninismo, que não só torna possível explicar o mundo, como indica o caminho para transformá-lo.


Álvaro Cunhal
15 de Setembro de 2001

terça-feira, abril 27, 2010

sábado, abril 24, 2010

Duplicam os casos de trabalhadores Portugueses escravizados em Espanha

Constatado que está que a igualdade entre os estados membros da UE não passou de mera propaganda, em Espanha continuamos a verificar como os trabalhadores Portugueses, na sua maioria itinerantes, precários, constituem cada vez mais a mão-de-obra barata que necessita este País para atenuar as devastadoras consequências da conivência com os desígnios do imperialismo.
Fomentado o retorno de muitos emigrantes oriundos de países geográfica e culturalmente mais distantes que o nosso, recorrendo em alguns casos à mentira, mas, fundamentalmente, destinando medidas e verbas para incentivar economicamente esse regresso, ao mesmo tempo que tergiversavam através da mais demagógica manipulação informativa a realidade desses que serviram a estratégia da direita, que, quando no governo, apostou fortemente nos emigrantes como factor de contenção salarial, o actual ministro do trabalho e imigração do governo “Socialista” espanhol, Celestino Corbacho, veio há dias reforçar o discurso xenófobo no qual apostam os partidos nacionalistas, particularmente depois do aprofundar das dificuldades económicas que padece Espanha, proferindo em meios de comunicação como “Rádio Punto” afirmações como: “-Todos os emigrantes que queiram vir trabalhar a Espanha, que eliminem essa questão da sua agenda imediatamente.”
Assim, partidos como Convergencia i unió, que governou durante muitos anos a Catalunya, criticam agora os emigrantes portugueses que semanalmente viajam a Barcelona para trabalhar na construção do hospital de Reus, subcontratados para o “Ayuntamiento”, ou Município dessa localidade (como informa a agência EFE), aproveitando-se este da situação para a qual atiraram o país os sucessivos governos lusos da pseudo-alternância. Nessa linha, não sendo este um caso excepcional, também na Galiza, e por motivos diversos, a “CIG”, confederação intersindical galega, aponta o dedo às Câmaras, acusando-as de não contemplar outro aspecto que não a margem de benefício das empresas empreiteiras, enquanto estas integram nos seus quadros mais de 90% de mão-de-obra vinda de Portugal, tirando vantagem do baixo nível de exigência desses trabalhadores.
Em suma, mais que indícios que apontem no sentido da clivagem socioeconómica entre os 7 países europeus com poder decisão e os restantes que gradualmente parecem assumir a imposição da sua dependência, no caso específico de Portugal deparamo-nos de novo com situações que nos transportam ao obscurantismo de outros momentos da vida nacional, reflectindo o cariz neoliberal do governo de Sócrates e de outros, como o PSD ou o CDS, que, desaproveitados que foram os fundos de coesão para reestruturação da nossa infra-estrutura, sobretudo durante a governação de Cavaco Silva, permitem que nos encontremos, hoje, com noticias que provam a dimensão da tragédia pela qual atravessa actualmente o Povo português e que o obriga a abandonar o seu país. Como exemplo poderemos ler no “Noticias de Burgos”:
“Exploravam portugueses por 20€ ao mês e mantinham-nos enclausurados.
Seis cidadãos portugueses foram detidos na sequência de uma operação da “Guardia Civil”, nas comarcas de “Ribera del Duero” e “Esgueva”, contra a contratação de mão-de-obra irregular estrangeira para tarefas agrícolas. Em dois quartos de duas residências diferentes, propriedades desta banda, as autoridades concluíram que dormiam dezoito trabalhadores aos quais se lhes pagava com alimentação, vestuário, cama e, 20€ mensais, encontrando-se os mesmos desprovidos de documentação devido ao facto desta lhes ter sido retirada pelos agora detidos.”

Não sendo a única noticia que podemos ler sobre a dimensão das perversas políticas adoptadas em Portugal, ainda em Novembro também o DN publicava:
Rede de sequestradores foi identificada pela PJ, mas estão todos em Espanha e ainda ninguém foi detido.
Nove portugueses foram vítimas:
Aliciados por salários atractivos, são levados para Espanha para trabalharem nos campos agrícolas. Do lado de lá da fronteira começa o tormento. Os angariadores ficam com o dinheiro pago pelos empregadores, prendem as vítimas, retiram-lhes a documentação e impedem-nos de fugir. Uma destas redes acabou desmantelada pela PJ da Guarda, mas nenhum dos sete sequestrados será, a breve prazo, presente à justiça portuguesa. O líder da rede está preso em Espanha, à ordem de outro processo, e os outros elementos da rede estão apenas identificados. “No conjunto são nove vítimas que foram aliciadas a trabalhar em Espanha. Quando começaram a trabalhar, em jornadas de mais de 15 horas, ficaram sem documentos, dinheiro e no final do dia eram fechados e alguns acorrentados”, disse a fonte da PJ.

Um destes trabalhadores conseguiu fugir das “agressões permanentes e contou o sucedido, que deu origem à investigação”. Este homem queixou-se de ter sido transportado por outro português para Espanha, onde “era obrigado a fazer trabalhos agrícolas numa quinta da região de Castilla y Leon”, adiantou a PJ em comunicado. Em Espanha, o homem “trabalhou de sol a sol, em condições degradantes, sem qualquer remuneração e chegou a estar acorrentado”. Do relato deste trabalhador constam ainda agressões de que terão sido vítimas “nove trabalhadores, todos de origem portuguesa e angariados para trabalhar em Espanha”.

Concluindo, a juntar a estas aberrações do capitalismo, o desinvestimento na área consular, a desresponsabilização, o abandono e, a privatização dos serviços de apoio aos emigrantes que este governo tem exibido, não só permitem a falta de acompanhamento de situações deste tipo como potenciam a percepção de desamparo daqueles que são vítimas de tais situações.


Mário Pinto
Madrid

(Publicado no Jornal «Em Movimento» nº7 de Abril de 2010)

quinta-feira, abril 15, 2010

Privatizações

De acordo com a totalidade de mais uma denúncia do PCP, àparte dos aspectos negativos mencionados nesta ocasião, outros são, assim mesmo, de importancia fundamental para o nosso país.
Assim, a juntar a outras contradições a promulgar por este governo com a inestimável colaboração do PSD/CDS, se atendermos à imperiosa necessidade de definir um plano estratégico de desenvolvimento para Portugal, estas empresas, que hoje poderiam constituir um pólo de investigação contribuindo dessa forma para a reestructuração do tecido productivo nacional, mesmo rentáveis, serão entregues aos mesmos dos quais a vida dos trabalhadores dependerá cada dia mais.

Por outra parte, sem contudo abandonarmos a área da criação, não devemos esquecer que as verbas para o I+D, ainda que mínimas, serão assim entregues ao privado, o mesmo que obterá benefícios enquanto usufrui dos nossos impostos.

Foi com a tecnologia que Portugal experimentou um maior relevância no contexto global, foi com a investigação que demos mundos ao mundo,e, ainda provada a desgraça de uma política colonizadora, no que à soberania e independência concerne deve ser esse o campo a estimular, só pode ser esse o âmbito no qual investir públicamente. A privatização é um espólio que deve ser travado.

As Seis Características Fundamentais de um Partido Comunista

2ª - Ser um partido da classe operária, dos trabalhadores em geral, dos explorados e oprimidos.

Segundo a estrutura social da sociedade em cada país, a composição social dos membros do partido e da sua base de apoio pode ser muito diversificada. Em qualquer caso, é essencial que o partido não esteja fechado em si, não esteja voltado para dentro, mas, sim voltado para fora, para a sociedade, o que significa, não só mas antes de mais, que esteja estreitamente ligado à classe operária e às massas trabalhadoras.

Não tendo isto em conta, a perda da natureza de classe do partido tem levado à queda vertical da força de alguns e, em certos casos, à sua autodestruição e desaparecimento.

A substituição da natureza de classe do partido pela concepção de um “partido dos cidadãos” significa ocultar que há cidadãos exploradores e cidadãos explorados e conduzir o partido a uma posição neutral na luta de classes – o que na prática desarma o partido e as classes exploradas e faz do partido um instrumento apendicular da política das classes exploradoras dominantes.


Álvaro Cunhal
15 de Setembro de 2001

sexta-feira, abril 09, 2010

As Seis Características Fundamentais de um Partido Comunista

1ª - Ser um partido completamente independente dos interesses, da ideologia, das pressões e ameaças das forças do capital.

Trata-se de uma independência do partido e da classe, elemento constitutivo da identidade de um partido comunista. Afirma-se na própria acção, nos próprios objectivos, na própria ideologia.

A ruptura com essas características essenciais em nenhum caso é uma manifestação de independência mas, pelo contrário, é, em si mesma, a renúncia a ela.

Álvaro Cunhal
15 de Setembro de 2001

terça-feira, abril 06, 2010

Oi!

Gostava de possuir a capacidade dos poetas que sintetizam num verso um compêndio de elementos suficientes para denunciar a mentira à qual muitos chamam vida e que não passa de uma mentira aceite devido ao medo de nos conhecermos.
A mentira à qual me refiro é essa que advém da frustração de vegetar num cercado alugado pelo preço da existência, nossa e de quem espelha os nossos passos, de quem deslegitima o medo daqueles que não se negam.
Somos, ao afirmar-mo-nos impúberes perenes, irascíveis no pátio desta corporação que decide se caminharemos solitários, amados, encarcerados, dobrados? “Cada um sabe de si e deus sabe de todos”? “Aproveitemos o que pudermos que a vida são dois dias”? “Somos um número”?
Estás aí?

sábado, abril 03, 2010

A reforma da Saúde nos EUA

Obama cede às seguradoras contra o povo

Dez milhões de pessoas nos EUA esperavam libertar-se das garras dos implacáveis exploradores que controlam o sistema de saúde. Mas aconteceu justamente o contrário.

A recente chamada reforma da saúde, promulgada pelo presidente Barack Obama a 23 de Março, consolidou e legalizou a posição dos especuladores dos cuidados de saúde como força central do sistema de assistência médica, sob um mínimo de supervisão e regulação do Estado capitalista.
Para além disso, esta reforma passou à custa dos direitos reprodutivos das mulheres – tornando impossível o recurso ao aborto com dinheiros públicos – e dos direitos dos imigrantes. O resultado é a destruição da solidariedade enquanto se vira as costas a milhões de mulheres e imigrantes mais pobres.
Os que lutavam corajosamente por um sistema universal de cuidados de saúde foram afastados pela direcção do Partido Democrático e pela administração Obama. Planos de contribuintes individuais, como o Medicare para todos, saíram da agenda. Na verdade, a administração Obama cedo chegou a acordo com a indústria da saúde para garantir que não haveria um seguro governamental directo, ainda que todos tenham de ter um seguro ou serão multados.
Deste modo os cuidados de saúde foram subrepticiamente vendidos como uma mercadoria no mercado capitalista do lucro, em vez de serem, como deviam, consagrados como um direito. Isto contrasta profundamente com o sistema socializado de saúde vigente em Cuba, por exemplo, onde apesar do bloqueio norte-americano que há décadas empobrece o país, o sistema de saúde é livre e acessível a todos.
A actual reforma reflecte o facto de o movimento da classe operária, incluindo o movimento das pessoas afro-americanas e de origem latina reprimidas, ter estado na defensiva durante muito tempo e não ter ainda começado a contra-atacar. Consequentemente, o resultado da reforma do sistema de saúde acabou por ser o fruto da luta entre as diferentes facções existentes no seio da classe dirigente e dos seus dois partidos políticos sem qualquer intervenção significativa das massas populares.
Eis alguns dos principais aspectos da reforma finalmente anunciada após meses de secretismo:
- Para começar, mesmo as estimativas mais optimistas reconhecem que 23 milhões de pessoas vão continuar sem seguro de saúde em 2014.
- É obrigatório ter um seguro. Isto assegura biliões de lucros no futuro graças ao aumento dos segurados nas companhias, que se ressentiram com a crise económica quando milhões de pessoas perderam os seus empregos e os seus seguros.
- Em 2014, os trabalhadores e a classe média estarão a ser pressionados por uma das 50 corridas eleitorais. Isto implementará a divisão da classe operária deixando a cada um o fardo de encontrar na Internet um seguro «à medida» das suas possibilidades.
- O seguro estatal conhecido como Medicaid Advantage, pagamento da assistência domiciliária e hospitalização, vai sofrer um corte de 200 mil milhões de dólares. Esta medida representa uma ameaça para os idosos e inválidos, apesar do pagamento dos seguros que ninguém reduzirá. Adultos com problemas especiais vão ter de esperar até 2014, quando já não lhes podem negar o direito à cobertura. Famílias pobres, num total de 16 milhões de pessoas, vão ter de esperar cinco anos para terem direito à Medicaid. Entretanto, terão morrido 45 000 pessoas por ano com doenças curáveis devido ao período de carência e metade das falências individuais terão sido provocadas pelos custos da assistência médica.

A luta continua

A reforma tem alguns aspectos positivos que cobrem as práticas das companhias de seguros mais ofensivas e odiadas por todos. Qualquer aspecto positivo deve ser analisado cuidadosamente pelos trabalhadores para que possam tirar pleno proveito dele. Muitas das práticas a ser eliminadas foram denunciadas pelo realizador Michael Moore no seu popular filme «Sicko». Em breve, as companhias de seguros deixarão de poder recusar cobertura a quem estiver doente. Deixarão de poder impor um limite de idade para a cobertura do seguro de assistência médica. E não poderão recusar o seguro a crianças com problemas. Os jovens maiores de 26 anos poderão ficar nos seguros de saúde dos pais desde que estes paguem um prémio adicional.
Mas milhões de trabalhadores, se ficarem desempregados, continuarão a perder o seu sistema de saúde. Nesta era do lay-off, dos despedimentos em massa e do subemprego, é uma verdadeira epidemia a quantidade de pessoas que perdem a cobertura proporcionada pelo empregador ou que não têm condições para garantir a sua contribuição individual para ficarem a coberto do seguro de saúde. E o mais importante é que serão as próprias companhias de seguros a conduzir o processo para implementar a reforma.
A luta para garantir o acesso universal aos cuidados de saúde continua. Juntamente com a luta pelo direito ao trabalho, contra os cortes orçamentais e execuções de hipotecas, e pela defesa da educação pública.

Fred Goldstein

Avante!

quinta-feira, abril 01, 2010

The health care bill: What it means for workers

By Fred Goldstein
Mar 24, 2010


Tens of millions of people in this country were hoping to be delivered from the clutches of the ruthless profiteers who control the health care system and were hoping for universal health care. But the very opposite has happened.

The latest so-called health care reform bill, signed into law by President Barack Obama on March 23, has consolidated and legalized the position of the health care profiteers as the central force in the system of health care — under minimal supervision and regulation by the capitalist state.

Furthermore, this bill has been passed by bargaining away women’s reproductive rights and the rights of undocumented and documented immigrants. Its effect is to destroy solidarity while it turns its back on millions of mostly poor women and immigrants.

A statement by Terry O’Neill, president of the National Organization for Women, explained that one of the bill’s effects is to make public funding of abortion impossible and private funding almost impossible. She wrote that the bill “imposes a bizarre requirement on insurance plan enrollees who buy coverage through the health insurance exchanges to write two monthly checks (one for an abortion care rider and one for all other health care). Even employers will have to write two separate checks for each of their employees requesting the abortion rider.”

O’Neill also wrote that the “bill imposes harsh restrictions on the ability of immigrants to access health care, imposing a five-year waiting period on permanent, legal residents before they are eligible for assistance such as Medicaid, and prohibiting undocumented workers even to use their own money to purchase health insurance through an exchange. These provisions ... are there because of ugly anti-immigrant sentiment, and must be eliminated.”

Those who stubbornly and valiantly fought for some form of universal national health care were shunted aside by the Democratic Party leadership and the Obama administration. Single payer was pushed off the agenda and substituted with the miniscule provision for a “public option.” This was mainly a sop in order to change the subject. The Obama administration had early on negotiated with the health care industry and agreed that there would not be a public option.

Thus health care is still to be sold as a commodity on the capitalist market for profit, instead of being the right that it should be. It is in stark contrast to the socialized health care in Cuba, for example, where despite a U.S. blockade that has impoverished the country for decades, health care is free and accessible to everyone. This is because Cuba’s socialist system means people’s needs are a priority, not profits like under capitalism.

One of the features of this bill is that the masses have been kept in the dark about the process and the bill itself from the beginning to the end. Only the politicians and the lobbyists from the various health care industries and medical professions were able to follow the inner course of the negotiations. Now that it is over, various bourgeois experts have surfaced to “explain” the bill.

Workers to wait until 2014 while 45,000 a year die

The details that are buried in the bill will only come out over time, if ever. Here are some of the major features of the bill that have come out.

To begin with, even the most optimistic estimates project that 23 million people will still be uninsured in 2014.

The bill imposes onerous conditions on millions of uninsured who, starting in 2014, would be forced to buy health insurance from an insurance company or face a fine. This is the bill’s version of giving wider coverage. It was the result of a deal cut with the insurance companies to widen their diminishing customer base, which has suffered during the economic crisis as millions lost their jobs and their insurance, and to ensure future billions in profit.

In 2014 workers and the middle class are to be thrust into one of 50 state-run exchanges. This further atomizes the working class by leaving the burden on the individual to find “affordable” insurance on the Internet. Even when insurance premiums are affordable, the co-payments and deductibles can be in the thousands of dollars and make it unaffordable to actually use the insurance.

Medicare Advantage, home care and hospital payments are to be cut by $200 billion. This is a threat to seniors and the disabled, despite assurances that nothing will be cut. Cuts will be made in the reimbursement to the private insurance companies that work through Medicare Advantage; they will surely reduce services.

Adults with pre-existing conditions will have to wait until 2014, when they can no longer be denied coverage. Poor families of four earning less than $29,327 — 16 million people — will have to wait five years to be covered by Medicaid. Meanwhile 45,000 preventable deaths take place every year because of lack of insurance, according to Harvard Medical School. Half of all bankruptcies are due to medical costs.

The bill, of course, has some positive elements that cover the most outrageous and universally hated practices of the insurance companies. Any positive elements should be closely studied by the workers and taken full advantage of. Many of the practices to be eliminated were exposed in Michael Moore’s popular and widely viewed film, “Sicko.”

In the short run, the insurance companies will no longer be able to deny coverage if you are sick. They will not be able to put a lifetime cap on coverage. And they cannot deny children access because of a pre-existing condition. Youth up to 26 years old can stay on their parents’ insurance plan, although there may be an additional premium.

But millions of workers will still have to rely on their bosses to get their health care. If you lose your job, you still lose your health care. In this era of layoffs, mass unemployment and underemployment, there is an epidemic of people losing their employer-based coverage. And if you are allowed to keep your health care after you are laid off, few can afford to pay a group rate, let alone an individual rate.

Most important is that the insurance companies will be in charge of the immediate review process. The Department of Health and Human Services will eventually have a higher level of review. But the companies are expert at lying, manipulating and, in the long run, suffering fines in order to avoid giving coverage that is more expensive than the fines. It is a case of the fox retaining the right to guard the chicken coop.

Social Security and Medicare

The conventional wisdom being touted by the Democratic Party leadership is that this health care bill is in the tradition of the establishment of Social Security and Medicare.

In fact, the opposite is true. Marxists must try to understand the difference, not just in terms of personalities or parties, but in seeing the objective circumstances in which these different pieces of legislation were passed and what the class differences are. The most important factor is to view the relationship of class forces that existed then and that exist now.

The Social Security bill was passed in 1935 as part of the Franklin Roosevelt “New Deal.” But it was passed only after a period of mass struggle against unemployment, the famous veterans’ Bonus March in Washington, D.C., and the break up of the veterans’ encampment by federal troops in a pitched battle. It followed the general strikes in San Francisco, Minneapolis, Minn., and Toledo, Ohio, in 1934.

Even at that, it was a compromise in which the bosses wound up having to pay only half of Social Security, with workers paying the other half. But it became a working-class right. The money was held by the government for the workers and paid out every month by the government.

The Medicaid bill was passed in 1984 and the Medicare legislation was passed in 1965 as part of President Lyndon Johnson’s “Great Society” program. These bills were not passed because the capitalist government suddenly became socially conscious. They came after 10 years of the Civil Rights movement, massive rebellions in the streets of Harlem, N.Y., and Los Angeles, and a growing national liberation movement right here in the U.S.

Just like Social Security, Medicare and Medicaid became a legal and political right of the working class and the poor. They were not turned over to private companies and put on the capitalist market as commodities.

The present health care bill reflects the fact that the working class movement, including the movement of the oppressed, has been on the defensive for a long time and has not yet begun to fight back.

Consequently, the fate of the health care bill was really fought out by different factions within the ruling class and their two political parties without any significant intervention by the masses. Secret deals were made with the pharmaceutical and hospital lobbies as well as with elements in the health insurance industry. When these deals became known, there was no mass response. The bosses had their way, relatively unobstructed by any threat from below. The labor movement leadership restricted itself to minuscule protests and lobbying. And the communities and the political movement were unable to mobilize, despite militant attempts by various single-payer groups.

Fight racist, right-wing counterattacks

But this should lead into the next phase of the struggle. The great problem for the workers’ movement is that the health care bill, as minimal as it is, has been fought tooth-and-nail by the Republicans and the extreme right-wing Tea Party movement, which encompasses outright fascists. The Republicans and the corporations have in fact worked with the Tea Party movement to fan the flames of racism and anti-gay and anti-immigrant sentiment.

There was a fascist-like display at the Capitol building in Washington, D.C., the day the bill was passed, when a mob shouted racist epithets at African-American representative and former civil rights leader John Lewis of Georgia and spat on another Black legislator. The mob then accosted Rep. Barney Frank of Massachusetts, who is gay, and hurled anti-gay slurs at him. It is notable that this mob was allowed by the Capitol police to get right up in the faces of the lawmakers.

The right wing tried to bring down the Obama presidency over the health care bill. There is already talk among the Republicans of trying to overturn the bill and start up a new town-hall-style, ultra-rightist mobilization.

This fact does not make the bill any better. But it does mean that the workers’ movement, the progressive and revolutionary movement, must work together to assertively combat any reactionary and racist counterattack by the right while at the same time demanding real universal health care.

It is not known at this time if right-wing elements will succeed. But the progressive movement was taken aback during the town hall campaign last fall, when the first right-wing assaults were launched against the health care bill while whipping up a racist campaign against Obama.

Forewarned is forearmed. The fight for health care can be carried into the struggle against the right without having to abandon a working-class, progressive position. Fighting the racists and getting in their face while demanding universal quality health care and Medicare for all can and must be done. “Health care is a right!” should become the battle cry of the movement, along with pro-immigrant, pro-abortion rights, anti-racist slogans and so on. This is the way to resist any right-wing, racist mobilization based on opposition to the health care bill.

The Democratic Party leadership has given in all along the line. The workers, oppressed communities, students and youth all have a stake in this struggle. It can be united with the struggle for jobs, against the budget cuts and foreclosures, and to save public education. All these fronts in the class struggle form the basis to come together in People’s Assemblies or other organs of popular power to unite to launch a powerful, anti-capitalist movement.