quarta-feira, dezembro 30, 2009

Isto anda tudo ligado

Nesta noticia do público podemos observar como a direita (entenda-se PS e parceiros) manipula a linha que separa a barbárie do paradigma que por todos se considera o ideal para a sociedade mas pelo qual se furta de lutar a egoista burguesia.

Sabemos que uma revolução se torna mais tangível no horizonte de quem o não tem, quando, motivada pela contradição fundamental do capitalismo, a burguesia, essa socialista e que nessa suposição adoptaría tal decisão devido à preocupação única pela manutenção dos seus interesses de classe, se incorpora à luta dos trabalhadores.
Assim sendo, e em linha com a doctrina de Bernstein, o social democrata partido socialista considerou pertinente salvaguardar os interesses do BPN, utilizando recursos que por demais carece qualquer âmbito público que se fundamente na prestação de serviços primários à população - estes especialmente e não querendo transmitir a ideia de que existe alguma área sem déficit - e, maiormente gravosa tal política se nos situamos no actual contexto sócio-económico nacional.
Sem esquecer que, simultâneamente, foi triplicando a nossa dependência alimentar do exterior numa relação directamente proporcional à erosão do tecido productivo neste campo e num desempenho inversamente ajustado ao investimento público, elementos essenciais para a defesa da soberania, a qual, com a entrada em vigor do tratado de Lisboa, com a entrega do direito de decisão aos 6 países que efectivamente detêm 70% desse privilégio numa europa de 6 grandes potencias e de 21 empresas externalizadas, vai determinando o futuro daqueles que seguramente incrementariam a dissonância contra esta aberração, o cada vez maior número de emigrantes que se encontram (apelando a Soeiro) como "rodas paradas de uma engrenagem caduca", vazios de objectivos e de pão para a boca, nesta marisma Portuguesa.

Por outra parte, prescindiu de "salvar" o BPP, consciente do perfil específico da sua carteira e assumindo que, devido à sua dimensão; ao nível de esclarecimento e consciencialização daqueles que a integram, não constituiria reforço suficiente às aspirações, lutas, mas, sobretudo, à voz do explorados que pugnam pela mudança.

Assim, mesmo que para tal não se admitam os argumentos anteriores, não se torna contudo complicado ratificar esta observação dos factos se atender-mos a questões paralelas que não deixarão, certamente, de pesar significativamente no motivo de tal pendor:

1º- Existe algum vínculo entre a SLN e o BPN?
2º- Existe algum vínculo entre cavaco e a SLN?
3º- Existe algum vínculo entre soares e carlucci?
4º- Existe algum vínculo entre carlucci e a Carlyle?
5º- Existe algum vínculo entre a Carlyle e a sede da SLN?

Por quanto tempo?

Não acredito que alguém tenha dados suficientes para responder a tal questão. Não obstante - e sem pretender recorrer a qualquer tipo de futurologia, durante 2010 poderemos observar; padecer, o efeito global da aposta daqueles aos quais prestam vassalagem os governantes Portugueses. A previsível queda da banca, desde este sustentado mas fictício patamar de estagnação económica (que aparentemente e devido ao típico medo de assumir a realidade se interpreta como um "down-sizing" e não passa de um "squeeze-out"), que a partir do início do 2º semestre (Q3), trará importantes repercussões no aumento da dívida das famílias e da insolvência das mesmas; no esgotamento da capacidade de alavancamento das PMME's; no desemprego; na usurpação de mais garantias outrora conquistadas pelo Povo; na concentração do capital e finalmente, curiosamente de forma extraordinária nos chamados países centrais e a finais do desse mesmo período, na polarização de massas coesas em torno a iniciativas que visem a inadiável mudança, mudança vital, mudança que reclamará, sem dúvida, o compromisso de todos e cada um de nós.

Bom Ano Novo!

A revolução é hoje!

terça-feira, dezembro 29, 2009

E no entanto Move-se

O profundo silêncio das flores
é um lugar de ausência. Vazia moldura
para o vôo das aves, linha oscilante
de ligeira névoa
que nada revela do que talvez esconda.

Egito Gonçalves

É INACEITÁVEL E IMORAL PAGAR PARTE DO SMN COM DINHEIRO DA SEGURANÇA SOCIAL

Para que a mensagem contida no vídeo ao se faz referencia no post de dia 18/12 quede clara, esta é a posição consensuada da CGTP, com a qual estou inteiramente de acordo:

"O Governo ao propor para 2010 a redução de 1% da taxa social única na parte a cargo das entidades patronais que tiveram trabalhadores ao seu serviço a receber o salário mínimo nacional em 2009, reduz as receitas do sistema previdencial da Segurança Social em 30 milhões de euros, não estando contabilizado os efeitos da Administração Pública.

A CGTP-IN considera de todo inaceitável e imoral que o Governo tenha que pagar parte do salário mínimo nacional às entidades patronais com as contribuições do sistema previdencial.

Uma vez mais recorre-se à Segurança Social para financiar as empresas.

Ainda recentemente as entidades patronais foram financiadas em dezenas de milhões de euros do regime contributivo, com a utilização da lay-off, escudando-se em muitos dos casos na crise, para não terem de pagar os salários devidos aos trabalhadores.

Entretanto as dívidas do patronato ao regime previdencial da Segurança Social têm vindo a aumentar no período de 2005 a 2008; cresceram em 2 mil e 691 milhões de euros, o que demonstra a ineficiência do Governo no combate às dívidas patronais para com a Segurança Social. Tendo estas dívidas impactos muito significativas sobre a sua sustentabilidade.

E no código contributivo, conforme a CGTP-IN já tinha referido, a oferta que está prevista para o patronato só num ano era de mais 380 milhões de euros, pelo efeito da redução de 1%, na parte contributiva a cargo das entidades patronais que tivessem trabalhadores efectivos.

É bom lembrar que as contribuições para a Segurança Social têm uma finalidade concreta que é o de substituir os rendimentos dos trabalhadores quando estes se reformarem ou são atingidos por riscos sociais, como o desemprego.

Por isso é de todo imoral que se delapide este património. Nem o Governo, nem as entidades patronais têm o direito de usar o dinheiro que é pertença dos trabalhadores.

Para com os trabalhadores, o Governo já não tem a mesma atitude; quanto à protecção aos desempregados as medidas têm sido a conta gotas, e é depois de muito serem reclamadas, mas continuam a ser insuficientes, dado que há muitos beneficiários sem protecção.

A CGTP-IN reafirma que não é aceitável que as empresas sejam financiadas pelo regime previdencial da Segurança Social, e está a por em risco o principal instrumento de solidariedade dos trabalhadores.

DIF/CGTP

Lisboa, 15.12.2009"

Em suma, outras questões serão certamente alvo de discussão no seio da organização. Assim mesmo, enumerar as diversas questões que segundo a experiência de cada um possa suscitar determinado discurso, sem dúvida, será sempre a melhor forma de as diluir posteriormente. A mensagem, como todos sabemos, fácilmente se tergiversa quando para tal existe disposição, afinal existirão sempre distintas formas de a interpretar, sendo essa a verdadeira ameaça. Outra coisa seria constituir-nos senhores da realidade de todos. Lutar é também expôr-se, sem escolher a quem, mas sabendo porquê "mojarse", como por aqui se diz.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

A lenta evolução de Chavez.

Noticia num jornal do qual não vale a pena referir o nome:

"A «ilusão Obama» terminou com o «intervencionismo descarado» dos Estados Unidos na América Latina, afirmou neste domingo o presidente venezuelano, Hugo Chávez, em referência às «ameaças« à Venezuela a partir da Colômbia e à «ditadura made in USA» de Honduras.

«Não se deve ter enganos, acabou-se a ilusão Obama», afirmou. «Vejam a ameaça imperial contra a Venezuela a partir da Colômbia: a Colômbia irmã transformou-se em Israel da América do Sul», afirma Chávez, ao comentar o acordo militar que permitirá que tropas americanas operem de maneira controlada em pelo menos sete bases colombianas.

Na sua coluna semanal na imprensa «Las líneas de Chávez», o presidente venezuelano afirma que «2010 não será um ano fácil: os agentes da reacção internacional preparam o roteiro para reverter o processo emancipador que vive nossa América». «A reacção, nos nossos países, conta agora com um modelo de golpe de Estado para o século XXI: golpes com fachada legal que levam o selo made in USA», acrescentou."

Chavez, como se proclama, é "Socialista, revolucionário". Atendendo à sua condição revolucionária, permito-me corrigir a sua consideração sobre o papel da Colômbia, não aceitando a mesma como o "Israel da américa latina", mas, antes a Palestina ocupada da américa latina.
Assim assumida, Chavez poderia encontrar nas gentes de dito país uma força que combate a hegemonia do império e, ajudando o povo que a constitui, evitar os golpes que os yanques lhe propinam. A solução seria apoiar as FARC!

A revolução é hoje!

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Natal

Nem Marcos, no primeiro evangelho, se referia à infância de Cristo!

Nem mais.
Porque razão começa o ano no dia 1 de Janeiro, quando, supostamente, o "senhor" nasceu no dia 25 de Dezembro?
Não era esta a data atribuída pelos romanos para o solstício de inverno, para o "renascer" do Sol?
Não é verdade que no antigo oriente não se recordavam as datas de nascimento?
Não defendem os evangelistas que a gruta na qual nasceu o "senhor" era um templo de Adónis, posteriormente anexado pela igreja católica?
Não é verdade que existe um "Da pasha computus" de 243, no qual se determina o dia 28 de Março como data do nascimento?
Não é verdade que depois de "Origens" (245), no qual se renunciava a festejar dito acontecimento como se de um rei se tratasse, e aceitando que o catolicismo "tinha pernas para andar", os discipulos de Basílides decidiram fixar a data de 6 de Janeiro como correcta?
Não era esta a data da epifânia (aparição) de Osíris, ou de Dionísio, seu correspondente para os Gregos, sendo objectivo da seita gnóstica semi-cristã de ditos discípulos perpetuar a devoção aos seus deuses, assumindo que o cristianismo crescia e que, não podendo com esta melhor seria ir à montanha?
No era Dionísio que, ao renascer, fazia manar vinho da ilha de Andros, ou Osíris, que ao aparecer no Nilo transformava as suas aguas em Vinho?
Não era esta a data na qual o sol abandonava a constelação de Virgo?
Não era esta a data na qual, na Alexandria, a Virgem dava à luz o seu filho Aião, eterno homólogo de Osíris e Dionísio?
Não era nesta data, também na Alexandria, que os fiéis terminavam as suas preces e desciam à cripta para retirar uma estátua de uma criança que tinha como marcas na testa, nas mãos e nos joelhos, uma cruz e uma estrela de ouro?
Não consagrou Alexandre Magno, em 331, Alexandria a Aião, em ordem a preservar a eternidade da cidade?
Já em 170, não foi Melitão de Sardes que comparou Cristo com Hélios?
Não se defendia anteriormente que o Sol, criador de toda a vida, que havia subido ao céu, se banhava com as estrelas e a lua, nas aguas do oceano?
Não é verdade que no século IV, em todo o oriente cristão, se celebrava já o dia 6 de Janeiro?
Não é verdade que o papa Siricio, desde a cadeira de Pedro e depois de decidir oficialmente que as festas cristãs eram a páscoa e a epifânia, decide também, em 387, que o dia 6 passava a significar a "Natividade"?
Não denominam os Antropólogos como "Sincretismo" um fenómeno deste tipo?

Mas como se passou essa celebração a dia 25?
Não era "Mitra" o deus do sol na cultura Persa?
Não era "Mitra", também, o deus do Sol na cultura Indiana?
Ainda que o "Mitraismo" remonte aos séculos VII e VI, não é verdade que conheceu um importante impulso durante o século II pelos mesmos romanos que mantinham legiões na India?
Não compartiam, o Mitraismo e o Cristianismo, elementos comuns como a "redenção", a "salvação das almas" e que, ambas religiões, pugnaram no século II por se constituirem como religiões dominantes num império que deixava de ser politeísta?
Não era depois das saturnálias romanas que os "Mitraistas" celebravam o renascimento de "Mitra", 25 de Dezembro?
Não continuavam os Povos bárbaros (não romanizados) a celebrar o solstício no dia 25 de Dezembro?
Não era Malaquías que escrevia na biblia que o Messias era o "Sol da justiça"?
Não era a 25 de Dezembro que os romanos festejavam o "Sol invicto", dirigindo-se a um santuário para sacar à luz a figura de uma criança recêm-nascida?
Não é verdade que o solstício dura 12 noites, de 25 de Dezembro a 6 de Janeiro?
Não é durante este período que os "reinos" dos mortos e dos vivos se comunicam, segundo as culturas céltica, germana, índica ou romana?
Não era este período, também, segundo as mesmas culturas, período no qual se celebrava o renascimento do sol por este não haver perecido ao frio inverno?
Não é verdade que o rito de celebração desse acontecimento se identifica bastante com o actual rito cristão, velas, etc?
Não foi gregório I que ordenou a agostinho de cantorbery e a melitus, destruir as figuras dos templos pagãos e paradoxalmente, proteger ditos templos, ou consagrar a agua que os pagãos traziam, promovendo a mentira do quão bom era cristo e quão equivocado estava o Povo?
Não era essa uma forma de evitar sacrificar os "prazeres exteriores" e facilitar simultâneamente a "assimilação de outros gozos espirituais"?
Não foi entre 395 e 423, com Honório, no ocidente, que se começou por celebrar a 25 de Dezembro, e oficialmente, o natal como festa religiosa, reservando a epifânia (até 440) à chegada dos reis magos?
Não foi o papa leão magno que começou a revisão da doctrina anterior, celebrando o dia dos "Magos" a 6 de Janeiro, comemorando ao mesmo tempo, em Milão, ambrósio, no mesmo dia, o baptizado de cristo?
Não foi no século V que a epifânia passou a considerar-se a festa dos 3 milagres: O baptismo do Jordão; a adoração dos "Magos" e a transformação da agua em vinho?
Não é verdade que com o "Concílio de Agde", em 506, se decidiu finalmente a sua imposição, levada a cabo por justiniano em 529?
Não tinha referido mateu, na biblia, um número indeterminado de sábios que se aproximavam a Belém guiados por uma misteriosa estrela (que não a que brilhava na estátua anteriormente mencionada)?
Não é verdade que "Magi" é uma palavra indoeuropeia que permite uma alusão aos sacerdotes persas que mantinham o culto em Jerusalém e gozavam de enorme influência na zona?
Não é verdade que, da mesma forma que em lucas, Mitra, "nascido" a 25 de Dezembro, tinha sido alvo de adoração de pastores e que estes também lhe haviam realizado oferendas?
Não é verdade que hoje se celebra o nascimento físico de jesús a 25 de Dezembro e o espiritual a 6 de Janeiro, mediando 12 apóstoles... Dias, entre ambas datas?


Feliz Natal e não se esqueçam de tomar abrigo, ao contrário daqueles pastores que em Dezembro pastavam os seus rebanhos dormindo ao relento!

A revolução é hoje!

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Em solidariedade

"CAMARADAS E AMIGOS


HOJE DIA 21 DE DEZEMBRO DE 2009 A PJ ENTROU NA MINHA CASA COM UM MANDATO PARA REVISTAR TODA A MINHA CASA E APREENDER TODOS OS MEUS COMPUTADORES, COMO SE EU FOSSE UM CRIMINOSO PEDÓFILO OU LADRÃO DE BENS PÚBLICOS COMO OS QUE ME ACUSAM O SÃO OU PELO MENOS ESTÃO DE CONLUIO COM ESSES.


ESTOU A SER VÍTIMA DE DELITO DE OPINIÃO SOB CAPA DE TER CHAMADO NAZI À EX-GOVERNADORA DE SETÚBAL


O PS COMPROVA DESTA FORMA SER UM PARTIDO DE ÍNDOLE PERSECUTÓRIA QUE PERSEGUE QUEM O CRITICA E USA OS INSTRUMENTOS DO ESTADO COMO O MINISTÉRIO PÚBLICO À LAIA DE VINGANÇA, VIA QUEM QUER QUE SEJA, NESTE CASO A EX-GOVERNADORA DE SETÚBAL, PARA CALAR QUEM DISCORDE DA SUA POLITICA E POLÍTICOS.


ESTOU CONSTITUÍDO ARGUIDO PARA TODOS OS EFEITOS DE DELITO DE OPINIÃO.


AINDA FUI INFORMADO DE QUE TENHO O MEU TELEFONE SOB ESCUTA COM AUTORIZAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.


EM BREVE SEGURAMENTE SEREI UM PRESO POLÍTICO COM CAPA DE QUALQUER COISA.


SALAZAR AO PÉS DESTES SENHORES ERA UM MENINO.


AGRADEÇO QUE ESPALHEM E EXPONHAM AO MÁXIMO ESTA SITUAÇÃO


DENUNCIEM-NA, ELA FAZ PROVA DE QUE O PS É UM PARTIDO FASCISTA E REPRESSOR


ABRAÇO
--
Luís Lopes"

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Aumento??

Segundo entendo no vídeo que se publica na página da CGTP-IN, aqui, a questão relativa ao aumento do ordenado mínimo parece ter sido aceite de bom grado, mas, ao mesmo tempo, parece legitimar a retirada de direitos aos trabalhadores, enquanto mostra uma excessiva preocupação com o impacto contabilistico que a redução contributiva a cargo do empresário pode supôr.

Nesse sentido, e assumindo que essa precupação advém do conhecimento das prácticas habituais dos governos pós-1975, transmite contudo certa resignação ao instituido e assim promovendo o imobilismo no qual se arrastam os Portugueses à demasiado tempo.

Outro aspecto essencial é o relacionado com o premiar da aposta pelos baixos salários pagos tradicionalmente pelos empresários e a reiteração aos mesmos da correcção dos seus critérios em sintonia com a política de direita que cada vez mais atira os trabalhadores para a uma posição similar à pretérita condição de escravos, sem aferir a base das suas imposições, ou seja, uma economia caduca.

Analizando ambas matérias, sabendo o quão se relacionam, penso que: Em primeiro lugar, se o governo pretende custear a dinamização do consumo interno com o incremento do espólio dos parcos e cada vez menores beneficios sociais alcançados pelos trabalhadores, é uma questão que não pode sequer ser apontada como passivel de aceitar. Como tal, num universo de possiveis repercussões, esta deve ser colocada no esfera da futurologia, mostrando-nos seguros da nossa capacidade de no futuro impedir tais manobras e, não assumindo como bom um aumento de 25€ num momento no qual se mostra imprescindivel aumentar realmente a capacidade de consumo interno da população.

Sindicalizado, sou porém, e fundamentalmente, um trabalhador, e, encontro certamente um factor de inflexão a defesa da amplitude do critério de diminuição da tributação por parte do empresário para salários mais elevados. Sendo que, no caso dos ordenados superiores a 1500€, estimo vital conservar um crescimento paralelo ao IPC, eliminando a possibilidade da empresa de usufruir de qualquer desconto tributário. Medida que assim mesmo compensaria o patronato pelo aumento minimo da tributação sobre um aumento bastante mais substancial do salário minimo, facilitando o ansiado aumento do consumo, se levarmos em atenção que é nessa linha retributiva que se sitúa a grande maioria do Povo Português.

Não obstante, não quero deixar de salientar que, se o objectivo é chegar 2013 com um ordenado minimo de 600€, já por sí nivelado por baixo se atendermos à obrigada convergência com o quadro sócio económico Europeu, para não mencionarmos o impacto que esta limitação pode supôr na eterna opção de emigrar dos nossos conterrâneos e em tudo o que essa necessidade significa para a sua qualidade de vida, assim como na competência e modernização do tecido productivo nacional e o fraco estimulo gerado no que respeita às exigencias de adequação a uma realidade global e que por tal mais competitiva, a obrigatoriedade de em 2011 mostrar argumentos e capacidade para aplicar um aumento de 50€ (11,1%), sobre 450€, torna-se pouco crível. Menos viável será, quando em 2012 se deve repetir um aumento tão inusitado no nosso país, (10,%), para que, em 2013 se volte a verificar outro aumento de 9%.

Plenamente de acordo com a necessidade de aumento salarial, não propriamente por hedonismo senão por necessidade, por aqueles que empobrecem trabalhando; que passam fome vendendo a vida, e sem sequer propôr como meta um ordenado que deveria situarse em 900€ nessa data, acredito que é na depressão, na estagnação, que se devem desenvolver todos os esforços para aproveitamento das sinergias resultantes das várias alterações para ultrapassar dificuldades concretas do momento, e que, essas sim, no futuro, derivarão na melhoria das condições de vida de Portugal e dos Portugueses, sugerindo assim que o aumento básico para 2010 seja de 60€.

Concluindo, não se trata de uma solução a crédito, estilo Kautsky ou Bernstein, trata-se de uma solução concreta para um problema concreto, visando tornar mais robusta a imprescindível capacidade de introspecção dos trabalhadores, da juventude, do papel do nosso país no panorama mundial e, como intenção primeira, resgatar a soberania nos mais diversos aspectos.
Não pretendo no entanto deixar de recordar o continuo esforço da CGTP-IN em defender, desde a criação do salário minimo em 1974, durante o desconhecido período do tergiversado pelos meios do capital mas não por tal menos emancipador de todos que aqueles que diariamente permutam a sua força pelo pão, PREC, o aumento do valor de dita garantia com ajuste aos valores do IPC, luta que significaria hoje, que, a esses 425€ e de forma justa, se lhe somassem 87€ mais.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Adriano

Quem poderá domar os cavalos do vento
Quem poderá domar este tropel
Do pensamento à flor da pele?

Quem poderá calar a voz do sino triste
Que diz por dentro do que não se diz
A fúria em riste do meu país?

Quem poderá proibir estas letras de chuva
Que gota a gota escrevem nas vidraças
Pátria viúva a dor que passas?
Pátria viúva a dor que passas?

Quem poderá prender os dedos farpas
Que dentro da canção fazem das brisas
As armas harpas que são precisas?
As armas harpas que são precisas?

segunda-feira, dezembro 14, 2009

O baile do mês



E cá no burgo, não seria importante caracterizar os fachos para acompanhar o mafioso Italiano nesta coreografia?


A revolução é hoje!

sábado, dezembro 12, 2009

Descanso

Cirurgião plástico da terra, paisagem
-Internacional é chique! a crédito...
Soberania, e coragem?
Transnacional o mérito, e o rédito!
La récolte, deserta pastagem.

Domador de medos, Doctor em história pelo suão
Transporta para terra segredos, dança com redes de arrastão
Piratas, corsários, violadores: -Peixe fresco, nacional!
Arribam ao porto actores, voltam de Portugal!

Nem das vacas tens já tetas,
nem nos campos oliveiras
Poder vazio de ascetas.
Lusos, de pastores
Freiras!

Mendigo de tradição
Dorido, combalido, sem estridencias, sem gemido
Perdido, nepote sem mão.
Sem procurar olhar de frente,
Escutar, lutar, ombro a ombro,
Irmão!


A revolução é hoje!

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Ensaio

Tenho a impressão de não ser real,
se calhar nem sequer cá existo
Ao ver quão volátil,
É o valor de tudo isto.

Não passa de uma massa animada,
que se levanta com o sol e se deita sozinha
Que nasce livre e acompanhada, que morre triste, cansada,
Sem história para uma linha.

A quantidade de vidas entregues a qualquer postor,
sem o mais minimo atisbo de rancor
Com medo de sonhar, destruidos pela tv,
sem esperança de mudar, quem tem fome não lê.

Filhos de pais, filhos da mãe,
também os há filhos da puta,
mas contra estes nada feito,
nasçam homens para a luta!

-Não vales uma pá de areia!
-Areia há muita, pá!

E segue, continua a negação
Um caminho sem volta
Um resultado indiferente
Sem objectivo marcado
Sem direito à afirmação
Será chuva, será gente?

Golos, atentados
Alegria, tristeza
Pão encima,
debaixo da mesa
Uma vida incerta
Imposta certeza?


A revolução é hoje!

Ai Portugal, Portugal!



Uma escalada fascista. Essa, mesmo distante da concepção que nos ensinaram sobre a barbárie, é a realidade que experimenta a nossa civilização.
A multiplicidade de exemplos reais desse crescimento podem identificar-se facilmente no âmbito global, ainda que alguns povos demonstrem, como no passado noutras paragens, que é possivel desmembrar os tentáculos da base do imperalismo que cada vez mais promove a clivagem entre povos e entre vizinhos.
Justamente focalizando a proximidade de dito paradigma, dediquemo-nos a Portugal, este, no qual sobrevivem milhões à ganância de umas centenas.
Depois de uma temporada na diáspora, quando voltamos ao nosso país percebemos a actualidade, aquela que não podemos experimentar sentados lendo um jornal ou quando procuramos manter-nos informados através deste veículo manipulado que é a internet (à excepção de 3 ou 4 páginas), com alguma surpresa. Registamos rápidamente a involução à qual foi submetida a sociedade Portuguesa, que o futebol é de novo o astro rei – concluimos, quem sabe, que nunca o deixou de ser -, que as manobras do actual enterrador do nosso povo (herdeiro legitimo, e a prova é a sua vinculação com os interesses da SLN, de Mário Soares), o presidente cavaco, propagandeando a sua assistência a uma outra encomenda aceite pelo populista “la féria” que foi o ”jesus cristo superstar”, em conjunto com a visita papal, promove de novo fátima como elemento essencial na estratégia de conduzir o comportamento de um Povo dos mais amedrontados da Europa. Encontrando finalmente a afirmação do resultado das políticas de todos os governos depois do PREC no ressurgir daquela que é a bandeira do abandono aos caprichos de tudo, de todos, menos nossos, o Fado. O estilo mais vendido nas listas de vendas, as quais, definindo as classificações através de golpes de cheque, tem no Fado o mais solvente investidor.
Em Suma, cá estão de novo os 4 "F".
Mas existem outros aspectos comuns ao período de educação pela repressão do, bem comido pelos bichos, salazar.
Existem histórias de cidadãos oriundos do estrangeiro, que, hoje com 30 ou 35 anos, residindo no nosso seu Portugal desde os 1, 2, 3, 4 anos de idade, continuam a ver negada a sua nacionalidade por não serem jugadores de futebol brasileiros que depois de uns meses se tornam Portugueses apenas pelo interesse económico.

Existem indícios de corrupção bastante consistentes que deveriam haver sido suficientes como para, mais que demitir, mandar para a prisão 40% do elenco governativo desde há 33 anos.
A reforma da mãe do 1º ministro, mais de 1000€ para quem nunca trabalhou.
Os casos de compra de votos pelos candidatos do PSD.
A eleição sem motivos aparentes para adoptar decisões distintas da salvação de determinadas entidades financeiras em detrimento de outras.
A requalificação dos terrenos nos quais se construiu o Freeport.
A acumulação de responsabilidades em diferentes orgãos.
A assunção de cargos no privado por ministros que geriam a pasta na qual se incluia essa empresa.
A eliminação de provas antes do culminar de qualquer fase de instrução.
O apagamento de processos aos olhos da opinião pública e o seu posterior arquivo.
As inconstitucionais medidas adoptadas pelo governo, como a obrigatoriedade dos micro-chip ou o próprio código da escravatura.
O fecho de serviços médicos que derivaram em mortes por falta de assistência. Etc. Etc. Etc.

Mais grave, a venda do nosso País sem qualquer tipo de consulta à população, do futuro dos trabalhadores que numa das mais precárias condições transformam a vida em pão nesta Europa, aos desígnios dos share-holder globais, daqueles pelos quais se inventou um jogo chamado bolsa, onde se joga o valor que entregamos com a vida para que ditos porcos continuem a acumular, a fortalecer a sua capacidade para nos obrigarem a continuar entregando-nos.

Quando é que abrimos os olhos? Vamos esperar que ilegalizem a simbologia comunista, como na Polónia, para lutar na clandestinidade num conto vermelho de Soeiro?
Será dificil exigir que se considere o património de um governante, ou membro do aparelho de Estado, antes de assumir qualquer cargo e depois de o abandonar? Proibir a acumulação de reformas? Impedir o trabalho de qualquer elemento do governo em companhias privadas?

Ary dos Santos, acompanhados, vivos todos, éramos muitos, somos muitos, mas, só nós poderemos multiplicar a nossa força, de outra forma entregá-la-emos. Porque é que continuamos a entregar a vida? Necessitamos de outro "pai tirano" que nos conduza ao lado dos ratos até à revolução? Porque será que negamos a existência, a vontade, agarrar o futuro nas mãos?

A transformação da sociedade, segundo os objectivos do ideal fascista, já neste blogue foi por diversas vezes denunciada. A demagogia com a qual operam os esbirros do capital, foi, e será, sempre, uma preocupação. Os aspectos que hoje se identificam comuns aos vivídos em 1929, estão aí, à vista! Os perigos também!



A revolução é hoje!

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Na apresentação do Livro II de O Capital-Um manancial de aspectos a reter

O presente texto é um extracto (cujo aparato crítico foi simplificado e que será publicado na íntegra juntamente com textos de outros autores) da intervenção do autor num debate na Festa do «Avante!»
(em que participaram também os camaradas Sérgio Ribeiro e Francisco Melo) subordinado ao tema «O Capital revisitado», a propósito do lançamento pelas Edições «Avante!» da tradução portuguesa do Livro II de O Capital, Karl Marx.


Não me cabe, nesta apresentação, ensaiar sequer um resumo do Livro segundo de O Capital.
Desde logo, porque a sabença económica requerida para o efeito me falece, e, ademais, porque não se trata, em caso algum, de substituir a leitura e o estudo da obra (que importa incentivar) por um tosco e mal amanhado digesto, isto é, por um sucedâneo apressadamente digerido, em perigoso movimento acelerado para a contrafacção.
A chamada «alta divulgação» – sem dúvida, necessária e útil – é, na realidade, outra coisa, e reclama predicados e competências que de boa mente reconheço não reunir. É por isso que a divisão do trabalho – nestas, como em outras matérias – representa uma dimensão incontornável de um labor colectivo que importa empreender, e organizar.
Engels, na sequência aliás de receios que o próprio Marx não deixara de partilhar(1) , temia – como, não raro, avisadamente – que «o volume segundo [de O Capital] vai suscitar grande desilusão, por ser tão puramente científico e não conter muito de agitatório.»(2) .
Em termos de desassombrado balanço comparativo – designadamente, se os livros primeiro e terceiro representarem a baliza de referência utilizada –, este ajuizamento de Engels é justificado, e podemos afirmar sem exagero que está, em larga medida, correcto.
Com efeito, os processos à matéria pertinentes são minuciosamente desconstruídos e dissecados nos seus elementos, na sua envolvência, no seu movimento; as teorias da economia política burguesa (os fisiocratas, Adam Smith, David Ricardo, notórios representantes vários do «economismo vulgar», etc.) que os procuram «explicar» são aturadamente expostas, discutidas, reveladas nas abscônditas contradições de que se alimentam e nos reais desígnios (nem sempre confessados) que se propõem consolidar; recorre-se, amiúde, a fórmulas abstractas e a expressões matematizadas para ilustração exemplificativa dos casos e das dinâmicas em apreço.
Não obstante, este Livro segundo – que, como já referi, tem por objecto o processo de circulação do capital –, a par do seu núcleo central e estruturante, encontra-se igualmente recheado de observações, e de toda uma inflexão na maneira de dirigir o olhar, que certamente contribuem para uma frutuosa «agitação» dos espíritos que pretendam compreender as realidades e empreender praticamente a sua transformação.
Ainda que telegraficamente, e de modo desgarrado, limito-me – por amostragem quase-aleatória, se é que não por inabilidade em melhor organizar o discurso – a chamar a atenção para uma meia dúzia de aspectos que vão conhecendo aclaramento à margem, ou ao longo, deste escrito.
Deve tomar-se, portanto, este abreviado elenco apenas ao jeito de um aperitivo (seco) para a curiosidade...
Assim, do ponto de vista metodológico – pensado sempre em termos materialistas e dialécticos –, Marx continua a seguir, tal como no conjunto dos seus trabalhos, a boa lição de Hegel(3) , segundo a qual um resultado não pode ser considerado, na sua concreção, «sem a mediação do processo de que ele é resultado»(4) .
Significa isto – particularmente, quando aquilo que está a ser objecto de exame é, como no caso vertente, a esfera da circulação do capital — que – num círculo constantemente em rotação, cada ponto é, simultaneamente, ponto de partida e ponto do regresso.»(5) .
Pelo que, uma vez mais, o ponto de vista reitor da economia política burguesa – que, em geral, se limita a encarar na sua imediatez «aquilo que aparece»(6) , sem atender à dinâmica material concreta que sustenta os próprios fenómenos na sua determinação e transitividade – acaba também por revelar, e por ver criticamente expostas, ao correr da pena, as suas debilidades intrínsecas e estruturantes.
No que diz respeito ao conteúdo operacional de muitas das categorias utilizadas na análise dos processos do capital, deparamos igualmente neste Livro segundo com aclaramentos e precisões do maior alcance.
Para além da distinção entre «reprodução simples» e «reprodução alargada», a que no início desta intervenção já aludi, poderíamos, por exemplo, ter em conta a noção de «taxa real da mais-valia» – indicador que expressa o «grau de exploração do trabalho»(7) –, e, sobremaneira, a necessidade de não confundir, nem conceptual nem funcionalmente, as categorias de «capital fixo» e de «capital circulante» com as categorias, só numa aparência enganosa equivalentes, de «capital constante» e de «capital variável»(8) .
Com efeito, o «capital fixo» (instalações, máquinas, ferramentas) transfere fraccionadamente o seu valor para o produto ao longo de diferentes períodos de produção, enquanto o «capital circulante» (matérias primas, semi-fabricados, combustíveis, força de trabalho) é inteiramente despendido em cada período de produção.
Por sua vez – e consideradas as relações sob um outro ângulo –, o «capital constante» corresponde aos meios de produção envolvidos na actividade produtiva, enquanto o «capital variável» representa aquele que é empregue na aquisição da força de trabalho.
Se é certo que, em rigor, o «capital fixo» não compreende senão «capital constante», a esperada analogia simétrica não colhe, todavia, num quadro de aplicação ao «capital circulante», uma vez que este último, além da força de trabalho (que o «capital variável» compra), inclui também elementos de «capital constante».
Não estamos, na verdade, nem perante meros floreados conceptuais de adorno ocasional do discurso, nem perante subtilidades escolásticas reaquecidas próprias de mentes sinuosas em demanda de um halo de «profundidade» e de sofisticação para as suas cogitações – destinados, em qualquer caso, todos, tão-só, a complicar rebuscadamente aquilo que afinal seria simples.
Estamos a lidar, sim, e muito pelo contrário, com categorias que – reflectindo adequadamente na consciência (em registo abstracto) processos que em concreto na realidade se dão(9) – nos habilitam a penetrar em toda uma teia complexa de relações que a aparente simplicidade, de uma forma nem sempre inocente, esconde ou mascara.
Este ponto – que, em regra, a economia política burguesa tende a negligenciar ou a obscurecer – revela-se, portanto, e deste modo, como crucial para se poder perceber, designadamente, o processo real de criação da mais-valia.
Por outro lado, este Livro segundo fornece-nos ainda amplos e fecundos materiais para uma apoiada reflexão sobre alguns outros aspectos que – visto constituírem traços decorrentes da própria «lógica» que rege a instauração e o desdobramento do próprio modo de produção capitalista – continuam hoje em dia, modificadamente (este ponto é crucial em qualquer exame), a manifestar-se com exuberância na nossa contemporaneidade.
Recordemos, em jeito de ilustração rápida (porventura, apenas impressionista), alguns tópicos em torno, por exemplo, da «mundialização», da «mercadorização», e da «financeirização».
O importante tema da mundialização tendencial da economia capitalista(10) – que se articula, de modo decisivo, com os acelerados progressos das tecnologias de transporte e de comunicação(11) , jà à época em curso (e de cujo alcance sistémico e implicações Marx, em antecipação, se apercebe) – é recorrente.
Não faltam, inclusivamente, argutas observações quanto às alterações introduzidas por novos mecanismos de segmentação no fabrico dos próprios produtos, como a de que, no quadro produtivo transformado e em regime de mercado mundial, «o artigo é importado, aos pedaços, de diversos países e em prazos de tempo diversos.»(12) .
Por outro lado, e em termos de genérica matriz reitora, a mercadorização crescente da economia – isto é, o esforço concertado para, num movimento combinado de extensão (geográfica e qualitativa) dos mercados, converter em «mercadoria» qualquer produto social(13) , com o consequente alargamento (quantitativo e intensivo) da base potencial de extracção da mais-valia sob a forma de lucro, e a correlativa transformação tendencial de todo o trabalho em trabalho assalariado(14) – surge-nos igualmente posta em evidência.
Com efeito, no âmbito desta formação económica e social – elevando-se do seu cerne, e desenhando-lhe um dos seus cunhos –, «a produção de mercadorias» acaba (e começa) por assomar como «a forma universal da produção capitalista»(15) .
Por sua vez, a financeirização da economia – a par, e para além, das dimensões específicas que derivam do desenvolvimento dos sistemas de crédito(16) (historicamente relevante, que mais não seja, pelas variadas alavancagens que permite) – é também objecto de penetrante chamada de atenção, onde, desde logo, se não esquece o sublinhado de algumas das suas correlativas implicações sistémicas.
Se o objectivo genérico, e «o motivo impulsionador», da actividade capitalista – no fundo, a sua teleologia propriamente dita – é, sem rodeios metafísicos mais sofisticados, «o fazer dinheiro», não pode causar particular admiração que este afã principial, «competentemente» prosseguido, acabe por conduzir a uma subalternização relativa dos sectores realmente produtivos, e a uma soltura cíclica da espiral especulativa (acompanhada e «corrigida» pelas suas conhecidas «crises», de extensão e profundidade variadas).
Enquadrado por estas luminosas perspectivas (cuja latência permanece intocada), e encarado pelo ângulo do móbil que anima aqueles que delas se encarregam de extrair o melhor provento (leia-se: proveito), «o processo de produção aparece apenas», então, «como inevitável elo intermédio, como mal necessário para efeitos do fazer dinheiro. Todas as nações do modo capitalista de produção são, portanto, periodicamente atingidas por uma vertigem [Schwindel, que pode significar também em alemão (e na realidade de qualquer idioma): embuste, logro, aldrabice] em que querem consumar o fazer dinheiro sem a mediação do processo de produção.»(17) ...
E podíamos prosseguir ainda, sem nos afastarmos minimamente do texto, com o alinhamento nutrido de muitas outras observações interessantes e esclarecedoras.
Por exemplo, sobre o negócio bolsista das sociedades por acções – em que «cada um sabe o que lá põe, mas não o que de lá retira»(18) –, ou sobre a especulação imobiliária urbana, em contextos mormente em que o «ganho principal» advém, não da exploração da actividade construtiva propriamente dita, mas antes da manipulação «hábil» do preço dos terrenos e da política dos solos(19) .
É curioso referir ademais um outro tópico.
Trata-se de um ponto que a propaganda burguesa (algo amachucada agora, é certo, à vista de estrondosos acontecimentos mais recentes pelas paragens da alta finança) em torno do criterioso «rigor» capitalista – contra o apregoado regabofe das contas públicas no satânico socialismo da planificação «colectivista» (e, portanto, sem apelo, liminarmente decretado «irresponsável») – com usitada frequência esquece, desfigura, e oculta, para efeitos que me abstenho, por higiene mental, de qualificar.
Com efeito, muito boa (e selecta) gente ignora (ou faz por ignorar) que o próprio Marx – reconhecendo não obstante a evidência palmar de que a «contabilidade», por ela mesma apenas, «não altera naturalmente nada à conexão real das coisas que contabiliza»(20) – insiste todavia, e por diversas vezes, no papel crítico indispensável de que uma apropriada auditação constitutivamente tem que se revestir, desde logo, em termos de, e com vista a, um adequado assenhoreamento social (no limite: comunitário, e comunista) do andamento e da gestão da economia.
Como expressamente se refere, de resto, no texto que vimos apresentando:
«A contabilidade, como controlo e compêndio ideial do processo [produtivo], devém tanto mais necessária quanto mais o processo decorre a escala social e perde o carácter meramente individual; portanto, [torna-se] mais necessária na produção capitalista do que na exploração dispersa do artesanato e dos camponeses, mais necessária na produção comunitária do que na [produção] capitalista.»(21) .
A terminar esta secção, assinalemos ainda um outro aspecto – que, em rigor, só se torna ridículo na exacta medida daquela deslumbrada pompa «teorética», de verdadeiro achado perolífero, com que surge debitada e nos costuma ser servida.
Trata-se agora da impiedosa desmontagem a que Marx procede no que diz respeito à peregrina e mistificatória tese – popular entre certa apologética capitalista mais reverente e despachada –, segundo a qual, no fundo, o operário também tem que ser considerado um capitalista, na medida em que também ele vai ao «mercado» vender a sua «mercadoria», a sua força de trabalho, isto é, na realidade, vai ao mercado vender-se «ele próprio» para com o «rendimento» que dessa transacção aufere poder adquirir meios de vida que lhe permitam a subsistência (e a reprodução de força de trabalho a ser de novo vendida, comprada, e explorada)(22) ...
Quando a cavalaria impante toma o freio nos dentes e carrega à desfilada por esta encosta presumida e convenientemente «argumentativa» – que, no limite, até acaba por ir desembocar no pântano da fascinante e embevecida conclusão de que também o escravo é afinal um capitalista (como o próprio Marx, nesta passagem, não deixa de pôr em relevo(23) ) –, prescinde-se de algumas cautelas (não apenas teóricas, mas emergentes da própria imposição das realidades) que facilmente aceleram e precipitam derrapagens e desastres vários.
Com efeito, encarando os processos na sua dinâmica e concreção, é impossível não esquecer que, num marco de relações burguesas de produção, o capital variável só desempenha funções de capital na mão do capitalista que o emprega no exercício dessa sua qualidade; na mão do «assalariado», o dinheiro que lhe corresponde é apenas rédito ou «rendimento», o «equivalente» recebido «por força de trabalho vendida». Na posse de um e na posse de outro, o mesmo dinheiro assume, por conseguinte, uma aplicação útil ou uma «utilização» totalmente diferente.
Há, de facto, «confusões» – como esta entre «força de trabalho» (a «fortuna» do operário, que ele renovadamente é obrigado a vender) e «capital» (que a compra para dela extrair mais-valia) – de que sinuosamente alguns espíritos «espertos» (repetindo, nos seus panegíricos, a recitação coreografada de cartilhas afinal bem gastas) persistem em querer tirar proveito ideológico. Já no que diz respeito, porém, ao «abichamento»(24) dos lucros resultantes da exploração do trabalho alheio, em contrapartida, e para geral aconchego das suas bolsas e consciências, eles revelam-se, em geral, bem mais vigilantes e cuidadosos, menos propensos a «enganar-se» ...
Nesta oportunidade, vale a pena recordar em desabafo – porque é flagrante a sua pertinência de contexto – uma exclamação que Marx não se inibe de soltar, ainda que a propósito de mais um outro destempero dos «economistas vulgares»:
«Voilà le crétinisme bourgeois dans toute sa béatitude!»(25) – «Eis o cretinismo burguês em toda a sua beatitude!».

Notas

(1) Com efeito, no entender do próprio Marx, o Livro segundo de O Capital, pelo rumo que a sua redacção estava a tomar, apresentava-se, em virtude da própria natureza das matérias tratadas e dos meandros que importava esclarecer, como «em grande parte demasiado teorético». Cf. MARX, Brief an Engels, 14. November 1868; MEW, vol. 32, p. 204.
(2) ENGELS, Brief an Friedrich Adolph Sorge, 3. Juni 1885; MEW, vol. 36, p. 324.
(3) Não é o momento aqui de aprofundar este tema. No entanto, é conveniente nunca perder de vista uma conhecida observação – talvez, para alguns, perturbadora – que Lénine, no decorrer da sua leitura da Ciência da Lógica de Hegel, anota num dos seus aforismos dos Cadernos Filosóficos:
«Não é possível compreender plenamente o “Capital” de Marx e particularmente o seu I capítulo sem ter estudado a fundo e sem ter compreendido toda a Lógica de Hegel. Por conseguinte, meio século depois nenhum marxista compreendeu Marx !!», Vladimir Ilitch LÉNINE, Conspecto do livro de Hegel “Ciência da Lógica” (1914); Obras Escolhidas em Seis Tomos, ed. José Barata-Moura, Francisco Melo, e José Oliveira (doravante: OE6), Lisboa - Moscovo, Edições «Avante!» - Edições Progresso, 1989, vol. 6, p. 164.
(4) MARX, Das Kapital II, I, 1, III; MEGA2, vol. II/13, p. 46.
Também, designadamente, na Ciência da Lógica, Hegel havia observado que «no resultado está essencialmente contido aquilo de que ele resulta» , Georg Wilhelm Friedrich HEGEL, Wissenschaft der Logik (1812), Einleitung, Allgemeiner Begriff der Logik; Theorie Werkausgabe, red. Eva Moldenhauer e Karl Markus Michel, Frankfurt am Main, Suhrkamp Verlag, 1969, vol. 5, p. 49.
(5) MARX, Das Kapital II, I, 4; MEGA2, vol. II/13, p. 93.
(6) Cf. MARX, Das Kapital II, I, 5; MEGA2, vol. II/13, p. 116.
(7) Cf. MARX, Das Kapital II, II, 16, I; MEGA2, vol. II/13, p. 281.
(8) Marx considera que esta «confusão» de categorias corresponde a um «erro fundamental» em que a generalidade dos economistas burgueses com frequência incorre. Cf. MARX, Das Kapital II, II, 8, I; MEGA2, vol. II/13, p. 148.
(9) Sobre a necessidade de estabelecer e de desenvolver, com correcção, tanto de um ponto de vista epistemológico como de um ponto de vista ontológico, a dialéctica do «abstracto» e do «concreto», veja-se, por exemplo: MARX, Ökonomische Manuskripte 1857/58, Einleitung zu den “Grundrissen der Kritik der politischen Ökonomie”, I, 3; MEGA2, vol. II/1.1, p. 36.
(10) A ideia, nos seus traços genéricos, encontra-se esboçada já, pelo menos, desde 1848, quando se assinala que, ao forçar todas as nações do globo a adoptar, sob pena de naufrágio económico, o modo de produção capitalista (e os padrões civilizacionais que lhe correspondem), a burguesia «cria-se um mundo à sua própria imagem» – MARX–ENGELS, Manifest der Kommunistischen Partei, I; MEW, vol. 4, p. 466.
Para Marx, com efeito, e de acordo com uma carta de 1858, «a tarefa propriamente dita da sociedade burguesa é a fabricação do mercado mundial (pelo menos, nos seus contornos) e de uma produção repousando na base dele.»
Porventura, mais importante ainda – por tudo aquilo que revela quanto à abordagem intrinsecamente dialéctica dos problemas – é a percepção, nesta mesma carta igualmente evidenciada, de que esta mundialização dos mercados pode afectar, em relação ao continente europeu, o ritmo previsível (se perspectivado, em exclusivo, no seu âmbito) da precipitação dos processos revolucionários:
«Não será ela [a revolução] neste pequeno canto [a Europa] necessariamente esmagada, uma vez que num terreno muito mais largo [a cena mundial dos mercados] o movimento da sociedade burguesa é ainda ascendente?» Cf. MARX, Brief an Engels, 8. Oktober 1858; MEW, vol. 29, p. 360.
(11) Cf. MARX, Das Kapital II, II, 14; MEGA2, vol. II/13, p. 233.
(12) MARX, Das Kapital II, I, 6, II, 1; MEGA2, vol. II/13, p. 132.
(13) Cf. MARX, Das Kapital II, III, 21, I, 1; MEGA2, vol. II/13, p. 460.
(14) Marx revela uma nítida consciência do vínculo estrutural e funcional que subsiste, num marco de «mundialização» crescente, entre estas dimensões da «mercadorização» e do assalariamento, pondo por isso em evidência a sua articulação.
A «produção capitalista desenvolvida» pressupõe a «dominação» de um regime assente no trabalho assalariado – que, inclusivamente, vai alastrando para esferas que, de entrada ou tradicionalmente, pareciam escapar-lhe (como, por exemplo, o campo das denominadas «profissões liberais» ou «independentes») –, o que acarreta, por outro lado (e com fundas implicações sistémicas), todo um incremento do «papel principal» que advém ao «capital-dinheiro».
Deste modo, e por conseguinte, «na medida em que o sistema de trabalho assalariado se desenvolve, todo o produto se transforma em mercadoria», MARX, Das Kapital II, III, 20, XII; MEGA2, vol. II/13, p. 444.
(15) Cf. MARX, Das Kapital II, III, 21, I, 1; MEGA2, vol. II/13, p. 460.
(16) Como Marx não deixa de assinalar, a economia assente no crédito corresponde ela própria à forma mais desenvolvida da economia baseada no dinheiro, que acaba por ser comum (num quadro todavia de especificidades que importa não perder de vista) às diferentes figuras da produção de mercadorias. Veja-se, por exemplo, quanto a este ponto: MARX, Das Kapital II, I, 4; MEGA2, vol. II/13, pp. 107-108.
(17) MARX, Das Kapital II, I, 1, IV; MEGA2, vol. II/13, p. 54.
(18) MARX, Das Kapital II, III, 20, VIII; MEGA2, vol. II/13, p. 403.
(19) Veja-se, por exemplo, aquilo que nos é documentadamente contado acerca das edificantes lições a retirar dos processos utilizados no negócio da edificação em Londres no século XIX. Cf. MARX, Das Kapital II, II, 12; MEGA2, vol. II/13, pp. 216-217.
(20) MARX, Das Kapital II, II, 8; MEGA2, vol. II/13, p. 163.
(21) MARX, Das Kapital II, I, 6, I, 2; MEGA2, vol. II/13, p. 124.
Sobre algumas das implicações da necessária atenção a estas matérias num modo comunista de organização da sociedade, veja-se, por exemplo: MARX, Das Kapital II, II, 16, III; MEGA2, vol II/13, pp. 291-292.
(22) Cf. MARX, Das Kapital II, III, 20, X; MEGA2, vol. II/13, p. 409.
(23) «Neste sentido,» – isto é, à luz da resplandecente concepção de que todo aquele que vende mercadoria (mesmo quando ela seja, afinal, e involuntariamente, ele próprio) é capitalista – «também o escravo devém capitalista, apesar de ele ser vendido como mercadoria de uma vez por todas por uma terceira pessoa; pois, a natureza desta mercadoria, [a natureza] do escravo de trabalho, implica que o seu comprador, não só a faz trabalhar [a essa mercadoria/escravo] cada dia de novo, como lhe dá também os meios de vida por intermédio dos quais ela pode sempre de novo voltar a trabalhar.» MARX, Das Kapital II, III, 20, X; MEGA2, vol. II/13, p. 409.
(24) Cf. MARX, Das Kapital II, III, 21, II; MEGA2, vol. II/13, p. 467.
(25) MARX, Das Kapital II, III, 20, XIII; MEGA2, vol. II/13, p. 454.

Escrito por José Barata-Moura
01-Nov-2009


O Militante>

domingo, novembro 29, 2009

O prelúdio para o fim do jogo

A economia dos EUA irá entrar numa espiral vertiginosa nos próximos meses e atingirá o seu ponto crítico no fim do primeiro trimestre de 2010 e explodirá no segundo trimestre.

Os maciços milhões de milhões de dólares de estímulo não conseguiram dar a volta à economia. A gigantesca transfusão de sangue pode ter mantido o paciente vivo, mas há numerosos sinais de falência de muitos órgãos.

Vai haver outra vaga de penhoras de propriedades residenciais e, mais importante ainda, de propriedades comerciais no final de Dezembro e inícios de 2010. E as propriedades penhoradas em 2009 vão levar a preços rebaixados quando chegarem ao mercado. Os valores das habitações e estabelecimentos comerciais vão cair a pique. Os balanços dos bancos vão ficar feios e quaisquer que sejam os "lucros registados" nos últimos dois trimestres de 2009 não serão suficientes para cobrir a tinta vermelha adicional.

Perante esta situação, será que o Fed vai continuar a comprar garantias apoiadas em hipotecas para estimular os mercados? O Fed já gastou milhões de milhões a comprar as hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac sem qualquer possível comprador substituto à vista. Por isso, o balanço do Fed é tão tóxico como o dos bancos "demasiado grandes para falir" que socorreu.

Nestas circunstâncias, não faz sentido que haja quem afirme que o pior já passou e que a economia global está a caminho da recuperação.

E o sinal mais seguro de que nada está bem com os grandes bancos, é o recente discurso do presidente do Federal Reserve Bank of New York, William Dudley, em Princeton, New Jersey, quando disse que o Fed vai reduzir o risco duma futura crise de liquidez concedendo um "escudo" a firmas solventes com colaterais suficientes.

Este aviso e garantia merece uma análise mais aprofundada. Primeiro, é uma contradição afirmar que uma firma solvente com colaterais suficientes poderá de facto deparar-se com uma crise de liquidez para justificar a necessidade de um pedido de ajuda ao Fed. Na verdade é o reconhecimento de que os bancos não estão suficientemente capitalizados e que, quando forem atingidos de novo pela segunda vaga do tsunami, não haverá confiança nenhuma.

Dudley disse mesmo que, "o banco central pode funcionar como o prestamista de último recurso… [e isso reduzirá] o risco do pânico estimulado pela incerteza entre os prestamistas quanto ao que outros credores possam pensar".

Para pôr as coisas cruamente, o que ele está a dizer é que o Fed se vai esforçar por evitar a repetição do colapso do Bear Stearns, da Lehman Bros e da AIG. É também uma indicação de que os restantes grandes bancos estão em dificuldades.

É interessante notar que um relatório da Bloomberg no início de Novembro revelou que o Citigroup Inc e o JP Morgan Chase têm vindo a acumular dinheiro líquido. O primeiro quase duplicou o seu stock de dinheiro para 244,2 mil milhões de dólares. No caso do segundo, o amontoar de dinheiro atingiu os 453,6 mil milhões de dólares. Contudo, perante esta acumulação nos principais bancos, o New York Federal Reserve Bank teve que tranquilizar a comunidade financeira de que está pronto a injectar uma liquidez maciça para escorar o sistema.

Não deve surpreender ninguém que o valor do dólar esteja a apontar para o Sul.

Quando as divisas se degradam, aumenta a volatilidade no mercado de acções. Mas os ganhos não compensam os riscos e se ainda existir alguém no mercado, serão varridos no 1º trimestre de 2010. O S&P [2] pode ter aumentado desde o início do ano em mais de 25 por cento mas foi ultrapassado pelo ouro. Os ganhos também ficaram atrás da taxa de inflação oficial dos EUA. Na verdade constituíram um retorno total após inflação de aproximadamente menos de 25 por cento. Quando Meredith Whitney observou que "Não sei o que é que se passa no mercado neste momento, porque para mim não faz sentido", é altura de sair do mercado rapidamente.

Num relatório para os seus clientes a Société Générale [3] avisou que a dívida pública seria enorme nos dois anos seguintes – 105 por cento do PIB no Reino Unido, 125 por cento nos EUA e na Europa e 270 por cento no Japão. A dívida global deveria atingir os 45 milhões de milhões de dólares.

Estas dívidas vão ter que ser pagas um dia. Como é que vão ser pagas?

Se formos atrás do que Bernanke tem andado a pregar e a praticar, significa que será criada mais divisa de papel higiénico para pagar as dívidas.

Em consequência disso, a desvalorização das divisas vai continuar o que agravará ainda mais as tensões existentes entre as economias em competição. E quando os credores se fartarem desta vigarice do papel higiénico, podem esperar reacções violentas!


22/Novembro/2009

sábado, novembro 28, 2009

Poeta castrado não!

Serei tudo o que disserem

por inveja ou negação:

cabeçudo dromedário

fogueira de exibição


teorema corolário

poema de mão em mão

lãzudo publicitário

malabarista cabrão.


Serei tudo o que disserem:

Poeta castrado não!


Os que entendem como eu

as linhas com que me escrevo

reconhecem o que é meu

em tudo quanto lhes devo:


ternura como já disse

sempre que faço um poema;

saudade que se partisse

me alagaria de pena;


e também uma alegria

uma coragem serena

em renegada poesia

quando ela nos envenena.


Os que entendem como eu

a força que tem um verso

reconhecem o que é seu

quando lhes mostro o reverso:


De fome já não se fala

- é tão vulgar que nos cansa -

mas que dizer de uma bala

num esqueleto de criança?


Do frio não reza a história

- a morte é branda e letal -

mas que dizer da memória

de uma bomba de napalm?


E o resto que pode ser

o poema dia a dia?

- um bisturi a crescer

nas coxas de uma judia;


um filho que vai nascer

parido por asfixia?!

- Ah não me venham dizer

que é fonética a poesia!


Serei tudo o que disserem

por temor ou negação:

Demagogo mau profeta

falso médico ladrão


prostituta proxeneta

espoleta televisão.

Serei tudo o que disserem:


Poeta castrado, não!


Ary dos Santos - 1973

sexta-feira, novembro 27, 2009

Sobre os Compromissos

Chama-se compromisso em política ao abandono de certas exigências, à renúncia a uma parte das reivindicações próprias, em virtude de um acordo com outro partido.

A ideia habitual das pessoas comuns sobre os bolcheviques, sustentada pela imprensa que calunia os bolcheviques, consiste em que os bolcheviques nunca aceitam quaisquer compromissos com ninguém.

Tal ideia é lisonjeira para nós, como partido do proletariado revolucionário, pois prova que até os próprios inimigos são obrigados a reconhecer a nossa fidelidade aos princípios fundamentais do socialismo e da revolução. Mas, no entanto, é preciso dizer a verdade: tal ideia não corresponde à realidade.

Engels tinha razão quando, na sua crítica ao manifesto dos blanquistas-comunistas (1873), ridicularizava a sua declaração: «Nenhuns compromissos!». Isto é uma frase, dizia ele, pois é frequente que as circunstâncias imponham inevitavelmente compromissos a um partido em luta, e é absurdo renunciar de uma vez para sempre a «receber o pagamento da dívida por partes». A tarefa de um partido verdadeiramente revolucionário não consiste em proclamar impossível a renúncia a quaisquer compromissos, mas em saber permanecer fiel, através de todos os compromissos, na medida em que eles são inevitáveis, aos seus princípios, à sua classe, à sua missão revolucionária, à sua tarefa de preparação da revolução e de educação das massas do povo para a vitória da revolução.

Um exemplo. Participar na III e IV Dumas foi um compromisso, uma renúncia temporária às reivindicações revolucionárias. Mas isto foi um compromisso absolutamente forçoso, pois a correlação de forcas excluía para nós, por um certo tempo, a luta revolucionária de massas, e para a sua prolongada preparação era necessário saber trabalhar também de dentro de semelhante «pocilga». A história demonstrou que os bolcheviques tinham inteiramente razão, como partido, em tal colocação da questão.

V. I. Lénine
16 de Setembro de 1917

5 segundos

Nem alvorada
Na que me ergo
nem madrugada
na que me perco

nem espuma
de rompante
nem azul
berço de amante

Razão do sol
Da lua cheia do seu amor

Primavera
Verão
Outono
Inverno

Todas as lutas
Vitórias, fracassos
O perseverar
no adeus dos teus passos

quinta-feira, novembro 26, 2009

Entregue à "Guardia Civil" pela Pide

Elegía

(En Orihuela, su pueblo y el mío, se
me ha muerto como del rayo Ramón Sijé,
con quien tanto quería).


Yo quiero ser llorando el hortelano
de la tierra que ocupas y estercolas,
compañero del alma, tan temprano.

Alimentando lluvias, caracolas
y órganos mi dolor sin instrumento.
a las desalentadas amapolas

daré tu corazón por alimento.
Tanto dolor se agrupa en mi costado,
que por doler me duele hasta el aliento.

Un manotazo duro, un golpe helado,
un hachazo invisible y homicida,
un empujón brutal te ha derribado.

No hay extensión más grande que mi herida,
lloro mi desventura y sus conjuntos
y siento más tu muerte que mi vida.

Ando sobre rastrojos de difuntos,
y sin calor de nadie y sin consuelo
voy de mi corazón a mis asuntos.

Temprano levantó la muerte el vuelo,
temprano madrugó la madrugada,
temprano estás rodando por el suelo.

No perdono a la muerte enamorada,
no perdono a la vida desatenta,
no perdono a la tierra ni a la nada.

En mis manos levanto una tormenta
de piedras, rayos y hachas estridentes
sedienta de catástrofes y hambrienta.

Quiero escarbar la tierra con los dientes,
quiero apartar la tierra parte a parte
a dentelladas secas y calientes.

Quiero minar la tierra hasta encontrarte
y besarte la noble calavera
y desamordazarte y regresarte.

Volverás a mi huerto y a mi higuera:
por los altos andamios de las flores
pajareará tu alma colmenera

de angelicales ceras y labores.
Volverás al arrullo de las rejas
de los enamorados labradores.

Alegrarás la sombra de mis cejas,
y tu sangre se irán a cada lado
disputando tu novia y las abejas.

Tu corazón, ya terciopelo ajado,
llama a un campo de almendras espumosas
mi avariciosa voz de enamorado.

A las aladas almas de las rosas
del almendro de nata te requiero,
que tenemos que hablar de muchas cosas,
compañero del alma, compañero.

10 de enero de 1936

Miguel Hernandez

domingo, novembro 22, 2009

sábado, novembro 21, 2009

Desemprego já atinge 696,9 mil portugueses e apenas 350,8 mil recebem subsídio

O INE acabou de publicar os dados do desemprego relativos ao 3º Trimestre de 2009. E esses dados mostram que a situação é pior do que aquela que o governo e os seus defensores pretendem fazer crer, e que as medidas tomadas pelo governo são claramente insuficientes.

No 3º Trimestre de 2009, o desemprego oficial atingia 547,7 mil portugueses. Mas o desemprego oficial não inclui a totalidade dos desempregados. No número oficial de desemprego, não estão incluídos aqueles, que embora na situação de desemprego, não procuraram emprego no mês em que foi feito o inquérito, por estarem, por ex., desencorajados. E também não estão considerados no número oficial de desempregados, todos os desempregados que, para sobreviverem, fizeram um pequeno "biscate", por exemplo de uma hora.

Se somarmos ao desemprego oficial os desempregado que não são considerados no cálculo do número oficial de desempregados, obtemos para o 3º Trimestre de 2009, 696,9 mil desempregados e uma taxa efectiva de desemprego de 12,3% (a taxa oficial é apenas 9,8%, embora na região Norte a taxa oficial seja 11,6%, em Lisboa e Algarve 10,3%, no Alentejo 10,2%), portanto os valores do desemprego efectivo são bastante superiores aos números oficiais de desemprego que são divulgados pelos media.

No fim do 3º Trimestre de 2009, o número de desempregados a receber o subsídio de desemprego era apenas de 350,8 mil, o que correspondia somente a 64,1% do numero oficial de desempregados, e somente a 50,3% do numero efectivo de desempregados.

Isto significa que entre 196,9 mil e 346,1 mil desempregados não recebiam subsídio de desemprego. E daqueles 350,8 mil que estavam a receber o subsídio de desemprego, 112 mil recebiam o subsídio social de desemprego, cujo valor é inferior ao limiar de pobreza (354€ por mês – 14 meses). A medida anunciada pelo 1º ministro na Assembleia da República de redução do prazo de garantia vai apenas permitir a mais 10.000 desempregados receberem subsídio de desemprego. É uma medida claramente insuficiente face à gravidade e à dimensão da situação. É urgente adaptar a lei do subsídio de desemprego à actual situação, o que o governo se tem recusado a fazer.

Outros aspectos graves também ligados ao mercado de trabalho, são a crescente destruição líquida de emprego e a precariedade em que se encontra uma parte numerosa da população empregada. Entre o 3º Trimestre de 2008 e o 3º trimestre de 2009, o emprego total passou de 5.191,8 mil para 5.017,5 mil, o que significa que neste período se verificou uma destruição liquida de emprego calculada em 178,3 mil postos de trabalho, sendo 58,5 mil só no 3º Trimestre de 2009. Por outro lado, a precariedade está a aumentar pois, entre 2005 e 2009, passou de 26,5% para 29% da população empregada, encontrando-se com emprego precário, no 3º Trimestre de 2009, pelo menos 1.452.600 portugueses.

A destruição liquida de emprego tem atingido mais fortemente determinadas profissões. De acordo com os dados divulgados pelo INE, entre o 3º Trimestre de 2008 e o 3º Trimestre de 2009, a destruição liquida de emprego atingiu 178,3 mil postos de trabalho, mas 104,5 mil foram postos de trabalho de "operários, artífices e trabalhos similares", e 79,1 mil de "trabalhadores não qualificados". São fundamentalmente estes dois grupos profissionais que estão a ser mais atingidos pela destruição de emprego. No entanto, interessa já referir, que no 3º Trimestre de 2009 começou a verificar-se destruição líquida de emprego em profissões de escolaridade e qualificação mais elevada. Entre o 2º Trimestre e o 3º Trimestre de 2009, o número de postos de trabalho de "quadros superiores do sector privado e da administração pública" diminuiu em 31,8 mil; o de "especialistas de profissões intelectuais e científicas" reduziu-se em 23,2 mil; e o de "Técnicos profissionais de nível intermédio" a redução atingiu 27,8 mil. Só nestas três profissões, que são de qualificação mais elevada, a destruição líquida de emprego no 3º Trimestre de 2009 atingiu 82,8 mil postos de trabalho. O emprego mais qualificado começou também a ser destruído, pondo-se assim em causa o desenvolvimento do País.

por Eugénio Rosa

(A forma de reduzir os 121% de encargos do estado sobre o PIB, é agora (depois da venda das empresas que tinham vindo a evitar este descalabro), a venda das participações que restam e daquelas que o país ainda detém. Mais uma medida de mote neoliberal, sobretudo se pensarmos que os impostos destas, uma vez na mão do privado, se reduzem de forma quase inversamente relacionada com o preço dos bens que produzem - por exemplo a água. Tudo isto para gerar contrapartidas num valor pouco superior a 10% dos actuais encargos e por isso incapaz de criar figuras positivas no curto prazo. Sendo que, no longo prazo, vai debilitar ainda mais toda a economia, aumentando o número de desempregados sem subsídio, reduzindo as prestações sociais, tais como a saúde ou a educação. Em suma, acentuando a tónica de empobrecimento do Povo.
Fundamental será nacionalizar, sem meiguice, nacionalizar a banca, as grandes empresas, a saúde e a educação, para além de outras variadissimas áreas vitais para o desenvolvimento de Portugal e dos Portugueses, como seguradoras, latifúndios, indústria pesada ou transportes. Para já, começamos com uma diminuição no período de cobertura por desemprego)

A revolução é hoje!

sexta-feira, novembro 20, 2009

Exterminio - Acto I

A mutação

Cientistas Noruegueses detectam mutação no vírus H1N1

Scientists in Norway announced Friday they had detected a mutated form of the swine flu virus in two patients who died of the flu and a third who was severely ill, the most recent report of mutations in the virus that are being watched closely for any change that could make it more dangerous.

This Story
Norwegian scientists detect mutated form of swine flu
Full coverage on the swine flu outbreak
In a statement, the Norwegian Institute of Public Health said the mutation "could possibly make the virus more prone to infect deeper in the airways and thus cause more severe disease," such as pneumonia.

The institute said there was no indication that the mutation would hinder the ability of the vaccine to protect people from becoming infected or impair the effectiveness of antiviral drugs in treating people who became infected.

Scientists have analyzed about 70 viruses from confirmed Norwegian swine flu cases and found the mutation in only those three patients, Geir Stene-Larsen, the institute's director general, said in the statement.

"Based on what we know so far, it seems that the mutated virus does not circulate in the population, but might be a result of spontaneous changes which have occurred in these three patients," the statement said.

A top U.S. health official said the mutation was no reason for alarm.


"I don't think that it yet has the public health implications that we worry about," said Anne Schuchat, director of the federal Centers for Disease Control and Prevention's Center for Immunization and Respiratory Diseases. Schuchat noted that some patients have gotten severely ill, including developing pneumonia, after being infected with strains of the virus without the mutation.

The World Health Organization said viruses with a similar mutation had been detected in several other countries, including Brazil, China, Japan, Mexico, Ukraine and the United States. "No links between the small number of patients infected with the mutated virus have been found and the mutation does not appear to spread," the WHO said in a statement.

The Norwegian institute has been analyzing H1N1 virus from "a number of patients as part of the surveillance of the pandemic flu virus," and has detected several mutations, the statement said. While the existence of mutations is normal, and most "will probably have little or no importance . . . one mutation has caught special interest."

The two patients who had the mutation and died were the first swine flu fatalities in Norway. The third patient found to have the mutated form of the virus also became severely ill.

Several flu experts said that the mutation should not cause widespread alarm. "Influenza is a mutable virus, and changes are to be expected," said Arnold S. Monto of the University of Michigan in an e-mail. "This is typical early in the spread of a pandemic virus."

Scientists around the world have been tracking the virus carefully for any signs that it had mutated into a more dangerous form. While a variety of mutations have been detected, most have not appeared to have affected the virus in any significant way. There have been some mutations that make the virus more resistant to antiviral drugs, experts said, but -- like the mutation that may cause more severe illness -- those, too, seem self-contained.

"It is, at the moment, reassuring that this appears not to be spreading," said William Schaffner, of Vanderbilt University. He said mutations that make episodes of swine flu more severe are most dangerous only if they are "easily transmissible." "That's a different characteristic," Schaffner said. "And apparently that does not appear to have happened to this virus. It does not seem to be spreading in the general population."

Detection of the mutation should be reassuring, Schaffner said, because it illustrates the intensity of the global effort to monitor the virus. "The virologists are keeping an eye on H1N1 and this is evidence of that," Schaffner said. "We should be pleased the virologists are doing such a good job of tracking this flu virus."

The CDC, meanwhile, is investigating a cluster of four cases of patients at the Duke University Medical Center in Durham, N.C., who were found to be infected with H1N1 virus that was resistant to the antiviral drug Tamiflu. All four patients were treated with another antiviral drug, known as Relenza.

The news of virus mutations came as the level of flu activity in the United States appeared to be declining. The number of states reporting widespread flu activity dropped from 46 to 43 in the past week, and had dropped in all 10 regions across the country, the CDC said.

But Schuchat said flu cases were still rising in some states and it was too soon to know whether activity would surge again. Officials were especially worried about the upcoming Thanksgiving holiday, when many people would be traveling and families will be gathering, increasing the chances of the virus spreading.

Nada que não estivesse anunciado, aqui.

Sensibilidade



Sensibilidade

Que sensibilidade me sobe
da passada adolescência?
Que agudeza dos sentidos
me perturba a consciência?

Surge do desencanto
um mundo a que me abandono.
Tranqüilo e caricioso
como um sol de Outono.

A cor, a luz, as formas,
sinto-as de coração novo!
Em tudo desconheço
uma experiência que renovo.

Como quem sai
duma longa doença,
deslumbrado e comovido
pela convalescença.

João José Cochofel

segunda-feira, novembro 16, 2009

sábado, novembro 14, 2009

Semi-Deus?


Flutuando a custo, depois do naufrágio da embarcação na qual trabalhava, o católico maquinista desesperado mas convicto, responde aos marinheiros de um cargueiro que se aproximou para o resgatar: -Agradeço a amabilidade mas não será necessário que me salveis, Deus o fará!

Algumas horas depois, entumecido pelo frio que provoca a asfixia de permanecer submergido durante largos períodos, aproxima-se um veleiro, o qual, lançando-lhe - antes mesmo de se poder aproximar a uma distancia que permitisse o diálogo - uma bóia de salvamento, manobra para recolher o aflito pelo costado de barlavento. Desperto pela agitação que o impacto da cortiça provocara, num giro do olhar, depara-se com uma mão a ponto de o agarrar, exclama este: -Não, não, Deus me salvará. Não!

Havendo demonstrado uma fé cega naquele que escolheu como senhor do seu destino, eis que o ruído de um fora-de-borda reanima um ser já quase sem vida, entregue aos desígnios do seu medo, aquele que o impediu aceitar que, uma vez mais, os pescadores de um arrastão de largo o recolhessem para a lancha de apoio, o que significaria provavelmente romper com a sua incutida crença espiritual.

Acabando por falecer no meio do vasto Oceano, que neste caso nem sequer revelou a sua imensidão se atendermos ao número de oportunidades que este usufruiu por estar numa rota muito navegada, num posterior e surrealista encontro com o seu Deus, ao dar-se conta que havia abandonado o mundo dos vivos (quase todos), interpela o "Criador" com a seguinte questão: -Então Senhor, com a fé que em si depositei, achou por bem deixar-me morrer, não me atendeu quando era necessário, pequei tanto como para merecer este fim?
Num timbre atronador e reductor quanto baste da capacidade de se questionar daquele indivíduo, responde dita divindade: -Três oportunidades, achas pouco?

quinta-feira, novembro 12, 2009

Pórtico

(Diego Rivera)

Outros serão
os poetas da força e da ousadia.
Para mim
— ficará a delicadeza dos instantes que fogem
a inutilidade das lágrimas que rolam
a alegria sem motivo duma manhã de sol
o encantamento das tardes mornas
a calma dos beijos longos.
(Um ócio grande. Morre tudo
dum morrer suave e brando...

Que os outros fiquem com o seu fel
as suas imprecações
o seu sarcasmo.
Para mim
será esta melancolia mansa
que me é dada pela certeza de saber
que a culpa é sempre minha
se as lágrimas correm ...

João José Cochofel

domingo, novembro 08, 2009

Outubro

Rebanho??

Sobre a questão dos chip que o governo pretende obrigar os Portugueses a instalar nos seus automóveis.
Depois das diversas considerações publicitadas pelos distintos partidos, é sem dúvida a do PCP aquela que mais se aproxima à realidade. Contudo, atribuir o motivo da promulgação de mais esta medida de repressão governativa ao objectivo único de cobrar portagens com mais facilidade resulta algo superficial, lembrando quase um bitoque sem ovo.
Além da efectiva possibilidade de tornar mais efectiva e menos dispendiosa, a cobrança dessa dupla tributação que deriva da passagem pelas diversas portagens que cada dia mais proliferam pela nossa paisagem, como que substituindo as oliveiras que a “querida” Europa nos obrigou a arrancar impondo assim mais uma medida no sentido da destruição da nossa agricultura, a incorporação de um artefacto desse tipo naquilo que muitos consideram uma prolongação da sua casa pode interpretar-se de muitas outras formas, sem que que por tal tropecemos em qualquer espécie de teoria conspirativa.
Como questões alarmantes, àparte da mesma lei, poderiamos encontrar mais uma violação da constituição de Abril, enquanto o Povo se estima inocente até prova contrária. Ampliando a perspectiva sobre as múltiples possibilidades de control que um chip pode proporcionar, poderiamos imaginar como seria um país com leitores electrónicos em cada esquina – quando não por satélite -, permitindo perseguir os movimentos de todos aqueles cidadãos que por qualquer motivo se mostrassem contrários à ideologia imperante, daqueles que se negam a negar a sua existencia ou que preterem situar-se dentro do redil imposto pelo imperialismo cada vez mais opressor, e, sem descurar que com essa possibilidade de control, também a efectivação da aplicação de acções repressivas estaria demagógicamente legitimada. Basta supôr que, depois de identificados como subversivos, o seguimento dos Portugueses e a sua interpelação para, através das mais diversas razões, exercer uma coacção legal que poderia até acabar na privação efectiva da liberdade, seria extremamente simples, bastando implementar um sistema de informação similar ao norte-americano.
Por outra parte, temos aspecto económico, o investimento público brutal que mais não serve, e isto segundo a versão oficial do governo, que para permitir aos consórcios que exploram as nossas estradas aumentar a capacidade de espólio dos trabalhadores, mostra como o PS, mais uma vez, assume uma política de “maria vai com as outras”, apostando pelo anti-ambientalista uso do transporte privado em lugar de aplicar estes recursos ao melhoramento da rede de transportes públicos e melhorando a qualidade de vida no nosso país. Em suma, aproveitando mais uma vez os nossos impostos para beneficiar o privado, mesmo em detrimento da população, como “business-as-usual” do nacional corporativismo.
Poderiamos, ainda assim, contrapôr a esta crítica a “magnifica” construção do “RAVE”, que, não sendo “party”, resulta divertida se observarmos com algum cuidado a globalidade do projecto, aceite parcialmente como necessário, dificilmente se justifica em determinados trajectos internos e menos quando o modelo pendular permite poupar vários milhões de euros tão necessários ao desenvolvimento real do nosso caduco, mermado e agonizante tecido productivo, à manutenção da rede sanitária ou à solvência do sistema de cobertura social.
A juntar à vergonhosa aplicação da receita fiscal em prol do privado que efectivamente conduz a política no nosso Portugal, o actual governo, mesmo fomentando o despedimento colectivo assim como destruindo qualquer direito conquistado depois de 48 anos de escravatura, obriga-nos agora a pagar também, dos míseros salários/esmola que trocamos pela vida, o negócio imposto pelos seus patrões.
Contra esta ignominia, é vital potenciar o esclarecimento através da células de trabalhadores nas empresas, incrementar a acção sindical, reafirmando que é possivel mudar, e que hoje, como desde há quase 90 anos, existe a força capaz de o fazer, a nossa força, o Partido Comunista Português.

Vitória após seis anos de duro combate

Resistir compensa!

Ao fim de seis anos de luta e resistência, os trabalhadores da CP receberam finalmente o dinheiro que lhes era devido desde 2003 – nesse ano, o Conselho de Gerência da empresa marcou faltas injustificadas aos trabalhadores que aderiram a uma greve. Esta devolução resulta do protocolo assinado, no início deste ano, entre o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário, da CGTP-IN e o Conselho de Gerência da CP.
Num comunicado da célula do PCP no Sector Ferroviário de Lisboa, os comunistas retiram desta vitória algumas lições. Uma primeira, a convicção de que «vale a pena lutar». Perante o «comportamento ilegal» da empresa, os ferroviários empreenderam várias formas de luta. Entre as quais se destaca a continuação da adesão massiva às greves que desde então se realizaram, «enfrentando as ilegais sanções que desde 2003 lhes caíam em cima». Casos houve, recorda-se no documento, em que trabalhadores perderam entre três e quatro dias de remuneração por um dia de greve – pela via de «encostar» a falta «injustificada» às folgas.
Mas esta luta foi mais longe, transpondo os portões da empresa até junto do Ministério dos Transportes, do Provedor de Justiça, dos tribunais.
Uma outra «lição» prende-se com o estado da democracia em Portugal. Concluindo que esta «está doente», a célula comunista acrescenta que os «direitos constitucionais – como o direito à greve – são cada vez menos respeitados nas empresas e locais de trabalho». O facto de esta situação se ter passado numa empresa pública e de terem sido necessários seis anos de luta para que finalmente se resolvesse de forma justa é bastante revelador, considera o PCP.
Avante! - 1875

sábado, novembro 07, 2009

Trepanação

Doente, o médico.
Diferente, a sociedade.
Infantil, os cordeiros.
Feliz, a verdade.

Molde, uma moeda.
Criminoso, o metal.
Perversa, a solidão.
Vital, a identidade.

Mentira, a opulência.
Rebelde, a vontade.
Terapia, o abandono.
Essência, a liberdade.

Inconsciência, a cura.
Amor, o futuro.
Covardia, a luta.
25 anos, a necessaria realidade.

(Anónimo)

Pintas?

(Pipas - Cândido Portinari)

As Solicitações e Emboscadas
Pode-se pintar com óleo
com petróleo
ou aguarrás

Mas pode-se também pintar com lágrimas
silenciosas

No desprezo das horas odiosas
tanto faz


Mário Dionísio

segunda-feira, novembro 02, 2009

Parcial?

"O Homem é sempre parcial e tem muita razão. A própria imparcialidade é parcial, pertence ao partido dos imparciais."

Lichtenberg



Citação de José Manuel Jara, in "O render dos ideais - Políticas do discurso"

domingo, novembro 01, 2009

Pão para a boca

Quando levada a um grau extremo, a pauperização, diminuindo a capacidade de trabalho e pondo em perigo a reprodução da força de trabalho, compromete a continuidade da produção. Daí preocupações e investigações da burguesia e dos seus estadistas, economistas, higienistas e técnicos. Daí estudarem a situação alimentar, fixarem as despesas mínimas que podem permitir às famílias de trabalhadores "manterem as suas condições de saúde e de capacidade de trabalho", organizarem "dietas satisfatórias" — ou seja, em resumo, estabelecerem as rações adequadas à conservação e reprodução de uma mercadoria indispensável no processo de produção.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Acerca do Infantilismo "de Esquerda" e do Espírito Pequeno-Burguês


«No decurso da Primavera e Verão próximos — escrevem os 'esquerdas' nas suas teses — deve começar a derrocada do sistema imperialista que, no caso de vitória do imperialismo alemão na actual fase da guerra, só poderá ser adiada e se exprimirá então em formas ainda mais agudas.»

A formulação é aqui ainda mais infantilmente imprecisa, não obstante todo o jogo ao científico. É próprio de crianças «compreender» a ciência como se ela pudesse determinar em que ano, na Primavera e no Verão ou no Outono e no Inverno, «deve» «começar a derrocada».

São esforços ridículos para saber o que não se pode saber. Nenhum político sério dirá alguma vez quando «deve começar» esta ou aquela derrocada do «sistema» (tanto mais que a derrocada do sistema já começou, e do que se trata é do momento da explosão nos diferentes países). Mas através da impotência infantil da formulação abre caminho uma verdade indiscutível: as explosões da revolução noutros países mais avançados estão mais perto de nós agora, um mês depois da «trégua» iniciada com a conclusão da paz, do que estavam há um mês ou mês e meio.

E então?

Então tinham inteira razão e foram já justificados pela história os partidários da paz, os que tentaram meter na cabeça dos que gostam de atitudes espectaculares que é necessário saber calcular a correlação de forças e não ajudar os imperialistas, facilitando-lhes o combate contra o socialismo quando o socialismo é ainda fraco e as probabilidades de êxito do combate são evidentemente desfavoráveis para o socialismo.

segunda-feira, outubro 26, 2009

Irracionalidade económica contra os trabalhadores e a soberania nacional

O nosso comércio externo

Em artigo anterior, em 8/10, nas páginas do jornal Avante!, analisámos a exagerada dimensão das nossas importações, salientando, entre outros aspectos, as consequências da desindustrialização e o criminoso défice alimentar imposto ao País. No presente artigo vamos analisar, em termos genéricos, as nossas exportações, bem como o diferencial entre aquilo que, relativamente ao estrangeiro, compramos e vendemos.

Em 2008 exportámos bens e serviços na ordem dos 37 949 milhões de euros.
Este valor, comparativamente às importações, representa uma taxa de cobertura de 62%, ou seja, no binómio «importação-exportação» somos deficitários em cerca de 23 225 milhões de euros, valor que, em tese, a ser totalmente suprido pela nossa produção, daria emprego à totalidade dos nossos desempregados.
O valor do défice da balança comercial, traduzido em mão-de-obra, supera, pois, o valor do desemprego.
É evidente que, na prática, isso não será totalmente viável, porque não dispomos de poços de petróleo, porque a dimensão de um mercado interno com cerca de 10 milhões de habitantes obriga a uma certa complementaridade na troca de bens e mercadorias e porque nuns produtos temos excedentes e noutros temos falta.
Portugal, tal como generalidade dos países, não reunindo condições para ser auto-suficiente, reúne, porém, condições, na base de um outro modelo de desenvolvimento económico, para resolver uma parte significativa dos estrangulamentos que a direita e as políticas de direita, em nome da economia de mercado, impuseram ao País.
Para se perceber a dimensão da gravidade da nossa situação económica vejamos alguns indicadores.
A pergunta que se faz, desde já, é a seguinte: o que é que exportamos?
No topo da lista surgem as máquinas, aparelhos e material eléctrico, no valor de 6855 milhões de euros, logo seguido do material de transporte no valor de 4603 milhões de euros, o que, em conjunto, representam cerca de 30% do total das nossas exportações.
Este valor, aparentemente positivo, esconde um facto importante, ou seja, a importância do capital estrangeiro no nosso comércio internacional, tendo em conta que muitos dos produtos exportados integram pouca ou reduzida incorporação de matérias-primas, produtos intermédios e produtos acabados de origem portuguesa.
Retenhamos, a este propósito, o caso clássico da Quimonda que importava, praticamente, a totalidade da matéria-prima de que necessitava a qual, sujeita à laboração da nossa mão-de-obra, era, posteriormente, totalmente exportada.
O Governo, recentemente, valorizou a alteração havida na composição da exportação para sublinhar que o têxtil, o vestuário, a madeira, a cortiça e o calçado já não ocupam os lugares cimeiros no ranking da exportação, embora, globalmente, tais sectores tradicionais, tendo exportado 6257 milhões de euros, representem cerca de 16% do total das exportações.
O que o Governo não nos disse foi, insistimos, o valor da incorporação da indústria nacional e os respectivos défices. Quanto a estes últimos vejamos.

Défice da balança comercial

Como já atrás foi referido o nosso défice rondou, em 2008, os 23 225 milhões de euros.
Tal défice é, predominantemente, explicado por:
- 7550 milhões de euros em produtos minerais, de onde sobressaem os combustíveis, óleos minerais e materiais betuminosos;
- 4217 milhões de euros em máquinas, aparelhos e material eléctrico;
- 3337 milhões de euros em produtos das indústrias químicas;
- 2328 milhões de euros em metais comuns e suas obras;
- 2155 milhões de euros em material de transporte;
- 1847 milhões de euros em produtos do reino vegetal;
- 1763 milhões de euros em animais vivos e produtos do reino animal.
Bastaria haver, da parte do Governo, um investimento na área da investigação científica aplicada à racionalização do uso da energia para baixar significativamente a importação de petróleo e, assim, evitar a hemorragia de divisas.
Bastaria haver, da parte do Governo, quer um investimento na área industrial quer uma empenhada política de contrapartidas tendentes a substituir uma parte significativa das compras em maquinaria, aparelhos, equipamentos, material de transporte e de produtos químicos, para, assim, aumentar a nossa produção e os postos de trabalho.
Bastaria haver, da parte do Governo, uma especial atenção quanto ao défice alimentar na perspectiva de produzirmos aquilo que compramos no estrangeiro para, assim, não só disponibilizarmos os produtos de que carecemos como, igualmente, fixar a população no interior do País, evitando a macrocefalia do litoral e todas as consequências negativas a ela associadas.

Superavit da balança comercial

Na relação «importação/exportação» não há apenas sectores deficitários.
Há, também, convém esclarecer, sectores com saldos positivos, designadamente os seguintes:
- 770 milhões de euros no calçado;
- 723 milhões de euros em matérias têxteis e suas obras;
- 708 milhões de euros em madeira, cortiça e suas obras;
- 684 milhões de euros em produtos cerâmicos, vidros e suas obras;
- 4 milhões de euros em armas, munições e acessórios.
Estamos a falar de sectores muito influenciados por mão-de-obra intensiva e muitíssimo influenciados pelos baixos salários.
Tais sectores, não obstante as suas limitações, são importantes para o País e para a manutenção do actual emprego embora haja uma exigência a fazer quanto à necessidade de se eliminar o efeito corrosivo da subcontratação, a par do investimento em design e marcas próprias, retirando às grandes marcas internacionais as obscenas margens de lucro pela simples colagem de uma etiqueta num produto, simultaneamente caro para quem o compra e mal pago para quem o produz.
Este é o preço consentido pela subserviência do bloco central à estratégia da divisão internacional do trabalho, modelo que impôs a Portugal e aos países pobres a produção intensiva de produtos baratos e aos países ricos a produção selectiva de produtos caros, dicotomia que tem servido de arenga às «vozes do dono» para estigmatizarem os trabalhadores, invocando, para o efeito, conceitos como produtividade e competitividade, como se um país especializado na mono produção de camisas e sapatos pudesse ser produtivo e competitivo, em confronto com outro especializado na produção de telemóveis e aviões da última geração.

O destino das nossas exportações

Em 2008 vendemos produtos para 208 estados, incluindo alguns territórios autónomos e vários territórios sob administração de antigas potências coloniais.
À primeira vista pode parecer uma grande diversidade.
Não é bem assim, na medida em que 80% das nossas exportações estão circunscritas a apenas 17 países, a saber:
- Espanha, Alemanha, França, Angola, Reino Unido, Itália, EUA, Holanda, Bélgica, Singapura, Suécia, Malásia, Brasil, Suíça, Polónia, Marrocos e Cabo Verde.
De todos os 208 países e territórios assume especial relevância a Espanha.
Com efeito, em 2008, exportámos para a Espanha bens e serviços no valor de 9579 milhões de euros, o que representa cerca de 25% do total das nossas vendas ao estrangeiro, valor que contradiz os modestos valores registados no início da década de 90.
Isto significa que o chamado mercado ibérico não é uma frase oca, sem sentido.
Esta interdependência tem, naturalmente, aspectos positivos, na medida em que se trata de negócios de proximidade os quais evitam os custos desnecessários das longas viagens em aviões, barcos e camiões TIR, autênticos sorvedouros de recursos finitos, nomeadamente do petróleo, e que por isso determinam gravíssimos problemas à sustentabilidade ambiental do nosso planeta.
Contudo, esta interdependência tem, por outro lado, aspectos potencialmente negativos, derivados de estamos dependentes de um comprador que, sozinho, representa ¼ do total das nossas exportações.
É caso para dizer que se a Espanha se constipar é certo e seguro que não nos livraremos de um resfriamento.
Há que evitar tal patologia, pelo que a diversificação das nossas exportações é uma obrigação estratégica em nome do interesse nacional, mas sem esquecer que a opção verdadeiramente estratégica, essa, passa pela defesa do nosso aparelho produtivo e pelo desenvolvimento do nosso mercado interno.
Eis, pois, um tema que deve merecer a reflexão dos portugueses.
Eis, pois, um tema que, pela divisão de classes, não sendo transversal a toda a sociedade, tem como principais destinatários os trabalhadores portugueses.

Anselmo Dias (Direcção da Organização na Emigração do PCP), in "Avante!"