terça-feira, novembro 30, 2010

segunda-feira, novembro 29, 2010

sexta-feira, novembro 26, 2010

Vuelo

Sólo quien ama vuela. Pero, ¿quién ama tanto
que sea como el pájaro más leve y fugitivo?
Hundiendo va este odio reinante todo cuanto
quisiera remontarse directamente vivo.

Amar ... Pero, ¿quién ama? Volar ... Pero, ¿quién vuela?
Conquistaré el azul ávido de plumaje,
pero el amor, abajo siempre, se desconsuela
de no encontrar las alas que da cierto coraje.

Un ser ardiente, claro de deseos, alado,
quiso ascender, tener la libertad por nido.
Quiso olvidar que el hombre se aleja encadenado.
Donde faltaban plumas puso valor y olvido.

Iba tan alto a veces, que le resplandecía
sobre la piel el cielo, bajo la piel el ave.
Ser que te confundiste con una alondra un día,
te desplomaste otro como el granizo grave.

Ya sabes que las vidas de los demás son losas
con que tapiarte: cárceles con que tragar la tuya.
Pasa, vida, entre cuerpos, entre rejas hermosas.
A través de las rejas, libre la sangre afluya.

Triste instrumento alegre de vestir; apremiante
tubo de apetecer y respirar el fuego.
Espada devorada por el uso constante.
Cuerpo en cuyo horizonte cerrado me despliego.

No volarás. No puedes volar, cuerpo que vagas
por estas galerías donde el aire es mi nudo.
Por más que te debatas en ascender, naufragas.
No clamarás. El campo sigue desierto y mudo.

Los brazos no aletean. Son acaso una cola
que el corazón quisiera lanzar al firmamento.
La sangre se entristece de debatirse sola.
Los ojos vuelven tristes de mal conocimiento.

Cada ciudad, dormida, despierta loca, exhala
un silencio de cárcel, de sueño que arde y llueve
como un élitro ronco de no poder ser ala.
El hombre yace. El cielo se eleva. El aire mueve.

Miguel Hernández

terça-feira, novembro 23, 2010

Memória carrasca

Quero escutar
gritar,
gritos que atravessem este mundo
sem palavras,
de passado
vazio,
carga
sem bagagem.

A morte devassa-me as entranhas
em cada pedaço de pão,
e vai,
na mentira de cada bom dia,
boa-noite.

Quero um novo código,
um idioma de sorrisos
onde mudo,
o silêncio, cansado,
não seja pausa.
Quero o passado
esse,
agora!

Joaquim Gomes

Camaradas
Deixou-nos ontem, com 93 anos de idade, o camarada Joaquim Gomes, um dos mais destacado dirigentes comunistas da história do nosso Partido, e que dedicou toda a sua vida à luta da classe operária, dos trabalhadores e do povo português.
Uma vida inteira entregue à luta contra o fascismo, pela liberdade, contra a exploração capitalista, pela democracia, a paz, o socialismo e o comunismo.
À camarada Maria da Piedade Gomes, sua companheira de sempre entregamos aqui um abraço sentido e fraterno.
Joaquim Gomes foi um dos muitos homens a quem não deixaram que fosse menino. Com apenas 6 anos já era operário aprendiz na indústria vidreira das fábricas da Marinha Grande. Terra que o viu crescer e aderir primeiro com 14 anos à Federação da Juventude Comunista e depois, em Março de 1934, ao seu partido de sempre, ao Partido Comunista Português, passando a integrar no imediato o Comité Local da Marinha Grande.
Por parte dessa Europa , e em Portugal também, os anos 30 foram tempos sombrios de avanço do fascismo e do nazismo. Encabeçando as lutas dos aprendizes por reivindicações salariais, contra o trabalho violento e as arbitrariedades do patronato, que haveriam de ter expressão revolucionária na histórica insurreição revolucionária do 18 de Janeiro de 1934 contra a fascização dos sindicatos, Joaquim Gomes foi preso pela primeira vez com apenas 16 anos, em Novembro de 1933.
O regresso à liberdade, foi o regresso à luta fora da prisão. Assumiu um importante papel na reactivação da organização do Partido na Marinha Grande e na solidariedade aos presos do 18 de Janeiro, veio ainda a desempenhar tarefas ligadas à distribuição da imprensa partidária e às casas de apoio à Direcção do Partido e passa à clandestinidade em 1952 no Comité Local de Lisboa.
Em 1955 torna-se membro suplente do Comité Central e dois anos depois passa a membro efectivo. Em 1963 integra a Comissão Executiva do Comité Central e posteriormente a Comissão Política.
Por três vezes a PIDE deito-lhe a mão. Por duas vezes se invadiu da cadeia. Uma das suas fugas foi a célebre fuga de Peniche, ao lado de Álvaro Cunhal, Jaime Serra, Carlos Costa e de outros destacados militantes do Partido, um acto de grande coragem e heroísmo, um acontecimento de enorme significado na vida do nosso Partido com reflexos no desenvolvimento da luta do povo português contra o fascismo e pela liberdade.
Depois da revolução de Abril Joaquim Gomes foi deputado eleito pelo distrito de Leiria entre 1976 e 1987 e foi membro do Comité Central do PCP até ao XV Congresso em 1996, tendo mantido as suas responsabilidades como membro do Secretariado e da Comissão Política até ao XIV Congresso em 1992, altura em que foi eleito membro da Comissão Central de Controlo.
Quem privou e trabalhou com Joaquim Gomes sabe que era um homem modesto e discreto que, desempenhou com a mesma determinação e inabalável convicção revolucionária com que aderiu ao Partido responsabilidades no âmbito da Comissão Administrativa e Financeira e da Comissão de Património Central até ao fim dos seus dias. Ainda anteontem, estivemos juntos a dar-nos estímulos para prosseguir a luta.
Camaradas
Despedimo-nos hoje do camarada Joaquim Gomes. Um momento que mais do que um adeus será, como Joaquim Gomes gostaria que fosse, um reafirmar da nossa disposição colectiva para prosseguirmos o seu exemplo e marcarmos presença nas muitas lutas que ontem partilhámos e que é preciso prosseguir para que os ideais da liberdade, da democracia e do socialismo que animaram a sua acção revolucionária tenham concretização.
Evocar a vida de Joaquim Gomes é trazer para os dias presentes e futuros um percurso de vida exemplar, um trajecto de dedicação e coragem posta ao serviço da causa classe operária, dos trabalhadores e do povo português, uma marca imperecível que Joaquim Gomes partilha com uma geração heróica de militantes comunistas a quem o país deve a liberdade e Abril.
Um percurso de vida que se funde com a vida do Partido, parte integrante daquela gesta de lutadores revolucionários que fazendo parte da história do Partido são simultaneamente protagonistas do heróico percurso da luta da classe operária, dos trabalhadores e do povo contra a tirania fascista, pela liberdade e a dignidade humana.
Deixando a vida o camarada Joaquim, Gomes deixou-nos num tempo onde o combate é mais exigente, por vezes bem difícil, neste confronto com aqueles que inscrevem nos seus objectivos a subversão dos valores de Abril, a liquidação das conquistas económicas e sociais e o empurrar o país para o retrocesso restaurar as injustiças e aumentar a exploração dos trabalhadores! Mas aquilo que animou, formou e forjou o camarada Joaquim Gomes é aquilo que nos anima, forma e nos dá têmpera! Prosseguir a luta, manter o nosso projecto e ideal comunista, lutar, lutar sempre, com aquela convicção e determinação que emana do nosso grande colectivo partidário, renovando e rejuvenescendo as nossas fileiras, sem nunca esquecer quanta força dos dá o exemplo que Joaquim Gomes nos legou. Descansa, camarada, que assim faremos!
Viva o PCP!

(site PCP)

sábado, novembro 20, 2010

quarta-feira, novembro 17, 2010

Cimeira OTAN

(Relaxa, as bombas estão aqui para ajudar-nos... vêm da otan!)
Sobre o Afeganistão, depois de muitos anos de guerra continuada, vitimada que vem sendo a população deste país, ainda ninguém assumiu que este povo não se conquista.
Já no tempo de Alexandre Magno, não com uma estratégia na qual se oferecesse uma aparente segurança (contra quem?) às populações, a invasão e/ou conquista do território não passaram de balelas. O sinal mais claro de que este foi incapaz de transformar a cultura nessa região, antes pelo contrário, é o facto de ter lá entrado homosexual, enquanto nos países muçulmanos eram usuais e culturalmente aceites, comportamentos comuns a essa tendência, e saído casado, duplamente casado.
Apesar da anedota anterior (que não deve esgotar o seu conteúdo em qualquer espécie de consideração sobre as tendências sexuais de qualquer indivíduo), como prova, também, da impossibilidade de conquistar este povo, poderiamos olhar atrás e analizar o período soviético. Não obstante, hoje existem contingentes militares neocolonialistas de cerca de 40 países, debaixo da batuta norte-americana, ou, 40 destacamentos de povos subjugados ao imperialismo. Esse, o imperialismo, já veio anunciar, unilateralmente, como é de praxe, a sua intenção de retirar as tropas, facto que nos indica a incapacidade manifesta de conquista, apontando 2014 como data limíte para o efeito. Todavia, nesse mesmo anúncio, podemos observar que, o que se pretende é colocar no poder a facção mais dúctil de todas aquelas que conformam culturalmente esta terra e, dar corda aos sapatos da melhor maneira.
Aproveitando o momento, no qual Lisboa, a terra onde nasci, se metamorfoseia como sede do braço armado do terrorismo de estado norte-americano, penso que é adequado tentar sacar uma conclusão sobre a resistência dos afegãos aos inúmeros ataques aos quais durante séculos foram submetidos e para os quais sempre encontraram uma nova resposta:

A história,
escrevemo-la
o povo!
Os rolex, aparentam glória,
mas o tempo,
o tempo é do Homem
novo.

terça-feira, novembro 16, 2010

Poderia parecer ciência


A seguinte notícia:

"A crise económica pode ser uma oportunidade para promover a adopção de comportamentos mais ecológicos e éticos, que conduzam à melhoria da saúde mental dos portugueses, defendeu esta terça-feira a psicóloga Maria Júlia Valério.

«As situações adversas, como é o caso da crise, fazem-nos reflectir acerca dos valores e práticas que orientaram a sociedade nos últimos anos, nomeadamente o falhanço do economicismo e de uma sociedade materialista em que se é aquilo que se exibe», disse à Lusa a membro da Comissão Nacional para a Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental.

Maria Júlia Valério, coordenadora do Serviço de Psicologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, vai intervir sobre «O que faz o país pela saúde mental» na 14ª edição das Jornadas Cofanor, que se realiza sexta -eira na Fundação de Serralves, no Porto.

«É também uma oportunidade ecológica no sentido de deixarmos de consumir desenfreadamente. A escassez económica propícia práticas mais ecológicas como a reutilização e a rentabilização dos recursos existentes», salientou Júlia Valério, numa nota de antevisão da sua conferência.

Repercussões internas da crise vai estar em análise

A psicóloga falará sobre «as repercussões internas da crise financeira, nomeadamente aspectos como o desemprego, consumismo, solidão e dependência/passividade face ao estado-providência», e irá também apresentar casos práticos da resistência da mente humana às adversidades, através da criatividade e da optimização de recursos.

Sob o tema «Quem são os loucos?», Cláudia Milheiro, psicóloga clínica do Hospital Magalhães Lemos, no Porto, procurará comprovar nas jornadas que não existe uma definição clara sobre o que é a loucura.

As novas psicopatologias e as diversas interfaces com a psicanálise, a psicologia e as psicoterapias serão outros assuntos a abordar.

«Nesta linha, questionam-se técnicas e métodos, procurando os necessários ajustamentos às actuais formas de adoecer. Serão levantadas diferentes hipóteses e modelos de leitura de casos a partir da prática clínica, alicerçados no conhecimento científico», explicou Cláudia Milheiro.

«O que é a mente?», «Psicotrópicos: Usos, abusos e limites», «Conseguir a saúde mental» e «A imagem da loucura» serão outros temas a abordar nas Jornadas Cofanor, pelos especialistas Rui Mota Cardoso, Hélder Mota Filipe, Maria Raúl Lobo Xavier e António Roma Torres.

A palestra de encerramento estará a cargo do escritor e político Vasco Graça Moura, que, sob o título «O binómio de Newton e a Vénus de Milo», falará sobre as relações entre a poesia e a ciência, documentadas desde o século XVI na literatura portuguesa."

... Não fosse a intervenção de encerramento, podería parecer algo científico, mas, se com a mesma cruzar-mos esta outra:

"Esta foi uma das quatro medidas anunciadas por Ana Jorge como forma de promover uma prescrição mais racional de medicamentos da área da saúde mental.

No mês passado, o Ministério da Saúde revogou uma portaria que previa um acréscimo de comparticipação do Estado na compra de psicofármacos a doentes com patologias especiais, como a esquizofrenia.

Hoje, a ministra disse que caberá a cada instituição pública que segue os doentes mentais avaliar a quantidade necessária de medicamentos, que serão depois adquiridos através de compra centralizada pelo Estado, à semelhança do que sucede com as vacinas do Plano Nacional de Vacinação.

"Os medicamentos estarão disponíveis nos locais onde os doentes são acompanhados. Depende do local onde for a consulta que os doentes seguem", disse Ana Jorge, apesar de reconhecer que ainda não está definido quem pagará o quê.

Com a dispensa gratuita de medicamentos nas unidades de saúde, o Ministério espera que os gastos do Estado sejam menores do que aquilo que é actualmente pago em comparticipações.

"Esperamos que os gastos sejam inferiores por duas razões. Porque a compra é centralizada e porque juntamente com esta medida haverá outra: orientações feitas por equipas de peritos que definem que medicamentos têm de ser usados e em que situações", declarou a ministra aos jornalistas à margem de uma conferência sobre saúde mental.

O Ministério da Saúde quer ainda realizar um estudo sobre padrões de prescrição de medicamentos para doentes mentais em Portugal, bem como desenvolver um programa de formação de médicos de família sobre o uso racional de fármacos nas doenças psiquiátricas."

... Sem querer parecer tendencioso, poderiamos concluir:

O actual governo prepara a generalização do uso e prescrição de psicofármacos, como paliativo, em linha com a esperada depressão na qual entrará a maioria dos portugueses, devído à crise que se atravessa, e, em sintonía com o que o PSD vem anunciando, em palestras apoiadas por figuras de responsabilidade nos serviços de saúde mental estatais.

Assim mesmo, a saúde mental dos portugueses, mais que conservando episódicamente patologías relacionadas com este foro, com base em diversos estudos, é a mais debilitada de toda a UE, podendo mesmo atribuir a esta adversidade a passividade que se tranformou em culto para quase metade da população.
Mais grave, porém, é constatar que os "psicólogos" nacionais, na sua maioría, preterem a contrastação de indicadores que reflectem a difusão cultural psicótica enquanto como opção aparece a colocação, mesmo a recibos verdes.

O resultado de considerar Hipócrates uma anedota, mais que isso, a constatação de que a realidade também transforma alguns daqueles que a pretendem transformar (ou que deveriam ter como sumo objectivo essa transformação), deriva num agravamento acompanhado, mas raramente contestatário, do entorno no qual se inserem, resultando o mutismo um apoio tácito a medidas e estratégias que, mais que neoliberais, são de todo cariz fascistas.

Fica mais um exemplo:

"Centenas de escolas começaram o ano lectivo sem um psicólogo colocado, para apoiar os alunos. A estimativa é da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), que explica que estes profissionais são normalmente colocados através de um concurso especial autorizado pelo Ministério da Educação (ME), ao abrigo do combate ao insucesso e abandono escolar.

Mas o concurso está atrasado, uma situação "particularmente grave", depois de o ME ter anunciado, na terça-feira, as metas da Educação para 2015 em que se pretende reduzir o insucesso e o abandono, aponta Albino Almeida, presidente da Confap.

"A ministra fala do aumento do trabalho com as famílias, na redução do insucesso e abandono escolar, que são tarefas feitas pelos psicólogos e depois o concurso para a sua colocação está atrasado", critica o dirigente. De acordo com alguns psicólogos e com a Confap, o atraso na colocação destes profissionais deve-se à falta de verbas. "É mais uma consequência da contenção de custos", refere o representante dos pais.

As famílias têm denunciado esta falha à Confap. "Recebemos vários pedidos de pais de Braga para que pelo menos os psicólogos que tinham projectos no ano passado continuem este ano", confirma Albino Almeida.

Uma das psicólogas que ainda não sabe se ficará na escola onde deu apoio aos alunos nos últimos três anos é Inês Faria. A responsável pela comissão de educação do Sindicato Nacional dos Psicólogos era a única psicóloga no agrupamento onde estava a trabalhar.

A ausência de um especialista na escola, que tem alunos do jardim-de-infância até ao 12.º ano, faz com que Inês Faria continue a receber telefonemas a pedir a sua intervenção. "Mas não posso ajudar porque oficialmente não estou a trabalhar."

Até que a situação se resolva, os professores não podem referenciar novos casos ou pedir a continuidade do acompanhamento dos alunos, explica Inês Faria. "Até a psicóloga do centro de saúde já me ligou para acompanhar um caso, mas não posso porque não estou a trabalhar", acrescenta.

Maria (nome fictício) também trabalha em escolas há quatro anos. "Sempre concorri em Agosto e em Setembro já estava colocada na escola". "Esta já era uma situação precária: não temos carreira e não somos aumentados e agora o concurso não abriu e ninguém explicou porquê", aponta. Na escola onde estava a dar apoio na zona de Lisboa, Maria fazia "avaliação psicológica, programas de educação sexual e de prevenção de bullying". "Estava envolvida em muitos projectos e agora a escola já me estava a bater à porta", explica.

Alguns psicólogos da zona de Lisboa admitem enviar uma carta aos partidos políticos para discutir os atrasos na sua colocação e a precariedade da carreira. "Desde 1997 que não entram psicólogos para os quadros das escolas", diz Inês Faria. O sindicato não tem ainda nenhuma acção prevista."

Finalmente, ainda não sendo esta a função mais importante da classe, depois uma sucinta apresentação da situação deste colectivo num âmbito específico, que deveria, assumindo como sérias e fundamentais responsabilidades de outra índole, reclamar um papel preponderante na definição das políticas de qualquer governo, os psicólogos são assim inibídos da possibilidade de recolher a informação de como a sociedade impacta na mente do futuro, prescindindo de perspectiva, noutros casos de verticalidade, esgotam no canudo as suas obrigações.

Ode ao Surrealismo por Conta Alheia

Que levas ao colo, embrulhado em sarrafaçais transcritos mau olhado
abomináveis trutas e outros preconceitos?
Um sacerdote? Um gato? A timidez?

Que transportas silencioso, imóvel, como dormindo, no xaile
pespontado a verde com que limpas o suor, o sêmen, as fezes,
tudo o que abandonas, ofereces, vendes, expulsas, injetas,
convocas, reprovas, descreves, etc.?
Embalas e não respondes.
Temes a polícia, os tapetes, o capacho, o telefone, as campainhas
de porta, as pessoas paradas pelas esquinas reparando
em por de baixo das roupas das outras que passam?
Temes as palavras?
Temes que saiam versos, lágrimas, casamentos,
satisfações apressadas em campos de arrabalde?
Temes os partidos, os artigos de fundo, os banqueiros, os capelistas,
a inflação, as úlceras do estômago ou sociais?
Que transportas ao colo
em silêncio e num xaile?
É a vida? Anúncios luminosos? Casas económicas? O mar? Irmãos?
Reivindicações? Um livro?
Embalas e não respondes.

É a vida? A noite que cai? As luzes distantes? Um gesto? Um olhar?
Um quadro? Uma poesia lírica?

(Oportunamente interrompida pela chegada de uma pessoa conhecida)
Jorge de Sena

segunda-feira, novembro 15, 2010

The Wisdom of Property and the Politics of the Middle Classes

At the end of the twentieth century, while financial economists satisfied their intellectual pretensions to useful knowledge by conjuring up visions of a world peopled with materialistic consumer-investors optimizing rationally in accordance with their willingness to hazard their wealth, the propertied classes themselves were succumbing to new delusions fostered by the financial markets. The reasoned response of propertied individuals to their experience of the world of speculative finance has created a new political culture with important consequences for the political economy of capitalism.

The propertied classes of the past were a combination of landowners and rentiers, that is, owners of financial securities. The former were oppressed in most progressive countries by death duties and were made even more insecure by the declining real value of rents, that is, the value of rents in relation to the rising cost of maintaining the style and accommodation appropriate to a landowner. In their turn, rentiers were made insecure by the financial crises and inflation that punctuated the progress of finance from the latter half of the nineteenth century, culminating in the 1929 Crash.

From the 1970s, the growing prosperity of the middle classes in the “financially advanced” countries, such as the United States and Britain, was associated with a switch in their asset holdings, from modest holdings of residential property and direct ownership of stocks and shares, to residential property that was increasing in value, and indirect ownership of stocks and shares in the form of funded pension entitlements and insurance policies. In the early 1960s, the majority of stocks and shares in both countries were owned by wealthy private individuals. A decade later, the majority of stocks and shares were owned by pension funds and insurance companies. This does not mean that such funds were not active before the 1960s. They were, but had only a limited market because their use-value was just that they provided pensions and insurance. After the financial crises of the early 1970s, financial inflation gave such intermediary funds a new use-value: that of financial enrichment.

Pension funds and insurance policies are relatively illiquid, and the cash flow that they provide is restricted to circumstances provided for in the terms of the policies: pensions in retirement, or payments defined by the terms of an insurance policy. However, the long boom in the housing market, with its growing liquidity, allowed additional borrowing against capital gains in that market. Financial inflation and the conversion of capital gains into income change the way in which capitalism is experienced by those living in that system. That changed experience in turn alters the culture, preoccupations, and hierarchy within the propertied classes in the following ways:

1. Humanity as an appendage of asset markets. As a consequence of labor market deregulation, income from employment has become more volatile and uncertain in the United States and the United Kingdom. Those who own property come to be dependent upon capital gains from asset inflation to maintain standards of consumption (see 4., below) and secure a future in which employment income has become more precarious. The prospects for inflation in asset markets take over a dominant part in the rational economic expectations of individuals with property, just as the prospects of acquiring property with the potential for appreciation in value comes to be the focus of the economic ambitions of those without property. Professional or career advancement takes a secondary place to the search for capital gains. In this climate the bureaucracies of the welfare state are balkanized, so that public sector assets can be turned over in asset markets to realize capital gains and replace tax revenues in defraying the cost of public administration (see 4. and 6., below).

In the private sector itself, a new source of alienation emerges as production comes to be incidental to the much more lucrative business of balance-sheet restructuring. Vastly more capital can be turned over even more rapidly in the markets for property or financial assets, while the pedestrian business of production is limited by techniques of production and the relative difficulty with which such techniques may be modified. The value of any labor or effort becomes inconstant since, at any one time, it depends on an ephemeral conjuncture in the financial markets. A productive worker producing a value in excess of his or her wage, may still be negligible if the balance sheet on which he or she might appear as an asset may be sold for even more profit in the financial markets. The residual pride of the producer in the product or service in which her or his labor is embodied, a labor already fragmented by specialization and capitalistic machine production, now becomes even more a melancholic nostalgia for medieval craftsmanship than a realistic attitude to work or professional ambition. The common factor in our humanity at work or at home comes to be our preoccupation with asset values.

This new community emerges as politics, culture, and history, the other sources of our common humanity, come to be private consumption choices or leisure activities, like the preferred television channels that “private individuals” watch, or tracks that they download onto their MP3 players, or collective consumption choices, like sports events or concerts, or the imagined history that people choose when they seek to ennoble their lifestyle by attaching their consumption choices to a particular tradition. These sad attempts to find relief from alienated labor or to realize a common humanity are doomed to eventual frustration precisely because they are private choices in a society whose members’ only common preoccupations are debt and the opportunities for easing it with asset inflation. In this way, humanity is reduced to an appendage of asset markets; as under industrial capitalism, we were reduced to appendages of machines; as previously, under the absolutist state, we were appendages, once, twice, or so many times removed, according to our place in the social hierarchy, of the throne; or as, even earlier, in the medieval theocracies, the altar gave us our community. Our dependence on banking and financial markets defines our common humanity, as did our earlier dependence on the throne or the altar.

This social dependence is reinforced by the prior claims that debt has on everyone’s income and wealth. Businesses and business individuals may go out of business, bankrupt themselves, in order to avoid their creditors. But, for the reasoning individual with a nonfinancial life, such balance sheet restructuring disrupts the pursuit of personal, family, or professional advancement through which we find satisfaction and respect in our communities. As long as asset markets are rising, debt is easily managed and we can all, with the exception of the asset-poor, proceed with satisfying our personal or social ambitions. When asset markets fall, human advancement is set aside in the effort to reduce debts, in the same way that the feudal peasant left his land and family in order to work on the land of his lord. In a society bound by property contracts, the road to serfdom goes through finance.

2. The social hegemony of investment bankers. As financial markets inflate, their apparent success contrasts with the lagging performance of underinvested industry. At this stage, far from concentrating resources on industrial renewal, financial innovation concentrates on mobilizing financial resources to sustain rising asset prices: in an era of finance, finance mostly finances finance. The concentration of financial resources on purchasing financial assets and the extension of credit for such purposes results in financial inflation. Such inflation establishes the reputation of investment bankers whose decisions and advice are responsible for the concentration of resources on buying financial assets. The resulting financial inflation is then attributed to their superior insight and their knowledge of which assets will enjoy price increases.

Such superior insight is, of course, a delusion, as Keynes showed in his famous analysis of investment behavior.1 Once investment bankers agree on the assets that are most likely to appreciate in value and summon up the buying power of the investment funds that they advise, those assets inevitably will appreciate. Such appreciation confirms the genius of investment bankers who can lead a sufficiently large pack of fund managers into the purchase of particular assets. But the source of their success lies in their ability to concentrate buying, rather than in any ability to identify objective growth prospects. In asset markets, such prospects are not inherent features of particular assets, but reside solely in the minds of market participants.

A more real accomplishment of a good investment banker is the ability to refinance balance sheets in order to convert notional capital gains into cash flow. Such refinancing is easy while financial markets are being inflated and attracting liquidity. The investment banker can then literally take the credit for turning capital gains into cash, money that the market as a whole is attracting in pursuit of such gains. Obtaining such cash flow is by no means so easy when asset prices fall. This concentration on balance sheet restructuring narrows the worldly experience of bankers and financiers. Nevertheless, the dominance of financing arrangements in household and company affairs makes practitioners in finance increasingly sought-after policy advisers. In this capacity, their déformation professionnelle inclines them even more to providing a standard solution of balance sheet restructuring to complex social and economic problems.

3. An enhanced delusion of successful thrift among the middle classes. In any scientific study of economic behavior in market economies, it is necessary to distinguish the experiences or perceptions that people may have, from the market process that gives rise to such experiences or perceptions. Individuals who enjoy the benefits of asset inflation only directly experience the purchase of the financial asset that gives them a claim on a capital gain, as opposed to the money coming into asset markets that allows that gain to be realized. Capital gains are therefore “naturally” attributed to provident and well-calculated asset purchase, perhaps even to some intrinsic characteristic of a given asset, rather than generalized asset inflation. In this way, the propertied classes succumb to a comforting illusion, carefully cultivated by their financial advisers and intermediaries, that their foresight and financial acumen have secured them their gains.

In fact, the situation is quite the reverse. The benefits that the propertied classes obtain from inflated property and financial asset markets are increasingly capital gains on wealth, rather than accumulated savings out of income. As property markets inflate and pension funds mature, it is the propertied classes who dissipate on their own consumption the capital gains that they are able to take out of property and financial asset markets. Such capital gains are in turn the product of the “enforced savings” of the young who are compelled to rent or buy housing accommodation at prices that swallow up most of their income and of lower paid workers who are obliged to subscribe to pension funds. In effect, these gains create a double squeeze on those least likely already to own property, the young and workers at the bottom of the hierarchy.2 The delusion of thrift at the top that this generates reinforces a growing sense of financial self-reliance and independence from the state welfare system.

4. The emergence of inflated property and financial asset markets as a “welfare state of the middle classes.” Inflated asset markets act as a welfare state in that they socialize the financial risks of those owning such assets. Asset markets afford asset owners unconditional access to money through the sale of an asset, typically to another asset owner with spare liquidity. Inflated asset markets allow owners of such assets to cross-insure each other in this way against extraordinary liabilities for health care, holidays, school fees, the purchase of housing, or the repayment of inconvenient debt. Such extraordinary liabilities may be accommodated by taking out of those asset markets money that is being put into them by those acquiring such assets. This has the political consequence of alienating those with property from a state welfare system for which they pay, but from which they derive little benefit. This disconnection lies behind middle-class taxpayers’ demands to reduce the cost of that welfare state by concentrating state benefits more narrowly on “those in need.” In its turn, such concentration reinforces that middle-class alienation from the state system.

5. The marginalization of those without appreciative wealth. They may be home owners in places where wealthy property owners do not wish to buy housing, or without claims on inflating assets, such as housing in places where wealthy property owners are buying housing. Where property owners transfer capital into the housing market, the increase in house prices obliges the young and migrant workers to live in overcrowded conditions, because housing has become a perquisite of property owners, rather than being available to all. Not having property denies marginalized sections of society the opportunity to operate balance sheets actively; their debt is more likely to finance current consumption, rather than the acquisition of inflatable assets. These are the lower-class counterparts of those among the propertied classes whose possession of inflated assets allows them to consume in excess of their incomes. An unequal distribution of income is thus enhanced by a growing distinction between the “balance sheet” rich, and the “balance sheet” poor.

6. State-administered social welfare as a system for prosecuting the poor. While the official welfare state may provide some minimum income for those without means of support, this is at the cost of taxpayers, predominantly among the middle classes. Such minimum income is increasingly delivered with a degree of institutional bullying and hectoring, designed ostensibly to make welfare claimants more active in securing their financial independence but, in reality, designed to reassure propertied taxpayers that those claimants are being penalized for their improvidence in not having property to support them. It is not, as politicians and economic advisers repeatedly assert, a question of the claimants’ “willingness to work”: no one threatens, with removal of their income, the propertied classes themselves—for their improvidence in living on unearned income from property or capital gains on that property. The selective penalization of those without property or income is a natural consequence of a state welfare system that is no longer comprehensive because the middle class is increasingly opting out of it.

7. The delusion of risk-taking. The asset-rich attribute their superior capital income to “risk-taking.” This is a delusion because the asset-rich have their financing and income hedged by assets, and a hedged risk is no risk at all, or a purely subjectively perceived risk. The biggest risks are undertaken by the asset-poor because their financing and income are not hedged by assets, and an unhedged risk is a real one. When financial markets are being inflated, the structure of rewards in the different trades and professions is such that those who take the lowest risk, because they hazard other people’s money, get the highest rewards, while those who take the highest risks, because they entrust their meager savings to financial intermediaries with the least possibility of hedging the hazarding of those savings by those intermediaries, obtain the lowest rewards.

Financial inflation is therefore no mere temporary departure from equilibrium in a standardized model of capitalism. It changes the character of capitalism and the range of choices that firms, individuals, and households face. An enhanced option to consume without income is bought at the cost of financial instability, industrial decadence, and regressive social values.
Jan Toporowski - Monthly Review

domingo, novembro 14, 2010

Bifanas

A mostarda, é tal a forma de a digerir que não permite que nos dediquêmos a pensar noutra coisa senão no nosso estômago. Hoje, para acompanhar o almoço fui ao frigorifico procurar a dita, e, reiterando aquela ideia de que ganhar perspectiva facilita a compreensão, só fui capaz de a ver depois de aquecer; depois de me afastar do aparato.
Durante o almoço tive tempo de pensar na França, no que por ali acontece, divagando de imediato para um âmbito mais amplo, a Europa e as suas convulsões sociais, assincronas, como marca a agenda do capital, que assesta golpes temporalmente desfasados, e, na organização dos protestos dentro deste contexto.
Porém, certo é que, depois de a digerir, como a muitos acontece por resistir a tragar a gordura do estabelecido, esta chega facilmente ao nariz, a questão é que, injectado nos hábitos que foi o consumo desse de vermelho ensaguentado ketchup, é dificil que a mostarda chegue ao nariz da maioria, como chegou no caso da França.
Em Portugal, produzida em Mira, também produzimos mostarda, essa que acompanha a irrecusável bifana das nossas papilas. A mistura, se acompanhada com cerveja, muito provavelmente, mais nuns casos que noutros, eleve também ao nariz dito molho.
Àparte daquela zona da estrada nacional que liga Elvas a Lisboa, ou Montemor a Setúbal, ou vice-versa, o Olimpo das bifanas fica na zona da baixa lisboeta, assim, sem receio de que me suba, dia 20 vou com uns amigos, alguns camaradas, comer bifanas. Lá, para os Restauradores.

sábado, novembro 13, 2010

quinta-feira, novembro 11, 2010

A Cultura Integral do Indivíduo - Problema central do nosso tempo

(...) Vejamos se nos aparece assim, ao menos nas suas linhas gerais, alguma lei à qual se subordine todo o desenvolvimento que a história nos apresenta ao longo do extenso caminho percorrido, desde o aparecimento dos primeiros agrupamentos humanos até às sociedades de hoje.
Creio que essa lei existe e que pode formular-se, pouco mais ou menos, nos seguintes termos: no seio das sociedades humanas manifestam-se permanentemente dois princípios contrários -o individual e o colectivo -de cuja luta resultará um estado superior dessas mesmas sociedades, em que o primeiro princípio – o individual - chegado a um elevado grau de desenvolvimento, se absorverá no segundo.
Demoremo-nos por alguns instantes na explanação da ideia contida neste enunciado que, receio muito, corre o perigo de, à primeira vista, vos aparecer como paradoxal.
Nos primeiros grupos humanos, em que aquilo que distingue o homem dos outros animais se encontra ainda mal liberto da ganga da irracionalidade primitiva, não há lugar para mais do que para os instintos e sentimentos gregários, num estado de existência em que o indivíduo mal tem consciência de si, fundindo-se no agrupamento de que depende. É só a pouco e pouco que os mais aptos, os mais capazes pela força ou pelas qualidades de observação, se vão elevando acima do grupo, destacando-se dele, impulsionando-o e fazendo-o progredir.
O esforço individual aparece assim como indispensável para o progresso do agregado que, sem ele, permaneceria sempre tal qual nasceu, como acontece, por exemplo, com certas associações de animais inferiores que hoje vemos.
Mas essa acção do individual sobre o colectivo não tem apenas, infelizmente, a virtude criadora de progresso que lhe acabamos de assinalar. Bem depressa ela se manifesta com outros caracteres que formam o cortejo sinistro do domínio do indivíduo sobre o grupo -o mais capaz só subsidiariamente põe o seu esforço ao serviço do agregado; a sua primeira ideia é servir-se dessa capacidade maior para seu interesse próprio. E aqui reside o grande drama em que, de todos os tempos, se tem debatido a humanidade -condenada a só poder evolucionar e progredir sob a acção vivificadora e fecunda de alguns dos seus indivíduos, ela vê-se ao mesmo tempo impotente para impedir que esses indivíduos se transformem em seus verdugos. Ela assiste, incapaz de o evitar, à criação das castas que são como outras tantas sanguessugas sobre o seu corpo, sem, ao menos, lhe restar a solução de as eliminar, porque isso equivaleria à sua morte no pântano estéril da incapacidade.
Encarada sob este ângulo, a História da Humanidade aparece-nos como uma gigantesca luta, gigantesca no espaço e no tempo, entre o individual e o colectivo. Luta gigantesca, e trágica, e sangrenta, em que transparece um domínio quase permanente do individual sobre o colectivo e, de longe em longe, um estremecimento do grande corpo mortificado, um movimento de revolta, um triunfo efémero do colectivo, que logo cai sob outro ou o mesmo jugo pela sua incapacidade de se reconhecer e dirigir. E esse grande corpo, curvado ao peso dos seus donos, segue o seu caminho sem parar, cai aqui, levanta-se além e aspira, aspira sempre a qualquer coisa de melhor. Mas esse «qualquer coisa» é vago e impreciso e, por isso mesmo que o é, leva a todos os desvios e todos os erros, pressurosamente amparados e com cuidado mantidos, precisamente por aqueles -o princípio individual em acção -a quem uma consciência colectiva forte ameaçaria
no seu poderio egoísta. (...)
Bento de Jesus Caraça

terça-feira, novembro 09, 2010

O pato

Este troço de "Pedro e o Lobo", de Prokofiev, mesmo sendo parte de uma história infantil, ou quem sabe por isso mesmo, surgiu no meu consciente quando passava hoje a vista pelos jornais e blogues ou fontes de informação alternativa que pululam pela rede. Não pela convocatória da V internacional feita por Chávez, nem sequer pelo apoio que à mesma anunciam mais de 50 partidos e movimentos (algo a ponderar apesar de uma iniciativa aparentemente trotskista); não pela feliz diminuição da idade para a reforma que aprovou o governo do marxista/leninista Evo Morales; não por constatar que os hotéis galegos tiveram menos ocupação durante a visita papal que no fim-de-semana anterior tão propagandeado evento, ou por ver que as associações de gays e lésbicas sairam à rua em Barcelona para mostrarem cartazes nos quais acusavam sua "santidade" de pedófilo; nem sequer por assistir ao leilão no qual colocou sócrates o nosso país, esta obra foi resgatada apenas por continuar, e pelo enjoativo da atitude, a ver como os governantes portugueses dos 34 últimos anos continuam a levar detrás de si a maioria do povo português, inventando pretexto sobre pretexto; sempre com a salvação como objectivo, implementando o roubo em cada promulgação sem apenas agastar quem sofre esse continuo espólio, sem que Pedro se dê conta de que o mérito de caçar o lobo fica para os caçadores, mesmo daqueles que não disparam, ainda sabendo a sua própria fome, a do Pedro, a verdadeira salvadora do pato.
Depois do teixeirinha ter preparado o povo para a vinda do FMI, colocando na imprensa o limíte a ultrapassar, mas, ao contrário daquilo que tentou passar, já previsto por este governo, vem agora um integrante do seu elenco dizer que nada disso, que não é isso que se quer e que os medidores estão mal aferidos (provavelmente o factor seja de 7,9).


Afinal, quem é o pato?

segunda-feira, novembro 08, 2010

A propósito disto

A Fé

Distendei vossa espera o quanto quiserdes - tão clara,
duma clareza tão alucinante
é minha visão
que, dir-se-ia,
bastava o tempo de liquidar esta rima,
para, grimpando ao longo do verso,
entrar numa vida maravilhosa.
Eu não preciso indagar
o que e como.
Vejo-o,
nítido,
até os último detalhes,
no ar,
camada sobre camada,
como pedra sobre pedra.
Vejo erguer-se,
fulgurando no pináculo dos séculos,
isento de podridões ou poeiras,
o laboratório das ressurreições humanas.
Eis o calmo químico,
a vasta fronte
franzida
em meio à experiência .
Num livro, “Toda a Terra”,
procura ele um nome.
“O Século Vinte...vejamos,
a quem ressuscitar?
A Maiakóvski talvez...
Não, busquemos matéria mais interessante!
Não era bastante belo esse poeta”.
Será então minha vez de gritar
daqui mesmo,
desta página de hoje:
“Pára, não folheies mais!
É a mim que deves ressuscitar!”

Maiakovski

sexta-feira, novembro 05, 2010

"...Os mercados estão a apostar quase a 100% na ocorrência de um default em Portugal. O FMI insiste que esses mercados - bancos e fundos estrangeiros que dantes compravam dívida portuguesa e que agora fecharam a torneira, podem estar a "sobrestimar o risco de bancarrota" das nações mais problemáticas, impondo juros cada vez mais elevados. O pior, admite o FMI, é que a margem dos países altamente deficitários e endividados para inverter a noção e o sentimento que o exterior tem relativamente a eles é hoje mais estreita que nunca.

Ontem os "mercados" emitiram mais um alarme: a taxa das Obrigações do Tesouro a dez anos portuguesas atingiu os 6,8%, o valor mais alto desde que Portugal aderiu ao euro. Para Teixeira dos Santos, quando esta superar os 7%, mais vale recorrer ao fundo do FMI/UE...."
Num jornal


Depois de reduzido o crescimento salarial; retiradas as garantías ao povo; de assumir um corte de três mil milhões nas funções sociais - como manda a direita -; depois de encaixar quatro mil e seiscentos milhões no BPN, banco de interesses americanos - como manda a direita -; depois de destruir a maior parte do tecido productivo, vem agora o FMI descubrir que os governos portugueses têm vindo a preparar o terreno para, de bolso aberto, pró ar, entregar o país às grandes potencias europeias??
Que vamos falir??
Que vamos continuar a hipotecar o futuro dos portugueses com empréstimos ao exterior; ao FMI??

Uma vez saneada a empresa, ou seja: mais de setecentos mil atirados ao chão, metade deles sem pão; sem obrigações do estado no âmbito da sanidade, educação, etc. Com um sistema de extorsão impositiva da qual ninguém pode escapar, através de impostos do trabalho, combustível, portagens, IVA ou energia, virá o FMI emprestar uns tostões que não poderemos pagar porque não produzimos e porque não existe uma mudança política no horizonte... nem quando o PSD provocar eleições dentro de 4 ou 5 meses, para continuar a subjugar o povo.

Quem vai pagar esta caldeirada?? Como??

Onde é que está a solução??
Eu aposto, de longe (na emigração), pela mudança, mas claro, a minha opinião não deve valer mais que a de qualquer um de nós, algo contrário ao que o mutismo com cara de peneira bacôca e estagnadora, bafienta, imobilista, mantém nesta e mantido por esta, sociedade.

Há 30 anos o Saramago escreveu um livro muito interessante, escrevâmos nós o nosso!

quinta-feira, novembro 04, 2010

Levantado do Chão faz 30 anos

O PCP comemora hoje o 30.º aniversário da publicação do romance Levantado do Chão, livro que projectou internacionalmente o escritor e prémio Nobel da Literatura José Saramago.

A sessão, que homenageia ao mesmo tempo o escritor enquanto destacado militante comunista, realiza-se às 18h00, na Casa do Alentejo, em Lisboa, e tem a presença do secretário-geral do PCP Jerónimo de Sousa, do também escritor Manuel Gusmão e de Pilar del Rio, sua companheira.

"Para todas as idades"

quarta-feira, novembro 03, 2010

Esclarecimento

Agradecendo de antemão que os comentários fiquem aqui expostos, que não seja o email uma caixa de críticas, essas que afinal são fundamentais para continuar a crescer. Fica aqui uma análise mais pausada do texto que anteriormente transcrevi e critiquei parcialmente.

“Os conservadores esperam que a investigação do genoma humano ajude a provar que a natureza, não ordens sociais desiguais, determinam quem acaba por se tornar doente e pobre. Mas os nossos genes têm-se recusado a cooperar.” Ainda parcialmente de acordo - a natureza não determina a pobreza -, não podemos esquecer as leis de Mendel.

“Um psicólogo clínico notável pelas suas observações sobre como a desigualdade afecta o que se passa nas nossas cabeças está agora a divulgar algumas percepções fascinantes, baseadas em nova investigação acerca de quanto a desigualdade reflecte o que está a acontecer nos nossos genes.” Nada de novo.

Este psicólogo clínico britânico, Oliver James, escreveu muito ao longo dos últimos anos acerca do que denomina "ansiedade pela riqueza" ("affluenza") [NT] , o "vírus" induzido pela desigualdade que nos conduz a um nível sempre mais alto de dinheiro, posses e fama.

“A affluenza, destacou James, varia amplamente na sociedade. Quanto mais desigual for a distribuição de rendimento e riqueza numa sociedade, mais affluenza e mais elevada a incidência de doenças mentais que a affluenza tão seguramente engendra.” Não sendo este o factor predominante, a affluenza, antes olhêmos as necessidades básicas como a fome, que raramente aparece nas conjecturas de cariz burguês.

“Os apologistas de ordens sociais desiguais sempre, naturalmente, contestaram qualquer ligação entre doenças mentais e o ambiente económico e social. Que pessoas de baixo rendimento sofram depressão a níveis duplos das pessoas de alto rendimento, acreditam estes apologistas, sugere apenas que pessoas na base nasceram neste mundo com mais "deficiências pessoais" do que as do topo.” Nada a contrapôr nesta crítica.

"A direita política acredita que os genes explicam amplamente porque os pobres são pobres, assim como terem uma probabilidade dupla de serem mentalmente doentes", como observa James. "Para elas, os pobres são lama genética, afundada na base do charco genético". Coisas da direita, nada de novo, nada de razoável.

“A prova científica deste afundamento, exultava a direita uma década atrás, viria quando "avanços rápidos na genética e na neurociência" – o projecto genoma humano e toda a investigação em torno dele — revelasse a verdadeira "história da natureza humana".” Idem.

“A investigação do genoma humano, como opinou dez anos atrás o cientista político Charles Murray junto à organização de extrema-direita American Enterprise Institute, "está em vias de contrair e abalar o espaço para certas posições políticas".” As da direita, certamente.

“"Estou a prever que os provérbios da direita geralmente demonstrar-se-ão mais próximos do alvo do que os provérbios da esquerda", escreveu Murray, "e que muitas das causas da esquerda revelar-se-ão incompatíveis com o modo como os seres humanos são programados (wired) ".” A esquerda é de poucos provérbios mas materialista.

“Com mais completa informação genética em mãos, Murray contestou: "verificou-se que a população abaixo da linha de pobreza nos Estados Unidos tem uma configuração de constituição (makeup) genética relevante que é significativamente diferente da configuração da população acima da linha de pobreza".” Mais um troço da mentira que é a direita.

“De facto, como observa Oliver Jones numa nova análise, as coisas não se apresentaram deste modo de forma alguma. A "extensa investigação do genoma" desde o ano 2000 não revelou qualquer "constituição genética" que predisponha algumas pessoas para o "êxito" e a riqueza e outras para a doença e a pobreza.” Aqui reside um erro importante da resposta do autor: Em realidade existe uma predisposição genética herdada para padecer determinadas doenças, ainda que as doenças sejam como o lumpen, não observem classes.

"Agora sabemos", observa James, "que os genes apenas variam a propensão entre irmãos, classes sociais ou grupos étnicos para sofrerem problemas de saúde mental". Estou de acordo.
“O Journal of Child Psychology and Psychiatry apresentou exactamente o mesmo ponto num editorial do princípio deste ano. A ciência séria, declarava o editorial, agora concentra-se mais do que nunca "sobre o poder do ambiente" e "todos excepto os deterministas genéticos mais teimosos tiveram de rever o seu ponto de vista".” Sem ser determinista, é bom lembrar que não devemos misturar pobreza e doenças.

"Os factores biológicos não existem num vácuo, hermeticamente selados de factores sociais e ambientais", acrescentou na semana passada o bioético Daniel Godlberg, da Carolina do Norte, num comentário sobre a nova análise de Oliver James. "Assim, a tentativa de separar o biológico e o social não faz o mínimo sentido". Não comparto esta afirmação totalmente, social não é ambiental. Nascer no Nepal ou no Peru, dentro de certa continuidade familiar, permite que o nosso sangue transporte muito mais oxigénio que o sangue de quem nasceu ao nivel do mar. Aqui não entra o aspecto social, só o ambiental. Por herança genética, acervo génico, os oriundos da África central possuem uma pele diferente à dos eslavos, e este é o resultado de uma adaptação ambiental, nada que ver com o social.

“Assim, o que faremos com o nosso novo entendimento da genética? Como podemos construir sobre o que agora sabemos a fim de ajudar a moldar sociedades mais saudáveis? James está a sugerir uma sequência de três passos.” Aqui chegamos ao cúmulo da confusão.

“Primeiro, aconselha o psicólogo, vamos "criar uma sociedade na qual o máximo de oportunidades para uma vida mentalmente saudável e realizada seja mais importante do que enriquecer uma minúscula minoria".” Há muito que lutamos contra o capitalismo, tentar inventar a pólvora através de um discurso tão confuso pode ser contraproducente.

“Segundo, vamos "colocar o atendimento das necessidades das crianças, especialmente as mais pequenas, à frente de todas as outras prioridades".” Isto não é possivel, não é lógico nem positivo.

“E, terceiro, vamos cultivar (nurture) as condições sócio-económicas que maximizam a saúde mental. James explica: "Isto significa criar maior igualdade económica, condições de trabalho muito mais seguras, muito maior flexibilidade de emprego para pais de crianças pequenas e uma semana de 35 horas".” Outra mistura perigosa: “maximizar a saúde mental” é comparar por baixo, os três aspectos enfatizados, como sabemos, fazem parte de um todo: Acabar com o capitalismo.

“Temos, reconhece James, "nem uma mínima possibilidade de algo disto acontecer até que os políticos entendam o que a ciência está a dizer-nos".” O que os cientistas, cientistas sérios, defendem, não se expõe de forma tão liviana nem com argumentos tão frágeis. Ainda que de existir (e existe) uma patologia que pode guardar relação com a realidade social cada vez mais homogénea da pobreza, esta é só mais uma, apenas mais uma, e estas, na sua grande maioria, conservam um denominador comum, o capitalismo. Não é por atirar para cima dos políticos a razão de todos os males da sociedade que vamos mudar nada, nem sequer pedindo-lhes que mudem o seu rol de prioridades, afinal quem os coloca em funções somos nós, todos, e seremos nós, povo, protagonizando a história, aqueles que devemos assumir de uma vez por todas o nosso papel, começando por cada um de nós, com os nossos filhos, com os professores, nas nossas relações com o mundo, connosco.

“Os cientistas podem precisar de falar mais alto. E o resto de nós? Podemos precisar ouvir mais atentamente.” Sobre esta sentença nada direi, fica ao critério do leitor a sua apreciação, afinal não se trata só de ouvir ou lêr.

[NT] Affluenza: União das palavras affluence (riqueza) e influenza (gripe), significando o desejo extremo de obter bens materiais ou o sentimento de insatisfação e ansiedade provocado pela busca obsessiva e incessante para obter sempre mais.

Agora, apodrecer

Agora, apodrecer.
Nas ruas, no suor das mãos amigas dos amigos, na pele dos espelhos...
desespero sorrido, carne de sonho público, montras enfeitadas de olhos...

...mas apodrecer.

Bolor a fingir de lua, árvores esquecidas do princípio do mundo...
"como estás, estás bem?", o telefone não toca! devorador de astros...

... mas apodrecer.

Sim, apodrecer
de pé e mecânico,
a rolar pelo mundo
nesta bola de vidro,
já sem olhos para aguçar peitos
e o sol a nascer todos os dias
no emprego burocrático de dar razão aos relògios,
cada vez mais necessários para as certidões da morte exata,

Sim, apodrecer ...

"...as mãos, a còlera, o frio, as pálpebras, o cabelo
a morte, as bandeiras, as lágrimas, a república, o sexo...

... mas apodrecer!

Sujar estrelas.

José Gomes Ferreira

segunda-feira, novembro 01, 2010

Um cão andaluz

Este filme (15 minutos) é tratado como o ícone do cinema do descrito manifesto surrealista de André Breton, rompe com toda a lógica e linearidade narrativa e tem evocações oníricas. A idéia, derivada das interpretações de Gaudi e Buñuel, com uma justaposição de imagens apontadas pelos dois, criou um curta metragem cheia de momentos desconexos e cenas por vezes chocantes para olhares mais sensíveis, como a do globo ocular sendo seccionado (O homem com a navalha é interpretado pelo próprio Buñuel), a qual, pode ser entendida como uma forma de mostrar a necessidade de olhar e de nos situarmos, em consciência, num mundo em que se nos esvai a essência sem nos apercebermos da entrega (uma visão pessoal, neste caso concreto). O efeito causado nos espectadores é uma tentativa de promover a associação de imagens com uma série de formas de experimentar a realidade. As respostas disparam do inconsciente.

O filme não possui uma história cronológicamente rígida, passa de "era uma vez" directo para "oito anos depois" e para "dezaseis anos antes". Utiliza o sonho, baseando-se na psicanálise de Freud.

Assim, como pesadelo, sou capaz de ver um chui perverso despir uma menor, um puto castigado de cara contra a parede, mas, sonhar também a felicidade de percorrer um caminho pedregoso acompanhado. Outra coisa seria imaginar que o orçamento não passa, que o governo se demite e que, sem eleições, o FMI empresta o país aos portugueses, ideação que me colocaria no corredor da psicose, à porta da ezquizofrenia.