quarta-feira, julho 28, 2010

Declaração

Não, não há morte.
Nem esta pedra é morta,
Nem morto está o fruto que tombou:
Dá-lhes vida o abraço dos meus dedos,
Respiram na cadência do meu sangue,
Do bafo que os tocou.
Também um dia, quando esta mão secar,
Na memória doutra mão perdurará,
Como a boca guardará caladamente
O sabor das bocas que beijou.

José Saramago

domingo, julho 25, 2010

O amor que sinto

O amor que sinto
é um labirinto.

Nele me perdi
com o coração
cheio de ter fome
do mundo e de ti
(sabes o teu nome),
sombra necessária
de um Sol que não vejo,
onde cabe o pária,
a Revolução
e a Reforma Agrária
sonho do Alentejo.
Só assim me pinto
neste Amor que sinto.

Amor que me fere,
chame-se mulher,
onda de veludo,
pátria mal-amada,
chame-se "amar nada"
chame-se "amar tudo".

E porque não minto
sou um labirinto.

José Gomes Ferreira

sexta-feira, julho 23, 2010

A Terceira Depressão




Paul Krugman*
02.Jul.10

São cada vez mais, mais fortes e mais apreensivas as vozes dos epígonos do capitalismo que alertam para os perigos económicos e as graves consequências sociais das políticas impostas pelo grande capital na sua tentativa da recuperação capitalista da crise. Sabedores dos perigos sociais e políticos de uma recuperação à custa da classe trabalhadoras procuram a quadratura do círculo: uma inexistente posição intermédia entre a recuperação á custa da classe trabalhadora ou do grande capital monopolista.
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Receio que estejamos nos estágios iniciais de uma terceira depressão. E o custo para a economia mundial será imenso
Recessões são comuns; depressões são raras. Pelo que sei, houve apenas duas eras qualificadas como «depressões» na ocasião: os anos de deflação e instabilidade que acompanharam o Pânico de 1873, e os anos de desemprego em massa, após a crise financeira de 1929-31.
Nem a Longa Depressão do século XIX nem a Grande Depressão, no século XX, registaram declínio contínuo. Pelo contrário, ambas tiveram períodos de crescimento. Mas esses períodos de melhoria jamais foram suficientes para desfazer os danos provocados pela depressão inicial e foram seguidos de recaídas.
Receio que estejamos nos estágios iniciais de uma terceira depressão. Que provavelmente vai se assemelhar mais à Longa Depressão do que a uma Grande Depressão mais severa. Mas o custo – para a economia mundial e, sobretudo, para as milhões de pessoas arruinadas pela falta de emprego – será imenso.
E essa terceira depressão tem a ver, principalmente, com o fracasso político. Em todo o mundo – e, mais recentemente, no desanimador encontro do G-20 – os governos mostram-se obcecados com a inflação quando a ameaça é a deflação, e insistem na necessidade de apertar o cinto, quando o problema de fato são os gastos inadequados.
Em 2008 e 2009, parecia que tínhamos aprendido com a história. Ao contrário dos seus predecessores, que elevavam as taxas de juro para enfrentar uma crise financeira, os atuais líderes do Federal Reserve e do Banco Central Europeu (BCE) cortaram os juros e partiram em apoio aos mercados de crédito.
Ao contrário dos governos do passado, que tentaram equilibrar os orçamentos para combater uma economia em declínio, os governos hoje deixam os déficits crescerem. E melhores políticas ajudaram o mundo a evitar o colapso total: podemos dizer que a recessão causada pela crise acabou no Verão (no Hemisfério Norte) passado.
Mas os futuros historiadores vão nos dizer que esse não foi o fim da terceira depressão, da mesma maneira que a retoma econômica em 1933 não foi o fim da Grande Depressão. Afinal, o desemprego – especialmente a longo prazo – continua em níveis que seriam considerados catastróficos há alguns anos. E tanto os Estados Unidos como a Europa estão perto de cair na mesma armadilha deflacionária que atingiu o Japão.
Diante desse quadro, você poderia esperar que os legisladores entendessem que não fizeram o suficiente para promover a recuperação. Mas não. Nos últimos meses observamos o ressurgimento da ortodoxia do equilíbrio orçamentário e da moeda forte.
O ressurgimento dessas teses antiquadas é mais evidente na Europa. Mas, em termos práticos, os EUA não estão agindo muito melhor. O FED parece consciente dos riscos de deflação – mas o que propõe fazer é: nada. O governo Obama entende os perigos de uma austeridade fiscal prematura – mas, como republicanos e democratas conservadores não aprovam uma ajuda adicional aos governos estaduais, essa austeridade se impõe de qualquer maneira, com os cortes nos orçamentos estaduais e municipais.
Por que essa virada da política? Os radicais com frequência referem-se às dificuldades da Grécia e outros países na periferia da Europa para justificar seus atos. E é verdade que os investidores atacaram os governos com déficits incontroláveis. Mas não há evidência de que uma austeridade a curto prazo, ante uma economia deprimida, vai tranquilizar os investidores.
Pelo contrário: a Grécia concordou com um plano de austeridade, mas viu seus riscos se ampliarem; a Irlanda estabeleceu cortes brutais dos gastos públicos e foi tratada pelos mercados como um país com risco maior que a Espanha, que até agora resiste em adotar medidas drásticas propugnadas pelos radicais.
É como se os mercados entendessem o que os legisladores não compreendem: que, embora a responsabilidade fiscal a longo prazo seja importante, cortar gastos no meio de uma depressão vai aprofundar essa depressão e abrir caminho para a deflação, o que é contraproducente.
Portanto, não acho que as coisas tenham a ver de fato com a Grécia, ou com qualquer visão realista sobre o que priorizar: déficits ou empregos. Em vez disso, trata-se da vitória de teses conservadoras que não se baseiam numa análise racional e cujo principal dogma é que, nos tempos difíceis, é preciso impor sofrimento a outras pessoas para mostrar liderança.
E quem pagará o preço pelo triunfo dessas teses? A resposta: dezenas de milhões de desempregados, muitos deles sujeitos a ficar sem emprego por anos e outros que nunca mais voltarão a trabalhar.

* Paul Krugman, economista galadoardo com o Prémio Nobel em 2008 é colaborador habitual do New York Times

Este texto em português, traduzido do New York Times, foi publicado no diário brasileiro Estado de S. Paulo com tradução de Terezinha Martinho.
Também em "Odiario.info"

terça-feira, julho 20, 2010

Não acredito na igreja

Fazendo justiça ao fundamento deste espaço, um blog:


Fiquei com a impressão de que a necessidade de poder, de muitos, não passa da exteriorização do medo. Enquanto se conquistam espaços; se impõem directrizes, condiciona-se o comportamento dos semelhantes pelo medo da falta de capacidade para compartir.
O altruísmo, atitude de vanguarda ainda hoje - não acredito que ainda o seja na génese da espécie - é condição que, só por si, permite situar-nos num patamar de evolução exclusivo; é mostra do arrojo necessário para progredir. Porém, o medo, reflexo que compartimos com todas as espécies, ultrapassa em nós a simples e contagiante dimensão de reacção empática, tomando mesmo contornos de patologia, exógena, mas, por vezes (cada vez mais), também filogénica.

A igreja continua a ser o inibidor principal da conduta natural do Homem, além de que, acicata simultaneamente o preconceito, resultando assim (nesse particular), como base para a vulgarização ou propagação alienada, alienadora e aleatória de tal condicionante. Aprofundando a análise sobre esta ferramenta da manipulação, num país no qual cada vez mais se coarcta o acesso à diversidade, se contrai a liberdade, se coíbe a emancipação do indivíduo, reduzindo o espectro de opções e injectando o pensamento único uniformador discriminatório tanto quanto fascista, apostando por continuar a divagar, e sem querer com isso realizar-me por sempre aqui, mas também, agora, e, fundamentalmente, sem medo, legitimando-me o empirismo: Há uns tempos, mais por obrigação que por devoção, visitei o centro/norte de Portugal, abismado, verifiquei que os retrocessos, que denuncia por exemplo no âmbito político o PCP, vão mesmo muito além das portagens que o governo pretende impor nas scuts (essas que os empresários afirmam haver pago e que agora nos devem servir de justificação para que permitamos um verdadeiro roubo com armas (chips) oferecidas por nós); transborda, a mera impressão de abandono dos reformados, com antigos hospitais transformados em caixas de arquitectura "moderna" extemporâneamente fugaz como recintos de preparação para não estranhar o caixote mesmo depois de mortos; aposta-se num concentracionismo aberrante nas 4 ou 5 urbes litorais com capacidade de apelo ao consumo ou, permite-se a construção en zona REN e RAN, de piscifactorias geradoras de resíduos altamente nocívos para a legitimação da categorização dessas áreas – isto no caminho-.

Já no cercado, deparei-me com uma inusitada dependência da igreja por parte da maioria do povo com o qual tive a oportunidade de me encontrar, a mim, chegando mesmo, no Sábado, num concurso de ranchos folclóricos, escutar como uma alusão a uma figura eclesiástica qualquer constituia motivo para uma das ovações mais fervorosas da tarde (tal é o desespero). Quis atribuir à padroeira dos pescadores da zona a razão de tal euforia! Porém, no Domingo, de janela aberta, foi ver e escutar quem tinha o som da eucaristia mais alto, inúmeras janelas abertas, tipo hipnose recíproca, sem sentir em ninguém a liberdade para destoar, ouviam-se até preces terminais. Enfim, como deus manda... Não vão por aí dizer que é comunista!

Assim, somando sucinto epítome do percebido, à assumida condição de pertença a um povo dos mais estigmatizados da europa, dos mais fragilizados; de uma geração de espelho salazarento e cabelo indomável, à pegajosa humidade da marisma para a qual deixámos cair o estado; à forma como cada dia entregamos a vida para continuar a encher os mesmos porcos de sempre, continuando a somar, é possivel acreditar que a ferida aberta do tamanho do mundo que nos faz sofrer, encontrará, na necessidade do Homem de procurar a sua cura, a realização do sonho deste sono induzido.

sexta-feira, julho 16, 2010

Caim II

Set, o filho terceiro da família, só virá ao mundo cento e trinta anos depois, não porque a gravidez materna precisasse de tanto tempo para rematar a fabricação de um novo descendente, mas porque as gónadas do pai e da mãe, os testículos e o útero respectivamente, haviam tardado mais de um século a amadurecer e a desenvolver suficiente potência generativa. Há que dizer aos apressados que o fiat foi uma vez e nunca mais, que um homem e uma mulher não são máquinas de encher chouriços, as hormonas são coisa muito complicada, não se produzem assim do pé para a mão, não se encontram nas farmácias nem nos supermercados, há que dar tempo ao tempo. Antes de set tinham vindo ao mundo, com escassa diferença de tempo entre eles, primeiro Caim e depois Abel. O que não pode ser deixado sem imediata referência é o profundo aborrecimento que foram tantos anos sem vizinhos, sem distracções, sem uma criança gatinhando entre a cozinha e o salão, sem outras visitas que as do senhor, e mesmo essas pouquíssimas e breves, espaçadas por longos períodos de ausência, dez, quinze, vinte, cinquenta anos, imaginamos que pouco haverá faltado para que os solitários ocupantes do paraíso terrestre se vissem a si mesmos como uns pobres órfãos abandonados na floresta do universo, ainda que não tivessem sido capazes de explicar o que fosse isso de órfãos e abandonos. É verdade que dia sim, dia não, e este não com altíssima frequência também sim, adão dizia a eva, Vamos para a cama, mas a rotina conjugal, agravada, no caso destes dois, pela nula variedade nas posturas por falta de experiência, já então se demonstrou tão destrutiva como uma invasão de carunchos a roer a trave da casa. Por fora, salvo alguns pozinhos que vão escorrendo aqui e ali de minúsculos orifícios, o atentado mal se percebe, mas lá por dentro a procissão é outra, não tardará muito que venha por aí abaixo o que tão firme havia parecido. Em situações como esta, há quem defenda que o nascimento de um filho pode ter efeitos reanimadores, senão da libido, que é obra de químicas muito mais complexas que aprender a mudar uma fralda, ao menos dos sentimentos, o que, reconheça-se, já não é pequeno ganho.
Quanto ao senhor e às suas esporádicas visitas, a primeira foi para ver se adão e eva haviam tido problemas com a instalação doméstica, a segunda para saber se tinham beneficiado alguma coisa da experiência da vida campestre e a terceira para avisar que tão cedo não esperava voltar, pois tinha de fazer a ronda pelos outros paraísos existentes no espaço celeste. De facto, só viria a aparecer muito mais tarde, em data de que não ficou registo, para expulsar o infeliz casal do jardim do éden pelo crime nefando de terem comido do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Este episódio, que deu origem à primeira definição de um até aí ignorado pecado original, nunca ficou bem explicado. Em primeiro lugar, mesmo a inteligência mais rudimentar não teria qualquer dificuldade em compreender que estar informado sempre será preferível a desconhecer, mormente em matérias tão delicadas como são estas do bem e do mal, nas quais qualquer um se arrisca, sem dar por isso, a uma condenação eterna num inferno que então ainda estava por inventar. Em segundo lugar, brada aos céus a imprevidência do senhor, que se realmente não queria que lhe comessem do tal fruto, remédio fácil teria, bastaria não ter plantado a árvore, ou ir pô-la noutro sítio, ou rodeá-la por uma cerca de arame farpado. E, em terceiro lugar, não foi por terem desobedecido à ordem de deus que adão e eva descobriram que estavam nus. Nuzinhos, em pelota estreme, já eles andavam quando iam para a cama, e se o senhor nunca havia reparado em tão evidente falta de pudor, a culpa era da sua cegueira de progenitor, a tal, pelos vistos incurável, que nos impede de ver que os nossos filhos, no fim de contas, são tão bons ou tão maus como os demais.

José Saramago

quinta-feira, julho 15, 2010

Sem mentira

Licito é querer
Aceitar a vida não
Viver

Assumir qualificação
Determinante consideração
De quem?
Do virtual superior?
De um irmão?
Desse... não.
De outro
Também
Não!

Fechados condicionados
Frustrados pedantes
Num reducto de narcisa existência
Na qual não cabe outro valor
Que temor, tumor
Decadência
O Homem não é amor

Nunca a meta seria
Deixar morte na despedida
Nem pretender arrastar
Depois desta vencida
Aqueles que arados
Te negam o adeus
Com a própria vida

sexta-feira, julho 09, 2010

Caim I

Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a Adão e Eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de mugidos e rugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer de possível certificação canónica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e húmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela, ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado na casca de uma árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa no género amo-te, eva. Como uma coisa, em princípio, não deveria ir sem a outra, é provável que um outro objectivo do violento empurrão dado pelo senhor às mudas línguas dos seus rebentos fosse pô-las em contacto com os mais profundos interiores do ser corporal, as chamadas incomodidades do ser, para que, no porvir, já com algum conhecimento de causa, pudessem falar da sua escura e labiríntica confusão a cuja janela, a boca, já começavam elas a assomar. Tudo pode ser.
Evidentemente, por um escrúpulo de bom artífice que só lhe ficava bem, além de compensar com a devida humildade a anterior negligência, o senhor quis comprovar que o seu erro havia sido corrigido, e assim perguntou a adão, Tu, como te chamas, e o homem respondeu, Sou adão, teu primogénito, senhor. Depois, o criador virou-se para a mulher, E tu, como te chamas tu, Sou eva, senhor, a primeira dama, respondeu ela desnecessariamente, uma vez que não havia outra. Deu-se o senhor por satisfeito, despediu-se com um paternal Até logo, e foi à sua vida. Então, pela primeira vez, adão disse para eva, -Vamos para a cama.

José Saramago

domingo, julho 04, 2010

Sejamos

Frágeis
Frágil elenco
Desta obra abjecta
Desta perda de tempo

Encimados em mentiras
Empoleirados no medo
A correr, aos saltos
P’ra frente
Estagnamos
Sem movimento

Em opaca redoma
Vital evitar que vejam
Verdade nossa que assusta
Os olhos
Que nos sobejam

Parecemos ser
Ser o que procuram sejamos
Seremos quem queremos
Ser
Numa terra sem amos

sábado, julho 03, 2010

José Caravela e António Maria Casquinha, Escoural, assassinados por lutar contra a fome!


Aqui
Nesta planície de sol suado
Dois homens desafiaram a morte, cara a cara,
em defesa do seu gado
de cornos e tetas.
Aqui onde
agora vejo crescer uma seara
de espigas pretas

Quando os dois camponeses desceram às covas,
Ante os punhos cerrados de todos nós,
Chorei!
Sim, chorei,
Sentindo nos olhos a voz
do que há de mais profundo
nas raízes dos homens e das flores
a correrem-me em lágrimas na face.
Chorei pelos mortos e pelos matadores
- almas de frio fundo.
Digam-me lá:
Para que serviria ser poeta
Se não chorasse
Publicamente
Diante do mundo?


José Gomes Ferreira
Para um tempo que fica
Doendo por dentro
E passa por fora
Para o tempo do vento
Que é o contratempo
Da nossa demora
Passam dias e noites
Os meses...os anos
O segundo e a hora
E ao tempo presente
É que a gente pergunta
E agora...e agora

Tempo
Para pensar cada momento deste tempo
Que cada dia é mais profundo e é mais tempo
Para emendar pois outro tempo menos lento
Tempo
Dos nossos filhos aprenderem com mais tempo
A rapidez que apanha sempre o pensamento
Para nascer, para viver, para existir
E nunca mais verem o tempo fugir

Ai...o tempo constante
Que a cada instante
Nos passa por fora
Este tempo candente
Que é como um cometa
Com laivos de aurora
É o tempo de hoje
É o tempo de ontem
É o tempo de outrora
Mas o tempo da gente
É o tempo presente
É agora...é agora

Tempo
Para agarrar cada momento deste tempo
E terminar em absoluto ao mesmo tempo
Em temporal como o ponteiro dos minutos
Tempo
Para o relogio bater certo com a vida
Que um homem bom
que um homem são
que um homem forte
Que nao chegava a conseguir fazer partida
E que desperta adiantado para a morte

Ary Dos Santos

A revolução é hoje!

sexta-feira, julho 02, 2010

Greve.. Greve???

Estendendo a resposta que ofereci aos correios de amig@s, Camaradas (enorme consideração), sobre a menção que num texto anterior fiz ao puto que “chorou quando o Zeca deixou de gravar”, quero deixar claro que, esse puto aprendeu que a vida nos foge qual lágrima se a estas insistir-mos em agarrar-nos.

Por outra parte, olhando para o acontecido nas “redondezas”, continuo a ver as folhas de papel de anúncio, a que alguns teimam em chamar jornais, grátis, impressas com um recorde de mentiras que cada dia se parece superar. Começando pela greve sem serviços mínimos que o “Metro” de Madrid realizou, que continua hoje mas com estes a 40%, à qual só se referem para tecer críticas de “trabalhadores”, emigrantes condicionados; porteiros com residência no edifício no qual trabalham e que não utilizam o Metro a não ser ao Domingo, ou mães separadas, com o seus esquemas horários comprometidos pela falta de contemplação própria de um paradigma capitalista, podemos também ver como o governo tenta fazer passar a mensagem de que os 80.000 novos postos de trabalho em Junho – 60% na hotelaria – se devem à recuperação económica que as medidas adoptadas e que todos os dias transformam a paisagem urbana no puzzle de cores com nomes de imobiliárias que podemos contemplar no caminho ao trabalho (aqueles que o têm), geram.

Enfim, pueril ou não, sem pretender “dar uma” de John Lennon, imaginas que todo esse tijolo, feito de inflação, especulação, que por aí, vazio, invade o horizonte, servisse para algo mais que para escravizar à banca muitos ambiciosos alienados, manipulados, fossem ocupados pelos milhares de emigrantes que sem casa procuram o pão, tantas vezes com bolor mas pão, que se fabrica com aquele do qual são espoliados nos seus países de origem, pelos sem-abrigo, sem trabalho, sem fundo de desemprego? Mais: Imaginas que todos, todos, os hipotecados, aqueles que trabalharão para a banca durante os próximos anos, deixassem de pagar a mensalidade em simultâneo, só um mês??? Poderíamos chamar-lhe greve?