quarta-feira, dezembro 30, 2009

Isto anda tudo ligado

Nesta noticia do público podemos observar como a direita (entenda-se PS e parceiros) manipula a linha que separa a barbárie do paradigma que por todos se considera o ideal para a sociedade mas pelo qual se furta de lutar a egoista burguesia.

Sabemos que uma revolução se torna mais tangível no horizonte de quem o não tem, quando, motivada pela contradição fundamental do capitalismo, a burguesia, essa socialista e que nessa suposição adoptaría tal decisão devido à preocupação única pela manutenção dos seus interesses de classe, se incorpora à luta dos trabalhadores.
Assim sendo, e em linha com a doctrina de Bernstein, o social democrata partido socialista considerou pertinente salvaguardar os interesses do BPN, utilizando recursos que por demais carece qualquer âmbito público que se fundamente na prestação de serviços primários à população - estes especialmente e não querendo transmitir a ideia de que existe alguma área sem déficit - e, maiormente gravosa tal política se nos situamos no actual contexto sócio-económico nacional.
Sem esquecer que, simultâneamente, foi triplicando a nossa dependência alimentar do exterior numa relação directamente proporcional à erosão do tecido productivo neste campo e num desempenho inversamente ajustado ao investimento público, elementos essenciais para a defesa da soberania, a qual, com a entrada em vigor do tratado de Lisboa, com a entrega do direito de decisão aos 6 países que efectivamente detêm 70% desse privilégio numa europa de 6 grandes potencias e de 21 empresas externalizadas, vai determinando o futuro daqueles que seguramente incrementariam a dissonância contra esta aberração, o cada vez maior número de emigrantes que se encontram (apelando a Soeiro) como "rodas paradas de uma engrenagem caduca", vazios de objectivos e de pão para a boca, nesta marisma Portuguesa.

Por outra parte, prescindiu de "salvar" o BPP, consciente do perfil específico da sua carteira e assumindo que, devido à sua dimensão; ao nível de esclarecimento e consciencialização daqueles que a integram, não constituiria reforço suficiente às aspirações, lutas, mas, sobretudo, à voz do explorados que pugnam pela mudança.

Assim, mesmo que para tal não se admitam os argumentos anteriores, não se torna contudo complicado ratificar esta observação dos factos se atender-mos a questões paralelas que não deixarão, certamente, de pesar significativamente no motivo de tal pendor:

1º- Existe algum vínculo entre a SLN e o BPN?
2º- Existe algum vínculo entre cavaco e a SLN?
3º- Existe algum vínculo entre soares e carlucci?
4º- Existe algum vínculo entre carlucci e a Carlyle?
5º- Existe algum vínculo entre a Carlyle e a sede da SLN?

Por quanto tempo?

Não acredito que alguém tenha dados suficientes para responder a tal questão. Não obstante - e sem pretender recorrer a qualquer tipo de futurologia, durante 2010 poderemos observar; padecer, o efeito global da aposta daqueles aos quais prestam vassalagem os governantes Portugueses. A previsível queda da banca, desde este sustentado mas fictício patamar de estagnação económica (que aparentemente e devido ao típico medo de assumir a realidade se interpreta como um "down-sizing" e não passa de um "squeeze-out"), que a partir do início do 2º semestre (Q3), trará importantes repercussões no aumento da dívida das famílias e da insolvência das mesmas; no esgotamento da capacidade de alavancamento das PMME's; no desemprego; na usurpação de mais garantias outrora conquistadas pelo Povo; na concentração do capital e finalmente, curiosamente de forma extraordinária nos chamados países centrais e a finais do desse mesmo período, na polarização de massas coesas em torno a iniciativas que visem a inadiável mudança, mudança vital, mudança que reclamará, sem dúvida, o compromisso de todos e cada um de nós.

Bom Ano Novo!

A revolução é hoje!

terça-feira, dezembro 29, 2009

E no entanto Move-se

O profundo silêncio das flores
é um lugar de ausência. Vazia moldura
para o vôo das aves, linha oscilante
de ligeira névoa
que nada revela do que talvez esconda.

Egito Gonçalves

É INACEITÁVEL E IMORAL PAGAR PARTE DO SMN COM DINHEIRO DA SEGURANÇA SOCIAL

Para que a mensagem contida no vídeo ao se faz referencia no post de dia 18/12 quede clara, esta é a posição consensuada da CGTP, com a qual estou inteiramente de acordo:

"O Governo ao propor para 2010 a redução de 1% da taxa social única na parte a cargo das entidades patronais que tiveram trabalhadores ao seu serviço a receber o salário mínimo nacional em 2009, reduz as receitas do sistema previdencial da Segurança Social em 30 milhões de euros, não estando contabilizado os efeitos da Administração Pública.

A CGTP-IN considera de todo inaceitável e imoral que o Governo tenha que pagar parte do salário mínimo nacional às entidades patronais com as contribuições do sistema previdencial.

Uma vez mais recorre-se à Segurança Social para financiar as empresas.

Ainda recentemente as entidades patronais foram financiadas em dezenas de milhões de euros do regime contributivo, com a utilização da lay-off, escudando-se em muitos dos casos na crise, para não terem de pagar os salários devidos aos trabalhadores.

Entretanto as dívidas do patronato ao regime previdencial da Segurança Social têm vindo a aumentar no período de 2005 a 2008; cresceram em 2 mil e 691 milhões de euros, o que demonstra a ineficiência do Governo no combate às dívidas patronais para com a Segurança Social. Tendo estas dívidas impactos muito significativas sobre a sua sustentabilidade.

E no código contributivo, conforme a CGTP-IN já tinha referido, a oferta que está prevista para o patronato só num ano era de mais 380 milhões de euros, pelo efeito da redução de 1%, na parte contributiva a cargo das entidades patronais que tivessem trabalhadores efectivos.

É bom lembrar que as contribuições para a Segurança Social têm uma finalidade concreta que é o de substituir os rendimentos dos trabalhadores quando estes se reformarem ou são atingidos por riscos sociais, como o desemprego.

Por isso é de todo imoral que se delapide este património. Nem o Governo, nem as entidades patronais têm o direito de usar o dinheiro que é pertença dos trabalhadores.

Para com os trabalhadores, o Governo já não tem a mesma atitude; quanto à protecção aos desempregados as medidas têm sido a conta gotas, e é depois de muito serem reclamadas, mas continuam a ser insuficientes, dado que há muitos beneficiários sem protecção.

A CGTP-IN reafirma que não é aceitável que as empresas sejam financiadas pelo regime previdencial da Segurança Social, e está a por em risco o principal instrumento de solidariedade dos trabalhadores.

DIF/CGTP

Lisboa, 15.12.2009"

Em suma, outras questões serão certamente alvo de discussão no seio da organização. Assim mesmo, enumerar as diversas questões que segundo a experiência de cada um possa suscitar determinado discurso, sem dúvida, será sempre a melhor forma de as diluir posteriormente. A mensagem, como todos sabemos, fácilmente se tergiversa quando para tal existe disposição, afinal existirão sempre distintas formas de a interpretar, sendo essa a verdadeira ameaça. Outra coisa seria constituir-nos senhores da realidade de todos. Lutar é também expôr-se, sem escolher a quem, mas sabendo porquê "mojarse", como por aqui se diz.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

A lenta evolução de Chavez.

Noticia num jornal do qual não vale a pena referir o nome:

"A «ilusão Obama» terminou com o «intervencionismo descarado» dos Estados Unidos na América Latina, afirmou neste domingo o presidente venezuelano, Hugo Chávez, em referência às «ameaças« à Venezuela a partir da Colômbia e à «ditadura made in USA» de Honduras.

«Não se deve ter enganos, acabou-se a ilusão Obama», afirmou. «Vejam a ameaça imperial contra a Venezuela a partir da Colômbia: a Colômbia irmã transformou-se em Israel da América do Sul», afirma Chávez, ao comentar o acordo militar que permitirá que tropas americanas operem de maneira controlada em pelo menos sete bases colombianas.

Na sua coluna semanal na imprensa «Las líneas de Chávez», o presidente venezuelano afirma que «2010 não será um ano fácil: os agentes da reacção internacional preparam o roteiro para reverter o processo emancipador que vive nossa América». «A reacção, nos nossos países, conta agora com um modelo de golpe de Estado para o século XXI: golpes com fachada legal que levam o selo made in USA», acrescentou."

Chavez, como se proclama, é "Socialista, revolucionário". Atendendo à sua condição revolucionária, permito-me corrigir a sua consideração sobre o papel da Colômbia, não aceitando a mesma como o "Israel da américa latina", mas, antes a Palestina ocupada da américa latina.
Assim assumida, Chavez poderia encontrar nas gentes de dito país uma força que combate a hegemonia do império e, ajudando o povo que a constitui, evitar os golpes que os yanques lhe propinam. A solução seria apoiar as FARC!

A revolução é hoje!

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Natal

Nem Marcos, no primeiro evangelho, se referia à infância de Cristo!

Nem mais.
Porque razão começa o ano no dia 1 de Janeiro, quando, supostamente, o "senhor" nasceu no dia 25 de Dezembro?
Não era esta a data atribuída pelos romanos para o solstício de inverno, para o "renascer" do Sol?
Não é verdade que no antigo oriente não se recordavam as datas de nascimento?
Não defendem os evangelistas que a gruta na qual nasceu o "senhor" era um templo de Adónis, posteriormente anexado pela igreja católica?
Não é verdade que existe um "Da pasha computus" de 243, no qual se determina o dia 28 de Março como data do nascimento?
Não é verdade que depois de "Origens" (245), no qual se renunciava a festejar dito acontecimento como se de um rei se tratasse, e aceitando que o catolicismo "tinha pernas para andar", os discipulos de Basílides decidiram fixar a data de 6 de Janeiro como correcta?
Não era esta a data da epifânia (aparição) de Osíris, ou de Dionísio, seu correspondente para os Gregos, sendo objectivo da seita gnóstica semi-cristã de ditos discípulos perpetuar a devoção aos seus deuses, assumindo que o cristianismo crescia e que, não podendo com esta melhor seria ir à montanha?
No era Dionísio que, ao renascer, fazia manar vinho da ilha de Andros, ou Osíris, que ao aparecer no Nilo transformava as suas aguas em Vinho?
Não era esta a data na qual o sol abandonava a constelação de Virgo?
Não era esta a data na qual, na Alexandria, a Virgem dava à luz o seu filho Aião, eterno homólogo de Osíris e Dionísio?
Não era nesta data, também na Alexandria, que os fiéis terminavam as suas preces e desciam à cripta para retirar uma estátua de uma criança que tinha como marcas na testa, nas mãos e nos joelhos, uma cruz e uma estrela de ouro?
Não consagrou Alexandre Magno, em 331, Alexandria a Aião, em ordem a preservar a eternidade da cidade?
Já em 170, não foi Melitão de Sardes que comparou Cristo com Hélios?
Não se defendia anteriormente que o Sol, criador de toda a vida, que havia subido ao céu, se banhava com as estrelas e a lua, nas aguas do oceano?
Não é verdade que no século IV, em todo o oriente cristão, se celebrava já o dia 6 de Janeiro?
Não é verdade que o papa Siricio, desde a cadeira de Pedro e depois de decidir oficialmente que as festas cristãs eram a páscoa e a epifânia, decide também, em 387, que o dia 6 passava a significar a "Natividade"?
Não denominam os Antropólogos como "Sincretismo" um fenómeno deste tipo?

Mas como se passou essa celebração a dia 25?
Não era "Mitra" o deus do sol na cultura Persa?
Não era "Mitra", também, o deus do Sol na cultura Indiana?
Ainda que o "Mitraismo" remonte aos séculos VII e VI, não é verdade que conheceu um importante impulso durante o século II pelos mesmos romanos que mantinham legiões na India?
Não compartiam, o Mitraismo e o Cristianismo, elementos comuns como a "redenção", a "salvação das almas" e que, ambas religiões, pugnaram no século II por se constituirem como religiões dominantes num império que deixava de ser politeísta?
Não era depois das saturnálias romanas que os "Mitraistas" celebravam o renascimento de "Mitra", 25 de Dezembro?
Não continuavam os Povos bárbaros (não romanizados) a celebrar o solstício no dia 25 de Dezembro?
Não era Malaquías que escrevia na biblia que o Messias era o "Sol da justiça"?
Não era a 25 de Dezembro que os romanos festejavam o "Sol invicto", dirigindo-se a um santuário para sacar à luz a figura de uma criança recêm-nascida?
Não é verdade que o solstício dura 12 noites, de 25 de Dezembro a 6 de Janeiro?
Não é durante este período que os "reinos" dos mortos e dos vivos se comunicam, segundo as culturas céltica, germana, índica ou romana?
Não era este período, também, segundo as mesmas culturas, período no qual se celebrava o renascimento do sol por este não haver perecido ao frio inverno?
Não é verdade que o rito de celebração desse acontecimento se identifica bastante com o actual rito cristão, velas, etc?
Não foi gregório I que ordenou a agostinho de cantorbery e a melitus, destruir as figuras dos templos pagãos e paradoxalmente, proteger ditos templos, ou consagrar a agua que os pagãos traziam, promovendo a mentira do quão bom era cristo e quão equivocado estava o Povo?
Não era essa uma forma de evitar sacrificar os "prazeres exteriores" e facilitar simultâneamente a "assimilação de outros gozos espirituais"?
Não foi entre 395 e 423, com Honório, no ocidente, que se começou por celebrar a 25 de Dezembro, e oficialmente, o natal como festa religiosa, reservando a epifânia (até 440) à chegada dos reis magos?
Não foi o papa leão magno que começou a revisão da doctrina anterior, celebrando o dia dos "Magos" a 6 de Janeiro, comemorando ao mesmo tempo, em Milão, ambrósio, no mesmo dia, o baptizado de cristo?
Não foi no século V que a epifânia passou a considerar-se a festa dos 3 milagres: O baptismo do Jordão; a adoração dos "Magos" e a transformação da agua em vinho?
Não é verdade que com o "Concílio de Agde", em 506, se decidiu finalmente a sua imposição, levada a cabo por justiniano em 529?
Não tinha referido mateu, na biblia, um número indeterminado de sábios que se aproximavam a Belém guiados por uma misteriosa estrela (que não a que brilhava na estátua anteriormente mencionada)?
Não é verdade que "Magi" é uma palavra indoeuropeia que permite uma alusão aos sacerdotes persas que mantinham o culto em Jerusalém e gozavam de enorme influência na zona?
Não é verdade que, da mesma forma que em lucas, Mitra, "nascido" a 25 de Dezembro, tinha sido alvo de adoração de pastores e que estes também lhe haviam realizado oferendas?
Não é verdade que hoje se celebra o nascimento físico de jesús a 25 de Dezembro e o espiritual a 6 de Janeiro, mediando 12 apóstoles... Dias, entre ambas datas?


Feliz Natal e não se esqueçam de tomar abrigo, ao contrário daqueles pastores que em Dezembro pastavam os seus rebanhos dormindo ao relento!

A revolução é hoje!

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Em solidariedade

"CAMARADAS E AMIGOS


HOJE DIA 21 DE DEZEMBRO DE 2009 A PJ ENTROU NA MINHA CASA COM UM MANDATO PARA REVISTAR TODA A MINHA CASA E APREENDER TODOS OS MEUS COMPUTADORES, COMO SE EU FOSSE UM CRIMINOSO PEDÓFILO OU LADRÃO DE BENS PÚBLICOS COMO OS QUE ME ACUSAM O SÃO OU PELO MENOS ESTÃO DE CONLUIO COM ESSES.


ESTOU A SER VÍTIMA DE DELITO DE OPINIÃO SOB CAPA DE TER CHAMADO NAZI À EX-GOVERNADORA DE SETÚBAL


O PS COMPROVA DESTA FORMA SER UM PARTIDO DE ÍNDOLE PERSECUTÓRIA QUE PERSEGUE QUEM O CRITICA E USA OS INSTRUMENTOS DO ESTADO COMO O MINISTÉRIO PÚBLICO À LAIA DE VINGANÇA, VIA QUEM QUER QUE SEJA, NESTE CASO A EX-GOVERNADORA DE SETÚBAL, PARA CALAR QUEM DISCORDE DA SUA POLITICA E POLÍTICOS.


ESTOU CONSTITUÍDO ARGUIDO PARA TODOS OS EFEITOS DE DELITO DE OPINIÃO.


AINDA FUI INFORMADO DE QUE TENHO O MEU TELEFONE SOB ESCUTA COM AUTORIZAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.


EM BREVE SEGURAMENTE SEREI UM PRESO POLÍTICO COM CAPA DE QUALQUER COISA.


SALAZAR AO PÉS DESTES SENHORES ERA UM MENINO.


AGRADEÇO QUE ESPALHEM E EXPONHAM AO MÁXIMO ESTA SITUAÇÃO


DENUNCIEM-NA, ELA FAZ PROVA DE QUE O PS É UM PARTIDO FASCISTA E REPRESSOR


ABRAÇO
--
Luís Lopes"

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Aumento??

Segundo entendo no vídeo que se publica na página da CGTP-IN, aqui, a questão relativa ao aumento do ordenado mínimo parece ter sido aceite de bom grado, mas, ao mesmo tempo, parece legitimar a retirada de direitos aos trabalhadores, enquanto mostra uma excessiva preocupação com o impacto contabilistico que a redução contributiva a cargo do empresário pode supôr.

Nesse sentido, e assumindo que essa precupação advém do conhecimento das prácticas habituais dos governos pós-1975, transmite contudo certa resignação ao instituido e assim promovendo o imobilismo no qual se arrastam os Portugueses à demasiado tempo.

Outro aspecto essencial é o relacionado com o premiar da aposta pelos baixos salários pagos tradicionalmente pelos empresários e a reiteração aos mesmos da correcção dos seus critérios em sintonia com a política de direita que cada vez mais atira os trabalhadores para a uma posição similar à pretérita condição de escravos, sem aferir a base das suas imposições, ou seja, uma economia caduca.

Analizando ambas matérias, sabendo o quão se relacionam, penso que: Em primeiro lugar, se o governo pretende custear a dinamização do consumo interno com o incremento do espólio dos parcos e cada vez menores beneficios sociais alcançados pelos trabalhadores, é uma questão que não pode sequer ser apontada como passivel de aceitar. Como tal, num universo de possiveis repercussões, esta deve ser colocada no esfera da futurologia, mostrando-nos seguros da nossa capacidade de no futuro impedir tais manobras e, não assumindo como bom um aumento de 25€ num momento no qual se mostra imprescindivel aumentar realmente a capacidade de consumo interno da população.

Sindicalizado, sou porém, e fundamentalmente, um trabalhador, e, encontro certamente um factor de inflexão a defesa da amplitude do critério de diminuição da tributação por parte do empresário para salários mais elevados. Sendo que, no caso dos ordenados superiores a 1500€, estimo vital conservar um crescimento paralelo ao IPC, eliminando a possibilidade da empresa de usufruir de qualquer desconto tributário. Medida que assim mesmo compensaria o patronato pelo aumento minimo da tributação sobre um aumento bastante mais substancial do salário minimo, facilitando o ansiado aumento do consumo, se levarmos em atenção que é nessa linha retributiva que se sitúa a grande maioria do Povo Português.

Não obstante, não quero deixar de salientar que, se o objectivo é chegar 2013 com um ordenado minimo de 600€, já por sí nivelado por baixo se atendermos à obrigada convergência com o quadro sócio económico Europeu, para não mencionarmos o impacto que esta limitação pode supôr na eterna opção de emigrar dos nossos conterrâneos e em tudo o que essa necessidade significa para a sua qualidade de vida, assim como na competência e modernização do tecido productivo nacional e o fraco estimulo gerado no que respeita às exigencias de adequação a uma realidade global e que por tal mais competitiva, a obrigatoriedade de em 2011 mostrar argumentos e capacidade para aplicar um aumento de 50€ (11,1%), sobre 450€, torna-se pouco crível. Menos viável será, quando em 2012 se deve repetir um aumento tão inusitado no nosso país, (10,%), para que, em 2013 se volte a verificar outro aumento de 9%.

Plenamente de acordo com a necessidade de aumento salarial, não propriamente por hedonismo senão por necessidade, por aqueles que empobrecem trabalhando; que passam fome vendendo a vida, e sem sequer propôr como meta um ordenado que deveria situarse em 900€ nessa data, acredito que é na depressão, na estagnação, que se devem desenvolver todos os esforços para aproveitamento das sinergias resultantes das várias alterações para ultrapassar dificuldades concretas do momento, e que, essas sim, no futuro, derivarão na melhoria das condições de vida de Portugal e dos Portugueses, sugerindo assim que o aumento básico para 2010 seja de 60€.

Concluindo, não se trata de uma solução a crédito, estilo Kautsky ou Bernstein, trata-se de uma solução concreta para um problema concreto, visando tornar mais robusta a imprescindível capacidade de introspecção dos trabalhadores, da juventude, do papel do nosso país no panorama mundial e, como intenção primeira, resgatar a soberania nos mais diversos aspectos.
Não pretendo no entanto deixar de recordar o continuo esforço da CGTP-IN em defender, desde a criação do salário minimo em 1974, durante o desconhecido período do tergiversado pelos meios do capital mas não por tal menos emancipador de todos que aqueles que diariamente permutam a sua força pelo pão, PREC, o aumento do valor de dita garantia com ajuste aos valores do IPC, luta que significaria hoje, que, a esses 425€ e de forma justa, se lhe somassem 87€ mais.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Adriano

Quem poderá domar os cavalos do vento
Quem poderá domar este tropel
Do pensamento à flor da pele?

Quem poderá calar a voz do sino triste
Que diz por dentro do que não se diz
A fúria em riste do meu país?

Quem poderá proibir estas letras de chuva
Que gota a gota escrevem nas vidraças
Pátria viúva a dor que passas?
Pátria viúva a dor que passas?

Quem poderá prender os dedos farpas
Que dentro da canção fazem das brisas
As armas harpas que são precisas?
As armas harpas que são precisas?

segunda-feira, dezembro 14, 2009

O baile do mês



E cá no burgo, não seria importante caracterizar os fachos para acompanhar o mafioso Italiano nesta coreografia?


A revolução é hoje!

sábado, dezembro 12, 2009

Descanso

Cirurgião plástico da terra, paisagem
-Internacional é chique! a crédito...
Soberania, e coragem?
Transnacional o mérito, e o rédito!
La récolte, deserta pastagem.

Domador de medos, Doctor em história pelo suão
Transporta para terra segredos, dança com redes de arrastão
Piratas, corsários, violadores: -Peixe fresco, nacional!
Arribam ao porto actores, voltam de Portugal!

Nem das vacas tens já tetas,
nem nos campos oliveiras
Poder vazio de ascetas.
Lusos, de pastores
Freiras!

Mendigo de tradição
Dorido, combalido, sem estridencias, sem gemido
Perdido, nepote sem mão.
Sem procurar olhar de frente,
Escutar, lutar, ombro a ombro,
Irmão!


A revolução é hoje!

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Ensaio

Tenho a impressão de não ser real,
se calhar nem sequer cá existo
Ao ver quão volátil,
É o valor de tudo isto.

Não passa de uma massa animada,
que se levanta com o sol e se deita sozinha
Que nasce livre e acompanhada, que morre triste, cansada,
Sem história para uma linha.

A quantidade de vidas entregues a qualquer postor,
sem o mais minimo atisbo de rancor
Com medo de sonhar, destruidos pela tv,
sem esperança de mudar, quem tem fome não lê.

Filhos de pais, filhos da mãe,
também os há filhos da puta,
mas contra estes nada feito,
nasçam homens para a luta!

-Não vales uma pá de areia!
-Areia há muita, pá!

E segue, continua a negação
Um caminho sem volta
Um resultado indiferente
Sem objectivo marcado
Sem direito à afirmação
Será chuva, será gente?

Golos, atentados
Alegria, tristeza
Pão encima,
debaixo da mesa
Uma vida incerta
Imposta certeza?


A revolução é hoje!

Ai Portugal, Portugal!



Uma escalada fascista. Essa, mesmo distante da concepção que nos ensinaram sobre a barbárie, é a realidade que experimenta a nossa civilização.
A multiplicidade de exemplos reais desse crescimento podem identificar-se facilmente no âmbito global, ainda que alguns povos demonstrem, como no passado noutras paragens, que é possivel desmembrar os tentáculos da base do imperalismo que cada vez mais promove a clivagem entre povos e entre vizinhos.
Justamente focalizando a proximidade de dito paradigma, dediquemo-nos a Portugal, este, no qual sobrevivem milhões à ganância de umas centenas.
Depois de uma temporada na diáspora, quando voltamos ao nosso país percebemos a actualidade, aquela que não podemos experimentar sentados lendo um jornal ou quando procuramos manter-nos informados através deste veículo manipulado que é a internet (à excepção de 3 ou 4 páginas), com alguma surpresa. Registamos rápidamente a involução à qual foi submetida a sociedade Portuguesa, que o futebol é de novo o astro rei – concluimos, quem sabe, que nunca o deixou de ser -, que as manobras do actual enterrador do nosso povo (herdeiro legitimo, e a prova é a sua vinculação com os interesses da SLN, de Mário Soares), o presidente cavaco, propagandeando a sua assistência a uma outra encomenda aceite pelo populista “la féria” que foi o ”jesus cristo superstar”, em conjunto com a visita papal, promove de novo fátima como elemento essencial na estratégia de conduzir o comportamento de um Povo dos mais amedrontados da Europa. Encontrando finalmente a afirmação do resultado das políticas de todos os governos depois do PREC no ressurgir daquela que é a bandeira do abandono aos caprichos de tudo, de todos, menos nossos, o Fado. O estilo mais vendido nas listas de vendas, as quais, definindo as classificações através de golpes de cheque, tem no Fado o mais solvente investidor.
Em Suma, cá estão de novo os 4 "F".
Mas existem outros aspectos comuns ao período de educação pela repressão do, bem comido pelos bichos, salazar.
Existem histórias de cidadãos oriundos do estrangeiro, que, hoje com 30 ou 35 anos, residindo no nosso seu Portugal desde os 1, 2, 3, 4 anos de idade, continuam a ver negada a sua nacionalidade por não serem jugadores de futebol brasileiros que depois de uns meses se tornam Portugueses apenas pelo interesse económico.

Existem indícios de corrupção bastante consistentes que deveriam haver sido suficientes como para, mais que demitir, mandar para a prisão 40% do elenco governativo desde há 33 anos.
A reforma da mãe do 1º ministro, mais de 1000€ para quem nunca trabalhou.
Os casos de compra de votos pelos candidatos do PSD.
A eleição sem motivos aparentes para adoptar decisões distintas da salvação de determinadas entidades financeiras em detrimento de outras.
A requalificação dos terrenos nos quais se construiu o Freeport.
A acumulação de responsabilidades em diferentes orgãos.
A assunção de cargos no privado por ministros que geriam a pasta na qual se incluia essa empresa.
A eliminação de provas antes do culminar de qualquer fase de instrução.
O apagamento de processos aos olhos da opinião pública e o seu posterior arquivo.
As inconstitucionais medidas adoptadas pelo governo, como a obrigatoriedade dos micro-chip ou o próprio código da escravatura.
O fecho de serviços médicos que derivaram em mortes por falta de assistência. Etc. Etc. Etc.

Mais grave, a venda do nosso País sem qualquer tipo de consulta à população, do futuro dos trabalhadores que numa das mais precárias condições transformam a vida em pão nesta Europa, aos desígnios dos share-holder globais, daqueles pelos quais se inventou um jogo chamado bolsa, onde se joga o valor que entregamos com a vida para que ditos porcos continuem a acumular, a fortalecer a sua capacidade para nos obrigarem a continuar entregando-nos.

Quando é que abrimos os olhos? Vamos esperar que ilegalizem a simbologia comunista, como na Polónia, para lutar na clandestinidade num conto vermelho de Soeiro?
Será dificil exigir que se considere o património de um governante, ou membro do aparelho de Estado, antes de assumir qualquer cargo e depois de o abandonar? Proibir a acumulação de reformas? Impedir o trabalho de qualquer elemento do governo em companhias privadas?

Ary dos Santos, acompanhados, vivos todos, éramos muitos, somos muitos, mas, só nós poderemos multiplicar a nossa força, de outra forma entregá-la-emos. Porque é que continuamos a entregar a vida? Necessitamos de outro "pai tirano" que nos conduza ao lado dos ratos até à revolução? Porque será que negamos a existência, a vontade, agarrar o futuro nas mãos?

A transformação da sociedade, segundo os objectivos do ideal fascista, já neste blogue foi por diversas vezes denunciada. A demagogia com a qual operam os esbirros do capital, foi, e será, sempre, uma preocupação. Os aspectos que hoje se identificam comuns aos vivídos em 1929, estão aí, à vista! Os perigos também!



A revolução é hoje!

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Na apresentação do Livro II de O Capital-Um manancial de aspectos a reter

O presente texto é um extracto (cujo aparato crítico foi simplificado e que será publicado na íntegra juntamente com textos de outros autores) da intervenção do autor num debate na Festa do «Avante!»
(em que participaram também os camaradas Sérgio Ribeiro e Francisco Melo) subordinado ao tema «O Capital revisitado», a propósito do lançamento pelas Edições «Avante!» da tradução portuguesa do Livro II de O Capital, Karl Marx.


Não me cabe, nesta apresentação, ensaiar sequer um resumo do Livro segundo de O Capital.
Desde logo, porque a sabença económica requerida para o efeito me falece, e, ademais, porque não se trata, em caso algum, de substituir a leitura e o estudo da obra (que importa incentivar) por um tosco e mal amanhado digesto, isto é, por um sucedâneo apressadamente digerido, em perigoso movimento acelerado para a contrafacção.
A chamada «alta divulgação» – sem dúvida, necessária e útil – é, na realidade, outra coisa, e reclama predicados e competências que de boa mente reconheço não reunir. É por isso que a divisão do trabalho – nestas, como em outras matérias – representa uma dimensão incontornável de um labor colectivo que importa empreender, e organizar.
Engels, na sequência aliás de receios que o próprio Marx não deixara de partilhar(1) , temia – como, não raro, avisadamente – que «o volume segundo [de O Capital] vai suscitar grande desilusão, por ser tão puramente científico e não conter muito de agitatório.»(2) .
Em termos de desassombrado balanço comparativo – designadamente, se os livros primeiro e terceiro representarem a baliza de referência utilizada –, este ajuizamento de Engels é justificado, e podemos afirmar sem exagero que está, em larga medida, correcto.
Com efeito, os processos à matéria pertinentes são minuciosamente desconstruídos e dissecados nos seus elementos, na sua envolvência, no seu movimento; as teorias da economia política burguesa (os fisiocratas, Adam Smith, David Ricardo, notórios representantes vários do «economismo vulgar», etc.) que os procuram «explicar» são aturadamente expostas, discutidas, reveladas nas abscônditas contradições de que se alimentam e nos reais desígnios (nem sempre confessados) que se propõem consolidar; recorre-se, amiúde, a fórmulas abstractas e a expressões matematizadas para ilustração exemplificativa dos casos e das dinâmicas em apreço.
Não obstante, este Livro segundo – que, como já referi, tem por objecto o processo de circulação do capital –, a par do seu núcleo central e estruturante, encontra-se igualmente recheado de observações, e de toda uma inflexão na maneira de dirigir o olhar, que certamente contribuem para uma frutuosa «agitação» dos espíritos que pretendam compreender as realidades e empreender praticamente a sua transformação.
Ainda que telegraficamente, e de modo desgarrado, limito-me – por amostragem quase-aleatória, se é que não por inabilidade em melhor organizar o discurso – a chamar a atenção para uma meia dúzia de aspectos que vão conhecendo aclaramento à margem, ou ao longo, deste escrito.
Deve tomar-se, portanto, este abreviado elenco apenas ao jeito de um aperitivo (seco) para a curiosidade...
Assim, do ponto de vista metodológico – pensado sempre em termos materialistas e dialécticos –, Marx continua a seguir, tal como no conjunto dos seus trabalhos, a boa lição de Hegel(3) , segundo a qual um resultado não pode ser considerado, na sua concreção, «sem a mediação do processo de que ele é resultado»(4) .
Significa isto – particularmente, quando aquilo que está a ser objecto de exame é, como no caso vertente, a esfera da circulação do capital — que – num círculo constantemente em rotação, cada ponto é, simultaneamente, ponto de partida e ponto do regresso.»(5) .
Pelo que, uma vez mais, o ponto de vista reitor da economia política burguesa – que, em geral, se limita a encarar na sua imediatez «aquilo que aparece»(6) , sem atender à dinâmica material concreta que sustenta os próprios fenómenos na sua determinação e transitividade – acaba também por revelar, e por ver criticamente expostas, ao correr da pena, as suas debilidades intrínsecas e estruturantes.
No que diz respeito ao conteúdo operacional de muitas das categorias utilizadas na análise dos processos do capital, deparamos igualmente neste Livro segundo com aclaramentos e precisões do maior alcance.
Para além da distinção entre «reprodução simples» e «reprodução alargada», a que no início desta intervenção já aludi, poderíamos, por exemplo, ter em conta a noção de «taxa real da mais-valia» – indicador que expressa o «grau de exploração do trabalho»(7) –, e, sobremaneira, a necessidade de não confundir, nem conceptual nem funcionalmente, as categorias de «capital fixo» e de «capital circulante» com as categorias, só numa aparência enganosa equivalentes, de «capital constante» e de «capital variável»(8) .
Com efeito, o «capital fixo» (instalações, máquinas, ferramentas) transfere fraccionadamente o seu valor para o produto ao longo de diferentes períodos de produção, enquanto o «capital circulante» (matérias primas, semi-fabricados, combustíveis, força de trabalho) é inteiramente despendido em cada período de produção.
Por sua vez – e consideradas as relações sob um outro ângulo –, o «capital constante» corresponde aos meios de produção envolvidos na actividade produtiva, enquanto o «capital variável» representa aquele que é empregue na aquisição da força de trabalho.
Se é certo que, em rigor, o «capital fixo» não compreende senão «capital constante», a esperada analogia simétrica não colhe, todavia, num quadro de aplicação ao «capital circulante», uma vez que este último, além da força de trabalho (que o «capital variável» compra), inclui também elementos de «capital constante».
Não estamos, na verdade, nem perante meros floreados conceptuais de adorno ocasional do discurso, nem perante subtilidades escolásticas reaquecidas próprias de mentes sinuosas em demanda de um halo de «profundidade» e de sofisticação para as suas cogitações – destinados, em qualquer caso, todos, tão-só, a complicar rebuscadamente aquilo que afinal seria simples.
Estamos a lidar, sim, e muito pelo contrário, com categorias que – reflectindo adequadamente na consciência (em registo abstracto) processos que em concreto na realidade se dão(9) – nos habilitam a penetrar em toda uma teia complexa de relações que a aparente simplicidade, de uma forma nem sempre inocente, esconde ou mascara.
Este ponto – que, em regra, a economia política burguesa tende a negligenciar ou a obscurecer – revela-se, portanto, e deste modo, como crucial para se poder perceber, designadamente, o processo real de criação da mais-valia.
Por outro lado, este Livro segundo fornece-nos ainda amplos e fecundos materiais para uma apoiada reflexão sobre alguns outros aspectos que – visto constituírem traços decorrentes da própria «lógica» que rege a instauração e o desdobramento do próprio modo de produção capitalista – continuam hoje em dia, modificadamente (este ponto é crucial em qualquer exame), a manifestar-se com exuberância na nossa contemporaneidade.
Recordemos, em jeito de ilustração rápida (porventura, apenas impressionista), alguns tópicos em torno, por exemplo, da «mundialização», da «mercadorização», e da «financeirização».
O importante tema da mundialização tendencial da economia capitalista(10) – que se articula, de modo decisivo, com os acelerados progressos das tecnologias de transporte e de comunicação(11) , jà à época em curso (e de cujo alcance sistémico e implicações Marx, em antecipação, se apercebe) – é recorrente.
Não faltam, inclusivamente, argutas observações quanto às alterações introduzidas por novos mecanismos de segmentação no fabrico dos próprios produtos, como a de que, no quadro produtivo transformado e em regime de mercado mundial, «o artigo é importado, aos pedaços, de diversos países e em prazos de tempo diversos.»(12) .
Por outro lado, e em termos de genérica matriz reitora, a mercadorização crescente da economia – isto é, o esforço concertado para, num movimento combinado de extensão (geográfica e qualitativa) dos mercados, converter em «mercadoria» qualquer produto social(13) , com o consequente alargamento (quantitativo e intensivo) da base potencial de extracção da mais-valia sob a forma de lucro, e a correlativa transformação tendencial de todo o trabalho em trabalho assalariado(14) – surge-nos igualmente posta em evidência.
Com efeito, no âmbito desta formação económica e social – elevando-se do seu cerne, e desenhando-lhe um dos seus cunhos –, «a produção de mercadorias» acaba (e começa) por assomar como «a forma universal da produção capitalista»(15) .
Por sua vez, a financeirização da economia – a par, e para além, das dimensões específicas que derivam do desenvolvimento dos sistemas de crédito(16) (historicamente relevante, que mais não seja, pelas variadas alavancagens que permite) – é também objecto de penetrante chamada de atenção, onde, desde logo, se não esquece o sublinhado de algumas das suas correlativas implicações sistémicas.
Se o objectivo genérico, e «o motivo impulsionador», da actividade capitalista – no fundo, a sua teleologia propriamente dita – é, sem rodeios metafísicos mais sofisticados, «o fazer dinheiro», não pode causar particular admiração que este afã principial, «competentemente» prosseguido, acabe por conduzir a uma subalternização relativa dos sectores realmente produtivos, e a uma soltura cíclica da espiral especulativa (acompanhada e «corrigida» pelas suas conhecidas «crises», de extensão e profundidade variadas).
Enquadrado por estas luminosas perspectivas (cuja latência permanece intocada), e encarado pelo ângulo do móbil que anima aqueles que delas se encarregam de extrair o melhor provento (leia-se: proveito), «o processo de produção aparece apenas», então, «como inevitável elo intermédio, como mal necessário para efeitos do fazer dinheiro. Todas as nações do modo capitalista de produção são, portanto, periodicamente atingidas por uma vertigem [Schwindel, que pode significar também em alemão (e na realidade de qualquer idioma): embuste, logro, aldrabice] em que querem consumar o fazer dinheiro sem a mediação do processo de produção.»(17) ...
E podíamos prosseguir ainda, sem nos afastarmos minimamente do texto, com o alinhamento nutrido de muitas outras observações interessantes e esclarecedoras.
Por exemplo, sobre o negócio bolsista das sociedades por acções – em que «cada um sabe o que lá põe, mas não o que de lá retira»(18) –, ou sobre a especulação imobiliária urbana, em contextos mormente em que o «ganho principal» advém, não da exploração da actividade construtiva propriamente dita, mas antes da manipulação «hábil» do preço dos terrenos e da política dos solos(19) .
É curioso referir ademais um outro tópico.
Trata-se de um ponto que a propaganda burguesa (algo amachucada agora, é certo, à vista de estrondosos acontecimentos mais recentes pelas paragens da alta finança) em torno do criterioso «rigor» capitalista – contra o apregoado regabofe das contas públicas no satânico socialismo da planificação «colectivista» (e, portanto, sem apelo, liminarmente decretado «irresponsável») – com usitada frequência esquece, desfigura, e oculta, para efeitos que me abstenho, por higiene mental, de qualificar.
Com efeito, muito boa (e selecta) gente ignora (ou faz por ignorar) que o próprio Marx – reconhecendo não obstante a evidência palmar de que a «contabilidade», por ela mesma apenas, «não altera naturalmente nada à conexão real das coisas que contabiliza»(20) – insiste todavia, e por diversas vezes, no papel crítico indispensável de que uma apropriada auditação constitutivamente tem que se revestir, desde logo, em termos de, e com vista a, um adequado assenhoreamento social (no limite: comunitário, e comunista) do andamento e da gestão da economia.
Como expressamente se refere, de resto, no texto que vimos apresentando:
«A contabilidade, como controlo e compêndio ideial do processo [produtivo], devém tanto mais necessária quanto mais o processo decorre a escala social e perde o carácter meramente individual; portanto, [torna-se] mais necessária na produção capitalista do que na exploração dispersa do artesanato e dos camponeses, mais necessária na produção comunitária do que na [produção] capitalista.»(21) .
A terminar esta secção, assinalemos ainda um outro aspecto – que, em rigor, só se torna ridículo na exacta medida daquela deslumbrada pompa «teorética», de verdadeiro achado perolífero, com que surge debitada e nos costuma ser servida.
Trata-se agora da impiedosa desmontagem a que Marx procede no que diz respeito à peregrina e mistificatória tese – popular entre certa apologética capitalista mais reverente e despachada –, segundo a qual, no fundo, o operário também tem que ser considerado um capitalista, na medida em que também ele vai ao «mercado» vender a sua «mercadoria», a sua força de trabalho, isto é, na realidade, vai ao mercado vender-se «ele próprio» para com o «rendimento» que dessa transacção aufere poder adquirir meios de vida que lhe permitam a subsistência (e a reprodução de força de trabalho a ser de novo vendida, comprada, e explorada)(22) ...
Quando a cavalaria impante toma o freio nos dentes e carrega à desfilada por esta encosta presumida e convenientemente «argumentativa» – que, no limite, até acaba por ir desembocar no pântano da fascinante e embevecida conclusão de que também o escravo é afinal um capitalista (como o próprio Marx, nesta passagem, não deixa de pôr em relevo(23) ) –, prescinde-se de algumas cautelas (não apenas teóricas, mas emergentes da própria imposição das realidades) que facilmente aceleram e precipitam derrapagens e desastres vários.
Com efeito, encarando os processos na sua dinâmica e concreção, é impossível não esquecer que, num marco de relações burguesas de produção, o capital variável só desempenha funções de capital na mão do capitalista que o emprega no exercício dessa sua qualidade; na mão do «assalariado», o dinheiro que lhe corresponde é apenas rédito ou «rendimento», o «equivalente» recebido «por força de trabalho vendida». Na posse de um e na posse de outro, o mesmo dinheiro assume, por conseguinte, uma aplicação útil ou uma «utilização» totalmente diferente.
Há, de facto, «confusões» – como esta entre «força de trabalho» (a «fortuna» do operário, que ele renovadamente é obrigado a vender) e «capital» (que a compra para dela extrair mais-valia) – de que sinuosamente alguns espíritos «espertos» (repetindo, nos seus panegíricos, a recitação coreografada de cartilhas afinal bem gastas) persistem em querer tirar proveito ideológico. Já no que diz respeito, porém, ao «abichamento»(24) dos lucros resultantes da exploração do trabalho alheio, em contrapartida, e para geral aconchego das suas bolsas e consciências, eles revelam-se, em geral, bem mais vigilantes e cuidadosos, menos propensos a «enganar-se» ...
Nesta oportunidade, vale a pena recordar em desabafo – porque é flagrante a sua pertinência de contexto – uma exclamação que Marx não se inibe de soltar, ainda que a propósito de mais um outro destempero dos «economistas vulgares»:
«Voilà le crétinisme bourgeois dans toute sa béatitude!»(25) – «Eis o cretinismo burguês em toda a sua beatitude!».

Notas

(1) Com efeito, no entender do próprio Marx, o Livro segundo de O Capital, pelo rumo que a sua redacção estava a tomar, apresentava-se, em virtude da própria natureza das matérias tratadas e dos meandros que importava esclarecer, como «em grande parte demasiado teorético». Cf. MARX, Brief an Engels, 14. November 1868; MEW, vol. 32, p. 204.
(2) ENGELS, Brief an Friedrich Adolph Sorge, 3. Juni 1885; MEW, vol. 36, p. 324.
(3) Não é o momento aqui de aprofundar este tema. No entanto, é conveniente nunca perder de vista uma conhecida observação – talvez, para alguns, perturbadora – que Lénine, no decorrer da sua leitura da Ciência da Lógica de Hegel, anota num dos seus aforismos dos Cadernos Filosóficos:
«Não é possível compreender plenamente o “Capital” de Marx e particularmente o seu I capítulo sem ter estudado a fundo e sem ter compreendido toda a Lógica de Hegel. Por conseguinte, meio século depois nenhum marxista compreendeu Marx !!», Vladimir Ilitch LÉNINE, Conspecto do livro de Hegel “Ciência da Lógica” (1914); Obras Escolhidas em Seis Tomos, ed. José Barata-Moura, Francisco Melo, e José Oliveira (doravante: OE6), Lisboa - Moscovo, Edições «Avante!» - Edições Progresso, 1989, vol. 6, p. 164.
(4) MARX, Das Kapital II, I, 1, III; MEGA2, vol. II/13, p. 46.
Também, designadamente, na Ciência da Lógica, Hegel havia observado que «no resultado está essencialmente contido aquilo de que ele resulta» , Georg Wilhelm Friedrich HEGEL, Wissenschaft der Logik (1812), Einleitung, Allgemeiner Begriff der Logik; Theorie Werkausgabe, red. Eva Moldenhauer e Karl Markus Michel, Frankfurt am Main, Suhrkamp Verlag, 1969, vol. 5, p. 49.
(5) MARX, Das Kapital II, I, 4; MEGA2, vol. II/13, p. 93.
(6) Cf. MARX, Das Kapital II, I, 5; MEGA2, vol. II/13, p. 116.
(7) Cf. MARX, Das Kapital II, II, 16, I; MEGA2, vol. II/13, p. 281.
(8) Marx considera que esta «confusão» de categorias corresponde a um «erro fundamental» em que a generalidade dos economistas burgueses com frequência incorre. Cf. MARX, Das Kapital II, II, 8, I; MEGA2, vol. II/13, p. 148.
(9) Sobre a necessidade de estabelecer e de desenvolver, com correcção, tanto de um ponto de vista epistemológico como de um ponto de vista ontológico, a dialéctica do «abstracto» e do «concreto», veja-se, por exemplo: MARX, Ökonomische Manuskripte 1857/58, Einleitung zu den “Grundrissen der Kritik der politischen Ökonomie”, I, 3; MEGA2, vol. II/1.1, p. 36.
(10) A ideia, nos seus traços genéricos, encontra-se esboçada já, pelo menos, desde 1848, quando se assinala que, ao forçar todas as nações do globo a adoptar, sob pena de naufrágio económico, o modo de produção capitalista (e os padrões civilizacionais que lhe correspondem), a burguesia «cria-se um mundo à sua própria imagem» – MARX–ENGELS, Manifest der Kommunistischen Partei, I; MEW, vol. 4, p. 466.
Para Marx, com efeito, e de acordo com uma carta de 1858, «a tarefa propriamente dita da sociedade burguesa é a fabricação do mercado mundial (pelo menos, nos seus contornos) e de uma produção repousando na base dele.»
Porventura, mais importante ainda – por tudo aquilo que revela quanto à abordagem intrinsecamente dialéctica dos problemas – é a percepção, nesta mesma carta igualmente evidenciada, de que esta mundialização dos mercados pode afectar, em relação ao continente europeu, o ritmo previsível (se perspectivado, em exclusivo, no seu âmbito) da precipitação dos processos revolucionários:
«Não será ela [a revolução] neste pequeno canto [a Europa] necessariamente esmagada, uma vez que num terreno muito mais largo [a cena mundial dos mercados] o movimento da sociedade burguesa é ainda ascendente?» Cf. MARX, Brief an Engels, 8. Oktober 1858; MEW, vol. 29, p. 360.
(11) Cf. MARX, Das Kapital II, II, 14; MEGA2, vol. II/13, p. 233.
(12) MARX, Das Kapital II, I, 6, II, 1; MEGA2, vol. II/13, p. 132.
(13) Cf. MARX, Das Kapital II, III, 21, I, 1; MEGA2, vol. II/13, p. 460.
(14) Marx revela uma nítida consciência do vínculo estrutural e funcional que subsiste, num marco de «mundialização» crescente, entre estas dimensões da «mercadorização» e do assalariamento, pondo por isso em evidência a sua articulação.
A «produção capitalista desenvolvida» pressupõe a «dominação» de um regime assente no trabalho assalariado – que, inclusivamente, vai alastrando para esferas que, de entrada ou tradicionalmente, pareciam escapar-lhe (como, por exemplo, o campo das denominadas «profissões liberais» ou «independentes») –, o que acarreta, por outro lado (e com fundas implicações sistémicas), todo um incremento do «papel principal» que advém ao «capital-dinheiro».
Deste modo, e por conseguinte, «na medida em que o sistema de trabalho assalariado se desenvolve, todo o produto se transforma em mercadoria», MARX, Das Kapital II, III, 20, XII; MEGA2, vol. II/13, p. 444.
(15) Cf. MARX, Das Kapital II, III, 21, I, 1; MEGA2, vol. II/13, p. 460.
(16) Como Marx não deixa de assinalar, a economia assente no crédito corresponde ela própria à forma mais desenvolvida da economia baseada no dinheiro, que acaba por ser comum (num quadro todavia de especificidades que importa não perder de vista) às diferentes figuras da produção de mercadorias. Veja-se, por exemplo, quanto a este ponto: MARX, Das Kapital II, I, 4; MEGA2, vol. II/13, pp. 107-108.
(17) MARX, Das Kapital II, I, 1, IV; MEGA2, vol. II/13, p. 54.
(18) MARX, Das Kapital II, III, 20, VIII; MEGA2, vol. II/13, p. 403.
(19) Veja-se, por exemplo, aquilo que nos é documentadamente contado acerca das edificantes lições a retirar dos processos utilizados no negócio da edificação em Londres no século XIX. Cf. MARX, Das Kapital II, II, 12; MEGA2, vol. II/13, pp. 216-217.
(20) MARX, Das Kapital II, II, 8; MEGA2, vol. II/13, p. 163.
(21) MARX, Das Kapital II, I, 6, I, 2; MEGA2, vol. II/13, p. 124.
Sobre algumas das implicações da necessária atenção a estas matérias num modo comunista de organização da sociedade, veja-se, por exemplo: MARX, Das Kapital II, II, 16, III; MEGA2, vol II/13, pp. 291-292.
(22) Cf. MARX, Das Kapital II, III, 20, X; MEGA2, vol. II/13, p. 409.
(23) «Neste sentido,» – isto é, à luz da resplandecente concepção de que todo aquele que vende mercadoria (mesmo quando ela seja, afinal, e involuntariamente, ele próprio) é capitalista – «também o escravo devém capitalista, apesar de ele ser vendido como mercadoria de uma vez por todas por uma terceira pessoa; pois, a natureza desta mercadoria, [a natureza] do escravo de trabalho, implica que o seu comprador, não só a faz trabalhar [a essa mercadoria/escravo] cada dia de novo, como lhe dá também os meios de vida por intermédio dos quais ela pode sempre de novo voltar a trabalhar.» MARX, Das Kapital II, III, 20, X; MEGA2, vol. II/13, p. 409.
(24) Cf. MARX, Das Kapital II, III, 21, II; MEGA2, vol. II/13, p. 467.
(25) MARX, Das Kapital II, III, 20, XIII; MEGA2, vol. II/13, p. 454.

Escrito por José Barata-Moura
01-Nov-2009


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