sábado, janeiro 07, 2017
O mais representativo
É de facto mais uma referencia da minha realidade que desaparece, não apenas no aspecto político, mas, essencialmente. Não querendo constituir-me arauto da defesa de decisões de outros, devo porém assumir que o cenário governativo actual no meu país revela uma elasticidade democrática da população sufragista que coloca o raciocinio colectivo dos meus conterráneos na vanguarda da realidade da sua área de influencia.
Quando criança, frente ao externato em que estudava existía um restaurante no primeiro andar no qual o meu pai almoçava com certa frequencia, tinha janelas para a Prior do Crato (Colégio) e outra varanda virada para o jardím onde brincavamos os putos da "Praça da Armada", do qual também usufruiam a casa em que nasci e o quartel da Armada onde finalmente assentei praça. Em referido restaurante, almoçava também um personagem que nos chamava a atenção pelo Citrôen "Boca de Sapo" negro que então nos parecía extraordinário, era o Mário Soares, que então assumia responsabilidades no Palácio das Necessidades, em cuja igreja foi baptizado o meu filho, anos depois da minha breve passagem pelos Escuteiros que ali se sediavam. Anos mais tarde, mesmo depois de assistir ao afastamento do meu pai da actividade política militante, pude entender o que aquilo era e soube então das suas reuniões em diferentes locais de Lisboa, de modo reiterativo no "Retiro do Quebra-Bilhas", socialistas todos, partilhando a vontade de um Portugal de outra dimensão.
Assim, não tendo o meu Pai aludido a qualquer proximidade com o falecido Soares mais que a supra relatada, que não obstante comungavam na inquietação e solução sociais e políticas, poderia afirmar que faleceu o publicamente mais representativo constructor da actual democracia portuguesa. Ainda não tenho a certeza se é realmente "preferível um a mau acordo a nenhum acordo", sei que o nosso país não está tão mal quanto há quarenta e três (43) anos.
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