domingo, outubro 08, 2017

Era necessário.


Inusitada vontade, esta, a de escrever, de novo, utilizando um meio aparentemente tão impessoal, mas, claro, essa consideração dependerá sempre de cada um de nós, por isso aparente.

 Inesperada a vontade, contudo, sinal claro da pouca atenção aos alarmes que o inconsciente sempre nos envia, quem sabe devido à necessidade de priorizar a tomada de decisões estimulada pelo incontornável pragmatismo a que os dias me obrigam. Porém, é também parte da (ainda) bagagem outra das razões pelas quais surgiu esta necessidade, o carácter que, em permanente transformação, mais que impedir uma análise ajustada da realidade procura, atento aos perigos que ainda sem experimentar determinam os meus heurísticos como evitáveis, adaptar o casco a este imenso e convulso rio ao qual a sociedade chama vida, respeitando o azimute que ratifico a cada ano que passa.

Assim, acredito ser necessário deixar claro neste ponto que, concretamente devido à minha personalidade e à forma e grau em que a trabalhei para minimamente permanecer homeostáticamente estável, não se deve ao abandono de um determinado partido (que não princípios sociopolíticos) ou à mudança para uma nova área de interesse académico que deixei seguramente pelo caminho o membro “Mensa”, aquele que priorizava de forma tão pueril o enriquecimento intelectual.

Em 2013, interdito hoje de me arrepender, tomei em Madrid a estrada que estriba na Praia em que cresci, procurando com a assunção desse desafio desenvolver-me num âmbito em que pudesse recuperar o sorriso que tinha desaparecido como característica daquele que queria conservar. Curiosamente, deparei-me, na sua grande maioria, com homens e mulheres em fraldas, defensores do medo que evita riscos como consequência de qualquer tomada de posição, como toda a tentativa de ser. Ora a conclusão foi fácil e rápida, ou insistia e, mais que ajustar o casco, me deixava levar nessa corrente que a todos parecia resultar cómoda ou, pelo contrario, lutava contra essa percepção da realidade procurando provar as ferramentas que havia utilizado durante a vida e a sua utilidade real à época. Certo foi que, como a qualquer de nós acontece, descartei muito poucas das soluções que trazia experimentadas, adoptei algumas outras (muito poucas) que se exigiam formuladas pelas circunstâncias, mas, em realidade, reneguei ainda mais os factores premiados pela sociedade e que até então conhecia sem preocupação de os exaltar na conduta.

Em conclusão, depois de nestes cinco (5) anos caminhar trilhos jamais imaginados mas quase sempre identificados antes de os encetar, descartadas que estão as drogas prescritas pelos especialistas da mente, a preocupação que manejo agora é o arraigo, elemento que se tornou fundamental para voltar a partir, já não fisicamente; geograficamente, senão em busca do Mário capaz de criar nos seus filhos a memoria que considero lhe interesse quando já não estiver. Assumindo-me bastante menos intransigente (constatação que constitui só por si uma alegría) e menos jovem, sei que difícilmente obrigarei os meus filhos a lutar contra muitos dos meus fantasmas, hoje mantive a primeira conversa sobre a realidade com a minha filha.

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