quinta-feira, agosto 14, 2008

Saindo do obscurantismo..


Já em 1516, os Portugueses se libertavam ou experimentavam a necessidade de sair da gruta, prova de tal inquietação foi Gil Vicente. Contudo, hoje, parece ser que de nada serviu a obra de tal humanista e que para encontrar certa exaltação da sua memória só o podemos fazer assistindo a obras do dramaturgo em Espanha e, de forma quotidiana, no Brasil, constatando dessa maneira a estratégia de adormecimento ao qual se vem submetendo, através de politicas de educação amorfas, parte da população do nosso país.
Assim, começa a parecer lógica a indiferença da maioria dos nossos conterrâneos relativamente ao espólio dos seus direitos, do estado de bem-estar social, em suma, da sua condição de ser humano.
O vídeo que segue o texto, resume da personagem em questão, é a melhor representação que se pode encontrar no "youtube", resultando impossível encontrar qualquer referência, minimamente estruturada, produzida em Portugal.

Gil Vicente (1465 — 1536) é geralmente considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Há quem o identifique com o ourives, autor da Custódia de Belém, mestre da balança, e com o mestre de Retórica do rei Dom Manuel. Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, actor e encenador. É frequentemente considerado, de uma forma geral, o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico já que também escreveu em castelhano - partilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina.
A obra vicentina é tida como reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para o Renascimento, fazendo-se o balanço de uma época onde as hierarquias e a ordem social eram regidas por regras inflexíveis, para uma nova sociedade onde se começa a subverter a ordem instituída, ao questioná-la. Foi, o principal representante da literatura renascentista portuguesa, anterior a Camões, incorporando elementos populares na sua escrita que influenciou, por sua vez, a cultura popular portuguesa.
Será ele que dirigirá os festejos em honra de Dona Leonor, a terceira mulher de Dom Manuel, no ano de 1520, um ano antes de passar a servir Dom João III, conseguindo o prestígio do qual se valeria para se permitir a satirizar o clero e a nobreza nas suas obras ou mesmo para se dirigir ao monarca criticando as suas opções. Foi o que fez em 1531, através de uma carta ao rei onde defende os cristãos-novos.
Morreu em lugar desconhecido, talvez em 1536 porque é a partir desta data que se deixa de encontrar qualquer referência ao seu nome nos documentos da época, além de ter deixado de escrever a partir desta data.
O seu filho, Luís Vicente, na primeira compilação de todas as suas obras, classificou-as em autos e mistérios (de carácter sagrado e devocional) e em farsas, comédias e tragicomédias (de carácter profano). Contudo, qualquer classificação é redutora - de facto, basta pensar na Trilogia das Barcas para se verificar como elementos da farsa (as personagens que vão aparecendo, há pouco saídas deste mundo) se misturam com elementos alegóricos religiosos e místicos (o Bem e o Mal).
Gil Vicente retratou, com refinada comicidade, a sociedade portuguesa do século XVI, demonstrando uma capacidade acutilante de observação ao traçar o perfil psicológico das personagens. Crítico severo dos costumes, de acordo com a máxima que seria ditada por Molière ("Ridendo castigat mores" - rindo se castigam os costumes), Gil Vicente é também um dos mais importantes autores satíricos da língua portuguesa. Em 44 peças, usa grande quantidade de personagens extraídos do espectro social português da altura. É comum a presença de marinheiros, ciganos, camponeses, fadas e demônios e de referências – sempre com um lirismo nato – a dialetos e linguagens populares.
Entre suas obras estão Auto Pastoril Castelhano (1502) e Auto dos Reis Magos (1503), escritas para celebração natalina. Dentro deste contexto insere-se ainda o Auto da Sibila Cassandra (1513), que, embora até muito recentemente tenha sido visto como um prenúncio dos os ideais renascentistas em Portugal, retoma uma narrativa já presente na General Estória de Afonso X. Sua obra-prima é a trilogia de sátiras Auto da Barca do Inferno (1516), Auto da Barca do Purgatório (1518) e Auto da Barca da Glória (1519). Em 1523 escreve a Farsa de Inês Pereira.
Alguns autores consideram que a sua espontaneidade, ainda que reflectindo de forma eficaz os sentimentos colectivos e exprimindo a realidade criticável da sociedade a que pertencia, perde em reflexão e em requinte. De facto, a sua forma de exprimir é simples, chã e directa, sem grandes floreados poéticos.

2 comentários:

Ana Camarra disse...

CNR

O que ocorre para começar o dia.

Gil Vicente foi um homem do renascimento encarando a dimensão humana das coisas, como tal registou para a posteridade a vivência dos Descobrimentos de uma forma eterna.
Morreu em local desconhecido e só depois de bem morto se lhe reconheceu o génio….familiar.

Quanto ao embrutecimento colectivo é preciso não esquecer que este povo foi educado a ser embrutecido, nada de novo, 48 anos de uma mentalidade pequenina e atroz que marcava ponto com um saber de papagaio: as linhas de caminho de ferro, os afluentes de todos os rios, pobrezinhos mas honestos, nada de politicas, a Dr. Oliveira é que sabe…depois as últimas duas décadas foram dedicadas a mais do mesmo, a desvirtuar o ensino a afastar as pessoas da cultura e oferecer-lhes entretenimento de baixa qualidade em catadupa…

Deixo-te uma quadra do Aleixo, poeta eterno, prova que o povo também abre os olhos.

“Ò vós que do alto império
prometeis um mundo novo
Calai-vos que pode o povo
Querer um mundo novo a sério".

Gostei de ouvir Jetrho mas ainda gostei mais de ouvir a Organização Popular.

Beijocas

Anónimo disse...

Olá Ana,
Menos mal que existem muitos que não se deixaram adormecer, ainda que a corja, que nos governou durante esses quarenta e oito anos, continua a poder esconder ao povo aquilo que somos realmente.
Com relação a Aleixo, prova que sabemos ser tão inconformistas quanto seja necessário, basta querermos.
Com relação a Jethro Tull, o Fausto, o Sergio Godinho ou o Zeca, têm muito mais que ver comigo, a questão é saber que também lá fora existe quem se negue a aceitar esta pilula.

A revolução é hoje!

Cumprimentos.