sábado, setembro 20, 2008

Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo II

Uma das condições fundamentais do êxito dos Bolcheviques

Hoje, sem dúvida, quase todo mundo já compreende que os bolcheviques; não se teriam mantido no poder, não digo dois anos e meio, mas nem sequer dois meses e meio, não fosse a disciplina rigorosíssima, verdadeiramente férrea, de nosso Partido, não fosse o total e incondicional apoio da massa da classe operária, isto é, tudo que ela tem de consciente, honrado, abnegado, influente e capaz de conduzir ou trazer consigo as camadas atrasadas.
A ditadura do proletariado é a guerra mais severa e implacável da nova classe contra um inimigo mais poderoso, a burguesia, cuja resistência está decuplicada, em virtude de sua derrota (mesmo que em apenas um país), e cuja potência consiste não só na força do capital internacional, na força e na solidez das relações internacionais da burguesia, como também na força do costume, na força da pequena produção. Porque, infelizmente, continua a haver no mundo a pequena produção em grande escala, e ela cria capitalismo e burguesia constantemente, todo dia, a toda hora, através de um processo espontâneo e em massa. Por tudo isso, a ditadura do proletariado é necessária, e a vitória sobre a burguesia torna-se impossível sem uma guerra prolongada, tenaz, desesperada, mortal; uma guerra que exige serenidade, disciplina, firmeza, inflexibilidade e uma vontade única.
A experiência da ditadura proletária triunfante na Rússia, repito, demonstrou, de modo palpável, a quem não sabe pensar ou a quem não teve oportunidade de refletir sobre esse problema, que a centralização incondicional e a disciplina mais severa do proletariado constituem uma das condições fundamentais da vitória sobre a burguesia.
Fala-se disso com freqüência. Mas não se medita suficientemente sobre o que isso significa e sobre as condições em que isso se torna possível. Não conviria que as saudações entusiásticas ao Poder dos Sovietes e aos bolcheviques fossem acompanhadas, mais amiúde, pela mais séria análise das causas que permitiram aos bolcheviques forjar a disciplina de que necessita o proletariado revolucionário?
O bolchevismo existe como corrente do pensamento político e como partido político desde 1903. Somente a história do bolchevismo em todo o período de sua existência é capaz de explicar satisfatoriamente as razões pelas quais ele pôde forjar e manter, nas mais difíceis condições, a disciplina férrea, necessária à vitória do proletariado.
A primeira pergunta que surge é a seguinte: como se mantém a disciplina do partido revolucionário do proletariado? Como é ela comprovada? Como é fortalecida? Em primeiro lugar, pela consciência da vanguarda proletária e por sua fidelidade à revolução, por sua firmeza, seu espírito de sacrifício, seu heroísmo. Segundo, por sua capacidade de ligar-se, aproximar-se e, até certo ponto, se quiserem, de fundir-se com as mais amplas massas trabalhadoras, antes de tudo com as massas proletárias, mas também com as massas trabalhadoras não proletárias. Finalmente, pela justeza da linha política seguida por essa vanguarda, pela justeza de sua estratégia, e de sua tática políticas, com a condição de que as mais amplas massas se convençam disso por experiência própria. Sem essas condições é impossível haver disciplina num partido revolucionário realmente capaz de ser o partido da classe avançada, fadada a derrubar a burguesia e a transformar toda a sociedade. Sem essas condições, os propósitos de implantar uma disciplina convertem-se, inevitavelmente, em ficção, em frases sem significado, em gestos grotescos. Mas, por outro lado, essas condições não podem surgir de repente. Vão se formando somente através de um trabalho prolongado, de uma dura experiência; sua formação é facilitada por uma acertada teoria revolucionária que, por sua vez, não é um dogma e só se forma de modo definitivo em estreita ligação com a experiência prática de um movimento verdadeiramente de massas e verdadeiramente revolucionário.
Se o bolchevismo pode elaborar e levar à prática com êxito, nos anos de 1917/1920, em condições de inaudita gravidade, a mais rigorosa centralização e uma disciplina férrea, deve-se simplesmente a uma série de particularidades históricas da Rússia.
De um lado, o bolchevismo surgiu em 1903 fundamentado na mais sólida base da teoria do marxismo. E a justeza dessa teoria revolucionária - e de nenhuma outra - foi demonstrada tanto pela experiência internacional de todo o século XIX como, em particular, pela experiência dos desvios, vacilações, erros e desilusões do pensamento revolucionário na Rússia. No decurso de quase meio século, aproximadamente de 1840 a 1890, o pensamento de vanguarda na Rússia, sob o jugo do terrível despotismo do czarismo selvagem e reacionário, procurava avidamente uma teoria revolucionária justa, acompanhando com zelo e atenção admiráveis cada "última palavra" da Europa e da América nesse terreno. A Rússia tornou sua a única teoria revolucionária justa, o marxismo, em meio século de torturas e sacrifícios extraordinários, de heroísmo revolucionário nunca visto, de incrível energia e abnegada pesquisa, de estudo, de experimentação na prática, de desilusões, de comprovação, de comparação com a experiência da Europa. Graças à emigração provocada pelo czarismo, a Rússia revolucionária da segunda metade do século XIX contava, mais que qualquer outro país, com enorme riqueza de relações internacionais e excelente conhecimento de todas as formas e teorias do movimento revolucionário mundial.
Por outro lado, o bolchevismo, surgido sobre essa granítica base teórica, teve uma história prática de quinze anos (1903/1917) sem paralelo no mundo, em virtude de sua riqueza de experiências. Nenhum país, no decurso desses quinze anos, passou, nem ao menos aproximadamente, por uma experiência revolucionária tão rica, uma rapidez e um variedade semelhantes na sucessão das diversas formas do movimento, legal e ilegal, pacífico e tumultuoso, clandestino e declarado, de propaganda nos círculos e entre as massas, parlamentar e terrorista. Em nenhum país esteve concentrada, em tão curto espaço de tempo, semelhante variedade de formas, de matizes, de métodos de luta, de todas as clames da sociedade contemporânea, luta que, além disso, em conseqüência do atraso do país e da opressão do jugo czarista, amadurecia com singular rapidez e assimilava com particular: sofreguidão e eficiência a "última palavra" da experiência política americana e europeia.

6 comentários:

Cidadão do Mundo disse...

ahahahahah,...meu querido CRN,..acho que estás a malhar em ferro frio,..mas enfim, se achas que faz efeito, tudo bem.

É evidente que sem uma disciplina organizativa não se vai a lado algum, nem aqui nem na China. O socialismo a caminho do comunismo é uma ciência filosófica, devidamente testada e confirmada cientificamente, misturar alhos com bugalhos não nos levará a nada....e lirismos de que o povo é que tem que ter o poder nas mãos.....bem, tu já deves conhecer estas lorotas, mas se vocês estão dispostos a perder tempo, tudo bem, não virá mal ao mundo....mas eu meu caro francamente não tenho mais paciência nem tempo a perder com betinhos líricos que acham que a revolução se faz sem uma direcção de uma organização que represente os trabalhadores e que lhes dê voz....enfim olha para mim isso é tudo uma patetice inconsequente,...e acredita que me custa ver pessoas como tu, o Sensei, a Ana e o Zé Mnangão aturarem estes patetas e líricos desses anarcas !!! Abraço!

Ana Camarra disse...

CRN

O que descreves foi a face da tentativa da aplicação de um modelo socialista numa parte do mundo, no seu contexto historico e cultural.
Mas o que é verdade é que de facto a teoria Marxista/Leninista continua valida e actual.
Quanto ao esquerdismo, aqui em Portugal assume critérios de gozo: propostas imflamadas, discursos controversos,propostas e acções concretas é que pouquinho, quase nada.
Já lhes chamaram a esquerda de caviar...
A letra que deixo aqui não é novidade para ti, está aqui no teu blog, sabestambém que nem gosto muito do Jorge Palma, defeito de o conhecer pessoalente, mas não deixo de apreciar alguns trabalhos.
Esta assenta que nem uma luva, não achas?

Eu só quero ver o instante
em que chegas à manif
no teu Armani flamejante
qual vermelha passadeira
em vermelho redundante
que empalidece a bandeira

Vou ficar a ver-te mudo
gritando slogans na rua
pela divisão da riqueza
enquanto nos gabinetes de veludo
o poder treme e recua
com medo da tua beleza

Então dou-te uma toilette
soneto de alta costura
a mais chique maravilha
para me sentir perdoado
por não poder estar a teu lado
quando tomares a Bastilha.

um beijo

Mário Pinto disse...

Cidadão do mundo,
A revolução é hoje e o esclarecimento é fundamental!
Eu, só, acredito no Comunismo e como tal considero-me à vontade para o defender em qualquer âmbito e de qualquer argumento.

Cumprimentos.

Mário Pinto disse...

Ana,
Bela letra mas desta vez vou deixar-te uma outra que também pode servir para algum filme do camarada Jorge:

"Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...

Chegou hoje no correio a notícia
É preciso avisar por esses povos
Que turbulências e ventos se aproximam
Ahhh, cuidado...

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...

Foi chão que deu uvas, alguém disse
Umas porém colhe-se o trigo, faz-se o pão
E se ouvimos os contos de um tinto velho
Ahhh, bebemos a saudade...

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...

E vem o dia em que dobramos os nossos cabos
Da roca a S. Vicente em boa esperança
E de poder vaguear com as ondas
Ahhh, saudades do futuro...

Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade..."

A revolução é hoje!

Cumprimentos.

Anónimo disse...

CNR
A maioria dos que se intitulam de revolucionários tem dificuldade em perceber o que é a disciplina, os próprios (EX)do nosso Partido sentiram essa dificuldade, dai o facto de terem preferido os atalhos, em vez da grande Avenida Revolucionária.
Qualquer passo que não seja bem consolidado, é meio caminho andado par o retrocesso, ao não abdicar da disciplina a que se impôs, o PCP tem conseguido sussesso nas suas politicas, e a forma mais eficaz de combater as politicas neo-liberais impostas pelo grande capital.
Não fora o PCP, com a sua dinãmica disciplinada, eo neo-liberalismo passeava-se como em "campo vindimado".
A grande dificuldade da esquerda conciste na incapacidade de aceitar a disciplina Revolucionária, que é diferente das outras disciplinas porque é Revolucionária.
Abraço

Anónimo disse...

Poesia,
Nem mais, plenamente de acordo!

A revolução é hoje!

Cumprimentos.