O revisionismo saiu ainda pior em relação à teoria das crises e a teoria do colapso. Somente durante um tempo muito curto, e unicamente os muito míopes, podiam pensar em modificar os fundamentos da doutrina de
Marx em função de alguns anos de auge e prosperidade industrial. Logo, a realidade se encarregou de demonstrar ao revisionistas que as crises não haviam fenecido: após a prosperidade sucediam-se as crises. Modificaram-se, as formas, o encadeamento, o quadro das diversas crises, entretanto estas continuavam sendo parte integrante, inevitável, do regime capitalista. Os cartéis e os trustes, unificando a produção, reforçaram ao mesmo tempo, à vista de todos, a anarquia da produção, a insegurança econômica do proletariado e a opressão do capital, aprofundando deste modo, em um grau nunca visto, as contradições de classe. Que o capitalismo marcha para o colapso – tanto no sentido das crises políticas e econômicas isoladas, como no sentido da completa demolição de todo o regime capitalista – demonstram, de modo bem palpável e em proporções particularmente extensas, os modernos e gigantescos trustes. A recente crise financeira na América do Norte, o espantoso desemprego em toda a Europa, sem falar da próxima crise industrial, cujos sintomas não são poucos, tudo isto fez com que as recentes "teorias" dos revisionistas tenham sido esquecidas por todos, inclusive, ao que parece, por muitos dos próprios revisionistas. O que não se pode esquecer são os ensinamentos que esta instabilidade dos intelectuais deu à classe trabalhadora.Em relação à teoria do valor, só é necessário dizer que, excluindo alusões e sussurros muito vagos, ao modo de
Böhm-Bawerk, os revisionistas não acrescentaram absolutamente nada nem deixaram, portanto, nenhuma contribuição ao desenvolvimento do pensamento científico.No campo da política, o revisionismo tentou rever o que constitui realmente a base do marxismo, ou seja, a teoria da luta de classes. A liberdade política, a democracia, o sufrágio universal destroem a base da luta de classes – nos diziam os revisionistas – e negavam a velha tese do Manifesto Comunista de que os trabalhadores não têm pátria. Na medida em que na democracia impera a "vontade da maioria", não devemos ver no Estado, segundo eles, o organismo da dominação de classe, nem negarmo-nos a fazer alianças com a burguesia progressista, social-reformista, contra os reacionários.É indiscutível que estas objeções dos revisionistas se reduziam a um sistema bastante harmônico de concepções, a saber: as bem conhecidas concepções liberais burguesas. Os liberais sempre disseram que o parlamentarismo burguês suprime as classes e as diferenças de classe, já que todos os cidadãos, sem exceção, têm direito ao voto e a intervir nos assuntos do Estado. Toda a história da Europa durante a segunda metade do século XIX, e toda a história da revolução russa, no início do século XX, demonstram, cabalmente, quão absurdos são tais conceitos. Com as liberdades do capitalismo "democrático", as diferenças econômicas, longe de se atenuarem, se acentuam e se aprofundam. O parlamentarismo não elimina, ao contrário, deixa evidente que, na essência, as repúblicas burguesas democráticas são órgãos de opressão de classe. Ajudando a informar e a educar e a organizar massas da população incomparavelmente mais extensas que as que antes participavam de modo ativo dos acontecimentos políticos, o parlamentarismo prepara, desta forma, não a eliminação das crises e das revoluções políticas, mas a intensificação da guerra civil durante estas revoluções. Os acontecimentos de Paris, na primavera de 1871, e os da Rússia, no inverno de 1905, demonstraram, com excepcional claridade, quão inevitavelmente ocorre esta intensificação. A burguesia francesa, para esmagar o movimento proletário, não vacilou nem um segundo em aliar-se ao inimigo de toda a nação, as tropas estrangeiras que haviam arruinado sua pátria. Quem não compreenda a inevitável dialética interna do parlamentarismo e da democracia burguesa, que leva a solucionar o conflito pela violência massiva de modo mais intenso que em tempos anteriores, jamais saberá desenvolver, no âmbito deste parlamentarismo, uma propaganda e uma agitação conseqüentes do ponto de vista dos princípios, que preparem verdadeiramente as massas operárias para a participação vitoriosa em tais "disputas". A experiência das alianças, dos acordos, e dos blocos com o liberalismo social reformista no Ocidente e com o
reformismo liberal (democratas constitucionalistas
(5)) na revolução russa, mostra, de maneira convincente, que estes acordos não fazem mais que entorpecer a consciência das massas, não reforçando, mas debilitando a significação real de sua luta, unindo os lutadores com os elementos menos capazes de lutar, com os elementos mais vacilantes e traidores. O
millerandismo francês
(6) – a maior experiência de aplicação da tática política revisionista em ampla escala, realmente nacional – nos deu uma avaliação prática do revisionismo, que o proletariado do mundo jamais esquecerá.O complemento natural das tendências econômicas e políticas do revisionismo era sua atitude frente à meta final do movimento socialista. "O objetivo final não é nada; o movimento é tudo"; esta frase proverbial de
Bernstein expressa a essência do revisionismo melhor que muitas extensas dissertações. Determinar o comportamento de um caso para outro, adaptar-se aos acontecimentos do dia, às mudanças dos detalhes políticos, esquecer os interesses fundamentais do proletariado e os traços fundamentais de todo regime capitalista, de toda a evolução do capitalismo, sacrificar estes interesses fundamentais no altar das vantagens reais ou supostas do momento: essa é a política revisionista. Da essência desta política se deduz, com toda a evidência, que a mesma pode adotar formas infinitamente diversas e que cada problema um pouco "novo", cada mudança um pouco inesperada e imprevista dos acontecimentos – mesmo que esta mudança só altere a linha fundamental do desenvolvimento em proporções mínimas e por curto prazo –, provocará sempre, inevitavelmente, esta ou outra variedade de revisionismo.O caráter inevitável do revisionismo está condicionado por suas raízes de classe na sociedade atual. O revisionismo é um fenômeno internacional. Para nenhum socialista com um pouco de esclarecimento e de reflexão pode existir a menor dúvida que a relação entre os ortodoxos bernsteinianos na Alemanha, entre os
guesdistas e os
jauressistas (atualmente, em particular os broussistas) na França
(7), entre a Federação Social Democrata e o Partido Trabalhista Independente na Inglaterra
(8), entre De
Brouckère e
Vandervelde na Bélgica
(9), os
integralistas e os reformistas na Itália
(10), os bolchevistas e os mencheviques na Rússia, é, em todas as partes, substancialmente, uma e a mesma relação, em que pese a gigantesca diversidade das condições nacionais e dos fatores históricos na situação atual em todos estes países. A "divisão" no seio do socialismo internacional contemporâneo já se desenvolve, agora, nos diversos países do mundo, essencialmente, em uma mesma linha, o que demonstra o formidável passo adiante que foi dado em comparação com o que ocorria há 30 ou 40 anos, quando nos diversos países lutavam tendências heterogêneas dentro do socialismo internacional. E esse "revisionismo de esquerda" que hoje se perfila nos países latinos com o nome de "sindicalismo revolucionário"
(11), se adapta, também, ao marxismo "emendando-o":
Labriola na Itália,
Lagardelle na França apelam a cada passo do
Marx mal compreendido ao
Marx bem compreendido.Não podemos nos deter a examinar aqui o conteúdo ideológico deste revisionismo, que se distancia muito, em termos de desenvolvimento, do revisionismo oportunista, e que não está internacionalizado, que não enfrentou nenhuma batalha prática importante com o partido socialista de nenhum país. Por isso, nos limitaremos a esse "revisionismo de direita", que descrevemos acima.Em que se estriba seu caráter inevitável na sociedade capitalista? Por que é mais profundo que as diferenças decorrentes das particularidades nacionais e do grau de desenvolvimento do capitalismo? Porque em todo país capitalista existem sempre ao lado do proletariado, extensas camadas da pequena burguesia, de pequenos proprietários. O capitalismo originou-se e segue originando-se, constantemente, da pequena produção. O capitalismo cria de novo, infalivelmente, toda série de "camadas médias" (apêndice das fábricas, trabalho a domicilio, pequenas oficinas disseminadas por todo o país, em virtude das exigências da grande indústria, por exemplo, da indústria de bicicletas, de automóveis, etc.). Estes novos pequenos produtores se vêm atirados também, de modo não menos inevitável, às filas do proletariado. É perfeitamente natural que a mentalidade pequeno-burguesa irrompa de novo, uma ou outra vez, no seio dos grandes partidos operários. É perfeitamente natural que deva suceder deste modo, e assim sucederá sempre, até chegar aos imprevistos da revolução proletária, pois seria um profundo erro pensar que é necessário que a maioria da população se proletarize "por completo" para que essa revolução se realize. O que vivemos com freqüência, hoje em dia, no plano puramente ideológico, são as disputas em torno das emendas teóricas feitas a
Marx; o que hoje apenas se manifesta na prática a propósito de certos problemas parciais, isolados, do movimento operário, como divergências táticas com os revisionistas e os rompimentos sobre este terreno, sem falta, a classe operária terá que viver, em proporções incomparavelmente maiores, quando a revolução proletária acirrar todos os problemas em litígio e concentrar todas as divergências nos pontos de importância mais imediata para determinar a conduta das massas, obrigando a separar, no calor do combate, os inimigos dos amigos, expulsar os maus aliados, para aplicar os golpes decisivos sobre o inimigo.A luta ideológica do marxismo revolucionário contra o revisionismo, iniciada no fim do século XIX, nada mais é que o prelúdio dos grandes combates revolucionários do proletariado, que, apesar de todas as vacilações e debilidades dos filisteus, avança até o triunfo completo da sua causa.VI. Ilín.
3 comentários:
CRN
A falência do modelo Capitalista é cada vez mais gritante.
O homem que deveria ter neste ponto uma vida mais livre graças á tecnologia, com mais tempo para outras coisas, vê a sua condição humana regredir uma vez mais para uma condição de escravatura.
Os~que caracterizas aqui agem, deliberadamente ou por lirismo, cmo agentes do Capitalismo na mesma, atrasando o processo revolucionário.
Mas só o atrasam, não o evitam, porque estou certa é inevitavél.
Beijos
Ana,
Estou de acordo com a tua conclusão.
Por outra parte, suponho que veremos por toda a Europa manifestações similares àquelas que estão a acontecer na Grécia, mas, como sempre, esse tipo de radicalismo é questionável, veremos como se desenvolverá este fenómeno.
A revolução é hoje!
Caro CRN:
Descobri o seu blog e gostei da sua postura.
Citando um antigo pensador:
- Não é necessário que cada lutador, individualmente, tenha conhecimento completo de todas as idéias e do processo mental dos líderes do movimento. Muito mais necessário é que se lhe esclareçam certos pontos de vista de conjunto e as linhas essenciais capazes de provocar um entusiasmo permanente, de maneira que cada um se compenetre da necessidade da vitória do movimento em que está empenhado. É o mesmo que acontece com o soldado na tropa, o qual nunca está ao par dos altos planos estratégicos. Quanto mais é ele educado em uma disciplina rígida, quanto maior é o seu "fanatismo" a respeito do direito e da força da sua causa, tanto mais se entrega de corpo e alma à mesma. Assim acontece com o adepto de um movimento de grandes proporções, de grande futuro e que exige grande força de vontade.
Vá em frente amigo,vá!
Manuel Figueira
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