terça-feira, julho 20, 2010

Não acredito na igreja

Fazendo justiça ao fundamento deste espaço, um blog:


Fiquei com a impressão de que a necessidade de poder, de muitos, não passa da exteriorização do medo. Enquanto se conquistam espaços; se impõem directrizes, condiciona-se o comportamento dos semelhantes pelo medo da falta de capacidade para compartir.
O altruísmo, atitude de vanguarda ainda hoje - não acredito que ainda o seja na génese da espécie - é condição que, só por si, permite situar-nos num patamar de evolução exclusivo; é mostra do arrojo necessário para progredir. Porém, o medo, reflexo que compartimos com todas as espécies, ultrapassa em nós a simples e contagiante dimensão de reacção empática, tomando mesmo contornos de patologia, exógena, mas, por vezes (cada vez mais), também filogénica.

A igreja continua a ser o inibidor principal da conduta natural do Homem, além de que, acicata simultaneamente o preconceito, resultando assim (nesse particular), como base para a vulgarização ou propagação alienada, alienadora e aleatória de tal condicionante. Aprofundando a análise sobre esta ferramenta da manipulação, num país no qual cada vez mais se coarcta o acesso à diversidade, se contrai a liberdade, se coíbe a emancipação do indivíduo, reduzindo o espectro de opções e injectando o pensamento único uniformador discriminatório tanto quanto fascista, apostando por continuar a divagar, e sem querer com isso realizar-me por sempre aqui, mas também, agora, e, fundamentalmente, sem medo, legitimando-me o empirismo: Há uns tempos, mais por obrigação que por devoção, visitei o centro/norte de Portugal, abismado, verifiquei que os retrocessos, que denuncia por exemplo no âmbito político o PCP, vão mesmo muito além das portagens que o governo pretende impor nas scuts (essas que os empresários afirmam haver pago e que agora nos devem servir de justificação para que permitamos um verdadeiro roubo com armas (chips) oferecidas por nós); transborda, a mera impressão de abandono dos reformados, com antigos hospitais transformados em caixas de arquitectura "moderna" extemporâneamente fugaz como recintos de preparação para não estranhar o caixote mesmo depois de mortos; aposta-se num concentracionismo aberrante nas 4 ou 5 urbes litorais com capacidade de apelo ao consumo ou, permite-se a construção en zona REN e RAN, de piscifactorias geradoras de resíduos altamente nocívos para a legitimação da categorização dessas áreas – isto no caminho-.

Já no cercado, deparei-me com uma inusitada dependência da igreja por parte da maioria do povo com o qual tive a oportunidade de me encontrar, a mim, chegando mesmo, no Sábado, num concurso de ranchos folclóricos, escutar como uma alusão a uma figura eclesiástica qualquer constituia motivo para uma das ovações mais fervorosas da tarde (tal é o desespero). Quis atribuir à padroeira dos pescadores da zona a razão de tal euforia! Porém, no Domingo, de janela aberta, foi ver e escutar quem tinha o som da eucaristia mais alto, inúmeras janelas abertas, tipo hipnose recíproca, sem sentir em ninguém a liberdade para destoar, ouviam-se até preces terminais. Enfim, como deus manda... Não vão por aí dizer que é comunista!

Assim, somando sucinto epítome do percebido, à assumida condição de pertença a um povo dos mais estigmatizados da europa, dos mais fragilizados; de uma geração de espelho salazarento e cabelo indomável, à pegajosa humidade da marisma para a qual deixámos cair o estado; à forma como cada dia entregamos a vida para continuar a encher os mesmos porcos de sempre, continuando a somar, é possivel acreditar que a ferida aberta do tamanho do mundo que nos faz sofrer, encontrará, na necessidade do Homem de procurar a sua cura, a realização do sonho deste sono induzido.

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