quarta-feira, setembro 17, 2008

Dialéctica I


Dialética (do grego διαλεκτική) era, na Grécia Antiga, a arte do diálogo, da contraposição e contradição de idéias que leva a outras idéias.

"Aos poucos, passou a ser a arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discussão." "Aristóteles considerava Zênon de Eléa (aprox. 490-430 a.C.) o fundador da dialética. Outros consideraram Sócrates (469-399 A.C.)

No relativo à paternidade, penso que não e segundo a wiki não sou o único:

Heráclito de Éfeso (datas aproximadas: 540 a.C. - 470 a.C. em Éfeso, na Jônia) foi um filósofo pré-socrático, recebeu o cognome de "pai da dialética".
Problematiza a questão do devir (mudança). Recebeu a alcunha de "Obscuro", pois desprezava a plebe, recusou-se a participar da política (que era essencial aos gregos), e tinha também desprezo pelos poetas, filósofos e pela religião. Sua alcunha derivou-se principalmente devido ao livro (Sobre a Natureza) que escreveu com um estilo obscuro, próximo a sentenças oraculares.
Os filósofos milesianos (Tales, Anaximandro, etc) haviam percebido o dinamismo das mudanças que ocorrem na physis, como o nascimento, o crescimento e o perecimento, mas não chegaram a problematizar a questão. Heráclito, inserido dentro do contexto pré-socrático, parte do princípio de que tudo é movimento, e que nada pode permanecer estático. "Panta rhei", sua "máxima", significa "tudo flui", "tudo se move", exceto o próprio movimento. Ele exemplifica, dizendo que não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, porque, ao entrarmos pela segunda vez, não serão as mesmas águas que estarão lá, e a pessoa mesma já será diferente (de fato, a Biologia veio a descobrir muito mais tarde que nossas células estão em constante renovação, e isso é uma mudança).
Mas tal questão é apenas um pressuposto de uma doutrina que vai mais além. O devir, a mudança que acontece em todas as coisas é sempre uma alternância entre contrários: coisas quentes esfriam, coisas frias esquentam, coisas úmidas secam, coisas secas umedecem, etc. A realidade acontece, então, não em uma das alternativas, que são apenas parte da realidade, e sim da mudança ou, como ele chama, na guerra entre os opostos. Esta guerra é a realidade, aquilo que podemos dizer que é. Mas essa guerra da qual fala Heráclito não tem essa conotação de violência ou algo semelhante. Tal guerra é que permite a harmonia e mesmo a paz, já que assim é possível que os contrários possam existir: "A doença faz da saúde algo agradável e bom", ou seja, se não houvesse a doença, não haveria porque valorizar-se a saúde, por exemplo. Ele ainda considera que, nessa harmonia, os opostos coincidem da mesma forma que o princípio e o fim, em um círculo, ou a descida e a subida, em um caminho (pois o mesmo caminho é de descida e de subida); o quente é o mesmo que o frio, pois o frio é o quente quando muda (ou, dito de outra forma: o quente é o frio depois de mudar, e o frio, o quente depois de mudar, como se ambos, quente e frio, fossem "versões" diferentes da mesma coisa).
Inserido no contexto pré-socrático, Heráclito definiu, partindo de seus pressupostos (o "panta rhei" e a guerra entre os contrários) uma arché, um princípio de todas as coisas: o fogo. Para ele, "todas as coisas são uma troca do fogo, e o fogo, uma troca de todas as coisas, assim como o ouro é uma troca de todas as mercadorias e todas as mercadorias são uma troca do ouro", ou seja, todas as coisas transformam-se em fogo, e o fogo transforma-se em todas as coisas. De seus escritos restaram poucos fragmentos, (encontrados em obras posteriores), os quais geraram grande número de obras explicativas.
Dentro do pensamento de Heráclito, Deus não tinha a aparência de um homem nem de outro animal qualquer. Deus não era nem criador, nem onipotente. Heráclito limitava-se a identificá-lo com os opostos, os quais persistem apesar de suas mudanças e assim são capazes de compreender sua própria unidade.
“O Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome; mas se alterna como o fogo, quando se mistura a incensos, e se denomina segundo o gosto de cada um.”
Nesse argumento, podemos ver que Heráclito considerava as diversas divindades da mitologia grega, que eram adoradas pelos homens de seu tempo, como sendo apenas fogo misturado a diferentes tipos de incensos.
E a alma consiste apenas de mais uma rarefação do fogo e sofre as mesmas mudanças que todas as outras coisas também experimentam; e a morte traz a completa extinção da alma.

4 comentários:

Anónimo disse...

Camarada CRN....desculpa, mas hoje eu vou divagar um pouco contigo, se me deres licença !! para te dizer o seguinte: não acredito em revoluções com anarquistas, é filosóficamente impraticável, mesmo com muito boa vontade como no vosso caso. Deves saber do que estou a falar !!!
Quando cheguei de Angola, da guerra colonial, juntamente com outros camaradas aderentes do MFA, embrenhámo-nos na luta revolucionária em curso o famoso PREC e aí conheci vários anarquistas, sempre com um discurso para inglês ver, mas na prática tinham um ódio visceral aos comunistas, em período de convulsções sérias como no caso do 11 de Março (golpe do Spínola) atacavam ferozmente o PCP e tinham atitudes contra-revolucionárias, inclusive de ajuda aos fascistas nas barragens na estrada que eram feitas pelas forças progressistas.
Por isso meu caro e amigo CRN...históricamente ao contrário do que li algures, não existe de facto nenhuma afinidade política ou outra entre os comunistas e os anarquistas, a não ser em casos esporádicos e meramente pontuais !

Meter-me portanto em processos revolucionários ou pré-revolucionários com anarquistas está completamente fora de cogitações,...e digo-te com toda a honestidade, é inviável mesmo com toda a vossa boa vontade. Anarquistas ?? bolas...!!! fujo deles a sete pés, não dá !! grande abraço!

Mário Pinto disse...

Jorge,
Eu sim.
Penso que existe um parentesco entre anarquia e comunismo mas da mesma forma que existe uma relação entre este e a social-democracia ou o socialismo, defendendo essas derivações existem várias posturas, mais, menos ou nada identificáveis com o ideal comunista.
Com relação ao que me comentas - penso que será o "cheira-me a revolução" - é uma iniciativa que tomou forma na festa do avante, garantindo, pelo menos, a abertura dos participantes ao projecto comunista. Por outra parte, também dentro do partido, expulsos atempadamente, existiram trepas, gente que ali andava à procura de um protagonismo que não era capaz de ganhar sem a solidariedade daqueles que realmente querem mudar esta vergonha, exemplos similares àqueles que encontraste nas barragens e que provavelmente possa existir nalgum caso muito concreto nesta união revolucionária mas que, o tempo, se for esse o caso, denunciará.
Por outra parte, reitero-me comunista mas penso que - trazendo à conversa o motivo deste post, a dialéctica - o individuo muta com cada exalação e isso é sem dúvida o factor que permitirá a consolidação, ou não, deste desafio.

Cumprimentos.

Ana Camarra disse...

CRN

Ora vamos lá!

A Dialéctica, aplica-se a quase tudo, ás relações humanas, á politica, á economia, á história…
Os Gregos, foram os pais de quase tudo, tinham era dessas coisas:
Por exemplo Democracia
Demo – Povo
Cracia – Poder

O Poder do povo, sendo que o povo não incluía: mulher, escravos ou qualquer residente que não fosse natural da cidade estado de Atenas.
Aristóteles por exemplo não podia votar.
A maioria dos filósofos concentrava os seus esforços intelectuais para serem aplicados a uma pequena minoria de iluminados.

O berço da Democracia era altamente elitista!

As mudanças são brutais e constantes em tudo.

Até num conceito religioso o mal justifica a existência do bem, no Evangelho Segundo Jesus Cristo, Saramago explica isso de uma forma magistral.
O Demónio é gémeo de Deus e legitima-o.

Deus será um conceito abstracto de uma força criadora, no meu caso nem isso…

A alma não sei o que é, mas sei que também devemos de ser mais que átomos de carbono, só assim se explica a diferença entre seres como Mozart e Hitler…

Poeminha do Dia, a dialéctica em estado puro, escrito por Camões, cantado por José Mário Branco

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

Abreijo

Anónimo disse...

Ana,
Estamos no dialética I, isto irá até aos dias de hoje, mas é isto que se procura, discussão, esclarecimento. Quanto a Saramago, o Evangelho é o que é, democracia, deus e alma, lá chegaremos.

A revolução é hoje.

Cumprimentos.