O silêncio.
O texto que segue toma como base a imposição do silêncio durante a ditadura fascista que marcou quarenta e oito anos da vida de Portugal e dos Portugueses, no intuito de expor uma pseudo-tese que explique e denuncie a depressão que actualmente se verifica no âmbito social, e, como conclusão, encontrar hipotéticas formas para a alterar:
Vinte e poucos anos depois da transição efectiva de um sistema feudal a outro prenunciado democrático - um avanço civilizacional incontestável -, estabeleceu-se no nosso país um tipo de ditadura extraordinariamente repressiva, fundamentada no nacional-corporativismo alimentado, também, pela dimensão de potência colonizadora que Portugal detinha à época. Durante esse período, fundamentalmente personificado por salazar (o botas) e mais tarde por marcelo caetano, aparte de não existirem quaisquer garantias sociais que evitassem a renúncia do povo a exibir critério próprio, proibidas que estavam as reuniões populares, a lei determinava não haver lugar a opinião contrária àquela segundo a qual se regia a vida dos Portugueses e que conservava desígnios de uma oligarquia.
Tentando desde a neurociência enunciar alguns possíveis transtornos advindos desse regime, transtornos que podem hoje preconizar a atitude da população em geral, podemos atender a diferentes factos, sendo o primeiro deles a localização do sistema de processamento de linguagem no cérebro humano, córtex frontal, área de broca. Compartindo disposição estão situadas importantes funções de coordenação – que para o caso não apresentam relevância – e, motivação e conduta, tomando estas papel central nas conclusões que pretendo alcançar.
Assumindo que dialogar permite a afirmação da personalidade do indivíduo, que o mesmo evolua no contraste com outros pensamentos, e que, ao contrário, através do condicionamento instrumental; operante, se podem cominar alterações psicológicas como a depressão e assim a indefensão aprendida e que estas, durante um processo tão alargado no tempo quanto a mencionada ditadura e sem tratamento (antes pelo contrário), puderam influenciar ontogénicamente as características do aporte filogénico na reprodução, podemos identificar o motivo da apatia que se constata socialmente.
Porém, sem deixar de contemplar a transformação que a liberdade conquistada com o 25 de Abril proporcionou com relação à dimensão da exposição cognitiva, ao seu contributo no processo evolutivo, podemos assegurar que, segundo a teoria da selecção natural, as gerações que agora se reproduzem já não transmitirão geneticamente consequências desse tipo de fascismo e, ainda que não seja a metamorfose do mesmo o elemento de estudo, no artigo anterior dá-se conta da estratégia actual de dita política.
Assim, aceitamos então que a possibilidade de escolha ou afirmação do indivíduo é factor necessário para a felicidade. Contudo, o processo de consciencialização que permita tornar efectivo, real, o uso desse direito, continua a ser dificultado pela reacção, pelas forças políticas da direita, e será contra essas, sem dúvida, que a luta deve ser travada. Sustentando esta opinião, mesmo atendendo ao resultado de investigações que indica que, à semelhança do que propugna o Marxismo, o processamento de informação se vê melhorado quando o Homem elucubra fortalecido pelo colectivo (exemplo).
Constituindo exemplo suficiente a propaganda que aqui encontramos do quão bombardeada resulta a democracia nos dias que correm, revela-se assim inviável, mesmo que interiorizada positivamente, que a revolução de 1974 sirva como "priming" para evitar que a tentativa de estereotipar o Socialismo surta o efeito desejado por aqueles que, por exemplo, promovem o concentracionismo, elitizando o acesso a serviços como a justiça a educação ou a medicina, colocando-se assim como classe dominante.
Concluindo: ainda tendo sido sacrificada pelos mesmos que a louvaram, a vaca galega que debelou o ataque de uns lobos que habitavam a serra onde pastava, quando perdida com a sua cria durante 12 dias, depois de aprender a lutar para se defender deixou de obedecer ao pastor como o faziam as suas semelhantes domesticadas (motivo da sua morte). Utilizando como parábola, e salvando claramente as distancias, esta fábula que encontrei no livro "A viagem do elefante" de José Saramago, lembra que são muitos aqueles que hoje continuam a fazer o que de melhor aprenderam, lutar, e sim, claro que também para estes a ontogénia tem os seus efeitos, ainda que no seu caso, por não acicatar a depressão, comporte o potencial necessário para levar a cabo a ansiada mudança (transformação aferível de paradigma), que sobrevirá, mais cedo que tarde.
sábado, agosto 14, 2010
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