sexta-feira, setembro 19, 2008

Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo I

Devido à necessidade de esclarecer alguns aspectos relativos à minha aposta e defesa do Marxismo-Leninismo, fazendo um intervalo no tema "Dialéctica", considero importante referenciar uma obra de Lénine que facilita o estructurar de qualquer iniciativa revolucionária:

Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo
Vladimir Ilitch Lénine
1920
I - Em Que Sentido Podemos Falar do Significado Internacional da Revolução Russa.
Nos primeiros meses que se seguiram à conquista do Poder político pelo proletariado na Rússia (25 de Outubro [7 de Novembro] de 1917) poder-se-ia acreditar que, em virtude das enormes diferenças existentes entre a Rússia atrasada e os países adiantados da Europa Ocidental, a revolução proletária nesses países seria muito pouco parecida com a nossa. Actualmente já possuímos uma experiência internacional bastante considerável, experiência que demonstra, com absoluta clareza, que alguns dos aspectos fundamentais da nossa revolução não têm apenas significado local, particularmente nacional, russo, mas revestem-se, também, de significação internacional, E não me refiro à significação internacional no sentido amplo da palavra: não são apenas alguns, mas sim todos os aspectos fundamentais - e muitos secundários - da nossa revolução que têm significado internacional quanto à influência que exercem sobre todos os países. Refiro-me ao sentido mais estrito da palavra, isto é, entendendo por significado internacional a sua transcendência mundial ou a inevitabilidade histórica de que se repita em escala universal o que aconteceu no nosso país, significado que deve ser reconhecido em alguns dos aspectos fundamentais da nossa revolução.
Naturalmente, seria o maior dos erros exagerar o alcance dessa verdade, aplicando-a a outros aspectos da nossa revolução além de alguns dos fundamentais. Também seria errado não ter em conta que depois da vitória da revolução proletária, mesmo que seja em apenas um dos países adiantados, se produzirá, com toda certeza, uma radical transformação: a Rússia, logo depois disso, transformar-se-á não em país modelo, e sim, de novo, em pais atrasado (do ponto de vista "soviético" e socialista).
No momento histórico actual, porém, trata-se exatamente de que o exemplo russo ensina algo a todos os países, algo muito substancial, a respeito de seu futuro próximo e inevitável. Os operários evoluídos de todos os países já compreenderam isso há muito tempo e, mais que compreender, já perceberam, sentiram com seu instinto de classe revolucionária. Daí a "significação" internacional (no sentido estrito da palavra) do Poder Soviético e dos fundamentos da teoria e da tática bolcheviques. Esse fato não foi compreendido pelos chefes "revolucionários" da II Internacional, como Kautsky na Alemanha e Otto Bauer e Friedrich Adler na Áustria, que, por isso, se converteram em reacionários, em defensores do pior dos oportunismo e da social-traição. Assinalemos, de passagem, que o folheto anônimo A Revolução Mundial (Weltre-revolution), publicado em 1919 em Viena (Sozialistische Bücherei, Heft II; Ignaz Brand), apresenta com particular clareza todo o processo de desenvolvimento do pensamento e todo o conjunto de raciocínios, ou melhor, todo esse abismo de incompreensões, pedantismo, vilania e traição aos interesses da classe operária, tudo isso mascarado sob a "defesa" da idéia da "revolução mundial". Mas teremos de deixar para outra ocasião o exame mais pormenorizado desse folheto. Consignemos aqui apenas o seguinte: na época, já bem distante, em que Kautsky era um marxista e não um renegado, previa, ao abordar a questão como historiador, a possibilidade do surgimento de uma situação em que o revolucionarismo do proletariado russo se converteria em modelo para a Europa Ocidental. Isso foi em 1902, quando Kautsky publicou na Iskra revolucionária o artigo Os eslavos e a revolução, no qual dizia:
"Atualmente [ao contrário de 1848] pode-se acreditar que os eslavos não só se incorporaram às fileiras dos povos revolucionários, como, também, que o centro de gravidade das idéias e da obra revolucionárias se desloca, dia a dia, para os eslavos. O centro revolucionário está se transferindo do Ocidente para o Oriente. Na primeira metade do século XIX encontrava-se na França e, em alguns momentos, na Inglaterra. Em 1848, a Alemanha também se incorporou às fileiras das nações revolucionárias... O novo século inicia-se com acontecimentos que sugerem a idéia de que caminhamos para um novo deslocamento do centro revolucionário: concretamente, de sua transferência para a Rússia... É possível que a Rússia, que assimilou tanta iniciativa revolucionária do Ocidente, esteja hoje, ela própria, pronta para servir-lhe de fonte de energia revolucionária. O crescente movimento revolucionário russo será, talvez, o meio mais poderoso para eliminar esse espírito de filisteísmo flácido e de politicagem de praticismo mesquinho que começa a difundir-se em nossas fileiras e ressuscitará a chama viva do anseio de luta e a fidelidade apaixonada aos nossos grandes ideais. Há muito tempo que a Rússia deixou de ser para a Europa Ocidental um simples reduto da reação e do absolutismo. O que acontece atualmente é, talvez, exatamente o contrário. A Europa Ocidental torna-se o reduto da reação e do absolutismo russos... É possível que os revolucionários russos já tivessem derrubado o czar há muito tempo se não fossem obrigados a lutar, ao mesmo tempo, contra o aliado deste, o capital europeu. Esperamos que dessa vez consigam derrotar ambos os inimigos e que a nova "santa aliança" desmorone, mais rapidamente que suas predecessoras. Contudo, seja qual for o resultado da luta atual na Rússia, o sangue e o sofrimento dos mártires que essa luta cria, infelizmente em demasia, não serão inúteis e sim, pelo contrário, fecundarão os germes da revolução social em todo o mundo civilizado, fazendo-os crescer com maior esplendor e rapidez. Em 1848, os eslavos eram uma terrível geada que calcinava as flores da primavera popular. É bem possível que agora venham a representar o papel da tormenta que romperá o gelo da reação e trará consigo irresistivelmente, uma nova e feliz primavera para os povos". (Karl Kautsky, Os eslavos e a revolução, artigo publicado na Iskra, jornal revolucionário da social-democracia, russa, n.º 18, 10 de março de 1902)."
Como Karl Kautsky escrevia bem, há dezoito anos!

8 comentários:

Anónimo disse...

Apoiado ! Abraço!

Ana Camarra disse...

CRN

Interessante é ver a actualidade destes textos e como se encaixam na realidade hoje em dia, como uma luva!

Cada vez mais na ordem do dia.

beijos

Anónimo disse...

Volto para te dar os parabens pelo extraordinário texto que publicaste noutro blog,....mas vais ver que mesmo assim, não vão lá....! Abraço!

Anónimo disse...

Penso que o esquerdismo do tempo de Lenin, era impaciente , (verde, o esquerdismo actual é paciente e (maduro), talvez porque,tem outras formas de se alimentar, como todos os (parasitas)a sua tendência, em adaptar-se ás circunstâncias, evoluiu ao ponto de se fazerem representar,nos organismos do poder, funcionando assim com os bobos do grande capital.
Pronto... lá vem chumbo, já náo se pode ter opinião?
Abraço

Anónimo disse...

Mugabe,
Lénine, eu só difundo!

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Ana,
Foi também uma referência tua que apoiou a minha convicção da necessidade desta exposição.

A revolução é hoje!

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Mugabe,
Penso que de alguma forma já lá estamos mas a resposta, no post anterior, explica o meu ponto de vista.

A revolução é hoje!

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Poesianopopular,
A questão passa justamente por aí, TODOS devêmos expressar a nossa opinião, o nosso ponto de vista, mais que uma opção deve representar uma obrigação, de outra forma podiamos parecer indiferentes. Esta patologia apresenta uma sintomatologia que se percebe na actual situação do país.

A revolução é hoje!

Cumprimentos.