sexta-feira, julho 24, 2009

Comendo na marisma

"Vosotros, que surgiréis del marasmo en el que nosotros nos hemos hundido, cuando habléis de vuestras debilidades, pensad también en los tiempos sombríos de los que os habéis escapado. Cambiábamos de país como de zapatos a través de las guerras de clases, y nos desesperábamos donde sólo había injusticia y nadie se alzaba contra ella. Y sin embargo, sabíamos que también el odio contra la bajeza desfigura la cara. También la ira contra la injusticia pone ronca la voz. Desgraciadamente, nosotros, que queríamos preparar el camino para la amabilidad no pudimos ser amables. Pero vosotros, cuando lleguen los tiempos en que el hombre sea amigo del hombre, pensad en nosotros con indulgencia."

Se não tivesse de Brecht lido nada mais que isto, poderia considerá-lo, como Lenine a Kautsky, "um revolucionário a crédito"!
Não querendo com isto suscitar qualquer tipo de confrontação, penso que legalmente se fica aquém do necessário, os organismos que deviam intervir, as associações, alguns partidos, colectivos, mantêm uma postura que considero amedrontada demais, parecendo mais interessados em não agitar a estructura de suporte que criar uma nova.

Ficam umas questões pertinentes, sem que por tal se lhe olhem os dentes (encontradas num artigo do "Xatoo" e, seguramente, publicadas por razões diferentes):

“…tenho umas perguntas a sugerir à nossa prestimosa comunicação social, que anda sempre com falta de assuntos e é muito distraída, sobretudo nesta altura em que o Sr Presidente da Républica resolveu ter assomos de ética pública :
1ª - A quem é que Cavaco e a filha compraram, em 2001, 254 mil acções da SLN, grupo detentor do BPN? o PR disse há tempos, em comunicado, que nunca tinha comprado nada ao BPN, mas «esqueceu-se» de mencionar a SLN, ou seja, o grupo que detinha o Banco. Como as acções da SLN não eram transaccionadas na bolsa, a quem é que Cavaco as comprou? À própria SLN? A algum accionista? Qual accionista? (Sobre este ponto, ver adiante.)

2 ª- Outra pergunta que não me sai da cachimónia: Como é que foi fixado o preço de 1 euro por acção? Atiraram moeda ao ar? Consultaram a bruxa? Recorreram a alguma firma especializada? Curiosamente, a transacção foi feita quando o BPN já cheirava a esturro, quando o Banco de Portugal já «andava em cima do BPN», ao ponto de Dias Loureiro (amigo dilecto de Cavaco e presidente do Congresso do PSD), ter ido, aliás desaconselhado por Oliveira e Costa, reclamar junto de António Marta, como este próprio afirmou e Oliveira e Costa confirmou.

3ª - Outra pergunta: Cavaco pagou? E se pagou, fê-lo por transferência bancária, por cheque ou em cash? É importante saber se há rasto disso. Passaram dois anos. Em carta de 2003 à SLN, Cavaco alegadamente «ordenou» a venda das suas acções, no que foi imitado pela filha. Da venda resultaram 72 mil contos de mais valias para ambos. Presumo que essas mais valias foram atempadamente declaradas ao fisco e que os respectivos impostos foram pagos. Tomo isso como certo, nem seria de esperar outra coisa. Uma coisa me faz aqui comichão nas meninges. Cavaco não podia «ordenar» a venda das acções (como disse atrás, não transaccionáveis na bolsa), mas apenas dizer que lhe apetecia vendê-las, se calhasse aparecer algum comprador para elas. A liquidez dessas «poupanças» de Cavaco era, com efeito, praticamente nula. Mas não é que apareceu prontamente um comprador, milagrosamente, disposto a pagar 1 euro e 40 cêntimos de mais valia por cada acção detida pela família Cavaco, quando as acções nem cotação tinham no mercado. E quem foi o benemérito comprador, quem foi? Com muito gosto esclareço, foi uma empresa chamada SLN Valor, o maior accionista da SLN.
Cita-se o Expresso online:
«Cavaco Silva e a filha deram ordem de venda das suas acções, em cartas separadas endereçadas ao então presidente da administração da SLN, José Oliveira Costa. Este determinou que as 255.018 acções detidas por ambos fossem vendidas à SLN Valor, a maior accionista da SLN, na qual participam os maiores accionistas individuais desta empresa, entre os quais o próprio Oliveira Costa.» Ou seja, Oliveira e Costa praticamente ofereceu de mão beijada 72 mil contos de mais-valias à família Cavaco. E se foi Oliveira e Costa também a fixar o preço inicial de compra por Cavaco, então a coisa é perfeitamente clara. Que terá acontecido entre 2001 e 2003 para as acções de uma empresa que andava a ser importunada pelo Banco de Portugal terem «valorizado» 40 %?

Falta, neste ponto, esclarecer várias coisas, a primeira das quais já vem de trás:
1. a quem comprou Cavaco e a filha as acções?
2. terá sido à própria SLN Valor, que depois as recomprou?
3. porque decidiu Cavaco vendê-las? Não tendo elas cotação no mercado, Cavaco não podia a priori esperar realizar mais-valias.
4. terá tido algum palpite, vindo do interior do universo SLN, só amigos e correligionários, para que vendesse, antes que a coisa fosse por água abaixo?
5. terá sido cheiro a esturro no nariz de Cavaco? Isso é que era bom saber!
6. porque quis a SLN Valor (re)comprar aquelas acções? Tinha poucas?
7. como fixou a SLN valor o preço de compra, com uma taxa de lucro bruto para o vendedor de 40% em dois anos, a lembrar as taxas praticadas pela banqueira do povo D. Branca?
Por hoje não tenho mais sugestões de perguntas à comunicação social."

4 comentários:

Ana Camarra disse...

Faz perguntas dessas faz, ainda és indiciado de algum crime...

Zorze disse...

CRN,

Este é um dos tais casos bicudos do nosso Estado.
A comunicação social está manietada, veja-se os seus maiores sponsors; banca, indústria automóvel, farmacêutica e por aí adiante.
Para haver uma imprensa livre teria que se mexer na legislação sobre compra e venda de participações sociais nos grupos de media, bem como uma profunda regulação das regras de publicidade.
Senão é o mesmo que eu no meu trabalho cuspisse na cara dos meus clientes. Perderia o meu pão.

Felizmente "ainda" existem os blogues, onde se vai exprimindo a verdadeira informação. Infelizmente, por outro lado, este tipo de informação não chega ao "grande público" que nunca verá um jornalista questionar a personagem referida no teu post, muito menos as respostas.
Que são de uma pertinência tremenda.

Na parte da Justiça, associação corporativista e de regras internas de promoções de carreira complexas, molda a forma como os juízes tratam os processos mais quentes, principalmente, os interesses económicos, financeiros e políticos que tocam.
Já nem é preciso pagar! O medo é de uma eficácia brutal.

Às vezes, assistimos que um pequeno grão pode baralhar a máquina e fazer soar todos os alarmes do "establishment", como ocorreu com um juíz fora do sistema, que pessoalmente foi ao parlamento dar ordem de prisão a um deputado devido a um alegado caso de pedofilia.
Obviamente, o "establishment" se encarregou de o colocar fora do sistema de vez, marginalizando e ridicularizando-o perante a sua comunidade profissional. Funcionou como aviso aos outros.

Abraço,
Zorze

CRN disse...

Ana,

Não seria a primeira vez que os Portugueses se veriam obrigados a permanecer além fronteiras, ainda que por indiciado, mesmo condenado, não me furtasse visitar o meu País.

Abraço

CRN disse...

Zorze,

Uma resposta muito esclarecida.
Por outra parte, não só o medo que tu comentas se torna na razão fundamental, sugiro-te - também para a tua área de interesse - que te debruces sobre "a teoria de cordas", a qual, ainda que sem concluir, pode explicar como até os mais radicais se furtam de denunciar tal aberração.
Assim mesmo, e ainda com base nessa teoria, também poderia afirmar que sim, que o público em geral, o povo do qual também fazemos parte, acede à informação que se publica na blogosfera. Processados (prova da importancia deste meio), por exemplo, são vários, muitos do nosso entorno.

Abraço