Aproxima-se mais uma década, dos milhares que a terra já cumpriu, uma década que, como as demais, para alguns, tornará mais pesada a influência do passado que a preocupação pelo futuro, que, para esses mesmos, impedirá aprender por consequência da dedicação na compreensão dos motivos ou dos fenómenos que os colocaram na situação deprimida e/ou carenciada na que se encontram por insistirem em realizar uma atribuição causal exógena. Para outros, até a alegria promovida pela confraternização que nesta data acontece será despojo comestível.
Porém, não é com este tipo de perspectiva quasi-maniqueista que encaro esta nova etapa. Quem sabe porque não tenho um passado tão rico quanto aquele futuro que reside comigo no sonho de uma nova sociedade, colaborando no trabalhar dessa esperança capaz de transformar a realidade, prefiro olhar o novo ano, a nova década, como quem olha para uma criança, encarando a sua formação uma responsabilidade inerente à condição humana, como quem sabe que, mesmo dedicando toda uma vida a determinado projecto, só uma ínfima parte desse esforço será aproveitada, mas, sem perder a noção do que é realmente importante, do pliotropismo comum a todos os seres vivos.
Assim, melhorar as condições de vida que terei que enfrentar, eliminar as dificuldades que aqueles aos quais ainda ninguém foi capaz de sorver o amanhã depararão como herança, ao contrário do que dizem os "magos", só serão desejos concretizáveis enquanto modifiquem determinadas conductas, as nossas, deixando estes, só assim, de pertencer ao passado, a esse passado, que mais tarde se nos poderá apresentar dificil de explicar.
Libertar a vontade de melhorar o próximo ano, aceitemos ou não, passa só por nós.
Façamos um bom ano novo!
quarta-feira, dezembro 29, 2010
O Vosso tanque General, é um carro forte
Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista
O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.
O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista
O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.
O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar
Bertold Brecht
quinta-feira, dezembro 23, 2010
PCP e os cações
Em voltas pela blogosfera, passei pelo xatoo, o qual, mesmo sem compartir a minha orientação política, publicou isto:
"A ideia de um Salário Mínimo Europeu, (actualmente em Portugal menos de 500 euros (o mais baixo da EU a 15), acima de 1000 euros na Europa desenvolvida, Espanha e Grécia 728 e 628 respectivamente, 150 nos países de Leste, 844 nos Estados Unidos) foi relançada por alguns candidatos durante a campanha eleitoral para o PE em 2009, mas face às perspectivas de inviabilização pelo espectro politico dominante na Europa a eurodeputada pelo PCP Ilda Figueiredo começou por uma “proposta de rendimento mínimo europeu”. Sujeita a escrutínio, foi pela escassa margem de 1 voto que foi admitida a discussão. Votada finalmente em 2009 a proposta acabaria por ser aprovada como lei. Só que, como o grupo neoliberal no PE não conseguiu escamotear a urgência da tomada deste medida social por meios legais, faz letra morta da aprovação e a lei está na prática relegada para as calendas da não aplicação como acção concreta. Seria isto que Fernando Nobre haveria de ter perguntado no debate televisivo: Porque é que esta Lei proposta pelo PCP no Parlamento Europeu não entra imediatamente em vigor?"
Pois é...
"A ideia de um Salário Mínimo Europeu, (actualmente em Portugal menos de 500 euros (o mais baixo da EU a 15), acima de 1000 euros na Europa desenvolvida, Espanha e Grécia 728 e 628 respectivamente, 150 nos países de Leste, 844 nos Estados Unidos) foi relançada por alguns candidatos durante a campanha eleitoral para o PE em 2009, mas face às perspectivas de inviabilização pelo espectro politico dominante na Europa a eurodeputada pelo PCP Ilda Figueiredo começou por uma “proposta de rendimento mínimo europeu”. Sujeita a escrutínio, foi pela escassa margem de 1 voto que foi admitida a discussão. Votada finalmente em 2009 a proposta acabaria por ser aprovada como lei. Só que, como o grupo neoliberal no PE não conseguiu escamotear a urgência da tomada deste medida social por meios legais, faz letra morta da aprovação e a lei está na prática relegada para as calendas da não aplicação como acção concreta. Seria isto que Fernando Nobre haveria de ter perguntado no debate televisivo: Porque é que esta Lei proposta pelo PCP no Parlamento Europeu não entra imediatamente em vigor?"
Pois é...
quarta-feira, dezembro 22, 2010
Portugueses
Além de, no debate com o meu candidato, o Francisco Lopes, verificar que o actual presidente pretende mandar a justa causa às urtigas, vi também que, aparte de não ter encontrado valor para responder à questão que, levantada por Francisco Lopes, a entrevistadora lhe colocou repetindo-se até à extenuação, este mandado dos “mercados”, com a possibilidade de constatar o resultado prático das políticas erradas que tem apadrinhado e que elevam hoje o numero de desempregados para um patamar sem exemplo na história dos trabalhadores do nosso país, constatei, também, como todos nós, que a intenção de cavaco é continuar a baixar as orelhas aos mercados que acabam de desbastar o caminho para a intervenção do FMI e do resgate ou compra do destino dos portugueses pelos países com maior aportação ao fundo europeu constituído tal efeito.
Num momento em que o governo não encontra mais solução que recorrer à ajuda chinesa para compensar temporalmente a “salvação” do BPN - aumentando com juros o balúrdio que todos pagaremos com o que se vai esquilando dos nossos direitos -, banco do qual, aliás, cavaco e filha obtiveram uns largos milhares de euros pela venda de algumas acções da SLN - sociedade que até comparte o mesmo edificio com dito banco e que como sabemos foi construido por Carlucci através da Carlyle - geridas por esse olímpo da fraude e que cavaco não recorda haver comprado (que em suma terão sido uma oferta de uma entidade da qual os “empregados” foram os maiores mecenas da última campanha do actual presidente); que a redução do défice do subsector do estado, em cem milhões, é equiparada ao aumento do défice, de cem milhões, na saúde, reveladora da clareza com que este governo tenta enganar o seu povo, sou obrigado a atribuir ao actual presidente grande parte da responsabilidade sobre a situação deprimente na qual nos encontramos.
Com claros indicadores de estagnação económica, como o recente resultado sobre a actividade, que aponta uma grave diminuição da mesma ou, atendendo ao défice de quinze mil milhões na nossa balança de exportações, torna-se fácil prever o futuro a curto prazo: mais desemprego, mais pobreza, mais injustiça social, “mais” fome.
Com um elenco de candidatos à presidência que só se distingue de uma célula eucariótica da vida política pela presença de uma alternativa patriótica e de esquerda materializada pelo Francisco Lopes, a eleição ou a escolha dos portugueses apresenta-se bastante mais simples que de formar-mos parte de um Portugal soberano no qual a necessidade de recuperarmos essa independência não fosse imperativa para o seu futuro e para o amanhã das novas gerações.
Num momento em que o governo não encontra mais solução que recorrer à ajuda chinesa para compensar temporalmente a “salvação” do BPN - aumentando com juros o balúrdio que todos pagaremos com o que se vai esquilando dos nossos direitos -, banco do qual, aliás, cavaco e filha obtiveram uns largos milhares de euros pela venda de algumas acções da SLN - sociedade que até comparte o mesmo edificio com dito banco e que como sabemos foi construido por Carlucci através da Carlyle - geridas por esse olímpo da fraude e que cavaco não recorda haver comprado (que em suma terão sido uma oferta de uma entidade da qual os “empregados” foram os maiores mecenas da última campanha do actual presidente); que a redução do défice do subsector do estado, em cem milhões, é equiparada ao aumento do défice, de cem milhões, na saúde, reveladora da clareza com que este governo tenta enganar o seu povo, sou obrigado a atribuir ao actual presidente grande parte da responsabilidade sobre a situação deprimente na qual nos encontramos.
Com claros indicadores de estagnação económica, como o recente resultado sobre a actividade, que aponta uma grave diminuição da mesma ou, atendendo ao défice de quinze mil milhões na nossa balança de exportações, torna-se fácil prever o futuro a curto prazo: mais desemprego, mais pobreza, mais injustiça social, “mais” fome.
Com um elenco de candidatos à presidência que só se distingue de uma célula eucariótica da vida política pela presença de uma alternativa patriótica e de esquerda materializada pelo Francisco Lopes, a eleição ou a escolha dos portugueses apresenta-se bastante mais simples que de formar-mos parte de um Portugal soberano no qual a necessidade de recuperarmos essa independência não fosse imperativa para o seu futuro e para o amanhã das novas gerações.
terça-feira, dezembro 21, 2010
Espanha
Depois de muito tempo dedicados a trabalhar junto dos emigrantes desde a aparente solidão promovida pela dispersão de portugueses caracteristica da emigração em Espanha, porque resisitir é já vencer, durante o passado fim de semana, com camaradas vindos de comunidades autónomas desde a Catalunha à Andaluzia, o núcleo de Espanha do PCP reuniu a direcção da organização em Madrid.
Conscientes da importancia do encontro, tendo em conta o futuro próximo e o momento actual, debatendo sobre os inúmeros aspectos que determinarão a capacidade destes e de muitos trabalhadores, de enfrentarem a intensificação do contínuo ataque às suas condições de vida por parte do estado espanhol e, fundamentalmente, pelo abandono ao qual se vêem relegados como consequência das políticas para a emigração preconizadas pela direita que governou o nosso país nos ultimos 35 anos (independentemente da companhía teatral), o ambiente de trabalho desta maratona de pensamento foi pautado sobretudo pela alegria da confraternização.
Depois de dois dias de trabalho intenso, estímulo e esclarecimento mútuo, foi com felicidade no rosto, com mais argumentos que na mente se levaram, que decidimos esperar o aniversário do nosso partido para nos voltarmos a reunir.
Até lá, além da preparação de dito aniversário, o trabalho relativo à campanha eleitoral, o reforço do partido, ou a promoção do associativismo, resultaram, entre outras, as tarefas a assumir por esses trabalhadores.
Pessoalmente, o reforço de muitos aspectos que conformam a minha convicção, sem dúvida, foi um dos resultados mais preponderantes deste encontro.
A luta continua!
Conscientes da importancia do encontro, tendo em conta o futuro próximo e o momento actual, debatendo sobre os inúmeros aspectos que determinarão a capacidade destes e de muitos trabalhadores, de enfrentarem a intensificação do contínuo ataque às suas condições de vida por parte do estado espanhol e, fundamentalmente, pelo abandono ao qual se vêem relegados como consequência das políticas para a emigração preconizadas pela direita que governou o nosso país nos ultimos 35 anos (independentemente da companhía teatral), o ambiente de trabalho desta maratona de pensamento foi pautado sobretudo pela alegria da confraternização.
Depois de dois dias de trabalho intenso, estímulo e esclarecimento mútuo, foi com felicidade no rosto, com mais argumentos que na mente se levaram, que decidimos esperar o aniversário do nosso partido para nos voltarmos a reunir.
Até lá, além da preparação de dito aniversário, o trabalho relativo à campanha eleitoral, o reforço do partido, ou a promoção do associativismo, resultaram, entre outras, as tarefas a assumir por esses trabalhadores.
Pessoalmente, o reforço de muitos aspectos que conformam a minha convicção, sem dúvida, foi um dos resultados mais preponderantes deste encontro.
A luta continua!
segunda-feira, dezembro 20, 2010
Sitiados
Esta cidade é a última cidade...
Os muros derruídos estão cercados:
Os canhões troam através dos mapas.
Nossa imagem, revelada pelas montras,
Passeia pelas ruas de mãos dadas...
Somos a última trincheira valiosa.
Unidos, trituramos os assaltos
E renovamos o cristal da esperança.
Os ruídos emolduram-te o sorriso,
Pura mensagem, prenhe de um futuro
Isolado de poeiras e de lágrimas.
Os muros derruídos estão cercados:
Os canhões troam através dos mapas.
Nossa imagem, revelada pelas montras,
Passeia pelas ruas de mãos dadas...
Somos a última trincheira valiosa.
Unidos, trituramos os assaltos
E renovamos o cristal da esperança.
Os ruídos emolduram-te o sorriso,
Pura mensagem, prenhe de um futuro
Isolado de poeiras e de lágrimas.
Egito Gonçalves
sexta-feira, dezembro 17, 2010
Praças não se conformam
Praças dos três ramos das Forças Armadas participaram anteontem, ao fim da tarde, numa concentração que teve lugar na Praça do Município, em Lisboa, sob o lema «Não à resignação, não ao conformismo».
A iniciativa da Associação de Praças enquadra-se na movimentação desta classe, em torno de um conjunto de problemas e reivindicações que as medidas de «austeridade» do Orçamento do Estado vêm agravar. Na moção ali aprovada - e que a direcção da AP deverá fazer chegar ao ministro da Defesa e às chefias militares - está previsto aguardar até 14 de Janeiro que o Governo receba a associação até 14 de Janeiro, seguindo-se um plenário, a 16 de Fevereiro, para decidir «futuras medidas reivindicativas».
No documento reafirma-se a exigência de aplicação de «várias dezenas de diplomas legais» e que sejam travadas a «reforma» da Saúde Militar (e a criação de um hospital único das Forças Armadas), o congelamento dos escalões, o impedimento da ascensão vertical na carreira e a alteração do acesso ao Curso de Formação de Sargentos, com a entrada em vigor, em Junho de 1990, do Estatuto dos Militares das Forças Armadas. Actualmente, afirma a AP, há militares que permanecem no mesmo posto durante mais de 25 anos.
«Não aceitaremos que, a pretexto da crise, para a qual não contribuímos, não se leve a cabo a resolução dos problemas» elencados pela AP - sublinha-se na moção.
Do "Avante!"
A iniciativa da Associação de Praças enquadra-se na movimentação desta classe, em torno de um conjunto de problemas e reivindicações que as medidas de «austeridade» do Orçamento do Estado vêm agravar. Na moção ali aprovada - e que a direcção da AP deverá fazer chegar ao ministro da Defesa e às chefias militares - está previsto aguardar até 14 de Janeiro que o Governo receba a associação até 14 de Janeiro, seguindo-se um plenário, a 16 de Fevereiro, para decidir «futuras medidas reivindicativas».
No documento reafirma-se a exigência de aplicação de «várias dezenas de diplomas legais» e que sejam travadas a «reforma» da Saúde Militar (e a criação de um hospital único das Forças Armadas), o congelamento dos escalões, o impedimento da ascensão vertical na carreira e a alteração do acesso ao Curso de Formação de Sargentos, com a entrada em vigor, em Junho de 1990, do Estatuto dos Militares das Forças Armadas. Actualmente, afirma a AP, há militares que permanecem no mesmo posto durante mais de 25 anos.
«Não aceitaremos que, a pretexto da crise, para a qual não contribuímos, não se leve a cabo a resolução dos problemas» elencados pela AP - sublinha-se na moção.
Do "Avante!"
Trela aos cães!
A UE aprovou um fundo de resgate permanente para começar a funcionar em Junho de 2013. A intenção desta iniciativa, segundo nos querem fazer aceitar, é fortalecer o euro, blindar o euro, mostrar a quem de direito que a europa é coesa e forte, mas, se realmente querem que acreditemos nas possibilidades deste modelo europeu, na sua recuperação, etc. Qual é o motivo para criar este fundo? Será abrir a porta à participação do privado?
Por outro lado, o aumento de capital do BCE, quase duplicando a sua dimensão, que quer ser interpretado como um sinal capaz de acicatar a confiança dos mercados, como se constitui; quem o subscreve; para que serve?
Assim, sabendo que o BCE, com o capital de todos os subscritores, se dedica a comprar a dívida pública dos estados mais deprimidos, ou seja, dos seus próprios subscritores; que as políticas económicas de cada país são, cada vez mais, decididas lá fora, e, que no fundo de resgate já se contemplam participações privadas, não será esta uma forma de entregar os estados ao capital transnacional, com a desculpa de que são os mercados (dinamizados por esses mesmo privados) que obrigam a tais medidas?
Finalmente, não será também um sinal negativo a alteração de um tratado, já de si imposto, que pôde, por isso mesmo, ser criado com toda a comodidade por parte dos governos que o aprovaram?
Um exemplo do resultado desta financeirização, que ainda, ainda, não justifica a emissão de bonos, podemos encontrar na reclassificação da dívida irlandesa, país que, depois de se hipotecar totalmente aos demais estados membros, sem uma mudança real do seu rumo político, por não saber, não poder ou não querer, havendo adoptado as medidas de austeridade que os países que efectivamente conservam o poder na Europa determinaram (retirando direitos à população, aumentando os impostos, etc., como se isso fosse criar emprego), perdeu, segundo os mercados, a capacidade de crescer económicamente ou continuar a endividar-se.
Entretanto, na tentativa de continuar a alimentar a insaciável voracidade deste errado modelo, depois da França, Espanha prepara-se para, dando já o passo seguinte ao aumento extraordinario da esperança de vida da população - situação que atravessa Portugal neste momento -, aumentar a idade de reforma para os sessenta e sete anos.
Em conclusão, que pode não ajustar-se à realidade mas que é aquela que me permito ter, a apropriação da mais-valía na produção por parte de uma oligarquia cada dia mais concentrada ou reduzida, hoje, deve ser indubitavelmente colocada em paralelo com o espólio da própria propriedade sobre a existência, incluindo a dos desempregados. Traduzir na prática o nosso mal-estar, o nosso inconformismo face ao actual paradigma, passa por assumir-mos a nossa vontade e, responsabilizar-mo-nos pelo resultado das nossas opções. Sendo que, uma forma pragmática de o fazer é identificar o nosso lugar em todo este universo e justificá-lo, contribuindo para a sua transformação. Para tal já conquistámos a possibilidade de votar.
Por outro lado, o aumento de capital do BCE, quase duplicando a sua dimensão, que quer ser interpretado como um sinal capaz de acicatar a confiança dos mercados, como se constitui; quem o subscreve; para que serve?
Assim, sabendo que o BCE, com o capital de todos os subscritores, se dedica a comprar a dívida pública dos estados mais deprimidos, ou seja, dos seus próprios subscritores; que as políticas económicas de cada país são, cada vez mais, decididas lá fora, e, que no fundo de resgate já se contemplam participações privadas, não será esta uma forma de entregar os estados ao capital transnacional, com a desculpa de que são os mercados (dinamizados por esses mesmo privados) que obrigam a tais medidas?
Finalmente, não será também um sinal negativo a alteração de um tratado, já de si imposto, que pôde, por isso mesmo, ser criado com toda a comodidade por parte dos governos que o aprovaram?
Um exemplo do resultado desta financeirização, que ainda, ainda, não justifica a emissão de bonos, podemos encontrar na reclassificação da dívida irlandesa, país que, depois de se hipotecar totalmente aos demais estados membros, sem uma mudança real do seu rumo político, por não saber, não poder ou não querer, havendo adoptado as medidas de austeridade que os países que efectivamente conservam o poder na Europa determinaram (retirando direitos à população, aumentando os impostos, etc., como se isso fosse criar emprego), perdeu, segundo os mercados, a capacidade de crescer económicamente ou continuar a endividar-se.
Entretanto, na tentativa de continuar a alimentar a insaciável voracidade deste errado modelo, depois da França, Espanha prepara-se para, dando já o passo seguinte ao aumento extraordinario da esperança de vida da população - situação que atravessa Portugal neste momento -, aumentar a idade de reforma para os sessenta e sete anos.
Em conclusão, que pode não ajustar-se à realidade mas que é aquela que me permito ter, a apropriação da mais-valía na produção por parte de uma oligarquia cada dia mais concentrada ou reduzida, hoje, deve ser indubitavelmente colocada em paralelo com o espólio da própria propriedade sobre a existência, incluindo a dos desempregados. Traduzir na prática o nosso mal-estar, o nosso inconformismo face ao actual paradigma, passa por assumir-mos a nossa vontade e, responsabilizar-mo-nos pelo resultado das nossas opções. Sendo que, uma forma pragmática de o fazer é identificar o nosso lugar em todo este universo e justificá-lo, contribuindo para a sua transformação. Para tal já conquistámos a possibilidade de votar.
quinta-feira, dezembro 16, 2010
Revisão
O embaratecimento dos despedimentos que o governo PS foi oferecer aos mandatários do núcleo do poder da UE, com esta manobra réplica daquela que já foi implementada em Espanha há algum tempo, obrigar os trabalhadores a pagar o seu próprio despedimento - por motivos como a inadaptação ou a negativa de se colocar do jeito que o patrão quiser -, sem dúvida que, de não aumentar substancialmente a carga fiscal dos mesmos, só pode ser compensada com recurso a partidas - já de si magras e em continua dieta - como por exemplo a sanidade e/ou a educação etc.
Numa tentativa de identificação, com base no mais puro pragmatismo, dos possiveis efeitos reais que esta revisão pode representar na capacidade de criação de postos de trabalho, o que encontro é uma massa de oitocentos mil desempregados, demitidos no actual marco de "garantías" laborais, um modelo que segundo o governo se revela caro para o empresário. Atendendo a dito facto, a questão que por inércia se apresenta é: Se com um despedimento "caro" já vamos em oitocentos mil, sem qualquer repercussão para o empresário qual será a cifra ou a dimensão do exército de mão de obra disponível para, por exemplo, compensar o emagrecimento da função pública?
Numa tentativa de identificação, com base no mais puro pragmatismo, dos possiveis efeitos reais que esta revisão pode representar na capacidade de criação de postos de trabalho, o que encontro é uma massa de oitocentos mil desempregados, demitidos no actual marco de "garantías" laborais, um modelo que segundo o governo se revela caro para o empresário. Atendendo a dito facto, a questão que por inércia se apresenta é: Se com um despedimento "caro" já vamos em oitocentos mil, sem qualquer repercussão para o empresário qual será a cifra ou a dimensão do exército de mão de obra disponível para, por exemplo, compensar o emagrecimento da função pública?
quarta-feira, dezembro 15, 2010
1º debate de Francisco Lopes
Ontem fartei-me de rir com o salvador da humanidade que agora se candidata a presidente da república, o sr. Nobre, o qual, apesar da sua manifesta deficiência psicolinguística (algo que como médico deve saber supor, em determinadas ocasiões, carências de carácter intelectual), lá foi alvitrando mais do mesmo, pão de supermercado para hoje – desse que só dura um dia – e, estacas que podem servir de delimitadores da propriedade privada para o futuro. Mas é normal, afinal nem sequer foi capaz de afirmar de esquerda a sua candidatura quando o Francisco o inquiriu sobre a questão, limitando-se a confirmar que, desde o BE ao PSD, a este, todos os modelos lhe interessam, sempre que consiga ser presidente.
Resultando mais um intruja da política portuguesa, aqui:
http://www.franciscolopes.pt/sites/default/files/20100827_Sol_09.pdf
poderemos verificar a veracidade das suas afirmações, as “inverdades” da sua intenção, que, não é outra que precipitar-se na gamela do sistema que critica, para dentro do qual atira o PCP como colaborador mas, o mesmo sistema protagonizado por aqueles que ele mesmo tem apoiado até como mandatário, ao contrário da reiterada contestação comunista da qual fica como exemplo qualquer intervenção na AR, no seu próprio programa de governação ou nas propostas pontuais que dessa bancada possam surgir.
Contudo, particularmente, o que mais me chama a atenção é, nessa mesma entrevista ao “SOL”, ofuscante pasquim do Champalimaud das grandes superfícies, este cómico da cena política portuguesa, amigo de Soares e admirador de Eanes, vir defender que, depois de 33 anos de trabalho, se qualquer português ficar sem emprego, para receber a miséria que durante uns meses o estado se obriga a retirar de uma quantidade muitíssimo superior depositada fielmente durante uma vida nos seus cofres e que deveria garantir a sobrevivência em momentos menos soalheiros da nossa vida, tenhamos que trabalhar suprindo as funções daqueles que o governo poderia despedir, dos quais assim poderia prescindir, e que, ocupam lugares em estruturas que formam parte dos serviços que o estado deve por obrigação manter ao serviço do povo. Mais uma forma de gerar desemprego e aumentar o exército de mão de obra escrava.
Basicamente, aparte de mentiroso, este caritativo investigador com cobaias humanas dependentes e vítimas do capitalismo que ele mesmo defende, apresenta também, ou indicia no seu discurso, um perfil similar a outros que nos vêm roubando desde há 35 anos.
No que ao Francisco Lopes respeita, conduzindo, lutando pelo e rentabilizando o seu tempo, facilitou, dessa forma, o trabalho àqueles que somos, muitos, seus mandatários.
Resultando mais um intruja da política portuguesa, aqui:
http://www.franciscolopes.pt/sites/default/files/20100827_Sol_09.pdf
poderemos verificar a veracidade das suas afirmações, as “inverdades” da sua intenção, que, não é outra que precipitar-se na gamela do sistema que critica, para dentro do qual atira o PCP como colaborador mas, o mesmo sistema protagonizado por aqueles que ele mesmo tem apoiado até como mandatário, ao contrário da reiterada contestação comunista da qual fica como exemplo qualquer intervenção na AR, no seu próprio programa de governação ou nas propostas pontuais que dessa bancada possam surgir.
Contudo, particularmente, o que mais me chama a atenção é, nessa mesma entrevista ao “SOL”, ofuscante pasquim do Champalimaud das grandes superfícies, este cómico da cena política portuguesa, amigo de Soares e admirador de Eanes, vir defender que, depois de 33 anos de trabalho, se qualquer português ficar sem emprego, para receber a miséria que durante uns meses o estado se obriga a retirar de uma quantidade muitíssimo superior depositada fielmente durante uma vida nos seus cofres e que deveria garantir a sobrevivência em momentos menos soalheiros da nossa vida, tenhamos que trabalhar suprindo as funções daqueles que o governo poderia despedir, dos quais assim poderia prescindir, e que, ocupam lugares em estruturas que formam parte dos serviços que o estado deve por obrigação manter ao serviço do povo. Mais uma forma de gerar desemprego e aumentar o exército de mão de obra escrava.
Basicamente, aparte de mentiroso, este caritativo investigador com cobaias humanas dependentes e vítimas do capitalismo que ele mesmo defende, apresenta também, ou indicia no seu discurso, um perfil similar a outros que nos vêm roubando desde há 35 anos.
No que ao Francisco Lopes respeita, conduzindo, lutando pelo e rentabilizando o seu tempo, facilitou, dessa forma, o trabalho àqueles que somos, muitos, seus mandatários.
Dizer Porquê e Para Quê
Dizer porquê e para quê do que descubro
que a vida ensina ou julgo que ela ensina?
Se o só descubro quando passou tempo,
e a gente já passou como eu também?
Se quem me leia não me entenderá?-
ou são mais velhos e já sabem,
ou mais antigos e têm outra língua
ou são mais jovens crendo que o saber
é a sua descoberta em que de passo em passo
descobrirão que a vida não ensina
senão o que mais tarde em nós descobriremos
de quanto nunca foi ou não escolhemos.
Di-lo-ei por mim e para mim? Porquê
Aos outros? Que comum tenho com eles
além de lhes dizer que não importa
dizer o que não dizem? se não há
maneira alguma de viver de novo
o que quiséramos que a vida fora?
E se outros não de nós mas de si mesmos
já descobriram de outro modo a mesma coisa,
ou hão-de descobri-la? De experiência
Falamos e falemos. E nenhuma
serve a ninguém. Que tê-la não atendo
Ou que não tê-la tendo-a é o que se diz dizendo.
que a vida ensina ou julgo que ela ensina?
Se o só descubro quando passou tempo,
e a gente já passou como eu também?
Se quem me leia não me entenderá?-
ou são mais velhos e já sabem,
ou mais antigos e têm outra língua
ou são mais jovens crendo que o saber
é a sua descoberta em que de passo em passo
descobrirão que a vida não ensina
senão o que mais tarde em nós descobriremos
de quanto nunca foi ou não escolhemos.
Di-lo-ei por mim e para mim? Porquê
Aos outros? Que comum tenho com eles
além de lhes dizer que não importa
dizer o que não dizem? se não há
maneira alguma de viver de novo
o que quiséramos que a vida fora?
E se outros não de nós mas de si mesmos
já descobriram de outro modo a mesma coisa,
ou hão-de descobri-la? De experiência
Falamos e falemos. E nenhuma
serve a ninguém. Que tê-la não atendo
Ou que não tê-la tendo-a é o que se diz dizendo.
Jorge de Sena
Queixa e imprecações dum condenado à morte
Por existir me cegam,
Me estrangulam,
Me julgam,
Me condenam,
Me esfacelam.
Por me sonhar em vez de ser me insultam,
Por não dormir me culpam
E me dão o silêncio por carrasco
E a solidão por cela.
Por lhes falar, proíbem-me as palavras,
Por lhes doer, censuram-me o desejo
E marcam-me o destino a vergastadas
Pois não ousam morder o meu corpo de beijos.
Passo a passo os encontro no caminho
Que os deuses e o sangue me traçaram.
E negando-me, bebem do meu vinho
E roubam um lugar na minha cama
E comem deste pão que as minhas mãos infames amassaram.
Com angústia e com lama.
Passo a passo os encontro no caminho.
Mas eu sigo sozinho!
Dono dos ventos que me arremessaram,
Senhor dos tempos que me destruíram,
Herói dos homens que me derrubaram,
Macho das coisas que me possuíram.
Andando entre eles invento as passadas
Que hão-de em triunfo conduzir-me à morte
E as horas que sei que me estão contadas,
Deslumbram-me e correm, sem que isso me importe.
Sou eu que me chamo nas vozes que oiço,
Sou eu quem se ri nos dentes que ranjo,
Sou eu quem me corto a mim mesmo o pescoço,
Sou eu que sou doido, sou eu que sou anjo.
Sou eu que passeio as correntes e as asas
Por sobre as cidades que vou destruindo,
Sou eu o incêndio que lhes devora as casas,
O ladrão que entra quando estão dormindo.
Sou eu quem de noite lhes perturba o sono,
Lhes frustra o amor, lhes aperta a garganta.
Sou eu que os enforco numa corda de sonho
Que apodrece e cai mal o sol se levanta.
Sou eu quem de dia lhes cicia o tédio,
O tédio que pensam, que bebem e comem,
O tédio de serem sem nenhum remédio
A perfeita imagem do que for um homem.
Sou eu que partindo aos poucos lhes deixo
Uma herança de pragas e animais nocivos.
Sou eu que morrendo lhes segredo o horror
de serem inúteis e ficarem vivos.
Me estrangulam,
Me julgam,
Me condenam,
Me esfacelam.
Por me sonhar em vez de ser me insultam,
Por não dormir me culpam
E me dão o silêncio por carrasco
E a solidão por cela.
Por lhes falar, proíbem-me as palavras,
Por lhes doer, censuram-me o desejo
E marcam-me o destino a vergastadas
Pois não ousam morder o meu corpo de beijos.
Passo a passo os encontro no caminho
Que os deuses e o sangue me traçaram.
E negando-me, bebem do meu vinho
E roubam um lugar na minha cama
E comem deste pão que as minhas mãos infames amassaram.
Com angústia e com lama.
Passo a passo os encontro no caminho.
Mas eu sigo sozinho!
Dono dos ventos que me arremessaram,
Senhor dos tempos que me destruíram,
Herói dos homens que me derrubaram,
Macho das coisas que me possuíram.
Andando entre eles invento as passadas
Que hão-de em triunfo conduzir-me à morte
E as horas que sei que me estão contadas,
Deslumbram-me e correm, sem que isso me importe.
Sou eu que me chamo nas vozes que oiço,
Sou eu quem se ri nos dentes que ranjo,
Sou eu quem me corto a mim mesmo o pescoço,
Sou eu que sou doido, sou eu que sou anjo.
Sou eu que passeio as correntes e as asas
Por sobre as cidades que vou destruindo,
Sou eu o incêndio que lhes devora as casas,
O ladrão que entra quando estão dormindo.
Sou eu quem de noite lhes perturba o sono,
Lhes frustra o amor, lhes aperta a garganta.
Sou eu que os enforco numa corda de sonho
Que apodrece e cai mal o sol se levanta.
Sou eu quem de dia lhes cicia o tédio,
O tédio que pensam, que bebem e comem,
O tédio de serem sem nenhum remédio
A perfeita imagem do que for um homem.
Sou eu que partindo aos poucos lhes deixo
Uma herança de pragas e animais nocivos.
Sou eu que morrendo lhes segredo o horror
de serem inúteis e ficarem vivos.
José Carlos Ary dos Santos
terça-feira, dezembro 14, 2010
Abril
Que o BCP peça licença aos seus amos para realizar operações com o Irão, da mesma forma que qualquer multinacional norte americana, é compreensível, até aceitável, afinal é mais um ente estrutural do capitalismo, uma entidade que traduz desta forma a realidade imperialista só se apresenta coerente, o que é reprovável é o próprio capitalismo. Por outra parte, que o nosso país se submeta aos desígnios colonialistas de outro qualquer estado, servindo de testa de ferro para levar a paulada dos ineptos que por decisão externa assumem a sua incapacidade para condenar criminosos, infanticidas, só porque dessa forma se legitimaria a adopção de métodos e meios criados e controlados pelo núcleo do neofascismo global, não só resulta humilhante como redutor, transmitindo uma impressão de impotência à população que só ajuda a desbravar o caminho a esta repressão persuasiva.
No que à manipulação concerne, poderíamos bastar-nos com o anterior exemplo, mas, considerando que muitos, e cada vez mais, de nós mantemos a bandeira do escepticismo ao vento de quase todas as opiniões, também o discurso do actual presidente português conserva uma mensagem tácita apologista do abandono da nossa vontade: Quando na imprensa se propagandeia a assistência do outro português de estimação dos speakers de Manhattan a uma peça como “Jesus Cristo superstar”, entendemos que a magia é mesmo algo sério, algo a ter em consideração. Se, ainda assim, o babado malabarista, vem mais tarde lamentar o estado calamitoso, famélico, abjecto, no qual se encontra o Estado, utilizando a preponderância da sua posição mas sem que desta aceite responsabilidades, alegrando-se que alguém se tenha lembrado de nos alimentar com lixo, o mais provável é que apareça, no horizonte daqueles aos quais a realidade amorfa a opinião, uma atribuição causal alheia a sua vontade, mágica. Não resultando fácil questionar o papel do presidente e a sua culpa pela actual situação por parte do povo - devemos considerar o medo de exclusão social que significa sacar a cabeça fora do meio-, mais difícil se torna quando é a nossa estrutura mental de decisão aquela que deve primeiramente ser ponderada, revista, transformada, mas, claro, também o comportamento é hereditário e, àparte de cinquenta anos de voz amordaçada, tão pouco anteriormente se desfrutou de grandes liberdades de expressão ou, de um paradigma no qual a responsabilização pelo resultado das decisões de cada um fosse um direito que derivasse numa cultura o suficientemente coesa para se posicionar emancipada no actual contexto global.
Não obstante, soluções existem, a questão é começar e, começar já começámos, em 74. Mais que Abril de novo, Abril. Foi em Abril quando conquistámos o direito de pensar e reclamar, transformar, decidir a nossa vida, o futuro. Como o fez o Francisco Lopes, tendo conseguido como resposta uma cobarde atitude de fuga sem resposta por parte daquele que nos deve contas, hoje necessitamos, exasperados, todos, usar Abril.
No que à manipulação concerne, poderíamos bastar-nos com o anterior exemplo, mas, considerando que muitos, e cada vez mais, de nós mantemos a bandeira do escepticismo ao vento de quase todas as opiniões, também o discurso do actual presidente português conserva uma mensagem tácita apologista do abandono da nossa vontade: Quando na imprensa se propagandeia a assistência do outro português de estimação dos speakers de Manhattan a uma peça como “Jesus Cristo superstar”, entendemos que a magia é mesmo algo sério, algo a ter em consideração. Se, ainda assim, o babado malabarista, vem mais tarde lamentar o estado calamitoso, famélico, abjecto, no qual se encontra o Estado, utilizando a preponderância da sua posição mas sem que desta aceite responsabilidades, alegrando-se que alguém se tenha lembrado de nos alimentar com lixo, o mais provável é que apareça, no horizonte daqueles aos quais a realidade amorfa a opinião, uma atribuição causal alheia a sua vontade, mágica. Não resultando fácil questionar o papel do presidente e a sua culpa pela actual situação por parte do povo - devemos considerar o medo de exclusão social que significa sacar a cabeça fora do meio-, mais difícil se torna quando é a nossa estrutura mental de decisão aquela que deve primeiramente ser ponderada, revista, transformada, mas, claro, também o comportamento é hereditário e, àparte de cinquenta anos de voz amordaçada, tão pouco anteriormente se desfrutou de grandes liberdades de expressão ou, de um paradigma no qual a responsabilização pelo resultado das decisões de cada um fosse um direito que derivasse numa cultura o suficientemente coesa para se posicionar emancipada no actual contexto global.
Não obstante, soluções existem, a questão é começar e, começar já começámos, em 74. Mais que Abril de novo, Abril. Foi em Abril quando conquistámos o direito de pensar e reclamar, transformar, decidir a nossa vida, o futuro. Como o fez o Francisco Lopes, tendo conseguido como resposta uma cobarde atitude de fuga sem resposta por parte daquele que nos deve contas, hoje necessitamos, exasperados, todos, usar Abril.
Va por nosotros!
Não era minha intenção tentar escrever algo que resultasse descritivo do Homem que canta nos dois vídeos acima, começando por não conhecer a fundo toda a sua discografia ou talvez só por reconhecer escasso o valor de um simples adjectivo, sobram as palavras. Porém, se alguém tentou defender a liberdade criativa no âmbito da musica tradicional espanhola, esse foi o Enrique Morente. Claramente comprometido com os valores da esquerda, arredado, ou vapuleado, dos círculos conservadores do "cante jondo", mais que um renovador, foi um revolucionário no seu meio, um meio ao qual tentou subtrair fronteiras imobilistas, obscurantistas, e transformá-lo num espelho do progresso cultural de um povo.
quarta-feira, dezembro 08, 2010
Coisas do feriado de um desempregado
Uma grande conquista de Abril, fundamental, senão a maior, foi obrigar o fascismo a manipular através da persuasão em lugar da coacção. Afirmar hoje que o fascismo já não existe implica negar a esta aberração a capacidade de mutar na práctica, ao mesmo tempo, entregar imerecida confiança a algo que aceitámos chamar democracia. Podendo resultar certamente radical esta afirmação: "A democracia não existe", contudo poderia fundamentá-la em Marx, sem relativismos da treta e colocando a existência do Estado como elemento nuclear da mesma. Porém, outros são os motivos que alicerçam esta opinião, aqui sim, da mesma forma que interpretamos o fascismo no momento histórico português podemos comparar o índice de satisfação da população cruzando âmbitos temporais e geográficos e extrapolando conclusões.
Na década de 70, nos estados unidos, segundo estudos psicológicos publicados, o povo era "mais feliz" que na década que finda, sem deixar de considerar a menor capacidade de consumo, e logo de opções, que experimentava nessa época de comparada com a actual. De outra forma (na minha), digamos que a população era menos infeliz.
O PREC, esse lapso de justiça que experimentou o povo português, que não viveu porque o não sentiu; ou que não fez seu devido a impossibilidade de transformar a cultura num tão curto espaço de tempo, trazia consigo a possibilidade de escolher, mas, no essencial, trazia a consciência; a capacidade de descartar como opção, focalizar; discernir, pensar cada passo e sabê-lo parte de um trajecto irrepetível, punha-nos o futuro pela frente sem distrações, o equilíbrio.
Hoje, em Portugal, nos estados unidos, a oferta é tão ampla quanto a necessidade criada e, a capacidade de eleição é tão nula quantas as opções existentes. Quero com isto dizer que (sem trazer para aqui a reforma continua do modo de producção), a eleição, que em determinado momento se julgou a mais adequada, instantes depois; segundos mais tarde, exerce como factor de frustração a somar e sumar, que transforma a vontade num sentimento de aversão a decidir mais importante que a necessidade do eu primordial de o fazer, tomando lugar a vontade do eu autobiográfico que não é nosso - que também, mas só porque respiramos -. O reflexo cultural deste tipo de repressão fica patente quando ponderamos, justificando o nosso lugar na massa, qualquer cenário a 5 anos vista; fica claro quando contemplamos o pão (pouco) para hoje e fome para amanhã que leva como consigna ideológica a política dos governos que nos afanam há 35 anos, mas, e as opções? Inúmeras! Quase todas com o mesmo cariz, menos uma, aquela que defende a mudança real, sem remendos, a do Francisco Lopes.
Quero que os passos de hoje vão no sentido do que escolhi para futuro, se ficar pelo caminho, ficará seguramente um risco, na areia.
Na década de 70, nos estados unidos, segundo estudos psicológicos publicados, o povo era "mais feliz" que na década que finda, sem deixar de considerar a menor capacidade de consumo, e logo de opções, que experimentava nessa época de comparada com a actual. De outra forma (na minha), digamos que a população era menos infeliz.
O PREC, esse lapso de justiça que experimentou o povo português, que não viveu porque o não sentiu; ou que não fez seu devido a impossibilidade de transformar a cultura num tão curto espaço de tempo, trazia consigo a possibilidade de escolher, mas, no essencial, trazia a consciência; a capacidade de descartar como opção, focalizar; discernir, pensar cada passo e sabê-lo parte de um trajecto irrepetível, punha-nos o futuro pela frente sem distrações, o equilíbrio.
Hoje, em Portugal, nos estados unidos, a oferta é tão ampla quanto a necessidade criada e, a capacidade de eleição é tão nula quantas as opções existentes. Quero com isto dizer que (sem trazer para aqui a reforma continua do modo de producção), a eleição, que em determinado momento se julgou a mais adequada, instantes depois; segundos mais tarde, exerce como factor de frustração a somar e sumar, que transforma a vontade num sentimento de aversão a decidir mais importante que a necessidade do eu primordial de o fazer, tomando lugar a vontade do eu autobiográfico que não é nosso - que também, mas só porque respiramos -. O reflexo cultural deste tipo de repressão fica patente quando ponderamos, justificando o nosso lugar na massa, qualquer cenário a 5 anos vista; fica claro quando contemplamos o pão (pouco) para hoje e fome para amanhã que leva como consigna ideológica a política dos governos que nos afanam há 35 anos, mas, e as opções? Inúmeras! Quase todas com o mesmo cariz, menos uma, aquela que defende a mudança real, sem remendos, a do Francisco Lopes.
Quero que os passos de hoje vão no sentido do que escolhi para futuro, se ficar pelo caminho, ficará seguramente um risco, na areia.
terça-feira, novembro 30, 2010
segunda-feira, novembro 29, 2010
sexta-feira, novembro 26, 2010
Vuelo
Sólo quien ama vuela. Pero, ¿quién ama tanto
que sea como el pájaro más leve y fugitivo?
Hundiendo va este odio reinante todo cuanto
quisiera remontarse directamente vivo.
Amar ... Pero, ¿quién ama? Volar ... Pero, ¿quién vuela?
Conquistaré el azul ávido de plumaje,
pero el amor, abajo siempre, se desconsuela
de no encontrar las alas que da cierto coraje.
Un ser ardiente, claro de deseos, alado,
quiso ascender, tener la libertad por nido.
Quiso olvidar que el hombre se aleja encadenado.
Donde faltaban plumas puso valor y olvido.
Iba tan alto a veces, que le resplandecía
sobre la piel el cielo, bajo la piel el ave.
Ser que te confundiste con una alondra un día,
te desplomaste otro como el granizo grave.
Ya sabes que las vidas de los demás son losas
con que tapiarte: cárceles con que tragar la tuya.
Pasa, vida, entre cuerpos, entre rejas hermosas.
A través de las rejas, libre la sangre afluya.
Triste instrumento alegre de vestir; apremiante
tubo de apetecer y respirar el fuego.
Espada devorada por el uso constante.
Cuerpo en cuyo horizonte cerrado me despliego.
No volarás. No puedes volar, cuerpo que vagas
por estas galerías donde el aire es mi nudo.
Por más que te debatas en ascender, naufragas.
No clamarás. El campo sigue desierto y mudo.
Los brazos no aletean. Son acaso una cola
que el corazón quisiera lanzar al firmamento.
La sangre se entristece de debatirse sola.
Los ojos vuelven tristes de mal conocimiento.
Cada ciudad, dormida, despierta loca, exhala
un silencio de cárcel, de sueño que arde y llueve
como un élitro ronco de no poder ser ala.
El hombre yace. El cielo se eleva. El aire mueve.
que sea como el pájaro más leve y fugitivo?
Hundiendo va este odio reinante todo cuanto
quisiera remontarse directamente vivo.
Amar ... Pero, ¿quién ama? Volar ... Pero, ¿quién vuela?
Conquistaré el azul ávido de plumaje,
pero el amor, abajo siempre, se desconsuela
de no encontrar las alas que da cierto coraje.
Un ser ardiente, claro de deseos, alado,
quiso ascender, tener la libertad por nido.
Quiso olvidar que el hombre se aleja encadenado.
Donde faltaban plumas puso valor y olvido.
Iba tan alto a veces, que le resplandecía
sobre la piel el cielo, bajo la piel el ave.
Ser que te confundiste con una alondra un día,
te desplomaste otro como el granizo grave.
Ya sabes que las vidas de los demás son losas
con que tapiarte: cárceles con que tragar la tuya.
Pasa, vida, entre cuerpos, entre rejas hermosas.
A través de las rejas, libre la sangre afluya.
Triste instrumento alegre de vestir; apremiante
tubo de apetecer y respirar el fuego.
Espada devorada por el uso constante.
Cuerpo en cuyo horizonte cerrado me despliego.
No volarás. No puedes volar, cuerpo que vagas
por estas galerías donde el aire es mi nudo.
Por más que te debatas en ascender, naufragas.
No clamarás. El campo sigue desierto y mudo.
Los brazos no aletean. Son acaso una cola
que el corazón quisiera lanzar al firmamento.
La sangre se entristece de debatirse sola.
Los ojos vuelven tristes de mal conocimiento.
Cada ciudad, dormida, despierta loca, exhala
un silencio de cárcel, de sueño que arde y llueve
como un élitro ronco de no poder ser ala.
El hombre yace. El cielo se eleva. El aire mueve.
Miguel Hernández
terça-feira, novembro 23, 2010
Memória carrasca
Quero escutar
gritar,
gritos que atravessem este mundo
sem palavras,
de passado
vazio,
carga
sem bagagem.
A morte devassa-me as entranhas
em cada pedaço de pão,
e vai,
na mentira de cada bom dia,
boa-noite.
Quero um novo código,
um idioma de sorrisos
onde mudo,
o silêncio, cansado,
não seja pausa.
Quero o passado
esse,
agora!
gritar,
gritos que atravessem este mundo
sem palavras,
de passado
vazio,
carga
sem bagagem.
A morte devassa-me as entranhas
em cada pedaço de pão,
e vai,
na mentira de cada bom dia,
boa-noite.
Quero um novo código,
um idioma de sorrisos
onde mudo,
o silêncio, cansado,
não seja pausa.
Quero o passado
esse,
agora!
Joaquim Gomes
Camaradas
Deixou-nos ontem, com 93 anos de idade, o camarada Joaquim Gomes, um dos mais destacado dirigentes comunistas da história do nosso Partido, e que dedicou toda a sua vida à luta da classe operária, dos trabalhadores e do povo português.
Uma vida inteira entregue à luta contra o fascismo, pela liberdade, contra a exploração capitalista, pela democracia, a paz, o socialismo e o comunismo.
À camarada Maria da Piedade Gomes, sua companheira de sempre entregamos aqui um abraço sentido e fraterno.
Joaquim Gomes foi um dos muitos homens a quem não deixaram que fosse menino. Com apenas 6 anos já era operário aprendiz na indústria vidreira das fábricas da Marinha Grande. Terra que o viu crescer e aderir primeiro com 14 anos à Federação da Juventude Comunista e depois, em Março de 1934, ao seu partido de sempre, ao Partido Comunista Português, passando a integrar no imediato o Comité Local da Marinha Grande.
Por parte dessa Europa , e em Portugal também, os anos 30 foram tempos sombrios de avanço do fascismo e do nazismo. Encabeçando as lutas dos aprendizes por reivindicações salariais, contra o trabalho violento e as arbitrariedades do patronato, que haveriam de ter expressão revolucionária na histórica insurreição revolucionária do 18 de Janeiro de 1934 contra a fascização dos sindicatos, Joaquim Gomes foi preso pela primeira vez com apenas 16 anos, em Novembro de 1933.
O regresso à liberdade, foi o regresso à luta fora da prisão. Assumiu um importante papel na reactivação da organização do Partido na Marinha Grande e na solidariedade aos presos do 18 de Janeiro, veio ainda a desempenhar tarefas ligadas à distribuição da imprensa partidária e às casas de apoio à Direcção do Partido e passa à clandestinidade em 1952 no Comité Local de Lisboa.
Em 1955 torna-se membro suplente do Comité Central e dois anos depois passa a membro efectivo. Em 1963 integra a Comissão Executiva do Comité Central e posteriormente a Comissão Política.
Por três vezes a PIDE deito-lhe a mão. Por duas vezes se invadiu da cadeia. Uma das suas fugas foi a célebre fuga de Peniche, ao lado de Álvaro Cunhal, Jaime Serra, Carlos Costa e de outros destacados militantes do Partido, um acto de grande coragem e heroísmo, um acontecimento de enorme significado na vida do nosso Partido com reflexos no desenvolvimento da luta do povo português contra o fascismo e pela liberdade.
Depois da revolução de Abril Joaquim Gomes foi deputado eleito pelo distrito de Leiria entre 1976 e 1987 e foi membro do Comité Central do PCP até ao XV Congresso em 1996, tendo mantido as suas responsabilidades como membro do Secretariado e da Comissão Política até ao XIV Congresso em 1992, altura em que foi eleito membro da Comissão Central de Controlo.
Quem privou e trabalhou com Joaquim Gomes sabe que era um homem modesto e discreto que, desempenhou com a mesma determinação e inabalável convicção revolucionária com que aderiu ao Partido responsabilidades no âmbito da Comissão Administrativa e Financeira e da Comissão de Património Central até ao fim dos seus dias. Ainda anteontem, estivemos juntos a dar-nos estímulos para prosseguir a luta.
Camaradas
Despedimo-nos hoje do camarada Joaquim Gomes. Um momento que mais do que um adeus será, como Joaquim Gomes gostaria que fosse, um reafirmar da nossa disposição colectiva para prosseguirmos o seu exemplo e marcarmos presença nas muitas lutas que ontem partilhámos e que é preciso prosseguir para que os ideais da liberdade, da democracia e do socialismo que animaram a sua acção revolucionária tenham concretização.
Evocar a vida de Joaquim Gomes é trazer para os dias presentes e futuros um percurso de vida exemplar, um trajecto de dedicação e coragem posta ao serviço da causa classe operária, dos trabalhadores e do povo português, uma marca imperecível que Joaquim Gomes partilha com uma geração heróica de militantes comunistas a quem o país deve a liberdade e Abril.
Um percurso de vida que se funde com a vida do Partido, parte integrante daquela gesta de lutadores revolucionários que fazendo parte da história do Partido são simultaneamente protagonistas do heróico percurso da luta da classe operária, dos trabalhadores e do povo contra a tirania fascista, pela liberdade e a dignidade humana.
Deixando a vida o camarada Joaquim, Gomes deixou-nos num tempo onde o combate é mais exigente, por vezes bem difícil, neste confronto com aqueles que inscrevem nos seus objectivos a subversão dos valores de Abril, a liquidação das conquistas económicas e sociais e o empurrar o país para o retrocesso restaurar as injustiças e aumentar a exploração dos trabalhadores! Mas aquilo que animou, formou e forjou o camarada Joaquim Gomes é aquilo que nos anima, forma e nos dá têmpera! Prosseguir a luta, manter o nosso projecto e ideal comunista, lutar, lutar sempre, com aquela convicção e determinação que emana do nosso grande colectivo partidário, renovando e rejuvenescendo as nossas fileiras, sem nunca esquecer quanta força dos dá o exemplo que Joaquim Gomes nos legou. Descansa, camarada, que assim faremos!
Viva o PCP!
(site PCP)
Deixou-nos ontem, com 93 anos de idade, o camarada Joaquim Gomes, um dos mais destacado dirigentes comunistas da história do nosso Partido, e que dedicou toda a sua vida à luta da classe operária, dos trabalhadores e do povo português.
Uma vida inteira entregue à luta contra o fascismo, pela liberdade, contra a exploração capitalista, pela democracia, a paz, o socialismo e o comunismo.
À camarada Maria da Piedade Gomes, sua companheira de sempre entregamos aqui um abraço sentido e fraterno.
Joaquim Gomes foi um dos muitos homens a quem não deixaram que fosse menino. Com apenas 6 anos já era operário aprendiz na indústria vidreira das fábricas da Marinha Grande. Terra que o viu crescer e aderir primeiro com 14 anos à Federação da Juventude Comunista e depois, em Março de 1934, ao seu partido de sempre, ao Partido Comunista Português, passando a integrar no imediato o Comité Local da Marinha Grande.
Por parte dessa Europa , e em Portugal também, os anos 30 foram tempos sombrios de avanço do fascismo e do nazismo. Encabeçando as lutas dos aprendizes por reivindicações salariais, contra o trabalho violento e as arbitrariedades do patronato, que haveriam de ter expressão revolucionária na histórica insurreição revolucionária do 18 de Janeiro de 1934 contra a fascização dos sindicatos, Joaquim Gomes foi preso pela primeira vez com apenas 16 anos, em Novembro de 1933.
O regresso à liberdade, foi o regresso à luta fora da prisão. Assumiu um importante papel na reactivação da organização do Partido na Marinha Grande e na solidariedade aos presos do 18 de Janeiro, veio ainda a desempenhar tarefas ligadas à distribuição da imprensa partidária e às casas de apoio à Direcção do Partido e passa à clandestinidade em 1952 no Comité Local de Lisboa.
Em 1955 torna-se membro suplente do Comité Central e dois anos depois passa a membro efectivo. Em 1963 integra a Comissão Executiva do Comité Central e posteriormente a Comissão Política.
Por três vezes a PIDE deito-lhe a mão. Por duas vezes se invadiu da cadeia. Uma das suas fugas foi a célebre fuga de Peniche, ao lado de Álvaro Cunhal, Jaime Serra, Carlos Costa e de outros destacados militantes do Partido, um acto de grande coragem e heroísmo, um acontecimento de enorme significado na vida do nosso Partido com reflexos no desenvolvimento da luta do povo português contra o fascismo e pela liberdade.
Depois da revolução de Abril Joaquim Gomes foi deputado eleito pelo distrito de Leiria entre 1976 e 1987 e foi membro do Comité Central do PCP até ao XV Congresso em 1996, tendo mantido as suas responsabilidades como membro do Secretariado e da Comissão Política até ao XIV Congresso em 1992, altura em que foi eleito membro da Comissão Central de Controlo.
Quem privou e trabalhou com Joaquim Gomes sabe que era um homem modesto e discreto que, desempenhou com a mesma determinação e inabalável convicção revolucionária com que aderiu ao Partido responsabilidades no âmbito da Comissão Administrativa e Financeira e da Comissão de Património Central até ao fim dos seus dias. Ainda anteontem, estivemos juntos a dar-nos estímulos para prosseguir a luta.
Camaradas
Despedimo-nos hoje do camarada Joaquim Gomes. Um momento que mais do que um adeus será, como Joaquim Gomes gostaria que fosse, um reafirmar da nossa disposição colectiva para prosseguirmos o seu exemplo e marcarmos presença nas muitas lutas que ontem partilhámos e que é preciso prosseguir para que os ideais da liberdade, da democracia e do socialismo que animaram a sua acção revolucionária tenham concretização.
Evocar a vida de Joaquim Gomes é trazer para os dias presentes e futuros um percurso de vida exemplar, um trajecto de dedicação e coragem posta ao serviço da causa classe operária, dos trabalhadores e do povo português, uma marca imperecível que Joaquim Gomes partilha com uma geração heróica de militantes comunistas a quem o país deve a liberdade e Abril.
Um percurso de vida que se funde com a vida do Partido, parte integrante daquela gesta de lutadores revolucionários que fazendo parte da história do Partido são simultaneamente protagonistas do heróico percurso da luta da classe operária, dos trabalhadores e do povo contra a tirania fascista, pela liberdade e a dignidade humana.
Deixando a vida o camarada Joaquim, Gomes deixou-nos num tempo onde o combate é mais exigente, por vezes bem difícil, neste confronto com aqueles que inscrevem nos seus objectivos a subversão dos valores de Abril, a liquidação das conquistas económicas e sociais e o empurrar o país para o retrocesso restaurar as injustiças e aumentar a exploração dos trabalhadores! Mas aquilo que animou, formou e forjou o camarada Joaquim Gomes é aquilo que nos anima, forma e nos dá têmpera! Prosseguir a luta, manter o nosso projecto e ideal comunista, lutar, lutar sempre, com aquela convicção e determinação que emana do nosso grande colectivo partidário, renovando e rejuvenescendo as nossas fileiras, sem nunca esquecer quanta força dos dá o exemplo que Joaquim Gomes nos legou. Descansa, camarada, que assim faremos!
Viva o PCP!
(site PCP)
sábado, novembro 20, 2010
quarta-feira, novembro 17, 2010
Cimeira OTAN
(Relaxa, as bombas estão aqui para ajudar-nos... vêm da otan!)
Sobre o Afeganistão, depois de muitos anos de guerra continuada, vitimada que vem sendo a população deste país, ainda ninguém assumiu que este povo não se conquista.Já no tempo de Alexandre Magno, não com uma estratégia na qual se oferecesse uma aparente segurança (contra quem?) às populações, a invasão e/ou conquista do território não passaram de balelas. O sinal mais claro de que este foi incapaz de transformar a cultura nessa região, antes pelo contrário, é o facto de ter lá entrado homosexual, enquanto nos países muçulmanos eram usuais e culturalmente aceites, comportamentos comuns a essa tendência, e saído casado, duplamente casado.
Apesar da anedota anterior (que não deve esgotar o seu conteúdo em qualquer espécie de consideração sobre as tendências sexuais de qualquer indivíduo), como prova, também, da impossibilidade de conquistar este povo, poderiamos olhar atrás e analizar o período soviético. Não obstante, hoje existem contingentes militares neocolonialistas de cerca de 40 países, debaixo da batuta norte-americana, ou, 40 destacamentos de povos subjugados ao imperialismo. Esse, o imperialismo, já veio anunciar, unilateralmente, como é de praxe, a sua intenção de retirar as tropas, facto que nos indica a incapacidade manifesta de conquista, apontando 2014 como data limíte para o efeito. Todavia, nesse mesmo anúncio, podemos observar que, o que se pretende é colocar no poder a facção mais dúctil de todas aquelas que conformam culturalmente esta terra e, dar corda aos sapatos da melhor maneira.
Aproveitando o momento, no qual Lisboa, a terra onde nasci, se metamorfoseia como sede do braço armado do terrorismo de estado norte-americano, penso que é adequado tentar sacar uma conclusão sobre a resistência dos afegãos aos inúmeros ataques aos quais durante séculos foram submetidos e para os quais sempre encontraram uma nova resposta:
A história,
escrevemo-la
o povo!
Os rolex, aparentam glória,
mas o tempo,
o tempo é do Homem
novo.
terça-feira, novembro 16, 2010
Poderia parecer ciência
A seguinte notícia:
"A crise económica pode ser uma oportunidade para promover a adopção de comportamentos mais ecológicos e éticos, que conduzam à melhoria da saúde mental dos portugueses, defendeu esta terça-feira a psicóloga Maria Júlia Valério.
«As situações adversas, como é o caso da crise, fazem-nos reflectir acerca dos valores e práticas que orientaram a sociedade nos últimos anos, nomeadamente o falhanço do economicismo e de uma sociedade materialista em que se é aquilo que se exibe», disse à Lusa a membro da Comissão Nacional para a Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental.
Maria Júlia Valério, coordenadora do Serviço de Psicologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, vai intervir sobre «O que faz o país pela saúde mental» na 14ª edição das Jornadas Cofanor, que se realiza sexta -eira na Fundação de Serralves, no Porto.
«É também uma oportunidade ecológica no sentido de deixarmos de consumir desenfreadamente. A escassez económica propícia práticas mais ecológicas como a reutilização e a rentabilização dos recursos existentes», salientou Júlia Valério, numa nota de antevisão da sua conferência.
Repercussões internas da crise vai estar em análise
A psicóloga falará sobre «as repercussões internas da crise financeira, nomeadamente aspectos como o desemprego, consumismo, solidão e dependência/passividade face ao estado-providência», e irá também apresentar casos práticos da resistência da mente humana às adversidades, através da criatividade e da optimização de recursos.
Sob o tema «Quem são os loucos?», Cláudia Milheiro, psicóloga clínica do Hospital Magalhães Lemos, no Porto, procurará comprovar nas jornadas que não existe uma definição clara sobre o que é a loucura.
As novas psicopatologias e as diversas interfaces com a psicanálise, a psicologia e as psicoterapias serão outros assuntos a abordar.
«Nesta linha, questionam-se técnicas e métodos, procurando os necessários ajustamentos às actuais formas de adoecer. Serão levantadas diferentes hipóteses e modelos de leitura de casos a partir da prática clínica, alicerçados no conhecimento científico», explicou Cláudia Milheiro.
«O que é a mente?», «Psicotrópicos: Usos, abusos e limites», «Conseguir a saúde mental» e «A imagem da loucura» serão outros temas a abordar nas Jornadas Cofanor, pelos especialistas Rui Mota Cardoso, Hélder Mota Filipe, Maria Raúl Lobo Xavier e António Roma Torres.
A palestra de encerramento estará a cargo do escritor e político Vasco Graça Moura, que, sob o título «O binómio de Newton e a Vénus de Milo», falará sobre as relações entre a poesia e a ciência, documentadas desde o século XVI na literatura portuguesa."
... Não fosse a intervenção de encerramento, podería parecer algo científico, mas, se com a mesma cruzar-mos esta outra:
"Esta foi uma das quatro medidas anunciadas por Ana Jorge como forma de promover uma prescrição mais racional de medicamentos da área da saúde mental.
No mês passado, o Ministério da Saúde revogou uma portaria que previa um acréscimo de comparticipação do Estado na compra de psicofármacos a doentes com patologias especiais, como a esquizofrenia.
Hoje, a ministra disse que caberá a cada instituição pública que segue os doentes mentais avaliar a quantidade necessária de medicamentos, que serão depois adquiridos através de compra centralizada pelo Estado, à semelhança do que sucede com as vacinas do Plano Nacional de Vacinação.
"Os medicamentos estarão disponíveis nos locais onde os doentes são acompanhados. Depende do local onde for a consulta que os doentes seguem", disse Ana Jorge, apesar de reconhecer que ainda não está definido quem pagará o quê.
Com a dispensa gratuita de medicamentos nas unidades de saúde, o Ministério espera que os gastos do Estado sejam menores do que aquilo que é actualmente pago em comparticipações.
"Esperamos que os gastos sejam inferiores por duas razões. Porque a compra é centralizada e porque juntamente com esta medida haverá outra: orientações feitas por equipas de peritos que definem que medicamentos têm de ser usados e em que situações", declarou a ministra aos jornalistas à margem de uma conferência sobre saúde mental.
O Ministério da Saúde quer ainda realizar um estudo sobre padrões de prescrição de medicamentos para doentes mentais em Portugal, bem como desenvolver um programa de formação de médicos de família sobre o uso racional de fármacos nas doenças psiquiátricas."
... Sem querer parecer tendencioso, poderiamos concluir:
O actual governo prepara a generalização do uso e prescrição de psicofármacos, como paliativo, em linha com a esperada depressão na qual entrará a maioria dos portugueses, devído à crise que se atravessa, e, em sintonía com o que o PSD vem anunciando, em palestras apoiadas por figuras de responsabilidade nos serviços de saúde mental estatais.
Assim mesmo, a saúde mental dos portugueses, mais que conservando episódicamente patologías relacionadas com este foro, com base em diversos estudos, é a mais debilitada de toda a UE, podendo mesmo atribuir a esta adversidade a passividade que se tranformou em culto para quase metade da população.
Mais grave, porém, é constatar que os "psicólogos" nacionais, na sua maioría, preterem a contrastação de indicadores que reflectem a difusão cultural psicótica enquanto como opção aparece a colocação, mesmo a recibos verdes.
O resultado de considerar Hipócrates uma anedota, mais que isso, a constatação de que a realidade também transforma alguns daqueles que a pretendem transformar (ou que deveriam ter como sumo objectivo essa transformação), deriva num agravamento acompanhado, mas raramente contestatário, do entorno no qual se inserem, resultando o mutismo um apoio tácito a medidas e estratégias que, mais que neoliberais, são de todo cariz fascistas.
Fica mais um exemplo:
"Centenas de escolas começaram o ano lectivo sem um psicólogo colocado, para apoiar os alunos. A estimativa é da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), que explica que estes profissionais são normalmente colocados através de um concurso especial autorizado pelo Ministério da Educação (ME), ao abrigo do combate ao insucesso e abandono escolar.
Mas o concurso está atrasado, uma situação "particularmente grave", depois de o ME ter anunciado, na terça-feira, as metas da Educação para 2015 em que se pretende reduzir o insucesso e o abandono, aponta Albino Almeida, presidente da Confap.
"A ministra fala do aumento do trabalho com as famílias, na redução do insucesso e abandono escolar, que são tarefas feitas pelos psicólogos e depois o concurso para a sua colocação está atrasado", critica o dirigente. De acordo com alguns psicólogos e com a Confap, o atraso na colocação destes profissionais deve-se à falta de verbas. "É mais uma consequência da contenção de custos", refere o representante dos pais.
As famílias têm denunciado esta falha à Confap. "Recebemos vários pedidos de pais de Braga para que pelo menos os psicólogos que tinham projectos no ano passado continuem este ano", confirma Albino Almeida.
Uma das psicólogas que ainda não sabe se ficará na escola onde deu apoio aos alunos nos últimos três anos é Inês Faria. A responsável pela comissão de educação do Sindicato Nacional dos Psicólogos era a única psicóloga no agrupamento onde estava a trabalhar.
A ausência de um especialista na escola, que tem alunos do jardim-de-infância até ao 12.º ano, faz com que Inês Faria continue a receber telefonemas a pedir a sua intervenção. "Mas não posso ajudar porque oficialmente não estou a trabalhar."
Até que a situação se resolva, os professores não podem referenciar novos casos ou pedir a continuidade do acompanhamento dos alunos, explica Inês Faria. "Até a psicóloga do centro de saúde já me ligou para acompanhar um caso, mas não posso porque não estou a trabalhar", acrescenta.
Maria (nome fictício) também trabalha em escolas há quatro anos. "Sempre concorri em Agosto e em Setembro já estava colocada na escola". "Esta já era uma situação precária: não temos carreira e não somos aumentados e agora o concurso não abriu e ninguém explicou porquê", aponta. Na escola onde estava a dar apoio na zona de Lisboa, Maria fazia "avaliação psicológica, programas de educação sexual e de prevenção de bullying". "Estava envolvida em muitos projectos e agora a escola já me estava a bater à porta", explica.
Alguns psicólogos da zona de Lisboa admitem enviar uma carta aos partidos políticos para discutir os atrasos na sua colocação e a precariedade da carreira. "Desde 1997 que não entram psicólogos para os quadros das escolas", diz Inês Faria. O sindicato não tem ainda nenhuma acção prevista."
Finalmente, ainda não sendo esta a função mais importante da classe, depois uma sucinta apresentação da situação deste colectivo num âmbito específico, que deveria, assumindo como sérias e fundamentais responsabilidades de outra índole, reclamar um papel preponderante na definição das políticas de qualquer governo, os psicólogos são assim inibídos da possibilidade de recolher a informação de como a sociedade impacta na mente do futuro, prescindindo de perspectiva, noutros casos de verticalidade, esgotam no canudo as suas obrigações.
Ode ao Surrealismo por Conta Alheia
Que levas ao colo, embrulhado em sarrafaçais transcritos mau olhado
abomináveis trutas e outros preconceitos?
Um sacerdote? Um gato? A timidez?
Que transportas silencioso, imóvel, como dormindo, no xaile
pespontado a verde com que limpas o suor, o sêmen, as fezes,
tudo o que abandonas, ofereces, vendes, expulsas, injetas,
convocas, reprovas, descreves, etc.?
Embalas e não respondes.
Temes a polícia, os tapetes, o capacho, o telefone, as campainhas
de porta, as pessoas paradas pelas esquinas reparando
em por de baixo das roupas das outras que passam?
Temes as palavras?
Temes que saiam versos, lágrimas, casamentos,
satisfações apressadas em campos de arrabalde?
Temes os partidos, os artigos de fundo, os banqueiros, os capelistas,
a inflação, as úlceras do estômago ou sociais?
Que transportas ao colo
em silêncio e num xaile?
É a vida? Anúncios luminosos? Casas económicas? O mar? Irmãos?
Reivindicações? Um livro?
Embalas e não respondes.
É a vida? A noite que cai? As luzes distantes? Um gesto? Um olhar?
Um quadro? Uma poesia lírica?
(Oportunamente interrompida pela chegada de uma pessoa conhecida)
abomináveis trutas e outros preconceitos?
Um sacerdote? Um gato? A timidez?
Que transportas silencioso, imóvel, como dormindo, no xaile
pespontado a verde com que limpas o suor, o sêmen, as fezes,
tudo o que abandonas, ofereces, vendes, expulsas, injetas,
convocas, reprovas, descreves, etc.?
Embalas e não respondes.
Temes a polícia, os tapetes, o capacho, o telefone, as campainhas
de porta, as pessoas paradas pelas esquinas reparando
em por de baixo das roupas das outras que passam?
Temes as palavras?
Temes que saiam versos, lágrimas, casamentos,
satisfações apressadas em campos de arrabalde?
Temes os partidos, os artigos de fundo, os banqueiros, os capelistas,
a inflação, as úlceras do estômago ou sociais?
Que transportas ao colo
em silêncio e num xaile?
É a vida? Anúncios luminosos? Casas económicas? O mar? Irmãos?
Reivindicações? Um livro?
Embalas e não respondes.
É a vida? A noite que cai? As luzes distantes? Um gesto? Um olhar?
Um quadro? Uma poesia lírica?
(Oportunamente interrompida pela chegada de uma pessoa conhecida)
Jorge de Sena
segunda-feira, novembro 15, 2010
The Wisdom of Property and the Politics of the Middle Classes
At the end of the twentieth century, while financial economists satisfied their intellectual pretensions to useful knowledge by conjuring up visions of a world peopled with materialistic consumer-investors optimizing rationally in accordance with their willingness to hazard their wealth, the propertied classes themselves were succumbing to new delusions fostered by the financial markets. The reasoned response of propertied individuals to their experience of the world of speculative finance has created a new political culture with important consequences for the political economy of capitalism.
The propertied classes of the past were a combination of landowners and rentiers, that is, owners of financial securities. The former were oppressed in most progressive countries by death duties and were made even more insecure by the declining real value of rents, that is, the value of rents in relation to the rising cost of maintaining the style and accommodation appropriate to a landowner. In their turn, rentiers were made insecure by the financial crises and inflation that punctuated the progress of finance from the latter half of the nineteenth century, culminating in the 1929 Crash.
From the 1970s, the growing prosperity of the middle classes in the “financially advanced” countries, such as the United States and Britain, was associated with a switch in their asset holdings, from modest holdings of residential property and direct ownership of stocks and shares, to residential property that was increasing in value, and indirect ownership of stocks and shares in the form of funded pension entitlements and insurance policies. In the early 1960s, the majority of stocks and shares in both countries were owned by wealthy private individuals. A decade later, the majority of stocks and shares were owned by pension funds and insurance companies. This does not mean that such funds were not active before the 1960s. They were, but had only a limited market because their use-value was just that they provided pensions and insurance. After the financial crises of the early 1970s, financial inflation gave such intermediary funds a new use-value: that of financial enrichment.
Pension funds and insurance policies are relatively illiquid, and the cash flow that they provide is restricted to circumstances provided for in the terms of the policies: pensions in retirement, or payments defined by the terms of an insurance policy. However, the long boom in the housing market, with its growing liquidity, allowed additional borrowing against capital gains in that market. Financial inflation and the conversion of capital gains into income change the way in which capitalism is experienced by those living in that system. That changed experience in turn alters the culture, preoccupations, and hierarchy within the propertied classes in the following ways:
1. Humanity as an appendage of asset markets. As a consequence of labor market deregulation, income from employment has become more volatile and uncertain in the United States and the United Kingdom. Those who own property come to be dependent upon capital gains from asset inflation to maintain standards of consumption (see 4., below) and secure a future in which employment income has become more precarious. The prospects for inflation in asset markets take over a dominant part in the rational economic expectations of individuals with property, just as the prospects of acquiring property with the potential for appreciation in value comes to be the focus of the economic ambitions of those without property. Professional or career advancement takes a secondary place to the search for capital gains. In this climate the bureaucracies of the welfare state are balkanized, so that public sector assets can be turned over in asset markets to realize capital gains and replace tax revenues in defraying the cost of public administration (see 4. and 6., below).
In the private sector itself, a new source of alienation emerges as production comes to be incidental to the much more lucrative business of balance-sheet restructuring. Vastly more capital can be turned over even more rapidly in the markets for property or financial assets, while the pedestrian business of production is limited by techniques of production and the relative difficulty with which such techniques may be modified. The value of any labor or effort becomes inconstant since, at any one time, it depends on an ephemeral conjuncture in the financial markets. A productive worker producing a value in excess of his or her wage, may still be negligible if the balance sheet on which he or she might appear as an asset may be sold for even more profit in the financial markets. The residual pride of the producer in the product or service in which her or his labor is embodied, a labor already fragmented by specialization and capitalistic machine production, now becomes even more a melancholic nostalgia for medieval craftsmanship than a realistic attitude to work or professional ambition. The common factor in our humanity at work or at home comes to be our preoccupation with asset values.
This new community emerges as politics, culture, and history, the other sources of our common humanity, come to be private consumption choices or leisure activities, like the preferred television channels that “private individuals” watch, or tracks that they download onto their MP3 players, or collective consumption choices, like sports events or concerts, or the imagined history that people choose when they seek to ennoble their lifestyle by attaching their consumption choices to a particular tradition. These sad attempts to find relief from alienated labor or to realize a common humanity are doomed to eventual frustration precisely because they are private choices in a society whose members’ only common preoccupations are debt and the opportunities for easing it with asset inflation. In this way, humanity is reduced to an appendage of asset markets; as under industrial capitalism, we were reduced to appendages of machines; as previously, under the absolutist state, we were appendages, once, twice, or so many times removed, according to our place in the social hierarchy, of the throne; or as, even earlier, in the medieval theocracies, the altar gave us our community. Our dependence on banking and financial markets defines our common humanity, as did our earlier dependence on the throne or the altar.
This social dependence is reinforced by the prior claims that debt has on everyone’s income and wealth. Businesses and business individuals may go out of business, bankrupt themselves, in order to avoid their creditors. But, for the reasoning individual with a nonfinancial life, such balance sheet restructuring disrupts the pursuit of personal, family, or professional advancement through which we find satisfaction and respect in our communities. As long as asset markets are rising, debt is easily managed and we can all, with the exception of the asset-poor, proceed with satisfying our personal or social ambitions. When asset markets fall, human advancement is set aside in the effort to reduce debts, in the same way that the feudal peasant left his land and family in order to work on the land of his lord. In a society bound by property contracts, the road to serfdom goes through finance.
2. The social hegemony of investment bankers. As financial markets inflate, their apparent success contrasts with the lagging performance of underinvested industry. At this stage, far from concentrating resources on industrial renewal, financial innovation concentrates on mobilizing financial resources to sustain rising asset prices: in an era of finance, finance mostly finances finance. The concentration of financial resources on purchasing financial assets and the extension of credit for such purposes results in financial inflation. Such inflation establishes the reputation of investment bankers whose decisions and advice are responsible for the concentration of resources on buying financial assets. The resulting financial inflation is then attributed to their superior insight and their knowledge of which assets will enjoy price increases.
Such superior insight is, of course, a delusion, as Keynes showed in his famous analysis of investment behavior.1 Once investment bankers agree on the assets that are most likely to appreciate in value and summon up the buying power of the investment funds that they advise, those assets inevitably will appreciate. Such appreciation confirms the genius of investment bankers who can lead a sufficiently large pack of fund managers into the purchase of particular assets. But the source of their success lies in their ability to concentrate buying, rather than in any ability to identify objective growth prospects. In asset markets, such prospects are not inherent features of particular assets, but reside solely in the minds of market participants.
A more real accomplishment of a good investment banker is the ability to refinance balance sheets in order to convert notional capital gains into cash flow. Such refinancing is easy while financial markets are being inflated and attracting liquidity. The investment banker can then literally take the credit for turning capital gains into cash, money that the market as a whole is attracting in pursuit of such gains. Obtaining such cash flow is by no means so easy when asset prices fall. This concentration on balance sheet restructuring narrows the worldly experience of bankers and financiers. Nevertheless, the dominance of financing arrangements in household and company affairs makes practitioners in finance increasingly sought-after policy advisers. In this capacity, their déformation professionnelle inclines them even more to providing a standard solution of balance sheet restructuring to complex social and economic problems.
3. An enhanced delusion of successful thrift among the middle classes. In any scientific study of economic behavior in market economies, it is necessary to distinguish the experiences or perceptions that people may have, from the market process that gives rise to such experiences or perceptions. Individuals who enjoy the benefits of asset inflation only directly experience the purchase of the financial asset that gives them a claim on a capital gain, as opposed to the money coming into asset markets that allows that gain to be realized. Capital gains are therefore “naturally” attributed to provident and well-calculated asset purchase, perhaps even to some intrinsic characteristic of a given asset, rather than generalized asset inflation. In this way, the propertied classes succumb to a comforting illusion, carefully cultivated by their financial advisers and intermediaries, that their foresight and financial acumen have secured them their gains.
In fact, the situation is quite the reverse. The benefits that the propertied classes obtain from inflated property and financial asset markets are increasingly capital gains on wealth, rather than accumulated savings out of income. As property markets inflate and pension funds mature, it is the propertied classes who dissipate on their own consumption the capital gains that they are able to take out of property and financial asset markets. Such capital gains are in turn the product of the “enforced savings” of the young who are compelled to rent or buy housing accommodation at prices that swallow up most of their income and of lower paid workers who are obliged to subscribe to pension funds. In effect, these gains create a double squeeze on those least likely already to own property, the young and workers at the bottom of the hierarchy.2 The delusion of thrift at the top that this generates reinforces a growing sense of financial self-reliance and independence from the state welfare system.
4. The emergence of inflated property and financial asset markets as a “welfare state of the middle classes.” Inflated asset markets act as a welfare state in that they socialize the financial risks of those owning such assets. Asset markets afford asset owners unconditional access to money through the sale of an asset, typically to another asset owner with spare liquidity. Inflated asset markets allow owners of such assets to cross-insure each other in this way against extraordinary liabilities for health care, holidays, school fees, the purchase of housing, or the repayment of inconvenient debt. Such extraordinary liabilities may be accommodated by taking out of those asset markets money that is being put into them by those acquiring such assets. This has the political consequence of alienating those with property from a state welfare system for which they pay, but from which they derive little benefit. This disconnection lies behind middle-class taxpayers’ demands to reduce the cost of that welfare state by concentrating state benefits more narrowly on “those in need.” In its turn, such concentration reinforces that middle-class alienation from the state system.
5. The marginalization of those without appreciative wealth. They may be home owners in places where wealthy property owners do not wish to buy housing, or without claims on inflating assets, such as housing in places where wealthy property owners are buying housing. Where property owners transfer capital into the housing market, the increase in house prices obliges the young and migrant workers to live in overcrowded conditions, because housing has become a perquisite of property owners, rather than being available to all. Not having property denies marginalized sections of society the opportunity to operate balance sheets actively; their debt is more likely to finance current consumption, rather than the acquisition of inflatable assets. These are the lower-class counterparts of those among the propertied classes whose possession of inflated assets allows them to consume in excess of their incomes. An unequal distribution of income is thus enhanced by a growing distinction between the “balance sheet” rich, and the “balance sheet” poor.
6. State-administered social welfare as a system for prosecuting the poor. While the official welfare state may provide some minimum income for those without means of support, this is at the cost of taxpayers, predominantly among the middle classes. Such minimum income is increasingly delivered with a degree of institutional bullying and hectoring, designed ostensibly to make welfare claimants more active in securing their financial independence but, in reality, designed to reassure propertied taxpayers that those claimants are being penalized for their improvidence in not having property to support them. It is not, as politicians and economic advisers repeatedly assert, a question of the claimants’ “willingness to work”: no one threatens, with removal of their income, the propertied classes themselves—for their improvidence in living on unearned income from property or capital gains on that property. The selective penalization of those without property or income is a natural consequence of a state welfare system that is no longer comprehensive because the middle class is increasingly opting out of it.
7. The delusion of risk-taking. The asset-rich attribute their superior capital income to “risk-taking.” This is a delusion because the asset-rich have their financing and income hedged by assets, and a hedged risk is no risk at all, or a purely subjectively perceived risk. The biggest risks are undertaken by the asset-poor because their financing and income are not hedged by assets, and an unhedged risk is a real one. When financial markets are being inflated, the structure of rewards in the different trades and professions is such that those who take the lowest risk, because they hazard other people’s money, get the highest rewards, while those who take the highest risks, because they entrust their meager savings to financial intermediaries with the least possibility of hedging the hazarding of those savings by those intermediaries, obtain the lowest rewards.
Financial inflation is therefore no mere temporary departure from equilibrium in a standardized model of capitalism. It changes the character of capitalism and the range of choices that firms, individuals, and households face. An enhanced option to consume without income is bought at the cost of financial instability, industrial decadence, and regressive social values.
The propertied classes of the past were a combination of landowners and rentiers, that is, owners of financial securities. The former were oppressed in most progressive countries by death duties and were made even more insecure by the declining real value of rents, that is, the value of rents in relation to the rising cost of maintaining the style and accommodation appropriate to a landowner. In their turn, rentiers were made insecure by the financial crises and inflation that punctuated the progress of finance from the latter half of the nineteenth century, culminating in the 1929 Crash.
From the 1970s, the growing prosperity of the middle classes in the “financially advanced” countries, such as the United States and Britain, was associated with a switch in their asset holdings, from modest holdings of residential property and direct ownership of stocks and shares, to residential property that was increasing in value, and indirect ownership of stocks and shares in the form of funded pension entitlements and insurance policies. In the early 1960s, the majority of stocks and shares in both countries were owned by wealthy private individuals. A decade later, the majority of stocks and shares were owned by pension funds and insurance companies. This does not mean that such funds were not active before the 1960s. They were, but had only a limited market because their use-value was just that they provided pensions and insurance. After the financial crises of the early 1970s, financial inflation gave such intermediary funds a new use-value: that of financial enrichment.
Pension funds and insurance policies are relatively illiquid, and the cash flow that they provide is restricted to circumstances provided for in the terms of the policies: pensions in retirement, or payments defined by the terms of an insurance policy. However, the long boom in the housing market, with its growing liquidity, allowed additional borrowing against capital gains in that market. Financial inflation and the conversion of capital gains into income change the way in which capitalism is experienced by those living in that system. That changed experience in turn alters the culture, preoccupations, and hierarchy within the propertied classes in the following ways:
1. Humanity as an appendage of asset markets. As a consequence of labor market deregulation, income from employment has become more volatile and uncertain in the United States and the United Kingdom. Those who own property come to be dependent upon capital gains from asset inflation to maintain standards of consumption (see 4., below) and secure a future in which employment income has become more precarious. The prospects for inflation in asset markets take over a dominant part in the rational economic expectations of individuals with property, just as the prospects of acquiring property with the potential for appreciation in value comes to be the focus of the economic ambitions of those without property. Professional or career advancement takes a secondary place to the search for capital gains. In this climate the bureaucracies of the welfare state are balkanized, so that public sector assets can be turned over in asset markets to realize capital gains and replace tax revenues in defraying the cost of public administration (see 4. and 6., below).
In the private sector itself, a new source of alienation emerges as production comes to be incidental to the much more lucrative business of balance-sheet restructuring. Vastly more capital can be turned over even more rapidly in the markets for property or financial assets, while the pedestrian business of production is limited by techniques of production and the relative difficulty with which such techniques may be modified. The value of any labor or effort becomes inconstant since, at any one time, it depends on an ephemeral conjuncture in the financial markets. A productive worker producing a value in excess of his or her wage, may still be negligible if the balance sheet on which he or she might appear as an asset may be sold for even more profit in the financial markets. The residual pride of the producer in the product or service in which her or his labor is embodied, a labor already fragmented by specialization and capitalistic machine production, now becomes even more a melancholic nostalgia for medieval craftsmanship than a realistic attitude to work or professional ambition. The common factor in our humanity at work or at home comes to be our preoccupation with asset values.
This new community emerges as politics, culture, and history, the other sources of our common humanity, come to be private consumption choices or leisure activities, like the preferred television channels that “private individuals” watch, or tracks that they download onto their MP3 players, or collective consumption choices, like sports events or concerts, or the imagined history that people choose when they seek to ennoble their lifestyle by attaching their consumption choices to a particular tradition. These sad attempts to find relief from alienated labor or to realize a common humanity are doomed to eventual frustration precisely because they are private choices in a society whose members’ only common preoccupations are debt and the opportunities for easing it with asset inflation. In this way, humanity is reduced to an appendage of asset markets; as under industrial capitalism, we were reduced to appendages of machines; as previously, under the absolutist state, we were appendages, once, twice, or so many times removed, according to our place in the social hierarchy, of the throne; or as, even earlier, in the medieval theocracies, the altar gave us our community. Our dependence on banking and financial markets defines our common humanity, as did our earlier dependence on the throne or the altar.
This social dependence is reinforced by the prior claims that debt has on everyone’s income and wealth. Businesses and business individuals may go out of business, bankrupt themselves, in order to avoid their creditors. But, for the reasoning individual with a nonfinancial life, such balance sheet restructuring disrupts the pursuit of personal, family, or professional advancement through which we find satisfaction and respect in our communities. As long as asset markets are rising, debt is easily managed and we can all, with the exception of the asset-poor, proceed with satisfying our personal or social ambitions. When asset markets fall, human advancement is set aside in the effort to reduce debts, in the same way that the feudal peasant left his land and family in order to work on the land of his lord. In a society bound by property contracts, the road to serfdom goes through finance.
2. The social hegemony of investment bankers. As financial markets inflate, their apparent success contrasts with the lagging performance of underinvested industry. At this stage, far from concentrating resources on industrial renewal, financial innovation concentrates on mobilizing financial resources to sustain rising asset prices: in an era of finance, finance mostly finances finance. The concentration of financial resources on purchasing financial assets and the extension of credit for such purposes results in financial inflation. Such inflation establishes the reputation of investment bankers whose decisions and advice are responsible for the concentration of resources on buying financial assets. The resulting financial inflation is then attributed to their superior insight and their knowledge of which assets will enjoy price increases.
Such superior insight is, of course, a delusion, as Keynes showed in his famous analysis of investment behavior.1 Once investment bankers agree on the assets that are most likely to appreciate in value and summon up the buying power of the investment funds that they advise, those assets inevitably will appreciate. Such appreciation confirms the genius of investment bankers who can lead a sufficiently large pack of fund managers into the purchase of particular assets. But the source of their success lies in their ability to concentrate buying, rather than in any ability to identify objective growth prospects. In asset markets, such prospects are not inherent features of particular assets, but reside solely in the minds of market participants.
A more real accomplishment of a good investment banker is the ability to refinance balance sheets in order to convert notional capital gains into cash flow. Such refinancing is easy while financial markets are being inflated and attracting liquidity. The investment banker can then literally take the credit for turning capital gains into cash, money that the market as a whole is attracting in pursuit of such gains. Obtaining such cash flow is by no means so easy when asset prices fall. This concentration on balance sheet restructuring narrows the worldly experience of bankers and financiers. Nevertheless, the dominance of financing arrangements in household and company affairs makes practitioners in finance increasingly sought-after policy advisers. In this capacity, their déformation professionnelle inclines them even more to providing a standard solution of balance sheet restructuring to complex social and economic problems.
3. An enhanced delusion of successful thrift among the middle classes. In any scientific study of economic behavior in market economies, it is necessary to distinguish the experiences or perceptions that people may have, from the market process that gives rise to such experiences or perceptions. Individuals who enjoy the benefits of asset inflation only directly experience the purchase of the financial asset that gives them a claim on a capital gain, as opposed to the money coming into asset markets that allows that gain to be realized. Capital gains are therefore “naturally” attributed to provident and well-calculated asset purchase, perhaps even to some intrinsic characteristic of a given asset, rather than generalized asset inflation. In this way, the propertied classes succumb to a comforting illusion, carefully cultivated by their financial advisers and intermediaries, that their foresight and financial acumen have secured them their gains.
In fact, the situation is quite the reverse. The benefits that the propertied classes obtain from inflated property and financial asset markets are increasingly capital gains on wealth, rather than accumulated savings out of income. As property markets inflate and pension funds mature, it is the propertied classes who dissipate on their own consumption the capital gains that they are able to take out of property and financial asset markets. Such capital gains are in turn the product of the “enforced savings” of the young who are compelled to rent or buy housing accommodation at prices that swallow up most of their income and of lower paid workers who are obliged to subscribe to pension funds. In effect, these gains create a double squeeze on those least likely already to own property, the young and workers at the bottom of the hierarchy.2 The delusion of thrift at the top that this generates reinforces a growing sense of financial self-reliance and independence from the state welfare system.
4. The emergence of inflated property and financial asset markets as a “welfare state of the middle classes.” Inflated asset markets act as a welfare state in that they socialize the financial risks of those owning such assets. Asset markets afford asset owners unconditional access to money through the sale of an asset, typically to another asset owner with spare liquidity. Inflated asset markets allow owners of such assets to cross-insure each other in this way against extraordinary liabilities for health care, holidays, school fees, the purchase of housing, or the repayment of inconvenient debt. Such extraordinary liabilities may be accommodated by taking out of those asset markets money that is being put into them by those acquiring such assets. This has the political consequence of alienating those with property from a state welfare system for which they pay, but from which they derive little benefit. This disconnection lies behind middle-class taxpayers’ demands to reduce the cost of that welfare state by concentrating state benefits more narrowly on “those in need.” In its turn, such concentration reinforces that middle-class alienation from the state system.
5. The marginalization of those without appreciative wealth. They may be home owners in places where wealthy property owners do not wish to buy housing, or without claims on inflating assets, such as housing in places where wealthy property owners are buying housing. Where property owners transfer capital into the housing market, the increase in house prices obliges the young and migrant workers to live in overcrowded conditions, because housing has become a perquisite of property owners, rather than being available to all. Not having property denies marginalized sections of society the opportunity to operate balance sheets actively; their debt is more likely to finance current consumption, rather than the acquisition of inflatable assets. These are the lower-class counterparts of those among the propertied classes whose possession of inflated assets allows them to consume in excess of their incomes. An unequal distribution of income is thus enhanced by a growing distinction between the “balance sheet” rich, and the “balance sheet” poor.
6. State-administered social welfare as a system for prosecuting the poor. While the official welfare state may provide some minimum income for those without means of support, this is at the cost of taxpayers, predominantly among the middle classes. Such minimum income is increasingly delivered with a degree of institutional bullying and hectoring, designed ostensibly to make welfare claimants more active in securing their financial independence but, in reality, designed to reassure propertied taxpayers that those claimants are being penalized for their improvidence in not having property to support them. It is not, as politicians and economic advisers repeatedly assert, a question of the claimants’ “willingness to work”: no one threatens, with removal of their income, the propertied classes themselves—for their improvidence in living on unearned income from property or capital gains on that property. The selective penalization of those without property or income is a natural consequence of a state welfare system that is no longer comprehensive because the middle class is increasingly opting out of it.
7. The delusion of risk-taking. The asset-rich attribute their superior capital income to “risk-taking.” This is a delusion because the asset-rich have their financing and income hedged by assets, and a hedged risk is no risk at all, or a purely subjectively perceived risk. The biggest risks are undertaken by the asset-poor because their financing and income are not hedged by assets, and an unhedged risk is a real one. When financial markets are being inflated, the structure of rewards in the different trades and professions is such that those who take the lowest risk, because they hazard other people’s money, get the highest rewards, while those who take the highest risks, because they entrust their meager savings to financial intermediaries with the least possibility of hedging the hazarding of those savings by those intermediaries, obtain the lowest rewards.
Financial inflation is therefore no mere temporary departure from equilibrium in a standardized model of capitalism. It changes the character of capitalism and the range of choices that firms, individuals, and households face. An enhanced option to consume without income is bought at the cost of financial instability, industrial decadence, and regressive social values.
Jan Toporowski - Monthly Review
domingo, novembro 14, 2010
Bifanas
A mostarda, é tal a forma de a digerir que não permite que nos dediquêmos a pensar noutra coisa senão no nosso estômago. Hoje, para acompanhar o almoço fui ao frigorifico procurar a dita, e, reiterando aquela ideia de que ganhar perspectiva facilita a compreensão, só fui capaz de a ver depois de aquecer; depois de me afastar do aparato.
Durante o almoço tive tempo de pensar na França, no que por ali acontece, divagando de imediato para um âmbito mais amplo, a Europa e as suas convulsões sociais, assincronas, como marca a agenda do capital, que assesta golpes temporalmente desfasados, e, na organização dos protestos dentro deste contexto.
Porém, certo é que, depois de a digerir, como a muitos acontece por resistir a tragar a gordura do estabelecido, esta chega facilmente ao nariz, a questão é que, injectado nos hábitos que foi o consumo desse de vermelho ensaguentado ketchup, é dificil que a mostarda chegue ao nariz da maioria, como chegou no caso da França.
Em Portugal, produzida em Mira, também produzimos mostarda, essa que acompanha a irrecusável bifana das nossas papilas. A mistura, se acompanhada com cerveja, muito provavelmente, mais nuns casos que noutros, eleve também ao nariz dito molho.
Àparte daquela zona da estrada nacional que liga Elvas a Lisboa, ou Montemor a Setúbal, ou vice-versa, o Olimpo das bifanas fica na zona da baixa lisboeta, assim, sem receio de que me suba, dia 20 vou com uns amigos, alguns camaradas, comer bifanas. Lá, para os Restauradores.
Durante o almoço tive tempo de pensar na França, no que por ali acontece, divagando de imediato para um âmbito mais amplo, a Europa e as suas convulsões sociais, assincronas, como marca a agenda do capital, que assesta golpes temporalmente desfasados, e, na organização dos protestos dentro deste contexto.
Porém, certo é que, depois de a digerir, como a muitos acontece por resistir a tragar a gordura do estabelecido, esta chega facilmente ao nariz, a questão é que, injectado nos hábitos que foi o consumo desse de vermelho ensaguentado ketchup, é dificil que a mostarda chegue ao nariz da maioria, como chegou no caso da França.
Em Portugal, produzida em Mira, também produzimos mostarda, essa que acompanha a irrecusável bifana das nossas papilas. A mistura, se acompanhada com cerveja, muito provavelmente, mais nuns casos que noutros, eleve também ao nariz dito molho.
Àparte daquela zona da estrada nacional que liga Elvas a Lisboa, ou Montemor a Setúbal, ou vice-versa, o Olimpo das bifanas fica na zona da baixa lisboeta, assim, sem receio de que me suba, dia 20 vou com uns amigos, alguns camaradas, comer bifanas. Lá, para os Restauradores.
sábado, novembro 13, 2010
quinta-feira, novembro 11, 2010
A Cultura Integral do Indivíduo - Problema central do nosso tempo
(...) Vejamos se nos aparece assim, ao menos nas suas linhas gerais, alguma lei à qual se subordine todo o desenvolvimento que a história nos apresenta ao longo do extenso caminho percorrido, desde o aparecimento dos primeiros agrupamentos humanos até às sociedades de hoje.
Creio que essa lei existe e que pode formular-se, pouco mais ou menos, nos seguintes termos: no seio das sociedades humanas manifestam-se permanentemente dois princípios contrários -o individual e o colectivo -de cuja luta resultará um estado superior dessas mesmas sociedades, em que o primeiro princípio – o individual - chegado a um elevado grau de desenvolvimento, se absorverá no segundo.
Demoremo-nos por alguns instantes na explanação da ideia contida neste enunciado que, receio muito, corre o perigo de, à primeira vista, vos aparecer como paradoxal.
Nos primeiros grupos humanos, em que aquilo que distingue o homem dos outros animais se encontra ainda mal liberto da ganga da irracionalidade primitiva, não há lugar para mais do que para os instintos e sentimentos gregários, num estado de existência em que o indivíduo mal tem consciência de si, fundindo-se no agrupamento de que depende. É só a pouco e pouco que os mais aptos, os mais capazes pela força ou pelas qualidades de observação, se vão elevando acima do grupo, destacando-se dele, impulsionando-o e fazendo-o progredir.
O esforço individual aparece assim como indispensável para o progresso do agregado que, sem ele, permaneceria sempre tal qual nasceu, como acontece, por exemplo, com certas associações de animais inferiores que hoje vemos.
Creio que essa lei existe e que pode formular-se, pouco mais ou menos, nos seguintes termos: no seio das sociedades humanas manifestam-se permanentemente dois princípios contrários -o individual e o colectivo -de cuja luta resultará um estado superior dessas mesmas sociedades, em que o primeiro princípio – o individual - chegado a um elevado grau de desenvolvimento, se absorverá no segundo.
Demoremo-nos por alguns instantes na explanação da ideia contida neste enunciado que, receio muito, corre o perigo de, à primeira vista, vos aparecer como paradoxal.
Nos primeiros grupos humanos, em que aquilo que distingue o homem dos outros animais se encontra ainda mal liberto da ganga da irracionalidade primitiva, não há lugar para mais do que para os instintos e sentimentos gregários, num estado de existência em que o indivíduo mal tem consciência de si, fundindo-se no agrupamento de que depende. É só a pouco e pouco que os mais aptos, os mais capazes pela força ou pelas qualidades de observação, se vão elevando acima do grupo, destacando-se dele, impulsionando-o e fazendo-o progredir.
O esforço individual aparece assim como indispensável para o progresso do agregado que, sem ele, permaneceria sempre tal qual nasceu, como acontece, por exemplo, com certas associações de animais inferiores que hoje vemos.
Mas essa acção do individual sobre o colectivo não tem apenas, infelizmente, a virtude criadora de progresso que lhe acabamos de assinalar. Bem depressa ela se manifesta com outros caracteres que formam o cortejo sinistro do domínio do indivíduo sobre o grupo -o mais capaz só subsidiariamente põe o seu esforço ao serviço do agregado; a sua primeira ideia é servir-se dessa capacidade maior para seu interesse próprio. E aqui reside o grande drama em que, de todos os tempos, se tem debatido a humanidade -condenada a só poder evolucionar e progredir sob a acção vivificadora e fecunda de alguns dos seus indivíduos, ela vê-se ao mesmo tempo impotente para impedir que esses indivíduos se transformem em seus verdugos. Ela assiste, incapaz de o evitar, à criação das castas que são como outras tantas sanguessugas sobre o seu corpo, sem, ao menos, lhe restar a solução de as eliminar, porque isso equivaleria à sua morte no pântano estéril da incapacidade.
Encarada sob este ângulo, a História da Humanidade aparece-nos como uma gigantesca luta, gigantesca no espaço e no tempo, entre o individual e o colectivo. Luta gigantesca, e trágica, e sangrenta, em que transparece um domínio quase permanente do individual sobre o colectivo e, de longe em longe, um estremecimento do grande corpo mortificado, um movimento de revolta, um triunfo efémero do colectivo, que logo cai sob outro ou o mesmo jugo pela sua incapacidade de se reconhecer e dirigir. E esse grande corpo, curvado ao peso dos seus donos, segue o seu caminho sem parar, cai aqui, levanta-se além e aspira, aspira sempre a qualquer coisa de melhor. Mas esse «qualquer coisa» é vago e impreciso e, por isso mesmo que o é, leva a todos os desvios e todos os erros, pressurosamente amparados e com cuidado mantidos, precisamente por aqueles -o princípio individual em acção -a quem uma consciência colectiva forte ameaçaria
no seu poderio egoísta. (...)
Encarada sob este ângulo, a História da Humanidade aparece-nos como uma gigantesca luta, gigantesca no espaço e no tempo, entre o individual e o colectivo. Luta gigantesca, e trágica, e sangrenta, em que transparece um domínio quase permanente do individual sobre o colectivo e, de longe em longe, um estremecimento do grande corpo mortificado, um movimento de revolta, um triunfo efémero do colectivo, que logo cai sob outro ou o mesmo jugo pela sua incapacidade de se reconhecer e dirigir. E esse grande corpo, curvado ao peso dos seus donos, segue o seu caminho sem parar, cai aqui, levanta-se além e aspira, aspira sempre a qualquer coisa de melhor. Mas esse «qualquer coisa» é vago e impreciso e, por isso mesmo que o é, leva a todos os desvios e todos os erros, pressurosamente amparados e com cuidado mantidos, precisamente por aqueles -o princípio individual em acção -a quem uma consciência colectiva forte ameaçaria
no seu poderio egoísta. (...)
Bento de Jesus Caraça
terça-feira, novembro 09, 2010
O pato
Este troço de "Pedro e o Lobo", de Prokofiev, mesmo sendo parte de uma história infantil, ou quem sabe por isso mesmo, surgiu no meu consciente quando passava hoje a vista pelos jornais e blogues ou fontes de informação alternativa que pululam pela rede. Não pela convocatória da V internacional feita por Chávez, nem sequer pelo apoio que à mesma anunciam mais de 50 partidos e movimentos (algo a ponderar apesar de uma iniciativa aparentemente trotskista); não pela feliz diminuição da idade para a reforma que aprovou o governo do marxista/leninista Evo Morales; não por constatar que os hotéis galegos tiveram menos ocupação durante a visita papal que no fim-de-semana anterior tão propagandeado evento, ou por ver que as associações de gays e lésbicas sairam à rua em Barcelona para mostrarem cartazes nos quais acusavam sua "santidade" de pedófilo; nem sequer por assistir ao leilão no qual colocou sócrates o nosso país, esta obra foi resgatada apenas por continuar, e pelo enjoativo da atitude, a ver como os governantes portugueses dos 34 últimos anos continuam a levar detrás de si a maioria do povo português, inventando pretexto sobre pretexto; sempre com a salvação como objectivo, implementando o roubo em cada promulgação sem apenas agastar quem sofre esse continuo espólio, sem que Pedro se dê conta de que o mérito de caçar o lobo fica para os caçadores, mesmo daqueles que não disparam, ainda sabendo a sua própria fome, a do Pedro, a verdadeira salvadora do pato.
Depois do teixeirinha ter preparado o povo para a vinda do FMI, colocando na imprensa o limíte a ultrapassar, mas, ao contrário daquilo que tentou passar, já previsto por este governo, vem agora um integrante do seu elenco dizer que nada disso, que não é isso que se quer e que os medidores estão mal aferidos (provavelmente o factor seja de 7,9).
Depois do teixeirinha ter preparado o povo para a vinda do FMI, colocando na imprensa o limíte a ultrapassar, mas, ao contrário daquilo que tentou passar, já previsto por este governo, vem agora um integrante do seu elenco dizer que nada disso, que não é isso que se quer e que os medidores estão mal aferidos (provavelmente o factor seja de 7,9).
Afinal, quem é o pato?
segunda-feira, novembro 08, 2010
A propósito disto
A Fé
Distendei vossa espera o quanto quiserdes - tão clara,
duma clareza tão alucinante
é minha visão
que, dir-se-ia,
bastava o tempo de liquidar esta rima,
para, grimpando ao longo do verso,
entrar numa vida maravilhosa.
bastava o tempo de liquidar esta rima,
para, grimpando ao longo do verso,
entrar numa vida maravilhosa.
Eu não preciso indagar
o que e como.
Vejo-o,
nítido,
até os último detalhes,
no ar,
camada sobre camada,
como pedra sobre pedra.
Vejo erguer-se,
fulgurando no pináculo dos séculos,
como pedra sobre pedra.
Vejo erguer-se,
fulgurando no pináculo dos séculos,
isento de podridões ou poeiras,
o laboratório das ressurreições humanas.
Eis o calmo químico,
a vasta fronte
franzida
em meio à experiência .
Eis o calmo químico,
a vasta fronte
franzida
em meio à experiência .
Num livro, “Toda a Terra”,
procura ele um nome.
“O Século Vinte...vejamos,
a quem ressuscitar?
A Maiakóvski talvez...
Não, busquemos matéria mais interessante!
Não era bastante belo esse poeta”.
Será então minha vez de gritar
daqui mesmo,
“O Século Vinte...vejamos,
a quem ressuscitar?
A Maiakóvski talvez...
Não, busquemos matéria mais interessante!
Não era bastante belo esse poeta”.
Será então minha vez de gritar
daqui mesmo,
desta página de hoje:
“Pára, não folheies mais!
É a mim que deves ressuscitar!”
Maiakovski
sexta-feira, novembro 05, 2010
"...Os mercados estão a apostar quase a 100% na ocorrência de um default em Portugal. O FMI insiste que esses mercados - bancos e fundos estrangeiros que dantes compravam dívida portuguesa e que agora fecharam a torneira, podem estar a "sobrestimar o risco de bancarrota" das nações mais problemáticas, impondo juros cada vez mais elevados. O pior, admite o FMI, é que a margem dos países altamente deficitários e endividados para inverter a noção e o sentimento que o exterior tem relativamente a eles é hoje mais estreita que nunca.
Ontem os "mercados" emitiram mais um alarme: a taxa das Obrigações do Tesouro a dez anos portuguesas atingiu os 6,8%, o valor mais alto desde que Portugal aderiu ao euro. Para Teixeira dos Santos, quando esta superar os 7%, mais vale recorrer ao fundo do FMI/UE...."
Ontem os "mercados" emitiram mais um alarme: a taxa das Obrigações do Tesouro a dez anos portuguesas atingiu os 6,8%, o valor mais alto desde que Portugal aderiu ao euro. Para Teixeira dos Santos, quando esta superar os 7%, mais vale recorrer ao fundo do FMI/UE...."
Num jornal
Depois de reduzido o crescimento salarial; retiradas as garantías ao povo; de assumir um corte de três mil milhões nas funções sociais - como manda a direita -; depois de encaixar quatro mil e seiscentos milhões no BPN, banco de interesses americanos - como manda a direita -; depois de destruir a maior parte do tecido productivo, vem agora o FMI descubrir que os governos portugueses têm vindo a preparar o terreno para, de bolso aberto, pró ar, entregar o país às grandes potencias europeias??
Que vamos falir??
Que vamos continuar a hipotecar o futuro dos portugueses com empréstimos ao exterior; ao FMI??
Uma vez saneada a empresa, ou seja: mais de setecentos mil atirados ao chão, metade deles sem pão; sem obrigações do estado no âmbito da sanidade, educação, etc. Com um sistema de extorsão impositiva da qual ninguém pode escapar, através de impostos do trabalho, combustível, portagens, IVA ou energia, virá o FMI emprestar uns tostões que não poderemos pagar porque não produzimos e porque não existe uma mudança política no horizonte... nem quando o PSD provocar eleições dentro de 4 ou 5 meses, para continuar a subjugar o povo.
Quem vai pagar esta caldeirada?? Como??
Onde é que está a solução??
Eu aposto, de longe (na emigração), pela mudança, mas claro, a minha opinião não deve valer mais que a de qualquer um de nós, algo contrário ao que o mutismo com cara de peneira bacôca e estagnadora, bafienta, imobilista, mantém nesta e mantido por esta, sociedade.
Há 30 anos o Saramago escreveu um livro muito interessante, escrevâmos nós o nosso!
quinta-feira, novembro 04, 2010
Levantado do Chão faz 30 anos
O PCP comemora hoje o 30.º aniversário da publicação do romance Levantado do Chão, livro que projectou internacionalmente o escritor e prémio Nobel da Literatura José Saramago.
A sessão, que homenageia ao mesmo tempo o escritor enquanto destacado militante comunista, realiza-se às 18h00, na Casa do Alentejo, em Lisboa, e tem a presença do secretário-geral do PCP Jerónimo de Sousa, do também escritor Manuel Gusmão e de Pilar del Rio, sua companheira.
A sessão, que homenageia ao mesmo tempo o escritor enquanto destacado militante comunista, realiza-se às 18h00, na Casa do Alentejo, em Lisboa, e tem a presença do secretário-geral do PCP Jerónimo de Sousa, do também escritor Manuel Gusmão e de Pilar del Rio, sua companheira.
quarta-feira, novembro 03, 2010
Esclarecimento
Agradecendo de antemão que os comentários fiquem aqui expostos, que não seja o email uma caixa de críticas, essas que afinal são fundamentais para continuar a crescer. Fica aqui uma análise mais pausada do texto que anteriormente transcrevi e critiquei parcialmente.
“Os conservadores esperam que a investigação do genoma humano ajude a provar que a natureza, não ordens sociais desiguais, determinam quem acaba por se tornar doente e pobre. Mas os nossos genes têm-se recusado a cooperar.” Ainda parcialmente de acordo - a natureza não determina a pobreza -, não podemos esquecer as leis de Mendel.
“Um psicólogo clínico notável pelas suas observações sobre como a desigualdade afecta o que se passa nas nossas cabeças está agora a divulgar algumas percepções fascinantes, baseadas em nova investigação acerca de quanto a desigualdade reflecte o que está a acontecer nos nossos genes.” Nada de novo.
Este psicólogo clínico britânico, Oliver James, escreveu muito ao longo dos últimos anos acerca do que denomina "ansiedade pela riqueza" ("affluenza") [NT] , o "vírus" induzido pela desigualdade que nos conduz a um nível sempre mais alto de dinheiro, posses e fama.
“A affluenza, destacou James, varia amplamente na sociedade. Quanto mais desigual for a distribuição de rendimento e riqueza numa sociedade, mais affluenza e mais elevada a incidência de doenças mentais que a affluenza tão seguramente engendra.” Não sendo este o factor predominante, a affluenza, antes olhêmos as necessidades básicas como a fome, que raramente aparece nas conjecturas de cariz burguês.
“Os apologistas de ordens sociais desiguais sempre, naturalmente, contestaram qualquer ligação entre doenças mentais e o ambiente económico e social. Que pessoas de baixo rendimento sofram depressão a níveis duplos das pessoas de alto rendimento, acreditam estes apologistas, sugere apenas que pessoas na base nasceram neste mundo com mais "deficiências pessoais" do que as do topo.” Nada a contrapôr nesta crítica.
"A direita política acredita que os genes explicam amplamente porque os pobres são pobres, assim como terem uma probabilidade dupla de serem mentalmente doentes", como observa James. "Para elas, os pobres são lama genética, afundada na base do charco genético". Coisas da direita, nada de novo, nada de razoável.
“A prova científica deste afundamento, exultava a direita uma década atrás, viria quando "avanços rápidos na genética e na neurociência" – o projecto genoma humano e toda a investigação em torno dele — revelasse a verdadeira "história da natureza humana".” Idem.
“A investigação do genoma humano, como opinou dez anos atrás o cientista político Charles Murray junto à organização de extrema-direita American Enterprise Institute, "está em vias de contrair e abalar o espaço para certas posições políticas".” As da direita, certamente.
“"Estou a prever que os provérbios da direita geralmente demonstrar-se-ão mais próximos do alvo do que os provérbios da esquerda", escreveu Murray, "e que muitas das causas da esquerda revelar-se-ão incompatíveis com o modo como os seres humanos são programados (wired) ".” A esquerda é de poucos provérbios mas materialista.
“Com mais completa informação genética em mãos, Murray contestou: "verificou-se que a população abaixo da linha de pobreza nos Estados Unidos tem uma configuração de constituição (makeup) genética relevante que é significativamente diferente da configuração da população acima da linha de pobreza".” Mais um troço da mentira que é a direita.
“De facto, como observa Oliver Jones numa nova análise, as coisas não se apresentaram deste modo de forma alguma. A "extensa investigação do genoma" desde o ano 2000 não revelou qualquer "constituição genética" que predisponha algumas pessoas para o "êxito" e a riqueza e outras para a doença e a pobreza.” Aqui reside um erro importante da resposta do autor: Em realidade existe uma predisposição genética herdada para padecer determinadas doenças, ainda que as doenças sejam como o lumpen, não observem classes.
"Agora sabemos", observa James, "que os genes apenas variam a propensão entre irmãos, classes sociais ou grupos étnicos para sofrerem problemas de saúde mental". Estou de acordo.
“O Journal of Child Psychology and Psychiatry apresentou exactamente o mesmo ponto num editorial do princípio deste ano. A ciência séria, declarava o editorial, agora concentra-se mais do que nunca "sobre o poder do ambiente" e "todos excepto os deterministas genéticos mais teimosos tiveram de rever o seu ponto de vista".” Sem ser determinista, é bom lembrar que não devemos misturar pobreza e doenças.
"Os factores biológicos não existem num vácuo, hermeticamente selados de factores sociais e ambientais", acrescentou na semana passada o bioético Daniel Godlberg, da Carolina do Norte, num comentário sobre a nova análise de Oliver James. "Assim, a tentativa de separar o biológico e o social não faz o mínimo sentido". Não comparto esta afirmação totalmente, social não é ambiental. Nascer no Nepal ou no Peru, dentro de certa continuidade familiar, permite que o nosso sangue transporte muito mais oxigénio que o sangue de quem nasceu ao nivel do mar. Aqui não entra o aspecto social, só o ambiental. Por herança genética, acervo génico, os oriundos da África central possuem uma pele diferente à dos eslavos, e este é o resultado de uma adaptação ambiental, nada que ver com o social.
“Assim, o que faremos com o nosso novo entendimento da genética? Como podemos construir sobre o que agora sabemos a fim de ajudar a moldar sociedades mais saudáveis? James está a sugerir uma sequência de três passos.” Aqui chegamos ao cúmulo da confusão.
“Primeiro, aconselha o psicólogo, vamos "criar uma sociedade na qual o máximo de oportunidades para uma vida mentalmente saudável e realizada seja mais importante do que enriquecer uma minúscula minoria".” Há muito que lutamos contra o capitalismo, tentar inventar a pólvora através de um discurso tão confuso pode ser contraproducente.
“Segundo, vamos "colocar o atendimento das necessidades das crianças, especialmente as mais pequenas, à frente de todas as outras prioridades".” Isto não é possivel, não é lógico nem positivo.
“E, terceiro, vamos cultivar (nurture) as condições sócio-económicas que maximizam a saúde mental. James explica: "Isto significa criar maior igualdade económica, condições de trabalho muito mais seguras, muito maior flexibilidade de emprego para pais de crianças pequenas e uma semana de 35 horas".” Outra mistura perigosa: “maximizar a saúde mental” é comparar por baixo, os três aspectos enfatizados, como sabemos, fazem parte de um todo: Acabar com o capitalismo.
“Temos, reconhece James, "nem uma mínima possibilidade de algo disto acontecer até que os políticos entendam o que a ciência está a dizer-nos".” O que os cientistas, cientistas sérios, defendem, não se expõe de forma tão liviana nem com argumentos tão frágeis. Ainda que de existir (e existe) uma patologia que pode guardar relação com a realidade social cada vez mais homogénea da pobreza, esta é só mais uma, apenas mais uma, e estas, na sua grande maioria, conservam um denominador comum, o capitalismo. Não é por atirar para cima dos políticos a razão de todos os males da sociedade que vamos mudar nada, nem sequer pedindo-lhes que mudem o seu rol de prioridades, afinal quem os coloca em funções somos nós, todos, e seremos nós, povo, protagonizando a história, aqueles que devemos assumir de uma vez por todas o nosso papel, começando por cada um de nós, com os nossos filhos, com os professores, nas nossas relações com o mundo, connosco.
“Os cientistas podem precisar de falar mais alto. E o resto de nós? Podemos precisar ouvir mais atentamente.” Sobre esta sentença nada direi, fica ao critério do leitor a sua apreciação, afinal não se trata só de ouvir ou lêr.
[NT] Affluenza: União das palavras affluence (riqueza) e influenza (gripe), significando o desejo extremo de obter bens materiais ou o sentimento de insatisfação e ansiedade provocado pela busca obsessiva e incessante para obter sempre mais.
“Os conservadores esperam que a investigação do genoma humano ajude a provar que a natureza, não ordens sociais desiguais, determinam quem acaba por se tornar doente e pobre. Mas os nossos genes têm-se recusado a cooperar.” Ainda parcialmente de acordo - a natureza não determina a pobreza -, não podemos esquecer as leis de Mendel.
“Um psicólogo clínico notável pelas suas observações sobre como a desigualdade afecta o que se passa nas nossas cabeças está agora a divulgar algumas percepções fascinantes, baseadas em nova investigação acerca de quanto a desigualdade reflecte o que está a acontecer nos nossos genes.” Nada de novo.
Este psicólogo clínico britânico, Oliver James, escreveu muito ao longo dos últimos anos acerca do que denomina "ansiedade pela riqueza" ("affluenza") [NT] , o "vírus" induzido pela desigualdade que nos conduz a um nível sempre mais alto de dinheiro, posses e fama.
“A affluenza, destacou James, varia amplamente na sociedade. Quanto mais desigual for a distribuição de rendimento e riqueza numa sociedade, mais affluenza e mais elevada a incidência de doenças mentais que a affluenza tão seguramente engendra.” Não sendo este o factor predominante, a affluenza, antes olhêmos as necessidades básicas como a fome, que raramente aparece nas conjecturas de cariz burguês.
“Os apologistas de ordens sociais desiguais sempre, naturalmente, contestaram qualquer ligação entre doenças mentais e o ambiente económico e social. Que pessoas de baixo rendimento sofram depressão a níveis duplos das pessoas de alto rendimento, acreditam estes apologistas, sugere apenas que pessoas na base nasceram neste mundo com mais "deficiências pessoais" do que as do topo.” Nada a contrapôr nesta crítica.
"A direita política acredita que os genes explicam amplamente porque os pobres são pobres, assim como terem uma probabilidade dupla de serem mentalmente doentes", como observa James. "Para elas, os pobres são lama genética, afundada na base do charco genético". Coisas da direita, nada de novo, nada de razoável.
“A prova científica deste afundamento, exultava a direita uma década atrás, viria quando "avanços rápidos na genética e na neurociência" – o projecto genoma humano e toda a investigação em torno dele — revelasse a verdadeira "história da natureza humana".” Idem.
“A investigação do genoma humano, como opinou dez anos atrás o cientista político Charles Murray junto à organização de extrema-direita American Enterprise Institute, "está em vias de contrair e abalar o espaço para certas posições políticas".” As da direita, certamente.
“"Estou a prever que os provérbios da direita geralmente demonstrar-se-ão mais próximos do alvo do que os provérbios da esquerda", escreveu Murray, "e que muitas das causas da esquerda revelar-se-ão incompatíveis com o modo como os seres humanos são programados (wired) ".” A esquerda é de poucos provérbios mas materialista.
“Com mais completa informação genética em mãos, Murray contestou: "verificou-se que a população abaixo da linha de pobreza nos Estados Unidos tem uma configuração de constituição (makeup) genética relevante que é significativamente diferente da configuração da população acima da linha de pobreza".” Mais um troço da mentira que é a direita.
“De facto, como observa Oliver Jones numa nova análise, as coisas não se apresentaram deste modo de forma alguma. A "extensa investigação do genoma" desde o ano 2000 não revelou qualquer "constituição genética" que predisponha algumas pessoas para o "êxito" e a riqueza e outras para a doença e a pobreza.” Aqui reside um erro importante da resposta do autor: Em realidade existe uma predisposição genética herdada para padecer determinadas doenças, ainda que as doenças sejam como o lumpen, não observem classes.
"Agora sabemos", observa James, "que os genes apenas variam a propensão entre irmãos, classes sociais ou grupos étnicos para sofrerem problemas de saúde mental". Estou de acordo.
“O Journal of Child Psychology and Psychiatry apresentou exactamente o mesmo ponto num editorial do princípio deste ano. A ciência séria, declarava o editorial, agora concentra-se mais do que nunca "sobre o poder do ambiente" e "todos excepto os deterministas genéticos mais teimosos tiveram de rever o seu ponto de vista".” Sem ser determinista, é bom lembrar que não devemos misturar pobreza e doenças.
"Os factores biológicos não existem num vácuo, hermeticamente selados de factores sociais e ambientais", acrescentou na semana passada o bioético Daniel Godlberg, da Carolina do Norte, num comentário sobre a nova análise de Oliver James. "Assim, a tentativa de separar o biológico e o social não faz o mínimo sentido". Não comparto esta afirmação totalmente, social não é ambiental. Nascer no Nepal ou no Peru, dentro de certa continuidade familiar, permite que o nosso sangue transporte muito mais oxigénio que o sangue de quem nasceu ao nivel do mar. Aqui não entra o aspecto social, só o ambiental. Por herança genética, acervo génico, os oriundos da África central possuem uma pele diferente à dos eslavos, e este é o resultado de uma adaptação ambiental, nada que ver com o social.
“Assim, o que faremos com o nosso novo entendimento da genética? Como podemos construir sobre o que agora sabemos a fim de ajudar a moldar sociedades mais saudáveis? James está a sugerir uma sequência de três passos.” Aqui chegamos ao cúmulo da confusão.
“Primeiro, aconselha o psicólogo, vamos "criar uma sociedade na qual o máximo de oportunidades para uma vida mentalmente saudável e realizada seja mais importante do que enriquecer uma minúscula minoria".” Há muito que lutamos contra o capitalismo, tentar inventar a pólvora através de um discurso tão confuso pode ser contraproducente.
“Segundo, vamos "colocar o atendimento das necessidades das crianças, especialmente as mais pequenas, à frente de todas as outras prioridades".” Isto não é possivel, não é lógico nem positivo.
“E, terceiro, vamos cultivar (nurture) as condições sócio-económicas que maximizam a saúde mental. James explica: "Isto significa criar maior igualdade económica, condições de trabalho muito mais seguras, muito maior flexibilidade de emprego para pais de crianças pequenas e uma semana de 35 horas".” Outra mistura perigosa: “maximizar a saúde mental” é comparar por baixo, os três aspectos enfatizados, como sabemos, fazem parte de um todo: Acabar com o capitalismo.
“Temos, reconhece James, "nem uma mínima possibilidade de algo disto acontecer até que os políticos entendam o que a ciência está a dizer-nos".” O que os cientistas, cientistas sérios, defendem, não se expõe de forma tão liviana nem com argumentos tão frágeis. Ainda que de existir (e existe) uma patologia que pode guardar relação com a realidade social cada vez mais homogénea da pobreza, esta é só mais uma, apenas mais uma, e estas, na sua grande maioria, conservam um denominador comum, o capitalismo. Não é por atirar para cima dos políticos a razão de todos os males da sociedade que vamos mudar nada, nem sequer pedindo-lhes que mudem o seu rol de prioridades, afinal quem os coloca em funções somos nós, todos, e seremos nós, povo, protagonizando a história, aqueles que devemos assumir de uma vez por todas o nosso papel, começando por cada um de nós, com os nossos filhos, com os professores, nas nossas relações com o mundo, connosco.
“Os cientistas podem precisar de falar mais alto. E o resto de nós? Podemos precisar ouvir mais atentamente.” Sobre esta sentença nada direi, fica ao critério do leitor a sua apreciação, afinal não se trata só de ouvir ou lêr.
[NT] Affluenza: União das palavras affluence (riqueza) e influenza (gripe), significando o desejo extremo de obter bens materiais ou o sentimento de insatisfação e ansiedade provocado pela busca obsessiva e incessante para obter sempre mais.
Agora, apodrecer
Agora, apodrecer.
Nas ruas, no suor das mãos amigas dos amigos, na pele dos espelhos...
desespero sorrido, carne de sonho público, montras enfeitadas de olhos...
...mas apodrecer.
Bolor a fingir de lua, árvores esquecidas do princípio do mundo...
"como estás, estás bem?", o telefone não toca! devorador de astros...
... mas apodrecer.
Sim, apodrecer
de pé e mecânico,
a rolar pelo mundo
nesta bola de vidro,
já sem olhos para aguçar peitos
e o sol a nascer todos os dias
no emprego burocrático de dar razão aos relògios,
cada vez mais necessários para as certidões da morte exata,
Sim, apodrecer ...
"...as mãos, a còlera, o frio, as pálpebras, o cabelo
a morte, as bandeiras, as lágrimas, a república, o sexo...
... mas apodrecer!
Sujar estrelas.
Nas ruas, no suor das mãos amigas dos amigos, na pele dos espelhos...
desespero sorrido, carne de sonho público, montras enfeitadas de olhos...
...mas apodrecer.
Bolor a fingir de lua, árvores esquecidas do princípio do mundo...
"como estás, estás bem?", o telefone não toca! devorador de astros...
... mas apodrecer.
Sim, apodrecer
de pé e mecânico,
a rolar pelo mundo
nesta bola de vidro,
já sem olhos para aguçar peitos
e o sol a nascer todos os dias
no emprego burocrático de dar razão aos relògios,
cada vez mais necessários para as certidões da morte exata,
Sim, apodrecer ...
"...as mãos, a còlera, o frio, as pálpebras, o cabelo
a morte, as bandeiras, as lágrimas, a república, o sexo...
... mas apodrecer!
Sujar estrelas.
José Gomes Ferreira
segunda-feira, novembro 01, 2010
Um cão andaluz
Este filme (15 minutos) é tratado como o ícone do cinema do descrito manifesto surrealista de André Breton, rompe com toda a lógica e linearidade narrativa e tem evocações oníricas. A idéia, derivada das interpretações de Gaudi e Buñuel, com uma justaposição de imagens apontadas pelos dois, criou um curta metragem cheia de momentos desconexos e cenas por vezes chocantes para olhares mais sensíveis, como a do globo ocular sendo seccionado (O homem com a navalha é interpretado pelo próprio Buñuel), a qual, pode ser entendida como uma forma de mostrar a necessidade de olhar e de nos situarmos, em consciência, num mundo em que se nos esvai a essência sem nos apercebermos da entrega (uma visão pessoal, neste caso concreto). O efeito causado nos espectadores é uma tentativa de promover a associação de imagens com uma série de formas de experimentar a realidade. As respostas disparam do inconsciente.
O filme não possui uma história cronológicamente rígida, passa de "era uma vez" directo para "oito anos depois" e para "dezaseis anos antes". Utiliza o sonho, baseando-se na psicanálise de Freud.
Assim, como pesadelo, sou capaz de ver um chui perverso despir uma menor, um puto castigado de cara contra a parede, mas, sonhar também a felicidade de percorrer um caminho pedregoso acompanhado. Outra coisa seria imaginar que o orçamento não passa, que o governo se demite e que, sem eleições, o FMI empresta o país aos portugueses, ideação que me colocaria no corredor da psicose, à porta da ezquizofrenia.
O filme não possui uma história cronológicamente rígida, passa de "era uma vez" directo para "oito anos depois" e para "dezaseis anos antes". Utiliza o sonho, baseando-se na psicanálise de Freud.
Assim, como pesadelo, sou capaz de ver um chui perverso despir uma menor, um puto castigado de cara contra a parede, mas, sonhar também a felicidade de percorrer um caminho pedregoso acompanhado. Outra coisa seria imaginar que o orçamento não passa, que o governo se demite e que, sem eleições, o FMI empresta o país aos portugueses, ideação que me colocaria no corredor da psicose, à porta da ezquizofrenia.
domingo, outubro 31, 2010
Mais uma razão para a direita odiar a ciência
Os conservadores esperam que a investigação do genoma humano ajude a provar que a natureza, não ordens sociais desiguais, determinam quem acaba por se tornar doente e pobre. Mas os nossos genes têm-se recusado a cooperar.
Um psicólogo clínico notável pelas suas observações sobre como a desigualdade afecta o que se passa nas nossas cabeças está agora a divulgar algumas percepções fascinantes, baseadas em nova investigação acerca de quanto a desigualdade reflecte o que está a acontecer nos nossos genes.
Este psicólogo clínico britânico, Oliver James, escreveu muito ao longo dos últimos anos acerca do que denomina "ansiedade pela riqueza" ("affluenza") [NT] , o "vírus" induzido pela desigualdade que nos conduz a um nível sempre mais alto de dinheiro, posses e fama.
A affluenza, destacou James, varia amplamente na sociedade. Quanto mais desigual for a distribuição de rendimento e riqueza numa sociedade, mais affluenza e mais elevada a incidência de doenças mentais que a affluenza tão seguramente engendra.
Os apologistas de ordens sociais desiguais sempre, naturalmente, contestaram qualquer ligação entre doenças mentais e o ambiente económico e social. Que pessoas de baixo rendimento sofram depressão a níveis duplos das pessoas de alto rendimento, acreditam estes apologistas, sugere apenas que pessoas na base nasceram neste mundo com mais "deficiências pessoais" do que as do topo.
"A direita política acredita que os genes explicam amplamente porque os pobres são pobres, assim como terem uma probabilidade dupla de serem mentalmente doentes", como observa James. "Para elas, os pobres são lama genética, afundada na base do charco genético".
A prova científica deste afundamento, exultava a direita uma década atrás, viria quando "avanços rápidos na genética e na neurociência" – o projecto genoma humano e toda a investigação em torno dele — revelasse a verdadeira "história da natureza humana".
A investigação do genoma humano, como opinou dez anos atrás o cientista político Charles Murray junto à organização de extrema-direita American Enterprise Institute, "está em vias de contrair e abalar o espaço para certas posições políticas".
"Estou a prever que os provérbios da direita geralmente demonstrar-se-ão mais próximos do alvo do que os provérbios da esquerda", escreveu Murray, "e que muitas das causas da esquerda revelar-se-ão incompatíveis com o modo como os seres humanos são programados (wired) ".
Com mais completa informação genética em mãos, Murray contestou: "verificou-se que a população abaixo da linha de pobreza nos Estados Unidos tem uma configuração de constituição (makeup) genética relevante que é significativamente diferente da configuração da população acima da linha de pobreza".
De facto, como observa Oliver Jones numa nova análise, as coisas não se apresentaram deste modo de forma alguma. A "extensa investigação do genoma" desde o ano 2000 não revelou qualquer "constituição genética" que predisponha algumas pessoas para o "êxito" e a riqueza e outras para a doença e a pobreza.
"Agora sabemos", observa James, "que os genes apenas variam a propensão entre irmãos, classes sociais ou grupos étnicos para sofrerem problemas de saúde mental".
O Journal of Child Psychology and Psychiatry apresentou exactamente o mesmo ponto num editorial do princípio deste ano. A ciência séria, declarava o editorial, agora concentra-se mais do que nunca "sobre o poder do ambiente" e "todos excepto os deterministas genéticos mais teimosos tiveram de rever o seu ponto de vista".
"Os factores biológicos não existem num vácuo, hermeticamente selados de factores sociais e ambientais", acrescentou na semana passada o bioético Daniel Godlberg, da Carolina do Norte, num comentário sobre a nova análise de Oliver James. "Assim, a tentativa de separar o biológico e o social não faz o mínimo sentido".
Assim, o que faremos com o nosso novo entendimento da genética? Como podemos construir sobre o que agora sabemos a fim de ajudar a moldar sociedades mais saudáveis? James está a sugerir uma sequência de três passos.
Primeiro, aconselha o psicólogo, vamos "criar uma sociedade na qual o máximo de oportunidades para uma vida mentalmente saudável e realizada seja mais importante do que enriquecer uma minúscula minoria".
Segundo, vamos "colocar o atendimento das necessidades das crianças, especialmente as mais pequenas, à frente de todas as outras prioridades".
E, terceiro, vamos cultivar (nurture) as condições sócio-económicas que maximizam a saúde mental. James explica: "Isto significa criar maior igualdade económica, condições de trabalho muito mais seguras, muito maior flexibilidade de emprego para pais de crianças pequenas e uma semana de 35 horas".
Temos, reconhece James, "nem uma mínima possibilidade de algo disto acontecer até que os políticos entendam o que a ciência está a dizer-nos".
Os cientistas podem precisar de falar mais alto. E o resto de nós? Podemos precisar ouvir mais atentamente.
[NT] Affluenza: União das palavras affluence (riqueza) e influenza (gripe), significando o desejo extremo de obter bens materiais ou o sentimento de insatisfação e ansiedade provocado pela busca obsessiva e incessante para obter sempre mais.
O original encontra-se em http://www.toomuchonline.org/tmweekly.html
Traduzido em http://resistir.info/"
Revisão própria
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Depois de tantos anos de investigação cientifica, do esforço que significou elevar esta disciplina a ciência, voltar agora à tábua rasa é quase grotesco. Porém, não restam dúvidas que a tal de affluenza se observa e contrasta na sociedade, com uma dispersão similar à apresentada, que constitui a base da defesa de três soluções que já Marx defendeu à alguns anos, mas, que pode também ser entendido como resultado de uma forma de condicionamento instrumental.
Um psicólogo clínico notável pelas suas observações sobre como a desigualdade afecta o que se passa nas nossas cabeças está agora a divulgar algumas percepções fascinantes, baseadas em nova investigação acerca de quanto a desigualdade reflecte o que está a acontecer nos nossos genes.
Este psicólogo clínico britânico, Oliver James, escreveu muito ao longo dos últimos anos acerca do que denomina "ansiedade pela riqueza" ("affluenza") [NT] , o "vírus" induzido pela desigualdade que nos conduz a um nível sempre mais alto de dinheiro, posses e fama.
A affluenza, destacou James, varia amplamente na sociedade. Quanto mais desigual for a distribuição de rendimento e riqueza numa sociedade, mais affluenza e mais elevada a incidência de doenças mentais que a affluenza tão seguramente engendra.
Os apologistas de ordens sociais desiguais sempre, naturalmente, contestaram qualquer ligação entre doenças mentais e o ambiente económico e social. Que pessoas de baixo rendimento sofram depressão a níveis duplos das pessoas de alto rendimento, acreditam estes apologistas, sugere apenas que pessoas na base nasceram neste mundo com mais "deficiências pessoais" do que as do topo.
"A direita política acredita que os genes explicam amplamente porque os pobres são pobres, assim como terem uma probabilidade dupla de serem mentalmente doentes", como observa James. "Para elas, os pobres são lama genética, afundada na base do charco genético".
A prova científica deste afundamento, exultava a direita uma década atrás, viria quando "avanços rápidos na genética e na neurociência" – o projecto genoma humano e toda a investigação em torno dele — revelasse a verdadeira "história da natureza humana".
A investigação do genoma humano, como opinou dez anos atrás o cientista político Charles Murray junto à organização de extrema-direita American Enterprise Institute, "está em vias de contrair e abalar o espaço para certas posições políticas".
"Estou a prever que os provérbios da direita geralmente demonstrar-se-ão mais próximos do alvo do que os provérbios da esquerda", escreveu Murray, "e que muitas das causas da esquerda revelar-se-ão incompatíveis com o modo como os seres humanos são programados (wired) ".
Com mais completa informação genética em mãos, Murray contestou: "verificou-se que a população abaixo da linha de pobreza nos Estados Unidos tem uma configuração de constituição (makeup) genética relevante que é significativamente diferente da configuração da população acima da linha de pobreza".
De facto, como observa Oliver Jones numa nova análise, as coisas não se apresentaram deste modo de forma alguma. A "extensa investigação do genoma" desde o ano 2000 não revelou qualquer "constituição genética" que predisponha algumas pessoas para o "êxito" e a riqueza e outras para a doença e a pobreza.
"Agora sabemos", observa James, "que os genes apenas variam a propensão entre irmãos, classes sociais ou grupos étnicos para sofrerem problemas de saúde mental".
O Journal of Child Psychology and Psychiatry apresentou exactamente o mesmo ponto num editorial do princípio deste ano. A ciência séria, declarava o editorial, agora concentra-se mais do que nunca "sobre o poder do ambiente" e "todos excepto os deterministas genéticos mais teimosos tiveram de rever o seu ponto de vista".
"Os factores biológicos não existem num vácuo, hermeticamente selados de factores sociais e ambientais", acrescentou na semana passada o bioético Daniel Godlberg, da Carolina do Norte, num comentário sobre a nova análise de Oliver James. "Assim, a tentativa de separar o biológico e o social não faz o mínimo sentido".
Assim, o que faremos com o nosso novo entendimento da genética? Como podemos construir sobre o que agora sabemos a fim de ajudar a moldar sociedades mais saudáveis? James está a sugerir uma sequência de três passos.
Primeiro, aconselha o psicólogo, vamos "criar uma sociedade na qual o máximo de oportunidades para uma vida mentalmente saudável e realizada seja mais importante do que enriquecer uma minúscula minoria".
Segundo, vamos "colocar o atendimento das necessidades das crianças, especialmente as mais pequenas, à frente de todas as outras prioridades".
E, terceiro, vamos cultivar (nurture) as condições sócio-económicas que maximizam a saúde mental. James explica: "Isto significa criar maior igualdade económica, condições de trabalho muito mais seguras, muito maior flexibilidade de emprego para pais de crianças pequenas e uma semana de 35 horas".
Temos, reconhece James, "nem uma mínima possibilidade de algo disto acontecer até que os políticos entendam o que a ciência está a dizer-nos".
Os cientistas podem precisar de falar mais alto. E o resto de nós? Podemos precisar ouvir mais atentamente.
[NT] Affluenza: União das palavras affluence (riqueza) e influenza (gripe), significando o desejo extremo de obter bens materiais ou o sentimento de insatisfação e ansiedade provocado pela busca obsessiva e incessante para obter sempre mais.
O original encontra-se em http://www.toomuchonline.org/tmweekly.html
Traduzido em http://resistir.info/"
Revisão própria
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Depois de tantos anos de investigação cientifica, do esforço que significou elevar esta disciplina a ciência, voltar agora à tábua rasa é quase grotesco. Porém, não restam dúvidas que a tal de affluenza se observa e contrasta na sociedade, com uma dispersão similar à apresentada, que constitui a base da defesa de três soluções que já Marx defendeu à alguns anos, mas, que pode também ser entendido como resultado de uma forma de condicionamento instrumental.
Assim mesmo, é evidente que os factores epigenéticos são importantissimos, não obstante, o acervo génico da espécie permite algo chamado filogénese, registro genético das características mais importantes para a sobrevivência dos antecessores, desde África à Lapónia e conformado com base em transformações ontogénicas que repercutem na reprodução. Sabemos também que, por exemplo, o calor aumenta a agressividade, a irascibilidade, algo que, para uns pode aumentar a capacidade cognitiva e para outros diminuí-la; motivar um comportamento mais ou menos aceite pelo endogrupo e incrementar a frustração ou a convicção, ultrapassar ou impedir alcançar o grau de atenção ideal de cada indivíduo e, tudo isto com um impacto claro no que por exemplo, às células T respeita; nas depressões talâmicas e não só, na composição química que sustenta a comunicação neuronal ou até nas concentrações de sais, intra e exacelular, etc.
Contudo, não pela conclusão de uma investigação absurda que tenta legitimar de uma maneira muito básica a proposta final do texto mas pelas suas razões reais, que são aquelas que devêmos expôr quando tratamos de lutar contra o erro brutal do capitalismo, mesmo que só pela diferença de condições de vida entre "países centrais e periféricos", pela atroz emigração; pela morte, estou parcialmente de acordo com as três soluções encontradas, mesmo sabendo que pedagógos e psicólogos se devem apoiar numa classe, os professores, que seguem programas definidos por governos.
Contudo, não pela conclusão de uma investigação absurda que tenta legitimar de uma maneira muito básica a proposta final do texto mas pelas suas razões reais, que são aquelas que devêmos expôr quando tratamos de lutar contra o erro brutal do capitalismo, mesmo que só pela diferença de condições de vida entre "países centrais e periféricos", pela atroz emigração; pela morte, estou parcialmente de acordo com as três soluções encontradas, mesmo sabendo que pedagógos e psicólogos se devem apoiar numa classe, os professores, que seguem programas definidos por governos.
Por último, tão pouco a segmentação das soluções se entende, uma vez que, de estabelecer uma política educativa com os objectivos apontados, também a legislação laboral se veria obrigatóriamente afectada, assim como a repartição dos recursos, etc.
Mais enquadrada numa perspectiva tipo "gestalt" (que não a nazi, é bom não confundir), longe de recuperar o Darwinismo social excluente de princípios do século XX mas não por tal prescindindo da evolução natural que este defendeu, só a destruição de todos os alicerces do actual modo de inter-relação poderia abrir caminho à cristalização do sonho do autor, que, como é visível, comparto e por tal participo.
Esperar que o meu desenvolvimento fosse igual ao de um tibetano se os meus pais decidissem, depois de muitos séculos, ir viver para o Nepal, é duvidoso. Esperar que um inuit não tivera que dedicar grande parte da sua limitada (como a de todos os seres humanos) capacidade a adaptar-se a uma infância na Guiné-Bissau, é discutivel. Entender que por estas afirmações defendera maior ou menor capacidade intelectual dependendo da naturalidade, é uma conclusão simplista e pouco séria.
Todos diferentes, todos iguais, isso sim. Lutar pelo pleno desenvolvimento do Homem começando pelo aspecto ecológico, passando pelo social, terminando por exemplo no neurofisiológico, está, sem dúvida, na base do Comunismo. Pugnar pela preponderância de determinados mundos na constituição integral do indivíduo, macros no caso do texto aqui tratado, é um erro pueril de um facciosismo ignorante, quase tão tendencioso como o motivo pelo qual a direita sempre preteriu a ciência e o seu papel fundamental na criação das condições mais favoráveis para o surgimento de um feliz Homem novo.
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