Que o BCP peça licença aos seus amos para realizar operações com o Irão, da mesma forma que qualquer multinacional norte americana, é compreensível, até aceitável, afinal é mais um ente estrutural do capitalismo, uma entidade que traduz desta forma a realidade imperialista só se apresenta coerente, o que é reprovável é o próprio capitalismo. Por outra parte, que o nosso país se submeta aos desígnios colonialistas de outro qualquer estado, servindo de testa de ferro para levar a paulada dos ineptos que por decisão externa assumem a sua incapacidade para condenar criminosos, infanticidas, só porque dessa forma se legitimaria a adopção de métodos e meios criados e controlados pelo núcleo do neofascismo global, não só resulta humilhante como redutor, transmitindo uma impressão de impotência à população que só ajuda a desbravar o caminho a esta repressão persuasiva.
No que à manipulação concerne, poderíamos bastar-nos com o anterior exemplo, mas, considerando que muitos, e cada vez mais, de nós mantemos a bandeira do escepticismo ao vento de quase todas as opiniões, também o discurso do actual presidente português conserva uma mensagem tácita apologista do abandono da nossa vontade: Quando na imprensa se propagandeia a assistência do outro português de estimação dos speakers de Manhattan a uma peça como “Jesus Cristo superstar”, entendemos que a magia é mesmo algo sério, algo a ter em consideração. Se, ainda assim, o babado malabarista, vem mais tarde lamentar o estado calamitoso, famélico, abjecto, no qual se encontra o Estado, utilizando a preponderância da sua posição mas sem que desta aceite responsabilidades, alegrando-se que alguém se tenha lembrado de nos alimentar com lixo, o mais provável é que apareça, no horizonte daqueles aos quais a realidade amorfa a opinião, uma atribuição causal alheia a sua vontade, mágica. Não resultando fácil questionar o papel do presidente e a sua culpa pela actual situação por parte do povo - devemos considerar o medo de exclusão social que significa sacar a cabeça fora do meio-, mais difícil se torna quando é a nossa estrutura mental de decisão aquela que deve primeiramente ser ponderada, revista, transformada, mas, claro, também o comportamento é hereditário e, àparte de cinquenta anos de voz amordaçada, tão pouco anteriormente se desfrutou de grandes liberdades de expressão ou, de um paradigma no qual a responsabilização pelo resultado das decisões de cada um fosse um direito que derivasse numa cultura o suficientemente coesa para se posicionar emancipada no actual contexto global.
Não obstante, soluções existem, a questão é começar e, começar já começámos, em 74. Mais que Abril de novo, Abril. Foi em Abril quando conquistámos o direito de pensar e reclamar, transformar, decidir a nossa vida, o futuro. Como o fez o Francisco Lopes, tendo conseguido como resposta uma cobarde atitude de fuga sem resposta por parte daquele que nos deve contas, hoje necessitamos, exasperados, todos, usar Abril.
Carbon omissions
Há 16 horas
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