domingo, fevereiro 13, 2011

Perspectiva de um jardineiro

Perspectiva e, perspectivo, um campo imenso, tão extenso que parece ter como objectivo aumentar o alcance da vista, mas, será o campo?
Ao nascer, existimos como um jardim, prometemos como um jardim. Sem portas, nem janelas, nem cercas, nem cercados, só mais um, jardim. Quantos jardins...
Putos todos, compartimos, jogamos, exploramos, conhecemos, experimentamos, amamos neles e desde esses jardins.
Crescemos. Avançamos como um jardim num campo que este não limita e, porque o homem precisa conhecer, deixamos de o cuidar abstraidos pela redondeza. Assim, cresce, expande-se, multiplica de tal forma o seu tamanho que, abandonado, deixa de ser um jardim para se tornar floresta, que já não é nossa e que desconhecemos. Floresceu só com o nosso cuidado por outros jardins, os quais, não pretendendo, foram todos.
Tarde nos percatamos, quando já os troncos e as ramas das árvores e plantas dessa floresta se embrenham com outras, de um machado em alça para as segar. Para onde não olhamos, como pelos passos da sombra avisados, outros bosques, lanças com brasão, ou só mesmo (os que mais) muros de arame farpado, avançam sobre os rebentos das flores que teriam sido, algumas, também o nosso jardim.
Reagir, eis a solução. Com palavras, correntes, frustrações ou desnorte, toca a desbravar o que afinal não entendemos, o que nada nos diz, do que nada dissémos nem escutámos, sempre alheios, ainda que apenas isso sejamos.

Súbitamente, aparecemos feras, vindos da selva que foi campo, outrora caminhos para passearmos de um campo pragado de jardins soalheiros, hoje trevas, hoje... onde está o meu jardim, onde estão os nosso jardins?
Definhamos na contenda, defendendo a cegueira, que mata, profunda.


Mitchourine

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