quarta-feira, abril 27, 2011

Mais um dia

Quantas vidas se enlaçam no meu ADN?

Quantos se puseram à minha frente para que olhe o horizonte de braço hirto?

Quantos pensamentos se reprimiram enclausurados na vastidão das mentes até lhe faltarem à minha realidade?

Recordar quem fui não será desvirtuar o que sou, ou já não sou?

Não creio. Já não sou só tudo o que fui, sou uma projecção daquilo que quero ser, ancorado no limbo de quem era e do que serei. Uma espécie de caminhante.

Recordar Abril é necessário, mas não por mim, que também o sou. Recordar Abril é importante para que outros saibam que aconteceu, mas, não será menos interessante contar o nosso Abril a essa professora que exige meritocracia daquela que premeia “os que mais sabem” ou àqueles que vêm para a avenida gritar por Abril e expiar as frustrações que os carcomiam quando pensavam se votar sem agitar a marisma ou ficar em casa ao abrigo de olhares inquisidores.

Não sei se será pragmático ficar mal na fotografia e defender a participação popular recusando o acordo ortográfico (por exemplo), falar de política em público ou exibir vestes que denunciem explicitamente a ideologia segundo a qual pretendemos transformar a sociedade. Sei que queimar páginas do livro da história que nos vendem a preço da vida apenas pelo suplemento aparentemente gratuito de uma hiper-realidade tão descartável resulta conflituoso e, por vezes, fecundo, mas também os há conciliadores.

Aos amigos que nunca tentaram salvar-me de mim.

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