Quantas vidas se enlaçam no meu ADN?
Quantos se puseram à minha frente para que olhe o horizonte de braço hirto?
Quantos pensamentos se reprimiram enclausurados na vastidão das mentes até lhe faltarem à minha realidade?
Recordar quem fui não será desvirtuar o que sou, ou já não sou?
Não creio. Já não sou só tudo o que fui, sou uma projecção daquilo que quero ser, ancorado no limbo de quem era e do que serei. Uma espécie de caminhante.
Recordar Abril é necessário, mas não por mim, que também o sou. Recordar Abril é importante para que outros saibam que aconteceu, mas, não será menos interessante contar o nosso Abril a essa professora que exige meritocracia daquela que premeia “os que mais sabem” ou àqueles que vêm para a avenida gritar por Abril e expiar as frustrações que os carcomiam quando pensavam se votar sem agitar a marisma ou ficar em casa ao abrigo de olhares inquisidores.
Não sei se será pragmático ficar mal na fotografia e defender a participação popular recusando o acordo ortográfico (por exemplo), falar de política em público ou exibir vestes que denunciem explicitamente a ideologia segundo a qual pretendemos transformar a sociedade. Sei que queimar páginas do livro da história que nos vendem a preço da vida apenas pelo suplemento aparentemente gratuito de uma hiper-realidade tão descartável resulta conflituoso e, por vezes, fecundo, mas também os há conciliadores.
Aos amigos que nunca tentaram salvar-me de mim.
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Há 6 horas
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