sexta-feira, novembro 14, 2008

Sobre a Violação da Unidade Encoberta com Gritos de Unidade

II. Sobre a Cisão

«Se entre vós, pravdistas, não existe fraccionismo, isto é, reconhecimento nominal da unidade com fragmentação de facto, existe outra coisa pior — cisionismo», objectar-nos-ão. É precisamente assim que fala Trótski que, não sabendo meditar sobre os seus pensamentos e ligar ponta com ponta das suas frases, ora vocifera contra o fraccionismo, ora grita: «a cisão faz uma conquista suicida após outra» (n.° 1, p. 6).
O sentido desta declaração só pode ser um: «os pravdistas fazem uma conquista após outra» (este é um facto objectivo e verificável, estabelecido com o estudo do movimento operário de massas da Rússia pelo menos nos anos de 1912 e 1913), mas eu, Trótski, condeno os pravdistas (1) como cisionistas e (2) como políticos suicidas.
Analisemos isto.
Em primeiro lugar agradeçamos a Trótski: há pouco (de Agosto de 1912 até Fevereiro de 1914) ele seguia F. Dán que, como é sabido, ameaçava e exortava a «matar» o antiliquidacionismo. Agora Trótski não ameaça «matar» a nossa orientação (e o nosso partido - não se zangue, cidadão Trótski, pois é verdade!), mas apenas prediz que ela própria se matará!
Isto é muito mais suave, não é verdade? Isto é quase «não fraccionário», não é assim?
Mas deixemos os gracejos de lado (ainda que o gracejo seja o único meio de réplica suave à insuportável verborreia de Trótski).
«Suicídio» é simplesmente uma frase, uma frase oca, apenas «trotskismo».
Cisionismo é uma acusação política séria. Esta acusação é repetida contra nós de mil maneiras tanto pelos liquidacionistas como por todos os grupos, acima enumerados, indubitavelmente existentes do ponto de vista de Paris e de Viena.
E todos repetem esta acusação política séria de um modo espantosamente não sério. Olhai para Trótski. Ele reconheceu que «a cisão faz (leia-se: os pravdistas fazem) uma conquista suicida após outra». E acrescenta a isso:
«Numerosos operários avançados em estado de plena desorientação política transformam-se eles próprios com frequência em activos agentes da cisão» (n.° 1, p. 6).
Poder-se-á encontrar exemplos de uma atitude menos séria para com a questão do que aquela que se revela nestas palavras?
Vós acusais-nos de cisionismo, e entretanto não vemos diante de nós na arena do movimento operário da Rússia senão o liquidacionismo. Quer dizer, vós considerais errada a nossa atitude para com o liquidacionismo? E de facto, todos os grupos no estrangeiro acima enumerados, por mais que se distingam uns dos outros, coincidem precisamente em que consideram a nossa atitude para com o liquidacionismo errada, «cisionista». Nisso consiste também a afinidade (e a essencial proximidade política) de todos estes grupos com os liquidacionistas.
Se a nossa atitude para com o liquidacionismo é errada no plano teórico, dos princípios, Trótski deveria tê-lo dito directamente, declarado precisamente, indicado sem rodeios, em que vê esse erro. Mas Trótski evita há anos este ponto fundamental.
Se na prática, na experiência do movimento, é refutada a nossa atitude para com o liquidacionismo, há que analisar essa experiência, o que Trótski também não faz. «Numerosos operários avançados — reconhece ele — transformam-se em activos agentes da cisão» (leia-se: activos agentes da linha, da táctica e do sistema de organização pravdistas).
Porque é, pois, que se dá o fenómeno tão triste, confirmado, segundo reconhece Trótski, pela experiência, de os operários avançados, e além disso numerosos, serem pelo Pravda?
Em consequência da «plena desorientação política» desses operários avançados, responde Trótski.
A explicação, é desnecessário dizer, é extremamente lisonjeira para Trótski, para todas as cinco fracções no estrangeiro e para os liquidacionistas. Trótski gosta muito de dar explicações, «com o ar erudito do conhecedor» e com frases pomposas e sonoras, lisonjeiras para Trótski, dos fenómenos históricos. Se «numerosos operários avançados» se tornam «activos agentes» de uma linha política e partidária que não se coaduna com a linha de Trótski, então Trótski resolve a questão, sem constrangimento, imediata e directamente: estes operários avançados encontram-se «em estado de plena desorientação política», e ele, Trótski, evidentemente, «em estado» de firmeza política, clareza e justeza de linha!... E esse mesmo Trótski, batendo com a mão no peito, fulmina o fraccionismo, o espírito de círculo, a tendência própria de intelectuais para impor a sua vontade aos operários!...
Na verdade, ao ler tais coisas, perguntamo-nos involuntariamente se não será de um manicómio que se ouvem tais vozes.
Perante os «operários avançados», a questão do liquidacionismo e da sua condenação foi levantada pelo partido em 1908, e a questão da «cisão» com um grupo bem determinado de íiquidacionistas (precisamente: o grupo da Nacha Zariá, isto é, da impossibilidade de construir o partido de outra forma que não sem este grupo e contra ele, esta última questão foi levantada em Janeiro de 1912, há mais de dois anos. Os operários avançados pronunciaram-se, na sua imensa maioria, precisamente pelo apoio à «linha de Janeiro» (de 1912). O próprio Trótski reconhece este facto com as palavras sobre as «conquistas» e os «numerosos operários avançados». E Trótski escapa-se insultando simplesmente esses operários avançados de «cisionistas» e «politicamente desorientados»!
As pessoas que não perderam a razão tirarão destes factos uma conclusão diferente. Onde a maioria dos operários conscientes se uniu em torno de decisões exactas e precisas, ali há unidade de opinião e acção, ali há espírito de partido e partido.Onde vimos liquidacionistas, «destituídos dos cargos» pelos operários, ou meia dúzia de grupos no estrangeiro, que em dois anos não demonstraram com nada as suas ligações com o movimento operário de massas da Rússia, aí precisamente reina a desorientação e o cisionismo. Ao tentar agora convencer os operários a não cumprir as decisões daquele «todo» que é reconhecido pelos marxistas-pravdistas, Trótski tenta desorganizar o movimento e provocar a cisão.
Estas tentativas são impotentes, mas há porém que desmascarar os guias de grupos intelectuais que ultrapassaram os limites da sua presunção, os quais, provocando a cisão, gritam sobre a cisão, os quais, sofrendo durante mais de dois anos uma derrota completa perante os «operários avançados», cospem com incrível descaramento nas decisões e na vontade destes operários avançados, chamando-lhes «politicamente desorientados». Pois tudo isso são métodos próprios de Nozdriov ou de Judaszinho Golovliov.
E, na nossa função de publicistas, nós, respondendo aos repetidos gritos sobre a cisão, não nos cansaremos de repetir os dados exactos, não refutados e irrefutáveis. Na II Duma havia na cúria operária 47 % de deputados bolcheviques, na III 50%, na IV 67%.
Eis onde está a maioria dos «operários avançados», eis onde está o partido, eis onde está a unidade de opinião e de acção da maioria dos operários conscientes.
Os líquidacionistas objectam (ver Búlkine, L. M., no n.° 3 da Nacha Zariá) que nós nos servimos de argumentos baseados nas cúrias stolípinianas. Esta é uma objecção insensata e de má-fé. Os alemães medem os seus êxitos por eleições realizadas sob a lei eleitoral bismarckiana, que exclui as mulheres. Só loucos podiam censurar por isso os marxistas alemães, que medem os seus êxitos na base da lei eleitoral existente. Sem aprovar de modo algum as suas restrições reaccionárias.
Assim também nós, não defendendo as cúrias, nem o sistema de cúrias, medimos os nossos êxitos na base da lei eleitoral existente. As cúrias existiram em todas as três (II, III, IV) Dumas, e dentro de uma e mesma cúria operária, dentro da social-democracia, houve uma deslocação total contra os liquidacionistas. Quem não se quer enganar a si próprio e aos outros deve reconhecer este facto objectivo da vitória da unidade operária contra os liquidacionistas.
Outra objecção não é menos «inteligente»; «por um ou outro bolchevique votaram (ou participaram nas eleições) mencheviques e liquidacionistas». Perfeito! Mas não se aplicaria isto também aos 53% de deputados não bolcheviques na II Duma, aos 50% na III Duma, aos 33% na IV Duma?
Se fosse possível considerar, em vez dos dados sobre os deputados, os dados sobre os grandes eleitores ou sobre os representantes eleitorais dos operários, etc, considerá-los-íamos com todo o prazer. Mas tais dados mais pormenorizados não existem e, consequentemente, os «objectores» apenas atiram areia para os olhos do público.
E os dados sobre os grupos operários que ajudaram os jornais de diferentes orientações? Em dois anos (1912 e 1913) havia 2801 grupos pelo Pravda e 750 pelo Lutch. Todos podem verificar estas cifras, e ninguém tentou ainda refutá-las.
Onde está então aqui a unidade de acção e de vontade da maioria dos «operários avançados» e onde está a violação da vontade da maioria?
O «não-fraccionismo» de Trótski é precisamente o cisionismo no sentido da mais desavergonhada violação da vontade da maioria dos operários.

2 comentários:

Ana Camarra disse...

CRN

Palavras para quê
O divisionismo assenta só e apenas numa coisa, na necessidade individual de brilhar.
Enquanto existirem pessoas assim, que em nome da sua vaidade e narcisismo sacrifiquem o interesse colectivo, continuará, nessa altura e hoje.

Beijos

Mário Pinto disse...

Ana,
Esperemos que não continue.

A revolução é hoje!