quinta-feira, janeiro 15, 2009

Verdes anos

Curiosamente, depois de partir e abandonar a minha terra, prescindindo, coagido, da robustez que nos aporta a identidade e a identificação culturais, privado de referencias encetei um caminho novo, nasci com vinte e poucos anos para outra realidade, mas claro, nascer com 20 anos é bastante mais fácil que nascer biológicamente, muitas escolhas, bastantes sensações disfrutadas ou sentimentos; às vezes dificeis de controlar, permitem dotar-nos de maior exigência no relativo ao caminho que escolhemos.
Quem sabe por assumir necessário esse momento no qual rompemos a blindagem, quem sabe por fazer parte da mesma, continuando a levantar-me o pelo de forma aleatória, ora na face esquerda, ora nos joelhos, continuo a encontrar esse momento no qual, de forma automática e num delirio retrospectivo intemporal, reencontro emoções gratificantes que ratificam a necessidade de continuar a estimular, promover, apoiar, dentro da humilde de uma gota de água num oceano de inconformismo, a mudança que todos sabemos, no mais profundo da nossa razão, ser possivel.
Assim, sem procurar mas encontrando, deparei-me com um video ao qual tentei negar o privilégio de me abstrair. Contudo, depois de o dilacerar com camaradas, hoje, um dia depois, também seguramente por compartir outro blog com companheiros que a este dedicaram um artigo, embebido da divagação que favorece a permeabilidade, encontrei-me prostrado à memória, quadro que a música favorece quando constitui parte da nossa raiz, quando um instrumento vibra em armonia com a essencia mais visceral de qualquer ser.
Por tal, apostando tornar a exclusividade realidade, para a frente é que é caminho, para a frente do passado, entendendo esta viagem como construcção de um edificio, o qual, sem fundações, nunca será mais que uma miragem, aqui fica parte das minhas.

Ainda que, para viver, é necessário despertar.


A revolução é hoje!

4 comentários:

Ana Camarra disse...

CRN


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


(acho que já te tinha oferecido este, mas assenta)

Beijos
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio

Mário Pinto disse...

Ana,
Que leitura, que leitora!
Bonitos textos.

Abraços.

A revolução é hoje!

Zorze disse...

CRN,

Que belíssimo post. O abrir o peito e mostrar que lá dentro existe uma alma que chora, mas que, também ri.
Técnicamente mostraste o teu real psico-soma.

Verdes anos de Carlos Paredes tem uma força tremenda que a grande maior parte não entende na sua globalidade. Poderão dizer que a música é bonita, mas, o seu fundo é de natureza não só humana. Daí a transcendência.
É uma questão complexa que um dia aprofundarei.

Vem das vísceras, de lágrimas frias, da capacidade interior de múltiplas existências e da imprevisibilidade capaz de mudar realidades.

Como contemplar o milagre do nascer do Sol ou arrancar selvaticamente com a boca a carne do supostamente dominador.

O leque de actuação do bicho humano tem gradiências a tender para o infinito.

Dentro de cada um de nós, simples grãos de areia, existem forças de tal forma poderosas que os nossos neurónios não conseguem processar. Mas que podem engrenar a máquina que de forma espiral para baixo vai destruindo, a relação social.

Abraço,
Zorze

Anónimo disse...

Zorze,
Estou de acordo, ainda que só alcançaremos a vida quando contruir-mos como crescemos, de baixo para cima.

A revolução é hoje!