segunda-feira, junho 15, 2009

Emigrantes, imigrantes, oprimidos e amantes.



A modo de "Cayuco" Africano, similar àqueles que hoje ceifam a vida de centenas de oprimidos pela politica neocolonizadora central, esta fotografia mostra esses mesmos exploradores em tempos remotos, tentando entrar na Venezuela.

"La Elvira", era o nome Espanhol da embarcação que, em 1949, transportava 100 emigrantes "ilegais" para a Venezuela, País no qual residem hoje cerca de 126.000 imigrantes oriundos, na sua maioria, das ilhas espanholas, Canárias, e da Galiza.
Este êxodo teve como momento áureo o período entre 1948 e 1950 e, ainda que perto de 12.000 tenham regressado às origens (algo que no meu caso só acontecerá em horizontal, mesmo respirando). Aparte dos embarques no mar alto, os portos de Lisboa, Marselha, Bordéus ou Gibraltar, eram os cais escolhidos pela emigração Catalã, Andaluza, Galega, Vasca ou Canária, para empreender esse desafio

Tendo pago 4.000 pesetas, que há época era uma quantia bastante avultada, estes 106 seres humanos cruzaram o oceano desde o atraque de Guaira, nas Canárias, fugindo da fome que o regime franquista imprimia à generalidade da população, situação não muito diferente à experimentada esses dias no nosso País.

Depois de 36 dias, nos quais, alimentando-se de grão de trigo tostado ao estilo canário e turnando-se para dormir encima do companheiro, os tripulantes acordavam com o vómito do camarada agradecendo por continuar vivos, chegaram à praia, onde a fome lhes escondeu o cheiro nada agradável de um fruto que desconheciam, o mango.

Estórias foram 106, mas, como exemplo deixo uma que vem asseverar que vale realmente a pena lutar. É a história do Paco Azcona, quem depois de se tornar, à força e muitas vezes por um prato de comida, dormindo na praia e passando na maioria das jornadas essa fome com a barriga cheia de liberdade, pintor civil, criou o orfeão da cidade de Guarena, o liceu da cidade e o primeiro jornal, na companhia da sua amada Ermelinda, uma professora que hoje celebra 83 anos, vítima de alzheimer mas inseparável companheira de Paco.

A revolução é hoje!

5 comentários:

Ana Camarra disse...

CRN

Estranho facto, os Europeus esqueceram-se depressa que há pouco tempo eram eles que procuravam uma vida melhor, essencialmente no Continente Europeu.
Ellis Island em Nova Iorque, Argentina, Venezuela, Brasil, Canada, Chile, todos receberam vagas de europeus que fugiam de uma miséria extrema, faziam-no em condições desumanas.
Hoje os governos da Europa esquecem que todos fomos errantes, esquecem que a música do Brasil só é possivél com a mistura de culturas, esquecem que o Jazz de New Orleans só aconteceu devido á influência francesa e africana, que as vinhas do Chile foram daqui, que a tarte de maçã Americana é massa das bolachas da Dinamarca recheadas com maçãs selvagens.
Que falta de memória!

beijos

Ana Camarra disse...

Era no Continente Americano, claro!

Mário Pinto disse...

Ana,

No caso dos Portugueses, que é no fundo o meu caso, não tens mais que visitar cidades como Boston, Newark, Perth, Londres, países como Venezuela, Brasil, França, Alemanha, Suiça, Luxemburgo, Bélgica e mesmo Espanha, para verificares quão esquecidos nos tornamos.
Segundo reza a estatistica, somos hoje mais de 15 milhões na diáspora, 5 desde há uns anos.
Uma questão de arrogância dos nécios, amedrontados com a imensidão da vida ou com o diminuto mundo ao qual chamamos terra.

A revolução é hoje!

Jorge disse...

Há grandes histórias, sem dúvida !

Abraço

CRN disse...

Jorge,

Histórias incríveis, desafios para sonhadores.


A revolução é hoje!