domingo, novembro 29, 2009

O prelúdio para o fim do jogo

A economia dos EUA irá entrar numa espiral vertiginosa nos próximos meses e atingirá o seu ponto crítico no fim do primeiro trimestre de 2010 e explodirá no segundo trimestre.

Os maciços milhões de milhões de dólares de estímulo não conseguiram dar a volta à economia. A gigantesca transfusão de sangue pode ter mantido o paciente vivo, mas há numerosos sinais de falência de muitos órgãos.

Vai haver outra vaga de penhoras de propriedades residenciais e, mais importante ainda, de propriedades comerciais no final de Dezembro e inícios de 2010. E as propriedades penhoradas em 2009 vão levar a preços rebaixados quando chegarem ao mercado. Os valores das habitações e estabelecimentos comerciais vão cair a pique. Os balanços dos bancos vão ficar feios e quaisquer que sejam os "lucros registados" nos últimos dois trimestres de 2009 não serão suficientes para cobrir a tinta vermelha adicional.

Perante esta situação, será que o Fed vai continuar a comprar garantias apoiadas em hipotecas para estimular os mercados? O Fed já gastou milhões de milhões a comprar as hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac sem qualquer possível comprador substituto à vista. Por isso, o balanço do Fed é tão tóxico como o dos bancos "demasiado grandes para falir" que socorreu.

Nestas circunstâncias, não faz sentido que haja quem afirme que o pior já passou e que a economia global está a caminho da recuperação.

E o sinal mais seguro de que nada está bem com os grandes bancos, é o recente discurso do presidente do Federal Reserve Bank of New York, William Dudley, em Princeton, New Jersey, quando disse que o Fed vai reduzir o risco duma futura crise de liquidez concedendo um "escudo" a firmas solventes com colaterais suficientes.

Este aviso e garantia merece uma análise mais aprofundada. Primeiro, é uma contradição afirmar que uma firma solvente com colaterais suficientes poderá de facto deparar-se com uma crise de liquidez para justificar a necessidade de um pedido de ajuda ao Fed. Na verdade é o reconhecimento de que os bancos não estão suficientemente capitalizados e que, quando forem atingidos de novo pela segunda vaga do tsunami, não haverá confiança nenhuma.

Dudley disse mesmo que, "o banco central pode funcionar como o prestamista de último recurso… [e isso reduzirá] o risco do pânico estimulado pela incerteza entre os prestamistas quanto ao que outros credores possam pensar".

Para pôr as coisas cruamente, o que ele está a dizer é que o Fed se vai esforçar por evitar a repetição do colapso do Bear Stearns, da Lehman Bros e da AIG. É também uma indicação de que os restantes grandes bancos estão em dificuldades.

É interessante notar que um relatório da Bloomberg no início de Novembro revelou que o Citigroup Inc e o JP Morgan Chase têm vindo a acumular dinheiro líquido. O primeiro quase duplicou o seu stock de dinheiro para 244,2 mil milhões de dólares. No caso do segundo, o amontoar de dinheiro atingiu os 453,6 mil milhões de dólares. Contudo, perante esta acumulação nos principais bancos, o New York Federal Reserve Bank teve que tranquilizar a comunidade financeira de que está pronto a injectar uma liquidez maciça para escorar o sistema.

Não deve surpreender ninguém que o valor do dólar esteja a apontar para o Sul.

Quando as divisas se degradam, aumenta a volatilidade no mercado de acções. Mas os ganhos não compensam os riscos e se ainda existir alguém no mercado, serão varridos no 1º trimestre de 2010. O S&P [2] pode ter aumentado desde o início do ano em mais de 25 por cento mas foi ultrapassado pelo ouro. Os ganhos também ficaram atrás da taxa de inflação oficial dos EUA. Na verdade constituíram um retorno total após inflação de aproximadamente menos de 25 por cento. Quando Meredith Whitney observou que "Não sei o que é que se passa no mercado neste momento, porque para mim não faz sentido", é altura de sair do mercado rapidamente.

Num relatório para os seus clientes a Société Générale [3] avisou que a dívida pública seria enorme nos dois anos seguintes – 105 por cento do PIB no Reino Unido, 125 por cento nos EUA e na Europa e 270 por cento no Japão. A dívida global deveria atingir os 45 milhões de milhões de dólares.

Estas dívidas vão ter que ser pagas um dia. Como é que vão ser pagas?

Se formos atrás do que Bernanke tem andado a pregar e a praticar, significa que será criada mais divisa de papel higiénico para pagar as dívidas.

Em consequência disso, a desvalorização das divisas vai continuar o que agravará ainda mais as tensões existentes entre as economias em competição. E quando os credores se fartarem desta vigarice do papel higiénico, podem esperar reacções violentas!


22/Novembro/2009

2 comentários:

jorge disse...

E quando eles derem o berro vão-se agarrar a quem e aonde ???

Abraço!

CRN disse...

Não será dificil adivinhar, mas estaremos dispostos a aguentar um paradigma desse tipo? Eu não!

Um abraço!