quarta-feira, novembro 26, 2008

Mass media e políticas de massas I

Debates e estudos sobre os mass media (MM) têm focado a sua parcialidade política, propriedade e ligações às grandes empresas, relações e laços com o Estado, abertura e diversidade relativas, promoção de guerras e interesses corporativos, entre outros grandes problemas que afectam as relações de poder, riqueza e imperialismo. De particular interesse para os autores que se opõem ou apoiam o papel dos MM é o impacto que estes têm, ao influenciar a visão geral do mundo, opiniões e comportamentos das pessoas. Ensaios, monografias e estudos empíricos têm sido publicados quanto à extensão da influência dos MM, o período de tempo durante o qual mantém controlo, a profundidade das opiniões inculcadas pelos MM e o 'lugar' que as mensagens transmitidas pelos MM têm na indução da opinião pública à conformidade com os interesses da classe dominante. Uma compreensão do papel e poder dos MM na actual sociedade capitalista exige-nos que organizemos um debate compreendendo três grandes escolas – Conservadora, Liberal e Marxista – antes de procedermos a uma análise crítica e finalmente apresentarmos notas destinadas a criar alternativas às redes de informação e comunicações controladas pelas elites.

Paradigmas em competição: conservador, liberal e marxista

Há três paradigmas quanto ao papel, poder e relação dos mass media com a opinião e acção pública: o conservador, o liberal e o marxista.
O paradigma conservador, ou 'pluralista', largamente propagado pelos cientistas sociais dos EUA e Europa, enfatiza as múltiplas vozes, as redes em competição, o mercado de informação e a diversidade de opiniões. Os conservadores – 'pluralistas', afirmam que mesmo se a posse dos mass media estiver concentrada e a sua mensagem deturpada a favor do status quo, os mass media são simplesmente uma 'ferramenta', contrabalançada por outras 'ferramentas', tais como os 'grandes números' de votantes de baixos salários.
Embora concedendo que haja um acesso desigual aos mass media entre trabalhadores e o capital, regimes pró-guerra e oposição anti-guerra, afirmam que a oposição também tem alguns meios de acesso ao mercado, através de numerosos escritores e agentes de difusão: O controlo sobre os mass media é 'desigual mas disperso'. Discutem ainda que, com o crescimento da Internet, há múltiplas fontes de informação e que o monopólio dos mass media tem sido seriamente diluído, efectivamente 'democratizando' o 'sistema de comunicação'. Os ideólogos pluralistas mais astutos citam estudos empíricos, a demonstrarem que a maior parte das visões que os indivíduos têm são formadas pelos suas famílias, amigos e vizinhos – relações face-a-face, muito mais que os 'impessoais' media.
Em suma, os conservadores defendem que não existe uma toda-poderosa elite dos mass media e que a extensão em que existe é contrabalançada pelos media alternativos, opiniões locais e pelo sua própria tolerância a opiniões diversas e concorrentes.

O paradigma liberal dos mass media

O paradigma liberal descreve os MM como o instrumento chave da dominação pela classe dominante numa democracia liberal. Começando com o registo histórico da concentração da propriedade do mass media nas mãos de um pequeno grupo de corporações interligadas com a área dos negócios e com o Estado, os MM são vistos como um componente essencial do 'sistema de controlo' que perpetua a classe dominante e a construção de impérios pelo seu controlo e doutrinação da opinião pública. A maioria da população é convertida numa massa maleável, induzida na conformidade com os interesses e políticas da classe dominante, assim prevenindo a mudança e perpetuando o domínio pela elite corporativa. Para os liberais o controlo de cima para baixo pelos mass media explica o 'paradoxo' de um império altamente desigual e orientado para a acção militar, no contexto de um sistema político livre e democrático.
O principal papel dos académicos é convencer outros académicos a desmascarar os media, a expor as suas fabricações, mentiras e hipocrisias, enfatizando as 'contradições' entre os 'nossos' valores democráticos e as mentiras dos poderosos.
A versão mais radical da visão 'liberal' dos mass media atribui o alto grau de consenso entre as elites e as massas nos Estados Unidos à omnipresença e omnisciência dos mass media.

(Cont.)

2 comentários:

Ana Camarra disse...

CRN

O que começou por ser uma nobre profissão onde o importante era apurar a verdade, descanbou numa coisa encomendada, manipuladora e altamente perversa.
Uma tristeza.

Beijos

Anónimo disse...

Ana,
Menos mal que alguns ainda lutam contra o condicionamento formateador que os governos tentam impor.

A revolução é hoje!