quinta-feira, novembro 13, 2008

Sobre a Violação da Unidade Encoberta com Gritos de Unidade


Trótski chama à sua nova revista «não fraccionaria». Coloca esta palavra em primeiro lugar nos anúncios, sublinha-a de todas as maneiras nos artigos de fundo tanto da própria Borbá como do liquidacionista Sévernaia Rabótchaia Gazeta, que publicou um artigo de Trótski sobre a Borbá antes do aparecimento desta.
O que é isso de «não fraccionismo»?
A «revista operária» de Trótski é uma revista de Trótski para operários, pois na revista não há nem sinal de iniciativa operária, nem de ligação com as organizações operárias. Desejando tornar-se popular, Trótski explica aos leitores na sua revista para operários as palavras «território», «factor», etc.
Muito bem. Porque não explicar também aos operários a palavra «não fraccionismo»? Será que ela é mais compreensível do que as palavras território e factor?
Não. Não é isso. É que com a etiqueta «não fraccionismo» os piores representantes dos piores restos do fraccionismo induzem em erro a jovem geração de operários. Vale a pena determo-nos para explicar isto.
O fraccionismo é o principal traço distintivo do partido social-democrata numa determinada época histórica. Qual exactamente? De 1903 a 1911.
Para explicar do modo mais palpável em que consistia a essência do fraccionismo, é preciso recordar as condições concretas de, pelo menos, 1906 e 1907. Então o partido era um único, não havia cisão, mas havia fraccionismo, isto é, existiam de facto num único partido duas fracções, duas organizações de facto separadas. As organizações operárias na base eram únicas, mas para cada questão séria as duas fracções elaboravam duas tácticas; os seus defensores discutiam entre si nas organizações operárias únicas (por exemplo, quando da discussão da palavra de ordem: ministério da Duma ou democrata-constitucionalista em 1906 ou quando das eleições para o Congresso de Londres em 1907), e as questões eram resolvidas por maioria: uma fracção foi derrotada no Congresso único de Estocolmo (1906), a outra no Congresso único de Londres (1907)[N300].
Estes factos são do conhecimento geral da história do marxismo organizado na Rússia.
Basta recordar estes factos do conhecimento geral para se ver a clamorosa mentira que é difundida por Trótski.
Desde 1912, há já mais de dois anos, não existe na Rússia fraccionismo entre os marxistas organizados, não existem discussões sobre táctica em organizações únicas, em conferências e congressos únicos. Existe uma ruptura completa entre o partido, que declarou formalmente em Janeiro de 1912 que os liquidacionistas não fazem parte dele, e os liquidacionistas(1). Trótski chama frequentemente a este estado de coisas «cisão», e sobre esta denominação falaremos em especial mais tarde. Mas continua a ser um facto indubitável que a palavra: «fraccionismo» afasta-se da verdade.
Esta palavra, como já dissemos, é uma repetição, uma repetição não crítica, insensata, absurda, daquilo que estava certo ontem, isto é, numa época já passada. E quando Trótski nos fala sobre o «caos da luta fraccionária» (ver n.° 1, pp. 5, 6 e muitas outras), torna-se imediatamente claro qual precisamente o passado caduco que fala pela sua boca.
Olhai para o estado de coisas actual do ponto de vista do jovem operário russo, como são agora 9/10 dos marxistas organizados da Rússia. Ele vê diante de si três manifestações de massas de diferentes concepções ou correntes no movimento operário: os «pravdistas», reunidos em torno de um jornal com uma tiragem de 40.000 exemplares[N301], os «liqui-dacionistas» (15.000 exemplares) e os populistas de esquerda (10.000 exemplares). Os dados sobre a tiragem explicam ao leitor o carácter de massas de uma determinada prédica.
Pergunta-se, a que propósito se fala aqui de «caos»? Trótski gosta das frases sonantes e ocas, isto é sabido, mas a palavrinha «caos» não é apenas uma frase, é além disso a transplantação (melhor, a vã tentativa de transplantação) para o terreno russo da época actual das relações do estrangeiro da época de ontem. Eis o fundo da questão.
Não existe «caos» algum na luta dos marxistas com os populistas. Isso, esperamos, mesmo Trótski não se decidirá a afirmar. A luta dos marxistas com os populistas dura há mais de 30 anos, desde o próprio nascimento do marxismo. A causa desta luta é a divergência radical de interesses e de pontos de vista de duas classes diferentes, o proletariado e o campesinato. O «caos», se é que existe em algum sítio, só existe na cabeça de excêntricos que não compreendem isto.
Que fica então? O «caos» da luta dos marxistas com os liquidacionistas? Mais uma vez não é verdade, pois não se pode chamar caos à luta com a corrente que foi reconhecida por todo o partido como corrente e condenada desde 1908. E quem quer que se preocupe minimamente com a história do marxismo na Rússia sabe que o liquidacionismo está indissolúvel e estreitamente ligado, mesmo no que diz respeito aos seus dirigentes e participantes, ao «menchevismo» (1903-1908) e ao «economismo» (1894-1903). Assim, também aqui temos diante de nós quase vinte anos de história. Referir-se à história do próprio partido como a um «caos» significa ter um imperdoável vazio na cabeça.
Mas olhai para a situação actual do ponto de vista de Paris ou de Viena. Tudo muda imediatamente. Além dos «pravdistas» e dos «liquidacionistas» existem ainda pelo menos cinco «fracções» russas, isto e, grupos distintos que se pretendem incluir a si próprios no mesmo partido social-democrata: o grupo de Trótski, os dois grupos Vperiod[N302], os «bolcheviques-partidistas» e os «mencheviques-partidistas»[N303]. Em Paris e em Viena (cito como exemplo dois centros particularmente grandes) todos os marxistas o sabem muito bem.
E aqui em determinado sentido Trótski tem razão: isto é que é efectivamente fraccionismo, isto é que é verdadeiramente caos!
«Fraccionismo», isto é, a unidade nominal (em palavras todos são de um só partido) e a fragmentação real (de facto todos os grupos são independentes e entram uns com os outros em negociações e acordos, como potências soberanas).
O «caos», isto é, a falta:
de dados objectivamente admissíveis verificáveis da ligação destas fracções com o movimento operário na Rússia e,
a falta de material para julgar da verdadeira fisionomia ideológica e política destas fracções. Tomai o período de dois anos inteiros - 1912 e 1913. Como é sabido, foram anos de reanimação e ascenso domovimento operário, em que qualquer corrente ou orientação com uma aparência minimamente de massas (e na política só conta o que é de massas) não podia deixar de se reflectir nas eleições para a IV Duma, no movimento grevista, nos jornais legais, nos sindicatos, na campanha dos seguros, etc. Nenhuma, nem uma só destas cinco fracções no estrangeiro fez absolutamente nada de marcante durante todo este período de dois anos, nem numa só das manifestações acima indicadas do movimento operário de massas na Rússia!
Este é um facto que qualquer pessoa pode verificar com facilidade.
E este facto comprova que tínhamos razão ao falar de Trótski como de um representante dos «piores restos do fraccionismo».
Não fraccionista em palavras, Trótski, como sabem todos os que conhecem minimamente o movimento operário na Rússia, é o representante da «fracção de Trótski» — aqui há fraccionismo, pois são claros os seus dois indícios essenciais:
reconhecimento nominal da unidade e
isolamento de grupo de facto. Aqui há um resto de fraccionismo, pois é impossível descobrir aqui algo de sério no que se refere às ligações com o movimento operário de massas da Rússia.
Aqui há, por fim, a pior espécie de fraccionismo, pois não há nenhuma precisão ideológico-política. Esta precisão não pode ser negada nem aos pravdistas (até o nosso decidido adversário L. Mártov reconhece a nossa «coesão e disciplina» em torno de decisões formais de conhecimento geral sobre todas as questões), nem aos liquidacionistas (eles, pelo menos os mais destacados, têm uma fisionomia muito determinada, precisamente liberal e não marxista).
Não se pode negar uma certa precisão a uma parte das fracções que, como a fracção de Trótski, têm existência real exclusivamente do ponto de vista vieno-parisiense, mas de modo algum do russo. Por exemplo, são determinadas as teorias machistas[N304] do grupo machista Vperiod; é determinada a negação decidida destas teorias e a defesa do marxismo, além da condenação teórica dos liquidacionistas, nos «mencheviques-partidistas».
Mas em Trótski não existe precisão ideológico-política alguma, pois a patente do «não fraccionismo» significa apenas (já veremos isso mais pormenorizadamente) uma patente de plena liberdade de passar de uma fracção para outra e inversamente.
Resultado:
Trótski não explica nem compreende o significado histórico das divergências ideológicas entre as correntes e fracções no marxismo, apesar de estas divergências encherem vinte anos de história da social-democracia e dizerem respeito às questões fundamentais da actualidade (como mostraremos ainda);
Trótski não compreendeu as particularidades fundamentais do fraccionismo, como o reconhecimento nominal da unidade e a fragmentação real;
Sob a bandeira do «não fraccionismo» Trótski defende uma das fracções no estrangeiro, especialmente sem ideias e privadas de base no movimento operário da Rússia.
Nem tudo o que luz é ouro. Há muito brilho e barulho nas frases de Trótski, mas conteúdo não.

9 comentários:

Ana Camarra disse...

CRN

Trotski sucumbiu a um mal comum a necessidade da sua projecção pessoal, convencido que seria um ser humano de calibre superior, como tal digno de uma atenção superior, de um estatuto superior…
È a primeira falha de muitos “Intelectuais de Esquerda”, a vontade de se ouvir, a vaidade, como se tem visto ao longo da história geralmente é o contrário, seres humanos de elevado calibre moral, abnegação e que dão de facto toda a sua vida a favor de uma causa, levando a cabo grandes mudanças, lutando de facto pela melhoria efectiva das condições de vida dos seus semelhantes, são modestos.
Para não ir mais longe, relembro as atitudes, verdadeiramente abnegadas e altruístas de Nelson Mandela.
Esta música do Zeca chama-se, “Como se faz um canalha”

“Conheci-te ainda moço
Ou como tal eu te via
Habitavas o Procópio
Ias ao Napoleao
Mas ninguém sabia ao certo
Como se faz um canalha
Se a memória me nao falha
Tinhas o mundo na mao
Alguma gente enganaste
(A fé da muita amizade
Tem também as suas falhas
Hoje fazes alianças
A bem da Santa Uniao
Em abono da verdade
A tua Universidade
Tem mesmo um nome: Traiçao
Um social-democrata
Nao foge ao Grao-Timoneiro
Basta citar o paleio
O major psicopata
Já sao tantos namorados
Só falta o Holden Roberto
Devagar se vai ao longe
Nunca te vimos tao perto
Nunca te vimos tao longe
Daquilo que tens pregado

Nunca te vimos tao fora
Da vida do Zé Soldado
Ninguém mais te peça meças
No folgor dos gabinetes
Hás-de acabar às avessas
Barricado até aos dentes
És um produto de sala
Rasputim cá dos Cabrais
Estas sempre em traje de gala
A brincar aos carnavais
Nos anais do mundanismo
A nossa história recente
Falará com saudosismo
Dum grande Lugar-Tenente
Sao tudo favas-contadas
No país da verborreia
Uma brilhante carreira
Dá produto todo o ano
Digamos pra ser exacto
Assim se faz um canalha
Se a memória nao me falha
Já te mandei prò Caetano”

Anónimo disse...

Ana,
Se dúvida. Uma música bastante adequada.

A revolução é hoje!

Anónimo disse...

CRN
Com Trotski, aprendemos a não ser iguais, nem parecidos com ele.
Abraço

Anónimo disse...

Tudo dito,....sem conteúdo.

Abraço!

Anónimo disse...

Manangão,
Sem dúvida.

A revolução é hoje!

Anónimo disse...

Jorge,
Não sei a que te referes.

A revolução é hoje!

Anónimo disse...

Amigo e camarada CRN.. refiro-me à tua última frase sobre Trotsky com a qual concordo em absoluto.

Já agora, gabo-lhes a paciência (refiro-me a ti, Ana e Sensei)de aturarem aqueles indefinidos, grosseiros e porque não dizê-lo,...reaccionários (refiro-me a Marreta e Ferroadas) desde o 1º dia que os alertei,...aquilo não são flores que se cheirem.......!

Abraço de solidariedade !

Mário Pinto disse...

Jorge,
Não existiam dúvidas sobre a tua consideração
No relativo ao "cheira", também ali necessitamos lutar.

Cumprimentos.

A revolução é hoje!

Ana Camarra disse...

CRN

Vou deixar, recado mas como já me deste autorização.

Jorge (e demais personagens)

Se há coisa que não me costuma faltar é paciência, tenho grandes reservas de paciência, o problema é quando as esgoto, aí sou um comboio a descarrilar, depois é uma gaita, confesso que esteve por um triz, ainda não foi desta!

bjs