quarta-feira, novembro 19, 2008
Sobre a Violação da Unidade Encoberta com Gritos de Unidade
O artigo de fundo do n.° 1 da Borbá, A Cisão da Fracção na Duma, contém conselhos do conciliador aos sete deputados liquidacionistas (ou que vacilam para o lado do liquidacionismo) da Duma de Estado. A chave destes conselhos é a seguinte frase:
«dirigir-se ao grupo de seis em primeiro lugar em todos os casos em que é necessário chegar a acordo com outras fracções».
Eis o conselho sensato que entre outras coisas tem pelos vistos o efeito de provocar divergências entre Trótski e os liquidacionistas-lutchistas. Desde o próprio início da luta das duas fracções na Duma, depois da resolução da conferência de Verão (1913), os pravdistas mantiveram precisamente este ponto de vista. A fracção operária social-democrata da Rússia também depois da divisão declarou mais de uma vez na imprensa que continua a manter-se nesta posição, apesar das repetidas recusas dos «sete».
Desde o próprio início, desde a resolução da conferência de Verão, nós pensámos e pensamos que os acordos sobre as questões do trabalho na Duma são desejáveis e possíveis: se tais acordos foram praticados mais de uma vez com os democratas camponeses pequeno-burgueses (os trudoviques), eles são naturalmente tanto mais possíveis e necessários com os políticos operários pequeno-burgueses, liberais.
Há que não exagerar as divergências, há que encarar a realidade de frente: o «grupo de sete» são pessoas que vacilam para o lado do liquidacionismo, que ontem seguiam completamente Dán, hoje olham ansiosamente de Dán para Trótski e vice-versa. Os liquidacionistas são um grupo de legalistas que se afastaram do partido e que fazem uma política operária liberal. Dada a sua negação da «clandestinidade», nem sequer se pode falar de unidade com este grupo nos problemas da construção do partido e do movimento operário. Quem pensa de outra forma está profundamente enganado, não tem em conta a profundidade das transformações ocorridas depois de 1908.
Mas acordos com este grupo fora do partido ou próximo do partido sobre questões isoladas são, naturalmente, admissíveis: nós devemos sempre obrigar também este grupo, assim como os trudoviques, a fazer a escolha entre a política operária (pravdista) e a liberal. Por exemplo, na questão da luta pela liberdade de imprensa revelaram-se claramente nos liquidacionistas vacilações entre a colocação liberal da questão, negando ou esquecendo a imprensa não censurada, e a política contrária, operária.
No quadro da política da Duma, onde não são levantadas directamente as questões mais importantes, extra-Duma, os acordos com os sete deputados operários liberais são possíveis e desejáveis. Neste ponto Trótski passou dos liquidacionistas para a posição da conferência de Verão (1913) do partido.
Só que não se deve esquecer que, do ponto de vista do grupo fora do partido, entende-se por acordo algo completamente diferente do que habitualmente entendem por isso as pessoas do partido. Para as pessoas sem partido o «acordo» na Duma é a «elaboração da resolução ou da linha tácticas». Para as pessoas do partido o acordo é a tentativa de atrair outros para a realização da linha do partido.
Por exemplo, os trudoviques não têm partido. Entendem por acordo a «livre», por assim dizer, «elaboração» de uma linha, hoje com os democratas-constitucionalistas, amanhã com os sociais-democratas. Ao contrário, nós entendemos por acordo com os trudoviques uma coisa completamente diferente: nós temos decisões do partido sobre todas as questões importantes de táctica, e nunca nos afastaremos destas decisões; entrar em acordo com os trudoviques significa para nós atraí-los para o nosso lado, convencê-los da nossa razão, não renunciar às acções comuns contra os cem-negros e contra os liberais.
Até que ponto Trótski se esqueceu (não foi em vão que ele esteve com os liquidacionistas!) desta diferença elementar entre os acordos do ponto de vista do partido e sem partido, mostra-o a seguinte divagação sua:
«É necessário que pessoas de confiança da Internacional reúnam ambas as partes da nossa representação parlamentar cindida e examinem com elas aquilo que as une e aquilo que as cinde... Pode ser elaborada uma resolução táctica pormenorizada que formule a bases da táctica parlamentar...».
Eis uma imagenzinha característica e típica da colocação liquidacionista da questão! O partido é esquecido pela revista de Trótski: valerá a pena, com efeito, lembrar semelhante ninharia?
Quando na Europa (e Trótski gosta de falar fora de propósito de europeísmo) chegam a acordo ou se unificam diferentes partidos, as coisas passam-se assim: os seus representantes encontram-se e esclarecem em primeiro lugar os pontos de divergência (precisamente aquilo que a Internacional colocou na ordem do dia para a Rússia, não incluindo de modo algum na resolução a afirmação irreflectida de Kautsky de que «o velho partido não existe»). Uma vez esclarecidos os pontos de divergência, os representantes estabelecem que decisões (resoluções, condições, etc.) sobre questões de táctica, de organização, etc, devem ser apresentadas aos congressos de ambos os partidos. Se se consegue estabelecer um projecto de decisões comuns, os congressos decidem adoptá-las ou não; se se estabelecem propostas diferentes, da mesma maneira os congressos de ambos os partidos as examinam em definitivo.
Para os liquidacionistas e para Trótski são «simpáticos» apenas os modelos europeus de oportunismo, mas de forma alguma os modelos de espírito de partido europeu.
A «resolução táctica pormenorizada» será elaborada pelos deputados da Duma!! Os «operários avançados» russos, com os quais não é por acaso que Trótski está tão descontente, podem ver claramente neste exemplo até que ponto chega em Viena e em Paris o ridículo projectismo dos grupinhos no estrangeiro, que convenceram mesmo Kautsky de que na Rússia «não há partido». Mas se às vezes se consegue enganar os estrangeiros neste ponto, os «operários avançados» russos (correndo o risco de provocar um novo descontentamento ao terrível Trótski) rir-se-ão na cara destes projectistas.
«As resoluções tácticas pormenorizadas — dir-lhes-ão eles — são elaboradas entre nós pelos congressos e conferências do partido (não sabemos como se faz entre vós, os sem partido), por exemplo de 1907, 1908, 1910, 1912 e 1913. Daremos a conhecer com satisfação aos estrangeiros não informados, bem como aos russos de fraca memória, as nossas decisões de partido, e com maior satisfação ainda pediremos aos representantes do grupo de sete ou aos 'agostistas' ou aos 'levicistas', ou ainda a quem quer que seja", que nos dêem a conhecer as resoluções dos seus congressos ou conferências, que levem ao seu próximo congresso a questão precisa sobre a atitude para com as nossas resoluções ou para com as resoluções do congresso letão neutral de 1914, etc.»
Eis o que dirão os «operários avançados» da Rússia aos diversos projectistas, eis o que já disseram, por exemplo, na imprensa marxista, os marxistas organizados de Petersburgo. Quererá Trótski ignorar estas condições publicadas para os liquidacionistas? Tanto pior para Trótski. O nosso dever é advertir os leitores de como é ridículo o projectismo «unificador» (do tipo da «unificação» de Agosto?), que não quer ter em conta a vontade da maioria dos operários conscientes da Rússia.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
é um prazer tê-lo em nossa trincheira, camarada!
Carlinhos,
Um prazer reciproco, a união faz a força.
A revolução é hoje!
CRN
As divisões, os planos de iluminados que se julgam detentores do saber universal, a arrogância, tudo coisas que continuam....
Actualissimo.
Beijos
Ana,
só deixaria de ser actual se os aspectos contra os quais lutamos deixassem de existir, como tal não aconteceu, a luta continua.
A revolução é hoje!
Enviar um comentário