quarta-feira, maio 13, 2009

Morreu um poeta...

Hermético, elíptico, mas sempre poético, uma consideração compartida pela maioría de músicos que em 93 produziram um disco com versões de alguns êxitos deste artista, quando chegava ao fim da resistência física depois de 10 anos de aceleração incontrolada, António Vega chegou a ser tomado como o Silvio Rodriguez español.

Nesse disco, no rescaldo de uma "movida" que tive a sorte de experimentar na sua fase mais tardia, colaboraram Miguel Rios, Manolo Tena, Complices, Jaime Urrutia, Tam Tam Go, Sonora, Ramoncín e outros que agora estão na zona das lampadas fundidas, recuperando para o público um músico que o mundo havia perdido e um sentido para lutar para quem parecia acreditar que o sol não podia durar eternamente.

Se antes de 93 a decadência o tinha como catedrático, depois do lançamento desse disco foi fácil ouvir a sua música acompanhado por quem se deitava antes das 02.00h.

Nessa época assisti também ao nascimento de um grupo chamado "Ketama", uma banda de ciganos, os irmãos Carmona, com uma larga tradição musical, que tinham colaborado com Rão Kiao no disco "Delírios Ibéricos" e que conheci no pessoalmente no "Café Berlin", na Gran Via de Madrid, essa que pintou António Lopez..


Ketama que era liderado pelo, também, António Carmona, quem, meses mais tarde, fazia mais uma versão de uma canção do António Vega e o levava ao concerto no qual apresentava o LP que incluia essa canção.

Assim, fazendo parte da memória de uma geração, o António Vega também faz parte da minha "infância" Castelhana, dos sons de momentos que recordo com uma sensação total.

Por ter tido o privilégio de o incluir na minha banda sonora pessoal, deixo aqui um vídeo sucinto mas retrospectivo quanto baste para perceber que tipo de pessoa era, que tipo de mundo legou e, mais que nada, quão vanguardista foi o trabalho que desenvolveu num deserto com poucos oásis de criatividade sustentada.

(O reproductor contém 2 vídeos concatenados, sendo necessário esperar o arranque do 2º)

3 comentários:

Ana Camarra disse...

Crn

Pois, não conhecia, não é estranho de todo, mas não posso dizer que conhecia.
De qualquer das maneiras tenho a certeza que o mundo fico~u mais pobre.

beijos

CRN disse...

Ana,

Sobretudo se atendermos à aversão ao protagonismo que não é fácil encontrar num artista.


Abraço

Saci Pererê disse...

Curioso porque eu só o conheci quando fui viver para Espanha (4 anos atrás), e é -porque a sua obra nunca nos deixará- um dos meus cantores favoritos.

As suas letras são de uma poesia inigualável em cantautores da sua geração.

Infelizmente o abuso de drogas e uma saúde precária levaram-no cedo demais, mas foi incrível a dor que senti entre amigos espanhóis da minha idade, que cresceram a ouvir as suas musicas.

Sem dúvida um grande, mais um que já se calou.