quinta-feira, novembro 06, 2008

Emigrantes

Hoje, de novo, escutei a noticia, cada vez mais frequente, de um acidente de viação na auto-estrada Burgos/Palencia. Esta, não deixaria por si só de ser lamentável, contudo, pela décima quarta vez este ano, os implicados em dito acidente foram seis Portugueses, trabalhadores os quais, durante a semana, se encontram com a obrigação de abandonar as suas familias e empreênder o caminho, por essa estrada fora, para este País, a vizinha Espanha.
Este facto, que gera em muitos uma profunda sensação de impotência, seguramente por viver neste país e não negar a evidência de que, durante este ano - sem olhar mais atrás - morreram em trânsito, à procura de pão, trinta Portugueses dispostos a vender a vida, é sem dúvida o reflexo das politicas que nos governam há trinta e dois anos, politicas que obrigam a que o nosso povo necessite assumir-se estrangeiro, que suporte a xenofobia do medo, da falta de respeito pela diversidade ou, somente, pela falta de cultura humana - promovida pelas bestas através da alienação à qual condenam a maioria das populações, que vivam longe daquilo com o que forjaram a identidade, daqueles os quais, também, justificam a sua vontade de viver.
O episódio de hoje, lembrou-me estórias de familiares que, no tempo do estado novo, preferiram arriscar a vida encima de um vagão e rumar para, por exemplo, França, suportando situações de carência absoluta, da mesma forma que as aguentaram outros Portugueses, como os descobertos durante este ano pelas autoridades espanholas, sobrevivendo num celeiro podre, sem agua canalizada, sem nada mais que a palha e uns colchões que mais pareciam encontrados no lixo, servindo de escravos a uma empresa com "capataz" português, que os fazia trabalhar doze horas por dia e lhes retia o pouco ordenado como compensação dos gastos alimentares e de alojamento.
Mais revoltante é, sabermos que esta realidade se vive em toda a europa e que, no meio desta comunidade, existem escravos com outro idioma.
Enquanto o povo do meu país não quiser, enquanto fechar os olhos à situação dos seus camaradas, Portugal só poderá experimentar um agravamento da condição de vida de cada vez mais Portugueses.
É tempo de lutar, é tempo de mudar, não a face da moeda, para que esta continue a ser a mesma com outra cara, mas, mudar radicalmente de paradigma, mudar anticipando a vida, consciêntes da evolução lógica da civilização, do mundo, chamando as coisas pelo nome, apoiando quem não aceita colaborar com o espólio, com a vergonha, com a mentira, em suma, com a corja que prescinde de considerar as necessidades do povo.
Em 2009 vamos ter essa oportunidade, da mesma forma que preconizamos, em tempos, a vanguarda da tecnologia, hoje, provavelmente, mesmo além das transformações que vemos na América do Sul, podemos e devêmos assumir a responsabilidade pelos nossos actos, defender realmente a nossa vontade, vamos poder votar em consciência no único partido que manteve a coerência com os seus principios e com a sua base, o povo.
Esse mesmo, o Partido Comunista Português!

A revolução é hoje!

12 comentários:

Ana Camarra disse...

CRN

Uma realidade na qual voltamos atrás 40 anos e esta canção passou a estar actual, infelizmente.
Esta é daca vez mais a realidade de Portugal, partir....


"Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão


Tens em troca orfãos e orfãs
e campos de solidão
e mães que não têm filhos
filhos que não têm pais.


Corações que tens e sofrem
longas horas mortais
viúvas de vivos-mortos"


Beijos

Mário Pinto disse...

Ana,
Sem dúvida, mas o pior é que, aqueles que estão em espanha também conta para os 150.000 empregos de sócrates.
Vergonhoso.

A revolução é hoje!

Anónimo disse...

Com a Ana aprendi o caminho para sitios lindos. Boa música, boas imagens e excelentes textos.
Posso entrar?
Infelizmente as notícias dos acidentes com portugueses em Espanham tornaram-se quase diárias, o que nos faz pensar nas condições em que aqueles trabalhadores vivem. Provavelmente poucas horas de descanço, stress, tristeza.
Parece-me que a nossa amiga Ana tem um livrinho igual ao meu, onde vou por vezes buscar uns versinhos, lá está também a Canção do Emigrante
Vou deixar um bocadinho de outra.

Dia de haver revolução

Amanhã,
Étempo de ajudar mais o nosso irmão
É tempo de avançarmos com a mão
na mão
É pois então, dia de haver revolução.

Um Abraço
Lagartinha de Alhos Vedros

Zorze disse...

Parece que o condutor adormeceu. Poucas horas de sono, muitas de trabalho e outras tantas de condução.

É triste, muito triste.

Ouvi histórias na 1ªpessoa do bidonville em Paris.
O ganhar o Pão, como tu dizes, tem muito que se lhe diga.

O nosso "Estado" sempre gostou das remessas dos emigrantes. Só que muitas vêm com sangue.

Abraço,
Zorze

Ana Camarra disse...

CRN

Lá vou eu usar a tua casa para recados.
Lagartinha, tu não aprendes comigo, tu és muito esperta, mas os amigos são assim, mostram-nos coisas de que gostamos só que ainda não conheciamos...

Este sitio também é cinco estrelas e muito bem frequentado.

CRN

Trata bem a Lagartinha, para além de minha vizinha é nossa camarada!
Acho que ela ainda nos paga um café no fim do mês.

Beijos (aos 2)

Anónimo disse...

É tempo de lutar, é tempo de mudar!
Um Abraço

Carlinhos Medeiros disse...

Excelente Blog! Parabéns, já está no meus favoritos.
Abs!

Mário Pinto disse...

Lagartinha,
Como em casa!
Não é, fundamentalmente o "stress", o cansaço ou a tristeza, é mesmo o resultado de trinta e dois anos de continuidade, em demagogía, de uma politica que, durante quarenta e oito anos, nos amordaçou e reduziu à condição de escravo.
Por outro lado, a revolução não deve ficar para amanhã, a revolução é hoje!

Mário Pinto disse...

Zorze,
Com relação aos motivos pelos quais os emigrantes aceitam esse vilipendiar da condição humana, reitero o que respondi à Lagartinha.
Ganhar o pão ou trocar a longevidade pela sobrevivência?
Dinheiro pintado com sangue, o que mais há, nesta realidade inhumana, só prevalecendo na luta poderemos, quanto antes melhor, expulsar os vampiros.

A revolução é hoje!

Mário Pinto disse...

Ana,
Seja bem vindo quem vier por bem!
Seguramente, se no fim do mes coincidirmos no congresso, não fará falta café para sentir correr a vida pelas veias.

A revolução é hoje!

Mário Pinto disse...

Ludo,
Contamos todos!

A revolução é hoje!

Mário Pinto disse...

Carlinhos,
Agradeço a deferência, sendo a consideração reciproca. Por outra parte, mesmo partindo de outra realidade, o teu país, felizmente, está num caminho que em Portugal se tenta apagar há muito tempo, resistir, lutar e mudar esta vergonha, é hoje, aqui, nesta europa de terceiro mundo, uma necessidade vital.

A revolução é hoje!