Uma grande conquista de Abril, fundamental, senão a maior, foi obrigar o fascismo a manipular através da persuasão em lugar da coacção. Afirmar hoje que o fascismo já não existe implica negar a esta aberração a capacidade de mutar na práctica, ao mesmo tempo, entregar imerecida confiança a algo que aceitámos chamar democracia. Podendo resultar certamente radical esta afirmação: "A democracia não existe", contudo poderia fundamentá-la em Marx, sem relativismos da treta e colocando a existência do Estado como elemento nuclear da mesma. Porém, outros são os motivos que alicerçam esta opinião, aqui sim, da mesma forma que interpretamos o fascismo no momento histórico português podemos comparar o índice de satisfação da população cruzando âmbitos temporais e geográficos e extrapolando conclusões.
Na década de 70, nos estados unidos, segundo estudos psicológicos publicados, o povo era "mais feliz" que na década que finda, sem deixar de considerar a menor capacidade de consumo, e logo de opções, que experimentava nessa época de comparada com a actual. De outra forma (na minha), digamos que a população era menos infeliz.
O PREC, esse lapso de justiça que experimentou o povo português, que não viveu porque o não sentiu; ou que não fez seu devido a impossibilidade de transformar a cultura num tão curto espaço de tempo, trazia consigo a possibilidade de escolher, mas, no essencial, trazia a consciência; a capacidade de descartar como opção, focalizar; discernir, pensar cada passo e sabê-lo parte de um trajecto irrepetível, punha-nos o futuro pela frente sem distrações, o equilíbrio.
Hoje, em Portugal, nos estados unidos, a oferta é tão ampla quanto a necessidade criada e, a capacidade de eleição é tão nula quantas as opções existentes. Quero com isto dizer que (sem trazer para aqui a reforma continua do modo de producção), a eleição, que em determinado momento se julgou a mais adequada, instantes depois; segundos mais tarde, exerce como factor de frustração a somar e sumar, que transforma a vontade num sentimento de aversão a decidir mais importante que a necessidade do eu primordial de o fazer, tomando lugar a vontade do eu autobiográfico que não é nosso - que também, mas só porque respiramos -. O reflexo cultural deste tipo de repressão fica patente quando ponderamos, justificando o nosso lugar na massa, qualquer cenário a 5 anos vista; fica claro quando contemplamos o pão (pouco) para hoje e fome para amanhã que leva como consigna ideológica a política dos governos que nos afanam há 35 anos, mas, e as opções? Inúmeras! Quase todas com o mesmo cariz, menos uma, aquela que defende a mudança real, sem remendos, a do Francisco Lopes.
Quero que os passos de hoje vão no sentido do que escolhi para futuro, se ficar pelo caminho, ficará seguramente um risco, na areia.
quarta-feira, dezembro 08, 2010
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