domingo, outubro 31, 2010

Mais uma razão para a direita odiar a ciência

Os conservadores esperam que a investigação do genoma humano ajude a provar que a natureza, não ordens sociais desiguais, determinam quem acaba por se tornar doente e pobre. Mas os nossos genes têm-se recusado a cooperar.

Um psicólogo clínico notável pelas suas observações sobre como a desigualdade afecta o que se passa nas nossas cabeças está agora a divulgar algumas percepções fascinantes, baseadas em nova investigação acerca de quanto a desigualdade reflecte o que está a acontecer nos nossos genes.

Este psicólogo clínico britânico, Oliver James, escreveu muito ao longo dos últimos anos acerca do que denomina "ansiedade pela riqueza" ("affluenza") [NT] , o "vírus" induzido pela desigualdade que nos conduz a um nível sempre mais alto de dinheiro, posses e fama.

A affluenza, destacou James, varia amplamente na sociedade. Quanto mais desigual for a distribuição de rendimento e riqueza numa sociedade, mais affluenza e mais elevada a incidência de doenças mentais que a affluenza tão seguramente engendra.

Os apologistas de ordens sociais desiguais sempre, naturalmente, contestaram qualquer ligação entre doenças mentais e o ambiente económico e social. Que pessoas de baixo rendimento sofram depressão a níveis duplos das pessoas de alto rendimento, acreditam estes apologistas, sugere apenas que pessoas na base nasceram neste mundo com mais "deficiências pessoais" do que as do topo.

"A direita política acredita que os genes explicam amplamente porque os pobres são pobres, assim como terem uma probabilidade dupla de serem mentalmente doentes", como observa James. "Para elas, os pobres são lama genética, afundada na base do charco genético".

A prova científica deste afundamento, exultava a direita uma década atrás, viria quando "avanços rápidos na genética e na neurociência" – o projecto genoma humano e toda a investigação em torno dele — revelasse a verdadeira "história da natureza humana".

A investigação do genoma humano, como opinou dez anos atrás o cientista político Charles Murray junto à organização de extrema-direita American Enterprise Institute, "está em vias de contrair e abalar o espaço para certas posições políticas".

"Estou a prever que os provérbios da direita geralmente demonstrar-se-ão mais próximos do alvo do que os provérbios da esquerda", escreveu Murray, "e que muitas das causas da esquerda revelar-se-ão incompatíveis com o modo como os seres humanos são programados (wired) ".

Com mais completa informação genética em mãos, Murray contestou: "verificou-se que a população abaixo da linha de pobreza nos Estados Unidos tem uma configuração de constituição (makeup) genética relevante que é significativamente diferente da configuração da população acima da linha de pobreza".

De facto, como observa Oliver Jones numa nova análise, as coisas não se apresentaram deste modo de forma alguma. A "extensa investigação do genoma" desde o ano 2000 não revelou qualquer "constituição genética" que predisponha algumas pessoas para o "êxito" e a riqueza e outras para a doença e a pobreza.

"Agora sabemos", observa James, "que os genes apenas variam a propensão entre irmãos, classes sociais ou grupos étnicos para sofrerem problemas de saúde mental".

O Journal of Child Psychology and Psychiatry apresentou exactamente o mesmo ponto num editorial do princípio deste ano. A ciência séria, declarava o editorial, agora concentra-se mais do que nunca "sobre o poder do ambiente" e "todos excepto os deterministas genéticos mais teimosos tiveram de rever o seu ponto de vista".

"Os factores biológicos não existem num vácuo, hermeticamente selados de factores sociais e ambientais", acrescentou na semana passada o bioético Daniel Godlberg, da Carolina do Norte, num comentário sobre a nova análise de Oliver James. "Assim, a tentativa de separar o biológico e o social não faz o mínimo sentido".

Assim, o que faremos com o nosso novo entendimento da genética? Como podemos construir sobre o que agora sabemos a fim de ajudar a moldar sociedades mais saudáveis? James está a sugerir uma sequência de três passos.

Primeiro, aconselha o psicólogo, vamos "criar uma sociedade na qual o máximo de oportunidades para uma vida mentalmente saudável e realizada seja mais importante do que enriquecer uma minúscula minoria".

Segundo, vamos "colocar o atendimento das necessidades das crianças, especialmente as mais pequenas, à frente de todas as outras prioridades".

E, terceiro, vamos cultivar (nurture) as condições sócio-económicas que maximizam a saúde mental. James explica: "Isto significa criar maior igualdade económica, condições de trabalho muito mais seguras, muito maior flexibilidade de emprego para pais de crianças pequenas e uma semana de 35 horas".

Temos, reconhece James, "nem uma mínima possibilidade de algo disto acontecer até que os políticos entendam o que a ciência está a dizer-nos".

Os cientistas podem precisar de falar mais alto. E o resto de nós? Podemos precisar ouvir mais atentamente.

[NT] Affluenza: União das palavras affluence (riqueza) e influenza (gripe), significando o desejo extremo de obter bens materiais ou o sentimento de insatisfação e ansiedade provocado pela busca obsessiva e incessante para obter sempre mais.

O original encontra-se em http://www.toomuchonline.org/tmweekly.html

Traduzido em http://resistir.info/"

Revisão própria

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Depois de tantos anos de investigação cientifica, do esforço que significou elevar esta disciplina a ciência, voltar agora à tábua rasa é quase grotesco. Porém, não restam dúvidas que a tal de affluenza se observa e contrasta na sociedade, com uma dispersão similar à apresentada, que constitui a base da defesa de três soluções que já Marx defendeu à alguns anos, mas, que pode também ser entendido como resultado de uma forma de condicionamento instrumental.
Assim mesmo, é evidente que os factores epigenéticos são importantissimos, não obstante, o acervo génico da espécie permite algo chamado filogénese, registro genético das características mais importantes para a sobrevivência dos antecessores, desde África à Lapónia e conformado com base em transformações ontogénicas que repercutem na reprodução. Sabemos também que, por exemplo, o calor aumenta a agressividade, a irascibilidade, algo que, para uns pode aumentar a capacidade cognitiva e para outros diminuí-la; motivar um comportamento mais ou menos aceite pelo endogrupo e incrementar a frustração ou a convicção, ultrapassar ou impedir alcançar o grau de atenção ideal de cada indivíduo e, tudo isto com um impacto claro no que por exemplo, às células T respeita; nas depressões talâmicas e não só, na composição química que sustenta a comunicação neuronal ou até nas concentrações de sais, intra e exacelular, etc.

Contudo, não pela conclusão de uma investigação absurda que tenta legitimar de uma maneira muito básica a proposta final do texto mas pelas suas razões reais, que são aquelas que devêmos expôr quando tratamos de lutar contra o erro brutal do capitalismo, mesmo que só pela diferença de condições de vida entre "países centrais e periféricos", pela atroz emigração; pela morte, estou parcialmente de acordo com as três soluções encontradas, mesmo sabendo que pedagógos e psicólogos se devem apoiar numa classe, os professores, que seguem programas definidos por governos.

Por último, tão pouco a segmentação das soluções se entende, uma vez que, de estabelecer uma política educativa com os objectivos apontados, também a legislação laboral se veria obrigatóriamente afectada, assim como a repartição dos recursos, etc.

Mais enquadrada numa perspectiva tipo "gestalt" (que não a nazi, é bom não confundir), longe de recuperar o Darwinismo social excluente de princípios do século XX mas não por tal prescindindo da evolução natural que este defendeu, só a destruição de todos os alicerces do actual modo de inter-relação poderia abrir caminho à cristalização do sonho do autor, que, como é visível, comparto e por tal participo.
Esperar que o meu desenvolvimento fosse igual ao de um tibetano se os meus pais decidissem, depois de muitos séculos, ir viver para o Nepal, é duvidoso. Esperar que um inuit não tivera que dedicar grande parte da sua limitada (como a de todos os seres humanos) capacidade a adaptar-se a uma infância na Guiné-Bissau, é discutivel. Entender que por estas afirmações defendera maior ou menor capacidade intelectual dependendo da naturalidade, é uma conclusão simplista e pouco séria.
Todos diferentes, todos iguais, isso sim. Lutar pelo pleno desenvolvimento do Homem começando pelo aspecto ecológico, passando pelo social, terminando por exemplo no neurofisiológico, está, sem dúvida, na base do Comunismo. Pugnar pela preponderância de determinados mundos na constituição integral do indivíduo, macros no caso do texto aqui tratado, é um erro pueril de um facciosismo ignorante, quase tão tendencioso como o motivo pelo qual a direita sempre preteriu a ciência e o seu papel fundamental na criação das condições mais favoráveis para o surgimento de um feliz Homem novo.

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