sexta-feira, janeiro 28, 2011

Como de súbito

Como de súbito na vida tudo cansa!
e cansa-nos a vida e nos cansamos dela,
ou ela é quem se cansa de nós mesmos,
na teima de existir e desejar?
Porque, neste cansaço, não o que não tivemos,
ou que perdemos, ou nos foi negado,
o que de que se cansa, mas também
o quanto temos, nos ama, se nos dá
a até os simples gozos de estar vivo.
Um dia é como se uma corda se quebrara,
ou como se acabara de gastar-se,
que nos prendia a tudo e tudo a nós.
Não é que as coisas percam importância,
as pessoas se afastem, se recusem,
ou nós nos recusemos. Não. è mais
ou menos que isto- se deseja igual
ao como até há pouco desejávamos.
É talvez mais. Mas sem valor algum.
O dia é noite, a noite é dia, a luz
se apaga ou se derrama sobre as coisas
mas elas deixam de ter forma e cor,
ou se sumir no espaço como forma oculta.
E o que sentimos é pior que quanto
dantes sentíamos nas horas ásperas
da fúria de não ter ou de ter tido.
Porque se sente o não sentir. Um tédio
Não como o tédio antigo. Nem vazio.
O não sentir. Que cansa como nada.
Até dizê-lo cansa. É inútil. Cansa.

Jorge de Sena

2 comentários:

Sérgio Ribeiro disse...

Camarada - É com muito gosto que te trago aqui um abraço... e a satisfação de ver alguém que me acompanha nas contas.
Cada um de nós é 1/300 mil avos dos votos no candidato certo da candidatura necessária. Indispensável. E o nosso voto insubstituível!

Um abraço

Mário Pinto disse...

Olá Camarada Sérgio.

O nosso voto é tão insubstituível quanto necessário o usufructo constante da nossa vontade.

Um abraço